• Thursday, October 28, 2021


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    — Parabéns, você vai ser vovô!

    Aquela singela frase dita por sua filha mais velha fez Alder refletir. Obviamente, ele comemorou como se não houvesse amanhã, mas não podia deixar de pensar no peso de ser avô. Desde que se tornara o Campeão de Unova e o cabeça da Elite 4, sentia que tinha que deixar algo para o mundo. Sempre que se encontrava com fãs e treinadores novatos, eles diziam o quanto admiravam o time de Alder e em como queriam ser como ele.

    Porém, era muito mais fácil servir de inspiração para as pessoas em seu âmbito profissional do que ser exemplo numa família. Quais valores passaria? Seus filhos te respeitariam? Ou ele seria aquele tipo de pai que não tinha nada a oferecer e os filhos teriam mais interesse em outros familiares?

    Sua mão gelava só de imaginar. Mas quando a notícia de que seria avô lhe chegou, sabia que pelo menos, sua missão em manter o legado dos Ackworth estava cumprida.

    — Sabe, pai – disse sua filha, acariciando seu barrigão como se acariciasse as costas de seu filho para protegê-lo. – Nós decidimos um nome.

    Alder olhou curioso.

    — O nome dele vai ser Benga – revelou, sorrindo. – É um nome forte e chamativo, né? Igual uma chama. Eu espero que ele seja igual ao senhor.

    O campeão franziu a testa.

    — Tenho certeza que ele vai ser um bom treinador Pokémon. Quem sabe um Campeão – ele disse, mas estranhou quando a moça riu.

    — Bom, se ele puxar suas habilidades, tenho certeza que ele vai te substituir – disse, logo depois, olhou para o próprio ventre. – Mas eu quero que ele puxe sua característica mais importante e admirável: Ser cheio de vida.

     

    Viver.

    A maior herança deixada por uma pessoa é a vida. Seja ela na sua concepção, seja ela em um recomeço. Ser cheio de vida era aquilo, era ouvir os gritos eufóricos das pessoas que esqueciam seus problemas pessoais por míseras horas só viver o momento.

    Viver era ver o olhar ansioso de Íris que tinha um longo caminho a trilhar, mas que no momento estava preocupada em simplesmente dar o seu melhor naquela hora. Viver era olhar pra trás e ver Benga com seu Gible no colo, ansioso com o resultado, enquanto o dragãozinho mordia seu braço.

    Respirou fundo, estava em desvantagem. Mas quem ligava? Estava aproveitando o momento.

    A poeira cessou, o narrador logo anunciou, em primeira mão:

    — O Conkeldurr do Campeão Alder está fora de batalha! – nem ele acreditava direito no que estava narrando. – Resta apenas um Pokémon.

    Alder retornou seu lutador. Sacou sua última Pokéball.

    — Hora do meu Pokémon assinatura – disse, arremessando a esfera para cima. – Senhoras e senhores, deem as boas-vindas para Volcarona!

    Os fãs do campeão se agitaram quando a mariposa gigante rodopiou pelos céus. Sua cabeça era preta com um par de olhos azulados, havia também o que parecia ser chifres em cada extremidade lateral do rosto, de cor vermelha. O corpo era uma curva que se projetava para frente, na parte de cima do tronco, uma pelagem branca acompanhada de quatro patas minúsculas. No inferior do corpo, placas azuis e pretas terminavam em uma ponta. O que lhe proporcionava o voo eram pares de asas que se dividiam em seis pontas, uma para cada lado. Quando parado, Volcarona as exibia como um sol brilhante graças aos seus tons avermelhados e alaranjados.


    Íris sacou sua última Pokéball também. Pelo visto, aquele possível último embate seria entre dois Pokémon assinatura. Ela arremessou sua esfera e o público ficou admirado na majestade daquele Hydreigon. Como uma criatura das trevas, suas cores eram góticas e fúnebres, misturando tons de roxo, preto e azul. Sua cabeça era aterrorizante com uma expressão bestial, com olhos profundos e sem íris e uma boca cheia de dentes pontiagudos. Tudo isso era conectado por um longo pescoço até o tronco ovulado, onde de lá, saia espécie de patas inferiores rasgadas e na superior, braços que terminavam em duas cabeças semelhantes a principal. Um longo rabo e asas parecidas com panos rasgados completavam o visual.


    Luz e trevas. Os dois Pokémon mais difíceis de serem treinados em Unova na opinião de muitos especialistas. Ambos estavam lá, numa disputa importante que se, Íris vencesse, levava para si o título de Campeão da Elite 4 de Unova. Quem era o mais forte?

    — Sabe, Íris – disse Alder, um pouco alto para que sua adversária o ouvisse. – Esse carinha aqui na minha frente é filho do meu primeiro Volcarona. Foi o pai dele que me trouxe até o topo e me manteve aqui. Quando ele finalmente descansou, seu filhote assumiu seu papel e é tão poderoso quanto ele. Não é incrível essa herança? – sorriu o campeão, empolgado com a conversa. – E você, Íris, que marca quer deixar no mundo?

    A garota travou. Talvez pela pergunta repentina, talvez pelo fato dela não ter uma resposta ou o medo de não saber a resposta certa. Drayden manteve-se de braços cruzados, impaciente.

    — Me pergunto se essa é uma estratégia sua para distrair o adversário ou é incrivelmente sociável mesmo estando na desvantagem – comentou o líder de Opelucid City, sério.

    — Eu só gosto de ouvir as novas gerações, Drayden – retrucou o campão, com as mãos na cintura. – Deveria fazer isso as vezes, eles têm muito a nos ensinar.

    Íris levantou o corpo, estufando o peito.

    — Eu quero que minha família seja feliz – respondeu, com sinceridade.

    Alder sorriu.

    — Excelente resposta – o homem voltou-se para a batalha. – Volcarona, vamos mostrar nossa herança para o mundo nessa batalha. Quiver Dance!

    A mariposa gigante rodopiou algumas vezes no ar enquanto partículas brilhantes esverdeadas eram liberadas de seu corpo, dando um aumento considerável em seu ataque e defesa especial, além de uma melhora na velocidade. Ataque especial é uma das categorias de golpes de Pokémon, esse tipo, na maioria das vezes, não exigem um contato com o adversário, completamente o oposto dos ataques físicos.

    Hydreigon aguardava no ar pelas instruções de sua mestra. Seu olhar intimidador fazia todos tremerem.

    Charge Beam! – ordenou a mestre, estendendo a mão para frente.

    Dragões eram Pokémon versáteis em seu moveset, além de golpes próprios da linhagem, eles podiam aprender alguns aquáticos, de fogo e, como era o caso do Charge Beam, um movimento elétrico. Hydreigon abriu sua enorme mandíbula e descargas elétricas e brilhantes começaram a se acumular nela, em seguida, o dragão disparou contra o adversário que só teve o trabalho de desviar enquanto o raio lhe perseguida, até que o golpe cessasse.

    — Um belo golpe, mas deixa eu te mostrar algo realmente efetivo – Alder deu um sorriso ligeiro, de quem sabia de que estava na vantagem de tipos. – Silver Wind!

    As agitadas asas do Volcarona criaram uma brisa brilhante que atingia altos picos de velocidade que obrigou Íris e até mesmo Drayden a cobrirem o rosto com o braço antes que seus globos oculares secassem. Para o Hydreigon, aquele vento era mortal, singelas partículas brilhantes como prata cortavam o corpo do dragão como afiadas navalhas, causando um golpe mais crítico.

    O Pokémon de Íris grunhiu com dor, mas não se deixou abalar, estava treinado para resistir as suas desvantagens. Sua treinadora olhou para ele para conferir a integridade de seu parceiro e ordenou logo em seguida:

    Dragon Dance.

    O Hydreigon rodopiou algumas vezes, seu corpo se cobriu de uma aura avermelhada e lhe concedeu uma velocidade e ataque maior, técnica semelhante usada pelo seu adversário. Era incrível como as batalhas travadas por especialistas eram minuciosamente pensadas para que o melhor desempenho fosse atingido.

    Alder ordenou outro Silver Wind, apontando na efetividade do golpe. O vento cintilante ganhou o campo de batalha, mas Íris retribuiu o golpe com um Flametrhower, um golpe do tipo fogo. As chamas quentes que saíram da mandíbula do dragão colidiram e diminuíram o impacto das partículas perfurantes do ataque da mariposa, ainda sobrou força para que as labaredas atingissem o inseto.

    — Você realmente veio com um arsenal diferenciado de golpes, não é, garota? – sorriu o atual Campeão.

    — Vovô, falando assim até parece que você tá torcendo pra ela – ironizou Benga.

    — Vocês precisam a aprender a admirar seus adversários – riu Alder, de forma escandalosa. – E você, Drayden, você já foi animado pra batalhas. A velhice te alcançou?

    — Eu sou mais novo que você, Alder – resmungou Drayden, com os braços tão cruzados que alguns jurariam que eles estavam grudados ao corpo. – A diferença é que eu estou levando isso aqui à sério. O seu neto está mais tenso e preocupado que você.

    — Depois de anos se enfiando em batalhas, você acaba se acostumando, mas eu estou agitado em ver essa menina destruindo. Vocês dois fizeram um bom trabalho – admitiu Alder, com toda a sua simplicidade.

     

    No camarote, onde os quatro membros da Elite se encontravam, os comentários não paravam. Grismley quase arrancava os cabelos, desesperado:

    — Como que pode ele estar com esse sorriso?! – disse o especialista. – Ele está perdendo! Eu quero ver como vamos responder a mídia quando perguntarem sobre essa “reunião de família” que eles estão fazendo em plena batalha pela decisão da nova cabeça de Unova.

    — Calma, Grimsley – disse Marshal, ao lado do homem. – Tente se acostumar com a ideia de que você ser pau mandado de uma garota de 14 anos.

    O rapaz encarou o mais alto com um olhar perfurante.

    — Você não tá ajudando – ironizou. – Dá pra ver daqui sua veia saltando de nervoso.

    Shauntal se aproximou por trás dos dois, de forma sombrosa.

    — Posso fanficar? – sussurrou, com um sorriso com malícia. – Oferece uma massagem pra ele, Grimsley.

    Grimsley encarou a moça.

    — Volta pro seu canto, mulher! – berrou ele.

    No final, a Elite de Unova tinha o Campeão que bem merecia.


    De volta ao campo, a batalha recomeçava a todo vapor. Golpes eram trocados com majestade. Volcarona arriscava golpes de fogo e abusava os de tipo inseto, enquanto o Hydreigon brincava com a sombras enquanto apostava na pluralidade de golpes para surpreender o adversário. Não havia tantos contatos físicos, a disputa era uma briga de golpes especiais que fazia um verdadeiro show de luz e explosões.

    A plateia se agitava, alguns nem se importavam com quem ganharia, enquanto os fãs de Alder roíam as unhas, os narradores gritavam eufóricos e as câmeras faziam o impossível para registrar cada minuto. Quem quer que estivesse assistindo, provavelmente já estava teorizando como seria o futuro da Elite de Unova.

    E no final, Marshal estava certo.

    Os Pokémon já arfavam, abusaram de cada limite de seus poderes. O Volcarona de Alder já não voava com a mesma agilidade e nem o Hydreigon de Íris conseguia segurar sua pose de mal. O atual campeão ordenou outro Silver Wind, mas parecia que seria o último.

    Íris respirou fundo e revelou o golpe que definiria o resultado da batalha.

    SURF!

    Como mágica, o dragão da garota criou uma enorme onda que atingiu com efetividade a mariposa, que estava tão cansada que apenas aceitou seu destino. Aquele golpe era conhecido e utilizado até por treinadores novatos, o que acabou surpreendo parte dos especialistas presentes que nunca acharam que a decisão de uma batalha tão importante terminaria de maneira tão simples. “A batalha mais esperada do ano foi decidida por uma prancha de Surf”, essa seria uma provável manchete na manhã seguinte. A onda engoliu o Pokémon como um Sharpedo nervoso.

    Era isso.

    O reinado acabara. O legado tinha que passar pra frente.

    O Volcarona de Alder caiu por terra, tão suave quanto sua entrada, anunciando o fim daquele embate. Marshal estava correto, eles agora serviriam a uma garota de 14 anos que usava um vestido rosa como uma princesa, provavelmente, tão infantil quanto sua experiência para coordenar adultos.

    O perdedor retornou seu Pokémon e sorriu, demonstrando que era um bom perdedor. Íris imitou o gesto, controlando sua ânsia em pular e comemorar. Drayden soltou um sorriso satisfeito por debaixo da barba e Benga só conseguiu abaixar a cabeça, soltando um resmungo de dor por causa do Gible em seu colo.

    — É fim de batalha! – gritou o narrador, despertando os quatro no campo para realidade que estavam. – Os três Pokémon do Campeão Alder estão fora de batalha, a vencedora é a desafiante, a Mestre Íris. ISSO CONFIGURA COMO ÍRIS, A NOVA CAMPEÃ E CABEÇA DA ELITE 4 DE UNOVA!

    A plateia gritou, comemorando, ou simplesmente, seguindo o instinto da agitação daquele ambiente. Íris olhou em volta, tentando entender se aqueles gritos calorosos eram mesmo pra ela. Despertou quando Drayden colocou a mão em seu ombro.

    — Parabéns, garota – sorriu o especialista em dragões. – Você conseguiu.

    Com a explosão de emoções, Íris se jogou no homem com um caloroso abraço de gratidão e felicidade. Junto de sua própria família, ele tinha sido um dos únicos a acreditar no potencial da garota e investido todo o tempo do mundo nela. O especialista em dragões ficou encabulado e não soube como retribuir já que não fazia parte de sua natureza receber gestos tão inocentes e cheios de carinho.

    A nova campeã olhou para seu tutor e sorriu:

    — Eu consegui – ela disse, como se confirmasse.

    — Está pronta para o discurso? – Drayden riu, apontando para a multidão de repórteres e caras da mídia que já arrumavam o espaço para entrevistas.

     

    — VOVÔ! – berrou Benga, após seguir o avô até o backstage, estranhando a saída silenciosa dele do campo de batalha. – Que atitude é essa? Onde está o cara que faria um discurso nessas horas?

    O homem riu, levantando a cabeça para o alto.

    — Já ouviu uma expressão que diz: O segundo colocado é o primeiro colocado dos perdedores? Hoje, sou eu que ocupo essa posição. E uau, em quase quarenta anos de profissão eu nunca achei que esse título doeria tanto – a risada dele ficou nervosa e Benga notou que o avô levou o polegar para o olho, enxugando uma lágrima.

    — Está chorando? – questionou, só para confirmar.

    — Eu não sou uma pedra.

    — Mas você é Alder Ackworth! Onde está o cara que me mandou sorrir quando eu caí da bicicleta pela primeira vez? – berrou o menino, ardente como chama, tão chamativo quanto o velho a sua frente.

    — Aquela queda realmente foi feia – recordou Alder, com a mão no queixo, soltando uma risada.

    — Não tão feia quando esse atropelo de três a zero que você acabou de ter – debochou o menino, em vingança.

    — Tá tentando me consolar ou não? – questionou o velho.

    — Eu só tô tentando dizer que você falou tanto de herança lá fora que eu custo a acreditar que a sua última marca que você vai deixar nessa Liga é um silêncio. Não combina com você.

    Alder assentiu.

    — Acho que eu preciso dar uma última palavra para essa região.



    — Senhorita Íris, como se sente sendo a mais nova Campeã a assumir a cadeira de maior cargo da Elite 4? – questionou uma repórter loira.

    O pequeno palco improvisado fora montado tão rápido que Íris tentava raciocinar o que estava acontecendo enquanto era quase atacada por microfones e gravadores, além de ter que se proteger das centenas de flashs das câmeras. A mídia estava agitada e pronta para absorver cada palavra da menina.

    — Hã... Eu tô feliz... Eu acho – respondeu a nova Campeã, com simplicidade.

    Drayden estava ao seu lado, provavelmente fazendo o papel da figura responsável.

    — Pokémon Dragon-type foram considerados por especialistas como o tipo mais difícil de se treinar e dominar. O que te motivou a escolher esse tipo?

    — Drayden me deu um Axew – respondeu a menina. – Ele que me incentivou a gostar deles. Todos meus Pokémon são meus melhores amigos.

    Chegava a ser ridículo ou até mesmo cruel a quantidade de palavras complexas jogadas para uma menina de pouca idade e com origem simples, mas a mídia só estava fazendo seu papel. Ela colocou a mão no estômago, prestando a atenção nos sinais que seu corpo lhe dava: Estava com fome. Mas isso não impediu que a entrevista continuasse.

    — Você tem planos como nova Campeã? Pretende mudar algo na Liga? Teremos novas políticas para treinadores? E para os desafios de ginásio? – questionou um outro repórter, o que fez a menina quase entrar em desespero. O que diabos significava política? O que teria que mudar na Liga?

    As passadas rápidas dadas por Alder quando ele subiu no pequeno palco fizeram Íris dar um pulo agitado. O ex-campeão colocou a mão no quadril e balançou a cabeça negativamente:

    — Poxa, rapaziada, eu implorei pra vocês evitarem perguntas políticas e chatas e vocês me jogam todas elas na nova campeã de você? – repreendeu o homem. – Política a gente resolve dentro de um gabinete com roupa social, estamos num campo de batalha, que tal agir como entrevistadores esportivos? – Alder virou-se para a mais nova: - Íris, aí vai uma pergunta. Unova inteira tá te assistindo, e provavelmente sua família também. Quer mandar um recado pra eles?

    A garota sentiu seus olhos marejarem de emoção, mas que disfarçou eles com um sorriso sincero e exagerado, procurou uma das câmeras e a encarou como se olhasse nos olhos cansados de sua mãe e na expressão inteligente de seu irmão mais velho.

    — Mama, irmão, eu sou uma princesa agora – ela riu, sabendo que apenas poucas pessoas entenderiam.


     

    Após uma calorosa entrevista graças o jeito de Alder, era hora de confrontar seus novos parceiros de “trabalho”. Grimsley, Shauntal, Caitlin e Marshal aguardavam no camarote, ansiosos para conversarem com a nova membra. A menina entrou ao lado de Drayden e Alder, o primeiro parecendo quase como um guarda costas dela, com sua expressão séria. Todos os presentes ficaram longos minutos se encarando, talvez tentando assimilar tudo enquanto todos a sua volta estavam em uma velocidade absurda.

    Marshal até tentou engatar uma conversa com uma pigarreada escandalosa na garganta, mas foi a pequena Íris que puxou o assunto, virando sua atenção para Caitlin:

    — Que cabelo bonito – disse, como se tivesse pensando alto, se envergonhando logo em seguida ao perceber o olhar da loira em sua direção. – Desculpa, falei alto.

    — Obrigada – sorriu a especialista em tipo psíquico. – O seu é bem lindo também.

    — Ele é bem volumoso – comentou a mais nova.

    — Eu diria que ele é cheio de vida, assim como você. Ele ficou marcado na minha mente desde a nossa batalha na época que você estava se tornando Mestre. E eu também amei a cor do seu vestido – complementou Caitlin, gentil. – Acho que dá pra perceber que rosa é minha cor favorita, né?

    Íris riu.

    — A minha também.

    Grimsley pigarreou.

    — Olha, eu realmente aprecio e admiro que estejam já se dando bem, mas acho que devemos prezar pela formalidade e nos apresentarmos.

    — Mas eu já conheço vocês – Íris respondeu, direta.

    O especialista tossiu, tentando esconder a vergonha e a raiva.

    — Menina, eu tô tentando tirar o clima tenso nesse ambiente, ok? Não corta meu barato.

    — Oh, me desculpa – disse a menina, piscando algumas vezes, tentando entender os adultos.

    — Eu acho que ela precisa conhecer mais do que nossa posição na Elite – explicou Shauntal, com um sorriso. – Vamos trabalhar e nos ver quase sempre, vamos acabar criando uma amizade. Meu nome é Shauntal, você sabe que eu treino Pokémon Ghost-type, mas fora de Liga eu sou uma amante e devoradora de livros e uma escritora em potencial, inclusive – ela mostrou o caderno que carregava consigo. – Estou escrevendo um agora, se quiser ler, é só me falar.

    — Tá maluca?! – interrompeu Grimsley. – Esqueceu que ela tem 14 anos, seus livros não deveriam ser lidos por ninguém que tenha menos de 18 anos e tenha um pouco de noção.

    — Que absurdo! Você deveria me apoiar! – retrucou Shauntal. – Estou fazendo um personagem inspirado em você!

    Íris riu com aquilo, talvez aqueles adultos não fossem tão assustadores.

    — Meu nome é Grismley, você lembra que eu sou especialista em Dark-type – apresentou-se. – Fora daqui eu participo de um clube de chá em Kalos e pratico ioga em Alola.

    Marshal reprimiu uma risada.

    — Do que tá rindo, muralha? – exclamou Grimsley, com os nervos à flor da pele.

    — Eu só acho irônico como você é o mais estressado daqui e tem a coragem de falar que pratica ioga como se isso fosse marcante na sua personalidade – riu o lutador.

    — Faz uns meses que eu não vou, ok? E eu não tô irritado, só... ansioso

    Íris segurava o riso, mas sentia que estava com liberdade para rir daquele grupo estranho. Pelo menos não estaria cercada de um ambiente monótono e sério. No final das contas, todos os membros da Elite 4 eram pessoas como ela.

    — Minha vez? – assumiu Marshal. – Baixinha, meu nome é Marshal, eu treino muitos tipos de luta, principalmente de autodefesa, e, como sabe, meu tipo é o Fighting.

    — O mais previsível de nós quatro – ironizou Grimsley, com uma careta.

    — Eu lutava karatê quando mais nova. Mas me tiraram porque eu usei num colega da escola – confessou Íris, tentando se enturmar.

    — Sério? – o lutador abaixou-se para conversar. – Qual técnica utilizou?

    — M-Marshal – Caitlin tentou intervir, preocupada se o namorado estava orgulhoso ou não do “pequeno crime” da menina.

    — Um Kin Gueri – contou, rindo da cara de dor que o homem fez ao cobrir suas partes intimas, imaginando a cena.

    — Logo um golpe baixo... lá em baixo? – questionou, com a voz sofrida.

    — Nunca mais me deixaram fazer aulas de karatê – riu Íris.

    — Temos um pequeno demônio aqui – riu Marshal.

    — Acho que só falta eu – Caitlin tomou a frente. – Meu nome é Caitlin, pequena Íris, eu sou especialista em Psychic-type, e meu maior hobbie é dormir.

    — Isso nem é um hobbie, Cait – apontou o lutador.

    — Como não? – disse a mulher, se sentindo injustiçada. – Tá bom então, deixa eu pensar. Hã... Eu tenho uma irmã mais nova, ela é um pouco mais velha que você, o nome dela é Catherine, ela é meio insuportável, mas eu gosto dela – riu a loira. – Ah, e eu sou namorada do Marshal também. Ele esqueceu de colocar isso na apresentação dele, mas eu estou aqui pra isso – Caitlin encarou o namorado com um sorriso gentil, mas que era claramente devastador.

    — A-Ah, pois é – o homem riu, nervoso, enquanto coçava a cabeça. – Somos namorados. Eu, com certeza, estava ansioso para contar esse detalhe.

    — Ih, vai dormir na casinha do Herdier essa noite – brincou Grimsley.

    — Eu acho que você deveria aproveitar essa recaída pra convidar ele pra dormir com você, Grim – sugeriu Shauntal, na maior cara de pau e com os olhos brilhantes. – Seria um plot perfeito.

    — QUER PARAR DE FANFICAR, SUA FUJOSHI?! – berrou o especialista em tipo noturno.

    — NÃO FALA PALAVRÃO NA FRENTE DA ÍRIS! – gritou Caitlin, repreendendo o colega.

    — Olha o absurdo que a Shauntal tá falando! Repreende ela também! – argumentou o rapaz.

    Drayden massageou as têmporas, envergonhado de como os treinadores mais poderosos da região conseguiam ser verdadeiras piadas ambulantes. Só conseguia imaginar os quatro em eventos internacionais representando Unova. Alder riu com a clara irritação do colega:

    — Decepcionado?

    — Sim, mas não surpreso – respondeu. – Eu sabia que você não era o chefe mais rígido do mundo, mas não imaginava que esse lugar viraria uma escola infantil.

    — Pelo menos eles fazem o trabalho deles – sorriu o ex-Campeão. – Além do mais, parece que Íris está conseguindo se enturmar, querendo ou não, essa é a nova família dela.

    O especialista em dragões voltou seu olhar para menina que conversava com os outros quatro membros enquanto ria das histórias compartilhadas. Olhou para o chão e tentou refletir em toda sua jornada até ali.

    — Drayden, você pode descansar agora – disse Alder, como se lesse a mente do homem. – Você também fez um excelente trabalho até aqui. Você apostou suas fichas numa menina de origem humilde, alimentou o sonho dela e viu ela chegar até aqui. Você não vai mudar nada da personalidade dela, deixa as pessoas amarem quem ela é.

    — Alder, eu estou orgulhoso dela – confessou Drayden. – Ela sempre foi perseverante, estudava, treinava, mas acima de tudo, agia como uma criança que era. Ela amadureceu, mas o coração dela ainda é o mesmo. Eu só não estou orgulhoso de mim.

    Alder olhou curioso para o homem de cabelos brancos.

    — Eu consegui ter uma relação boa e ver a evolução de uma menina que não é minha filha, mas a de Margareth, eu falhei. Hoje Íris me abraçou quando a batalha terminou, e eu percebi que mal lembro da última vez que minha própria filha fez o mesmo – Drayden riu com certo pesar.

    — Drayden...

    — Faz alguns meses que eu não tenho notícia dela. Eu só espero que ela esteja bem.

    — Bem, ela é filha sua, não? – sorriu o homem ao seu lado. – Com certeza ela está bem. O tempo vai unir vocês de novo.

    — Eu espero que esteja certo.

    Enquanto isso, a conversa dos membros da Elite 4 e a nova campeã não parecia ter fim, todos trocavam ideias como um grupo de adolescentes que não chegariam a lugar nenhum. Íris percebeu que aquele ambiente era tão reconfortante quanto a sua própria casa, conseguia sentir até o cheiro de seu prato preferido sendo preparado pelos braços talentosos de sua mãe. Ela sorriu inconscientemente.

    — Pessoal, o papo tá maravilhoso, eu sei – interrompeu Marshal. – Mas eu tô morrendo de fome. Ver aquela batalha me deixou ansioso, e ansiedade me dá fome.

    — Eu acho que a gente deveria encomendar comida suficiente para passarmos o resto da noite aqui – disse Grimsley, procurando seu celular.

    — Tio Alder, você tá mais que convidado – sorriu Shauntal, puxando uma cadeira. – E chama o seu amigo sério, quero saber mais sobre ele.

    — Cuidado, Drayden, ela vai fazer um fanfic yaoi com você – alertou o especialista em tipo noturno.

    Drayden olhou para Alder e o mesmo deu de ombro.

    — Não tenta entender, são jovens – riu o ex-Campeão, se aproximando. – Ei, vamos deixar a nova Campeã escolher o cardápio da noite.

    Íris olhou para todos naquele ambiente.

    — A minha primeira tomada de decisão como Campeã da Elite 4 vai ser escolher o que vamos comer?

    — Basicamente sim, é só pra você sentir a pressão – brincou Marshal.

    A garota refletiu por alguns minutos, pensou em todos os tipos de comida com nomes difíceis e em todos os poucos restaurantes cinco estrelas que conhecia. Queria tentar se adequar naquele ambiente, então imaginava que aquelas pessoas teriam um gosto mais sofisticado, mas logo se tocou que todos naquele lugar eram como ela, uma pessoa cheia de defeitos procurando ser a peça do quebra-cabeça de alguém. Novamente, sua mente lhe trouxe aquele cheiro nostálgico e o gosto picante na garganta de quem já sabia a resposta a muito tempo.

    Sorriu, com um ar confiante, pronta para dar a sua primeira decisão naquela nova fase:

    — Vamos comer carne de Torchic empanadas.

       

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