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  • Capítulo 34


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    — Parabéns, você vai ser vovô!

    Aquela singela frase dita por sua filha mais velha fez Alder refletir. Obviamente, ele comemorou como se não houvesse amanhã, mas não podia deixar de pensar no peso de ser avô. Desde que se tornara o Campeão de Unova e o cabeça da Elite 4, sentia que tinha que deixar algo para o mundo. Sempre que se encontrava com fãs e treinadores novatos, eles diziam o quanto admiravam o time de Alder e em como queriam ser como ele.

    Porém, era muito mais fácil servir de inspiração para as pessoas em seu âmbito profissional do que ser exemplo numa família. Quais valores passaria? Seus filhos te respeitariam? Ou ele seria aquele tipo de pai que não tinha nada a oferecer e os filhos teriam mais interesse em outros familiares?

    Sua mão gelava só de imaginar. Mas quando a notícia de que seria avô lhe chegou, sabia que pelo menos, sua missão em manter o legado dos Ackworth estava cumprida.

    — Sabe, pai – disse sua filha, acariciando seu barrigão como se acariciasse as costas de seu filho para protegê-lo. – Nós decidimos um nome.

    Alder olhou curioso.

    — O nome dele vai ser Benga – revelou, sorrindo. – É um nome forte e chamativo, né? Igual uma chama. Eu espero que ele seja igual ao senhor.

    O campeão franziu a testa.

    — Tenho certeza que ele vai ser um bom treinador Pokémon. Quem sabe um Campeão – ele disse, mas estranhou quando a moça riu.

    — Bom, se ele puxar suas habilidades, tenho certeza que ele vai te substituir – disse, logo depois, olhou para o próprio ventre. – Mas eu quero que ele puxe sua característica mais importante e admirável: Ser cheio de vida.

     

    Viver.

    A maior herança deixada por uma pessoa é a vida. Seja ela na sua concepção, seja ela em um recomeço. Ser cheio de vida era aquilo, era ouvir os gritos eufóricos das pessoas que esqueciam seus problemas pessoais por míseras horas só viver o momento.

    Viver era ver o olhar ansioso de Íris que tinha um longo caminho a trilhar, mas que no momento estava preocupada em simplesmente dar o seu melhor naquela hora. Viver era olhar pra trás e ver Benga com seu Gible no colo, ansioso com o resultado, enquanto o dragãozinho mordia seu braço.

    Respirou fundo, estava em desvantagem. Mas quem ligava? Estava aproveitando o momento.

    A poeira cessou, o narrador logo anunciou, em primeira mão:

    — O Conkeldurr do Campeão Alder está fora de batalha! – nem ele acreditava direito no que estava narrando. – Resta apenas um Pokémon.

    Alder retornou seu lutador. Sacou sua última Pokéball.

    — Hora do meu Pokémon assinatura – disse, arremessando a esfera para cima. – Senhoras e senhores, deem as boas-vindas para Volcarona!

    Os fãs do campeão se agitaram quando a mariposa gigante rodopiou pelos céus. Sua cabeça era preta com um par de olhos azulados, havia também o que parecia ser chifres em cada extremidade lateral do rosto, de cor vermelha. O corpo era uma curva que se projetava para frente, na parte de cima do tronco, uma pelagem branca acompanhada de quatro patas minúsculas. No inferior do corpo, placas azuis e pretas terminavam em uma ponta. O que lhe proporcionava o voo eram pares de asas que se dividiam em seis pontas, uma para cada lado. Quando parado, Volcarona as exibia como um sol brilhante graças aos seus tons avermelhados e alaranjados.


    Íris sacou sua última Pokéball também. Pelo visto, aquele possível último embate seria entre dois Pokémon assinatura. Ela arremessou sua esfera e o público ficou admirado na majestade daquele Hydreigon. Como uma criatura das trevas, suas cores eram góticas e fúnebres, misturando tons de roxo, preto e azul. Sua cabeça era aterrorizante com uma expressão bestial, com olhos profundos e sem íris e uma boca cheia de dentes pontiagudos. Tudo isso era conectado por um longo pescoço até o tronco ovulado, onde de lá, saia espécie de patas inferiores rasgadas e na superior, braços que terminavam em duas cabeças semelhantes a principal. Um longo rabo e asas parecidas com panos rasgados completavam o visual.


    Luz e trevas. Os dois Pokémon mais difíceis de serem treinados em Unova na opinião de muitos especialistas. Ambos estavam lá, numa disputa importante que se, Íris vencesse, levava para si o título de Campeão da Elite 4 de Unova. Quem era o mais forte?

    — Sabe, Íris – disse Alder, um pouco alto para que sua adversária o ouvisse. – Esse carinha aqui na minha frente é filho do meu primeiro Volcarona. Foi o pai dele que me trouxe até o topo e me manteve aqui. Quando ele finalmente descansou, seu filhote assumiu seu papel e é tão poderoso quanto ele. Não é incrível essa herança? – sorriu o campeão, empolgado com a conversa. – E você, Íris, que marca quer deixar no mundo?

    A garota travou. Talvez pela pergunta repentina, talvez pelo fato dela não ter uma resposta ou o medo de não saber a resposta certa. Drayden manteve-se de braços cruzados, impaciente.

    — Me pergunto se essa é uma estratégia sua para distrair o adversário ou é incrivelmente sociável mesmo estando na desvantagem – comentou o líder de Opelucid City, sério.

    — Eu só gosto de ouvir as novas gerações, Drayden – retrucou o campão, com as mãos na cintura. – Deveria fazer isso as vezes, eles têm muito a nos ensinar.

    Íris levantou o corpo, estufando o peito.

    — Eu quero que minha família seja feliz – respondeu, com sinceridade.

    Alder sorriu.

    — Excelente resposta – o homem voltou-se para a batalha. – Volcarona, vamos mostrar nossa herança para o mundo nessa batalha. Quiver Dance!

    A mariposa gigante rodopiou algumas vezes no ar enquanto partículas brilhantes esverdeadas eram liberadas de seu corpo, dando um aumento considerável em seu ataque e defesa especial, além de uma melhora na velocidade. Ataque especial é uma das categorias de golpes de Pokémon, esse tipo, na maioria das vezes, não exigem um contato com o adversário, completamente o oposto dos ataques físicos.

    Hydreigon aguardava no ar pelas instruções de sua mestra. Seu olhar intimidador fazia todos tremerem.

    Charge Beam! – ordenou a mestre, estendendo a mão para frente.

    Dragões eram Pokémon versáteis em seu moveset, além de golpes próprios da linhagem, eles podiam aprender alguns aquáticos, de fogo e, como era o caso do Charge Beam, um movimento elétrico. Hydreigon abriu sua enorme mandíbula e descargas elétricas e brilhantes começaram a se acumular nela, em seguida, o dragão disparou contra o adversário que só teve o trabalho de desviar enquanto o raio lhe perseguida, até que o golpe cessasse.

    — Um belo golpe, mas deixa eu te mostrar algo realmente efetivo – Alder deu um sorriso ligeiro, de quem sabia de que estava na vantagem de tipos. – Silver Wind!

    As agitadas asas do Volcarona criaram uma brisa brilhante que atingia altos picos de velocidade que obrigou Íris e até mesmo Drayden a cobrirem o rosto com o braço antes que seus globos oculares secassem. Para o Hydreigon, aquele vento era mortal, singelas partículas brilhantes como prata cortavam o corpo do dragão como afiadas navalhas, causando um golpe mais crítico.

    O Pokémon de Íris grunhiu com dor, mas não se deixou abalar, estava treinado para resistir as suas desvantagens. Sua treinadora olhou para ele para conferir a integridade de seu parceiro e ordenou logo em seguida:

    Dragon Dance.

    O Hydreigon rodopiou algumas vezes, seu corpo se cobriu de uma aura avermelhada e lhe concedeu uma velocidade e ataque maior, técnica semelhante usada pelo seu adversário. Era incrível como as batalhas travadas por especialistas eram minuciosamente pensadas para que o melhor desempenho fosse atingido.

    Alder ordenou outro Silver Wind, apontando na efetividade do golpe. O vento cintilante ganhou o campo de batalha, mas Íris retribuiu o golpe com um Flametrhower, um golpe do tipo fogo. As chamas quentes que saíram da mandíbula do dragão colidiram e diminuíram o impacto das partículas perfurantes do ataque da mariposa, ainda sobrou força para que as labaredas atingissem o inseto.

    — Você realmente veio com um arsenal diferenciado de golpes, não é, garota? – sorriu o atual Campeão.

    — Vovô, falando assim até parece que você tá torcendo pra ela – ironizou Benga.

    — Vocês precisam a aprender a admirar seus adversários – riu Alder, de forma escandalosa. – E você, Drayden, você já foi animado pra batalhas. A velhice te alcançou?

    — Eu sou mais novo que você, Alder – resmungou Drayden, com os braços tão cruzados que alguns jurariam que eles estavam grudados ao corpo. – A diferença é que eu estou levando isso aqui à sério. O seu neto está mais tenso e preocupado que você.

    — Depois de anos se enfiando em batalhas, você acaba se acostumando, mas eu estou agitado em ver essa menina destruindo. Vocês dois fizeram um bom trabalho – admitiu Alder, com toda a sua simplicidade.

     

    No camarote, onde os quatro membros da Elite se encontravam, os comentários não paravam. Grismley quase arrancava os cabelos, desesperado:

    — Como que pode ele estar com esse sorriso?! – disse o especialista. – Ele está perdendo! Eu quero ver como vamos responder a mídia quando perguntarem sobre essa “reunião de família” que eles estão fazendo em plena batalha pela decisão da nova cabeça de Unova.

    — Calma, Grimsley – disse Marshal, ao lado do homem. – Tente se acostumar com a ideia de que você ser pau mandado de uma garota de 14 anos.

    O rapaz encarou o mais alto com um olhar perfurante.

    — Você não tá ajudando – ironizou. – Dá pra ver daqui sua veia saltando de nervoso.

    Shauntal se aproximou por trás dos dois, de forma sombrosa.

    — Posso fanficar? – sussurrou, com um sorriso com malícia. – Oferece uma massagem pra ele, Grimsley.

    Grimsley encarou a moça.

    — Volta pro seu canto, mulher! – berrou ele.

    No final, a Elite de Unova tinha o Campeão que bem merecia.


    De volta ao campo, a batalha recomeçava a todo vapor. Golpes eram trocados com majestade. Volcarona arriscava golpes de fogo e abusava os de tipo inseto, enquanto o Hydreigon brincava com a sombras enquanto apostava na pluralidade de golpes para surpreender o adversário. Não havia tantos contatos físicos, a disputa era uma briga de golpes especiais que fazia um verdadeiro show de luz e explosões.

    A plateia se agitava, alguns nem se importavam com quem ganharia, enquanto os fãs de Alder roíam as unhas, os narradores gritavam eufóricos e as câmeras faziam o impossível para registrar cada minuto. Quem quer que estivesse assistindo, provavelmente já estava teorizando como seria o futuro da Elite de Unova.

    E no final, Marshal estava certo.

    Os Pokémon já arfavam, abusaram de cada limite de seus poderes. O Volcarona de Alder já não voava com a mesma agilidade e nem o Hydreigon de Íris conseguia segurar sua pose de mal. O atual campeão ordenou outro Silver Wind, mas parecia que seria o último.

    Íris respirou fundo e revelou o golpe que definiria o resultado da batalha.

    SURF!

    Como mágica, o dragão da garota criou uma enorme onda que atingiu com efetividade a mariposa, que estava tão cansada que apenas aceitou seu destino. Aquele golpe era conhecido e utilizado até por treinadores novatos, o que acabou surpreendo parte dos especialistas presentes que nunca acharam que a decisão de uma batalha tão importante terminaria de maneira tão simples. “A batalha mais esperada do ano foi decidida por uma prancha de Surf”, essa seria uma provável manchete na manhã seguinte. A onda engoliu o Pokémon como um Sharpedo nervoso.

    Era isso.

    O reinado acabara. O legado tinha que passar pra frente.

    O Volcarona de Alder caiu por terra, tão suave quanto sua entrada, anunciando o fim daquele embate. Marshal estava correto, eles agora serviriam a uma garota de 14 anos que usava um vestido rosa como uma princesa, provavelmente, tão infantil quanto sua experiência para coordenar adultos.

    O perdedor retornou seu Pokémon e sorriu, demonstrando que era um bom perdedor. Íris imitou o gesto, controlando sua ânsia em pular e comemorar. Drayden soltou um sorriso satisfeito por debaixo da barba e Benga só conseguiu abaixar a cabeça, soltando um resmungo de dor por causa do Gible em seu colo.

    — É fim de batalha! – gritou o narrador, despertando os quatro no campo para realidade que estavam. – Os três Pokémon do Campeão Alder estão fora de batalha, a vencedora é a desafiante, a Mestre Íris. ISSO CONFIGURA COMO ÍRIS, A NOVA CAMPEÃ E CABEÇA DA ELITE 4 DE UNOVA!

    A plateia gritou, comemorando, ou simplesmente, seguindo o instinto da agitação daquele ambiente. Íris olhou em volta, tentando entender se aqueles gritos calorosos eram mesmo pra ela. Despertou quando Drayden colocou a mão em seu ombro.

    — Parabéns, garota – sorriu o especialista em dragões. – Você conseguiu.

    Com a explosão de emoções, Íris se jogou no homem com um caloroso abraço de gratidão e felicidade. Junto de sua própria família, ele tinha sido um dos únicos a acreditar no potencial da garota e investido todo o tempo do mundo nela. O especialista em dragões ficou encabulado e não soube como retribuir já que não fazia parte de sua natureza receber gestos tão inocentes e cheios de carinho.

    A nova campeã olhou para seu tutor e sorriu:

    — Eu consegui – ela disse, como se confirmasse.

    — Está pronta para o discurso? – Drayden riu, apontando para a multidão de repórteres e caras da mídia que já arrumavam o espaço para entrevistas.

     

    — VOVÔ! – berrou Benga, após seguir o avô até o backstage, estranhando a saída silenciosa dele do campo de batalha. – Que atitude é essa? Onde está o cara que faria um discurso nessas horas?

    O homem riu, levantando a cabeça para o alto.

    — Já ouviu uma expressão que diz: O segundo colocado é o primeiro colocado dos perdedores? Hoje, sou eu que ocupo essa posição. E uau, em quase quarenta anos de profissão eu nunca achei que esse título doeria tanto – a risada dele ficou nervosa e Benga notou que o avô levou o polegar para o olho, enxugando uma lágrima.

    — Está chorando? – questionou, só para confirmar.

    — Eu não sou uma pedra.

    — Mas você é Alder Ackworth! Onde está o cara que me mandou sorrir quando eu caí da bicicleta pela primeira vez? – berrou o menino, ardente como chama, tão chamativo quanto o velho a sua frente.

    — Aquela queda realmente foi feia – recordou Alder, com a mão no queixo, soltando uma risada.

    — Não tão feia quando esse atropelo de três a zero que você acabou de ter – debochou o menino, em vingança.

    — Tá tentando me consolar ou não? – questionou o velho.

    — Eu só tô tentando dizer que você falou tanto de herança lá fora que eu custo a acreditar que a sua última marca que você vai deixar nessa Liga é um silêncio. Não combina com você.

    Alder assentiu.

    — Acho que eu preciso dar uma última palavra para essa região.



    — Senhorita Íris, como se sente sendo a mais nova Campeã a assumir a cadeira de maior cargo da Elite 4? – questionou uma repórter loira.

    O pequeno palco improvisado fora montado tão rápido que Íris tentava raciocinar o que estava acontecendo enquanto era quase atacada por microfones e gravadores, além de ter que se proteger das centenas de flashs das câmeras. A mídia estava agitada e pronta para absorver cada palavra da menina.

    — Hã... Eu tô feliz... Eu acho – respondeu a nova Campeã, com simplicidade.

    Drayden estava ao seu lado, provavelmente fazendo o papel da figura responsável.

    — Pokémon Dragon-type foram considerados por especialistas como o tipo mais difícil de se treinar e dominar. O que te motivou a escolher esse tipo?

    — Drayden me deu um Axew – respondeu a menina. – Ele que me incentivou a gostar deles. Todos meus Pokémon são meus melhores amigos.

    Chegava a ser ridículo ou até mesmo cruel a quantidade de palavras complexas jogadas para uma menina de pouca idade e com origem simples, mas a mídia só estava fazendo seu papel. Ela colocou a mão no estômago, prestando a atenção nos sinais que seu corpo lhe dava: Estava com fome. Mas isso não impediu que a entrevista continuasse.

    — Você tem planos como nova Campeã? Pretende mudar algo na Liga? Teremos novas políticas para treinadores? E para os desafios de ginásio? – questionou um outro repórter, o que fez a menina quase entrar em desespero. O que diabos significava política? O que teria que mudar na Liga?

    As passadas rápidas dadas por Alder quando ele subiu no pequeno palco fizeram Íris dar um pulo agitado. O ex-campeão colocou a mão no quadril e balançou a cabeça negativamente:

    — Poxa, rapaziada, eu implorei pra vocês evitarem perguntas políticas e chatas e vocês me jogam todas elas na nova campeã de você? – repreendeu o homem. – Política a gente resolve dentro de um gabinete com roupa social, estamos num campo de batalha, que tal agir como entrevistadores esportivos? – Alder virou-se para a mais nova: - Íris, aí vai uma pergunta. Unova inteira tá te assistindo, e provavelmente sua família também. Quer mandar um recado pra eles?

    A garota sentiu seus olhos marejarem de emoção, mas que disfarçou eles com um sorriso sincero e exagerado, procurou uma das câmeras e a encarou como se olhasse nos olhos cansados de sua mãe e na expressão inteligente de seu irmão mais velho.

    — Mama, irmão, eu sou uma princesa agora – ela riu, sabendo que apenas poucas pessoas entenderiam.


     

    Após uma calorosa entrevista graças o jeito de Alder, era hora de confrontar seus novos parceiros de “trabalho”. Grimsley, Shauntal, Caitlin e Marshal aguardavam no camarote, ansiosos para conversarem com a nova membra. A menina entrou ao lado de Drayden e Alder, o primeiro parecendo quase como um guarda costas dela, com sua expressão séria. Todos os presentes ficaram longos minutos se encarando, talvez tentando assimilar tudo enquanto todos a sua volta estavam em uma velocidade absurda.

    Marshal até tentou engatar uma conversa com uma pigarreada escandalosa na garganta, mas foi a pequena Íris que puxou o assunto, virando sua atenção para Caitlin:

    — Que cabelo bonito – disse, como se tivesse pensando alto, se envergonhando logo em seguida ao perceber o olhar da loira em sua direção. – Desculpa, falei alto.

    — Obrigada – sorriu a especialista em tipo psíquico. – O seu é bem lindo também.

    — Ele é bem volumoso – comentou a mais nova.

    — Eu diria que ele é cheio de vida, assim como você. Ele ficou marcado na minha mente desde a nossa batalha na época que você estava se tornando Mestre. E eu também amei a cor do seu vestido – complementou Caitlin, gentil. – Acho que dá pra perceber que rosa é minha cor favorita, né?

    Íris riu.

    — A minha também.

    Grimsley pigarreou.

    — Olha, eu realmente aprecio e admiro que estejam já se dando bem, mas acho que devemos prezar pela formalidade e nos apresentarmos.

    — Mas eu já conheço vocês – Íris respondeu, direta.

    O especialista tossiu, tentando esconder a vergonha e a raiva.

    — Menina, eu tô tentando tirar o clima tenso nesse ambiente, ok? Não corta meu barato.

    — Oh, me desculpa – disse a menina, piscando algumas vezes, tentando entender os adultos.

    — Eu acho que ela precisa conhecer mais do que nossa posição na Elite – explicou Shauntal, com um sorriso. – Vamos trabalhar e nos ver quase sempre, vamos acabar criando uma amizade. Meu nome é Shauntal, você sabe que eu treino Pokémon Ghost-type, mas fora de Liga eu sou uma amante e devoradora de livros e uma escritora em potencial, inclusive – ela mostrou o caderno que carregava consigo. – Estou escrevendo um agora, se quiser ler, é só me falar.

    — Tá maluca?! – interrompeu Grimsley. – Esqueceu que ela tem 14 anos, seus livros não deveriam ser lidos por ninguém que tenha menos de 18 anos e tenha um pouco de noção.

    — Que absurdo! Você deveria me apoiar! – retrucou Shauntal. – Estou fazendo um personagem inspirado em você!

    Íris riu com aquilo, talvez aqueles adultos não fossem tão assustadores.

    — Meu nome é Grismley, você lembra que eu sou especialista em Dark-type – apresentou-se. – Fora daqui eu participo de um clube de chá em Kalos e pratico ioga em Alola.

    Marshal reprimiu uma risada.

    — Do que tá rindo, muralha? – exclamou Grimsley, com os nervos à flor da pele.

    — Eu só acho irônico como você é o mais estressado daqui e tem a coragem de falar que pratica ioga como se isso fosse marcante na sua personalidade – riu o lutador.

    — Faz uns meses que eu não vou, ok? E eu não tô irritado, só... ansioso

    Íris segurava o riso, mas sentia que estava com liberdade para rir daquele grupo estranho. Pelo menos não estaria cercada de um ambiente monótono e sério. No final das contas, todos os membros da Elite 4 eram pessoas como ela.

    — Minha vez? – assumiu Marshal. – Baixinha, meu nome é Marshal, eu treino muitos tipos de luta, principalmente de autodefesa, e, como sabe, meu tipo é o Fighting.

    — O mais previsível de nós quatro – ironizou Grimsley, com uma careta.

    — Eu lutava karatê quando mais nova. Mas me tiraram porque eu usei num colega da escola – confessou Íris, tentando se enturmar.

    — Sério? – o lutador abaixou-se para conversar. – Qual técnica utilizou?

    — M-Marshal – Caitlin tentou intervir, preocupada se o namorado estava orgulhoso ou não do “pequeno crime” da menina.

    — Um Kin Gueri – contou, rindo da cara de dor que o homem fez ao cobrir suas partes intimas, imaginando a cena.

    — Logo um golpe baixo... lá em baixo? – questionou, com a voz sofrida.

    — Nunca mais me deixaram fazer aulas de karatê – riu Íris.

    — Temos um pequeno demônio aqui – riu Marshal.

    — Acho que só falta eu – Caitlin tomou a frente. – Meu nome é Caitlin, pequena Íris, eu sou especialista em Psychic-type, e meu maior hobbie é dormir.

    — Isso nem é um hobbie, Cait – apontou o lutador.

    — Como não? – disse a mulher, se sentindo injustiçada. – Tá bom então, deixa eu pensar. Hã... Eu tenho uma irmã mais nova, ela é um pouco mais velha que você, o nome dela é Catherine, ela é meio insuportável, mas eu gosto dela – riu a loira. – Ah, e eu sou namorada do Marshal também. Ele esqueceu de colocar isso na apresentação dele, mas eu estou aqui pra isso – Caitlin encarou o namorado com um sorriso gentil, mas que era claramente devastador.

    — A-Ah, pois é – o homem riu, nervoso, enquanto coçava a cabeça. – Somos namorados. Eu, com certeza, estava ansioso para contar esse detalhe.

    — Ih, vai dormir na casinha do Herdier essa noite – brincou Grimsley.

    — Eu acho que você deveria aproveitar essa recaída pra convidar ele pra dormir com você, Grim – sugeriu Shauntal, na maior cara de pau e com os olhos brilhantes. – Seria um plot perfeito.

    — QUER PARAR DE FANFICAR, SUA FUJOSHI?! – berrou o especialista em tipo noturno.

    — NÃO FALA PALAVRÃO NA FRENTE DA ÍRIS! – gritou Caitlin, repreendendo o colega.

    — Olha o absurdo que a Shauntal tá falando! Repreende ela também! – argumentou o rapaz.

    Drayden massageou as têmporas, envergonhado de como os treinadores mais poderosos da região conseguiam ser verdadeiras piadas ambulantes. Só conseguia imaginar os quatro em eventos internacionais representando Unova. Alder riu com a clara irritação do colega:

    — Decepcionado?

    — Sim, mas não surpreso – respondeu. – Eu sabia que você não era o chefe mais rígido do mundo, mas não imaginava que esse lugar viraria uma escola infantil.

    — Pelo menos eles fazem o trabalho deles – sorriu o ex-Campeão. – Além do mais, parece que Íris está conseguindo se enturmar, querendo ou não, essa é a nova família dela.

    O especialista em dragões voltou seu olhar para menina que conversava com os outros quatro membros enquanto ria das histórias compartilhadas. Olhou para o chão e tentou refletir em toda sua jornada até ali.

    — Drayden, você pode descansar agora – disse Alder, como se lesse a mente do homem. – Você também fez um excelente trabalho até aqui. Você apostou suas fichas numa menina de origem humilde, alimentou o sonho dela e viu ela chegar até aqui. Você não vai mudar nada da personalidade dela, deixa as pessoas amarem quem ela é.

    — Alder, eu estou orgulhoso dela – confessou Drayden. – Ela sempre foi perseverante, estudava, treinava, mas acima de tudo, agia como uma criança que era. Ela amadureceu, mas o coração dela ainda é o mesmo. Eu só não estou orgulhoso de mim.

    Alder olhou curioso para o homem de cabelos brancos.

    — Eu consegui ter uma relação boa e ver a evolução de uma menina que não é minha filha, mas a de Margareth, eu falhei. Hoje Íris me abraçou quando a batalha terminou, e eu percebi que mal lembro da última vez que minha própria filha fez o mesmo – Drayden riu com certo pesar.

    — Drayden...

    — Faz alguns meses que eu não tenho notícia dela. Eu só espero que ela esteja bem.

    — Bem, ela é filha sua, não? – sorriu o homem ao seu lado. – Com certeza ela está bem. O tempo vai unir vocês de novo.

    — Eu espero que esteja certo.

    Enquanto isso, a conversa dos membros da Elite 4 e a nova campeã não parecia ter fim, todos trocavam ideias como um grupo de adolescentes que não chegariam a lugar nenhum. Íris percebeu que aquele ambiente era tão reconfortante quanto a sua própria casa, conseguia sentir até o cheiro de seu prato preferido sendo preparado pelos braços talentosos de sua mãe. Ela sorriu inconscientemente.

    — Pessoal, o papo tá maravilhoso, eu sei – interrompeu Marshal. – Mas eu tô morrendo de fome. Ver aquela batalha me deixou ansioso, e ansiedade me dá fome.

    — Eu acho que a gente deveria encomendar comida suficiente para passarmos o resto da noite aqui – disse Grimsley, procurando seu celular.

    — Tio Alder, você tá mais que convidado – sorriu Shauntal, puxando uma cadeira. – E chama o seu amigo sério, quero saber mais sobre ele.

    — Cuidado, Drayden, ela vai fazer um fanfic yaoi com você – alertou o especialista em tipo noturno.

    Drayden olhou para Alder e o mesmo deu de ombro.

    — Não tenta entender, são jovens – riu o ex-Campeão, se aproximando. – Ei, vamos deixar a nova Campeã escolher o cardápio da noite.

    Íris olhou para todos naquele ambiente.

    — A minha primeira tomada de decisão como Campeã da Elite 4 vai ser escolher o que vamos comer?

    — Basicamente sim, é só pra você sentir a pressão – brincou Marshal.

    A garota refletiu por alguns minutos, pensou em todos os tipos de comida com nomes difíceis e em todos os poucos restaurantes cinco estrelas que conhecia. Queria tentar se adequar naquele ambiente, então imaginava que aquelas pessoas teriam um gosto mais sofisticado, mas logo se tocou que todos naquele lugar eram como ela, uma pessoa cheia de defeitos procurando ser a peça do quebra-cabeça de alguém. Novamente, sua mente lhe trouxe aquele cheiro nostálgico e o gosto picante na garganta de quem já sabia a resposta a muito tempo.

    Sorriu, com um ar confiante, pronta para dar a sua primeira decisão naquela nova fase:

    — Vamos comer carne de Torchic empanadas.

       

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  • Capítulo 33

     




    — O jantar está na mesa!

    A voz feminina ecoou pela casa. Não foi preciso que o volume da voz fosse alto, já que o lar era dividido em três cômodos minúsculos, sendo um deles, a própria cozinha e sala de onde a voz havia saído. Do quarto ao lado, duas crianças apareceram agitadas, disputando uma corrida imaginária.

    O mais velho era um garoto de pelo menos dez anos com lindos cabelos violeta. Sua pele morena era lisa e macia e seu rosto carregava uma vontade absurda de viver, apesar de alto, era bem magro. Ele logo se sentou a mesa e esperou que sua irmã mais nova fizesse o mesmo.

    A menininha de quatro anos era praticamente uma cópia do seu irmão. Só que com cabelos longos e bagunçados que ela constantemente usava suas mãos para afastar os fios rebeldes da frente do rosto.

    — Porque não prende o cabelo logo de uma vez? – questionou o irmão da menina.

    — Princesas sempre andam com o cabelo solto – respondeu a mais nova, com o nariz empinado.

    — Estamos muito longe de ser da realeza – riu o outro, observando suas próprias vestes surradas. – Você nem tem uma tiara.

    — Bem, um dia eu vou ter. E um vestido rosa! – sorriu a garotinha, sonhando alto enquanto balançava em sua cadeira.

    — O jantar da princesa está servido – a mãe dos dois se aproximou e depositou sobre a mesa uma refratário com simples, porém, apetitosas carnes de Torchic empanadas.

    Uma refeição feita com carinho que compensava qualquer dinheiro. A mais nova fungou e deixou o aroma salgado penetrar suas narinas, quase salivando.



    — Íris? – uma voz, dessa vez, masculina e velha despertou a garota de suas memórias.

    Íris olhou em volta para se situar, estava no backstage de um estádio e já era possível ouvir gritos eufóricos de algumas pessoas. Era o dia mais importante de sua vida.

    A garota prodígio finalmente alcançara o topo do mundo e faltava apenas mais um degrau extra: Se tornar a nova cabeça da Elite dos 4 de Unova. Olhou para suas mãos e até mesmo para o seu look: Um bufante vestido rosa de dois tons com mangas largas e uma abertura em V na saia com direito a laços. Na cabeça, uma singela tiara de ouro com duas esmeraldas, elas enfeitavam o longo cabelo violeta preso num rabo de cavalo.

    Aos 14 anos, Íris havia realizado seu sonho: Havia se tornado princesa. Mas não aquelas dos contos de fadas que era sequestrada e mantida presa por dragões numa masmorra. Aqui, ela era a princesa que comandava os dragões.

    Drayden pigarreou e estranhou quão avoada e distraída estava a garota.

    — Você está esquisita hoje – comentou o líder de Opelucid. – Hoje é um dia muito importante pra você ficar estranha.

    — Só estava refletindo – Íris acariciou os ombros. – Mas estou pronta desde os meus oito anos para esse momento, não tem como dar errado.

    — Gosto da confiança – o homem bateu de leve nos ombros dela, depositando a mesma empolgação e muita ansiedade. – Não se preocupe com as câmeras ou com a plateia. A maioria só veio aqui para fazer fotos e status. Respira fundo, você consegue.

    Íris refletiu por alguns minutos. Sua memória viajou longe novamente como se um filme da sua vida passasse na sua frente, aquele famoso clichê quando algo importante está para acontecer. Suas narinas expandiram e ela jurou sentir cheiro de algo que há anos não sentia. Soltou um leve sorriso e se virou para o senhor:

    — Quando essa batalha acabar, podemos comer carne de Torchic empanados?


    Nem o campeão de Unova estava acostumado com tantos olhares. Anos e anos de invencibilidade e ele ainda tremia para dar entrevistas ou falar sobre sua carreira. Mas ninguém podia negar que Alder era um dos mais admiráveis campeões que Unova já tivera.

    Enquanto terminava de se aquecer e se preparava para ser chamado, notou que não estava sozinho nos bastidores. Um garoto de aproximadamente catorze anos e cabelos rebeldes estava encostado contra a parede.

    — Eu paguei o camarote mais caro do estádio e você prefere assistir daqui? - questionou Alder, rindo.

    — Não tem graça assistir de tão longe – respondeu Benga.

    Alder era o avô de Benga. Os dois compartilhavam um espírito aventureiro e um amor pelo ar livre que poucas pessoas entendiam. Até os estilos de roupa eram semelhantes, com o campeão usando sempre sandálias, calças com barras irregulares e um manto que cobria seu tronco. Ninguém duvidada da relação dos dois quando o se tratava da cor e do corte do cabelo, com raivosos fios vermelhos e alaranjados compridos e espetados.

    — Tá pronto pra ganhar? – questionou o neto.

    — Eu não ligo para o resultado, só quero uma boa batalha – respondeu Alder, ajeitando suas Pokéball em volta do pescoço.

    — Você não tá nem se esforçando pra defender seu título né? – perguntou o mais novo.

    — Não vou entregar a batalha numa bandeja para ela – defendeu o campeão. – Eu só não acharia ruim de finalmente ter uma aposentadoria. Estou ficando velho.

    — Alder Ackworth dizendo que está velho? – Benga soltou uma risada escandalosa. – Logo você que pregava que todo mundo tem uma alma eternamente jovem? Qual é, vovô, você é alpinista, ninguém foi tão alto no Mt. Coronet. Não pode simplesmente falar que está velho.

    Alder sorriu, escandaloso igual.

    — Eu sinto falta de acordar de madruga só pra escalar montanhas por aí – confessou, reflexivo.

    — Então vamos fazer uma promessa? – Benga se levantou. – Quando essa batalha acabar, você vai tirar umas férias e vamos escalar até o topo do Mt. Coronet!

    O campeão riu, concordando.

    Era hora do show.



    Os protagonistas daquela história finalmente deram as caras, em lados opostos, quase não se enxergando graças a enorme distância. O campo de batalha era firme e meio poeirento, era neutro e seria um problema para quem trouxesse Pokémons aquáticos para aquele duelo.

    Pessoas de todos os tipos gritavam eufóricas. Era um duelo de titãs e muitas pessoas tinham gastado toda sua economia do ano para ter um lugar naquele estádio. Os mais ricos desfrutavam do local em cabines de camarotes, sendo servidos com vinhos, champanhes e todo tipo de iguarias. Íris se posicionou em seu lugar, evitando olhar para os lados, queria evitar ainda mais a ansiedade. Alder acenou para alguns fãs e foi aclamado. Alguns levantavam cartazes e outros mostravam bonecos dos Pokémon do time do campeão.

    O homem imitou o gesto de Íris e sorriu, observando com orgulho aquela jovem chegar tão longe. Era um entusiasta e defendia que o mundo deveria sempre se renovar, onde o velho daria o lugar ao novo para que esse pense mais no futuro.

    De sistemas de som, se pode ouvir a voz do narrador e apresentador daquela batalha.

    — Sejam todos bem-vindos ao duelo do século. Hoje, a Mestre Pokémon Íris Hewitt irá desafiar o atual Campeão da Elite 4 de Unova, Alder Ackworth, que irá defender seu atual título.

    As câmeras que transmitiam o duelo para toda Unova eram controladas por profissionais e por Rotoms que sobrevoavam todo o estádio para capturar cada ângulo daquele embate que mal havia começado.

    — As regras da batalha estão disponíveis no site oficial da Liga Pokémon de Unova – informou o narrador. – Em resumo, em um acordo das duas partes, a batalha será de 3x3 com o uso permitido de itens. Treinadores, saquem suas Pokéball, o primeiro golpe é da desafiante.

    Íris sacou sua primeira Pokéball, sorriu confiante, como se o objeto acendesse uma chama nela.

    — Druddigon, conto com você – ela arremessou o objeto e liberou o Pokémon que faria a estreia daquele embate.

    O Pokémon da garota era a aparência que definia o time todo: Um dragão. Apesar de não ser muito alto, conseguia intimidar todos com sua cara de mal em uma cabeça vermelha cheia de escamas pontudas e furiosas presas na boca. O corpo era de um azul petróleo, com braços e pernas que sempre terminavam em garras afiadas. Usando suas asas, ele ganhava o céu enquanto balançava sua cauda para amedrontar seu adversário.


    Alder ficou eufórico em ver um Druddigon voando, era bem raro ver criaturas daquela espécie realmente usando suas asas, o que significava que a garota havia treinado aquele Pokémon para que ele alcançasse o máximo de todas suas habilidades. A garota prodígio era muito mais que um apelido superficial.

    — Você quer brigar nos céus, então? – questionou o campeão, tirando uma esfera do seu colar de Pokéball e liberando seu primeiro Pokémon

    Um Braviary. A águia símbolo Unoviana era tão majestosa quanto seu nome. Suas penas azuladas e avermelhadas brilhavam conforme o sol refletia. O bico amarelado e as garras pontudas mostravam todo seu poder como predadora.




    Quando o sinal de start foi soado, um grito uníssimo da plateia se fez ouvir.

    — Vamos começar com Flamethrower! – ordenou a Mestre Pokémon.

    O dragão abriu sua mandíbula e brasas começaram a se acumular em sua boca que logo foram disparadas como um lança chamas de longa distância. O Braviary usava sua agilidade para se desviar do fogo, enquanto analisava o poder de seu adversário. Íris sabia que não era qualquer golpe capaz de atingir um treinador de alto patamar, mas sabia que uma hora ou outra, toda aquela agilidade se esgotaria.

    Aerial Ace! – ordenou Alder.

    A águia alcançou mais os céus, a ponto de fazer o dragão de Íris olhar para cima, usando uma de suas patas para bloquear o sol. O céu estava pintado com um azul tão lindo que Braviary parecia comandar aquele ambiente. Uma aura metálica rodeou o corpo da ave que mergulhou em direção ao inimigo.

    Íris ordenou que Druddigon não desviasse, e sim, que usasse seus longos e fortes braços para interromper o ataque do Braviary. Ele logo agarrou as duas asas do adversário e a plateia gritou, animada.

    Focus Blast! – gritou a treinadora.

    O dragão arremessou a ave e logo lhe acertou uma esfera azulada contra a barriga de Braviary, que caiu no chão. Foram preciso alguns minutos até que a águia voltasse a voar, levemente impactada com um golpe que surtiu grande efeito em seu lado Normal-type, mas que não era tão efetivo contra seu Flying-type.

    — Gosto como você gosta de exibir o armamento poderoso dos seus Pokémon. Foram dois golpes incrível. Rock Slide! – ordenou Alder.

    Íris sorriu.

    — Leu a minha mente. Rock Slide!

    Uma chuva de pedras foi ordenada e nenhum dos Pokémon sabiam se desviava ou se continuava a atacar. No final, Braviary usava suas enormes asas para arremessar as rochas contra o Druddigon, que se aproveitava de suas mãos livres para fazer o mesmo. A colisão das pedras quase fazia o estádio tremer.

    Os Rotoms que filmavam tinham que desviar várias vezes para não serem atingidos. O dragão de Íris conseguiu atingir a ave e voou em sua direção para uma investida, mas o Braviary era astuto e não deixaria barato. Usou suas garras com um golpe conhecido como Crush Claw para voar por cima do adversário e agarrar a nuca dele. Se Druddigon não tivesse escamas grossas, aquelas unhas com certeza teriam perfurado mais a sua pele. Com maestria, o Braviary usou o peso do corpo para arremessar o dragão ao solo, fazendo uma grande cratera funda onde ele caíra.

    — DRUDDIGON! – Íris gritou, preocupada.

    O Pokémon logo saiu do buraco, mas percebeu que havia grandes ferimentos em suas asas e costas. Isso dificultaria um pouco, já que não poderia alçar voo novamente. Alder encarava sua adversária eufórico.

    Desde que ela tinha o enfrentado pela primeira vez para conseguir o título de Mestre Pokémon, ele conseguia enxergar nela um talento natural para ler o jogo. Mas sabia também que ela continuara a treinar todos os dias para subir mais um degrau.

    Íris invocou outro Rock Slide na tentativa de derrubar o Braviary. A ave apenas se desviava ágil. Outro Aerial Ace foi ordenado e ave mergulhou como um foguete em direção ao Druddigon. A cada metro que se aproximava, o público gritava eufórico.

    DRAGON TAIL! – o comando de Íris fora tão alto e forte que era como se tivesse convocado todos os dragões do passado só para aquele golpe.

    A cauda de seu Pokémon assumiu um tom púrpura que brilhou como um farol. Braviary não se intimidou e o choque dos golpes gerou uma onda de energia e vento que os treinadores tiveram que cobrir o rosto e se protegerem com os braços.

    Logo depois, a poeira se levantou. O silêncio se fez como um todo. Todos então perceberam que aquela batalha seria eletrizante de início ao fim. Drayden, que se mantinha em arquibancadas próximas, encarava tudo de braços cruzados e sério, o gesto calmo era replicado por sua aluna que demonstrava calma, como se confiasse em sua equipe, o que surpreendia alguns comentaristas que ressaltavam a idade dela. Do outro lado, Alder tentava manter a pose, mas tanto ele, quanto Benga – que estava por perto – sentiam um filete de suor escorrer pelo rosto.

    A poeira cessou e o resultado foi revelado. Druddigon estava de pé, ofegante, enquanto o Braviary jazia desfalecido e nocauteado na mesma cratera em que o dragão fora arremessado. Os fãs de Alder soltaram uma exclamação de tristeza enquanto a maioria exaltava o Druddigon de Íris, alguns tiravam fotos e alguns diziam querer começar a treinar um Pokémon daqueles. Alder retornou o seu Pokémon e a garota fez o mesmo, achando conveniente que seu dragão tivesse um bom descanso. Era só o primeiro round e teriam que recuperar o fôlego logo.

    De todas as cabines de camarote, uma em especial assistia aquela batalha com enorme interesse. Os quatro membros da Elite 4 de Unova ansiavam em saber se Íris seria a nova chefe deles ou se continuariam com o bom e velho Alder. Marshal, o mais alto deles era uma montanha humana. Com sua pele negra e vestes largas e esportivas, ele denunciava o tipo em que era especializado graças a faixa preta em sua cintura: Fighting-type. O segundo membro masculino era o oposto dele, Grimsley era alto e esguio – mas não maior que Marshal -, usava roupas de grife e seu olhar era misterioso e cínico, mas seu cabelo azul petróleo espetado para trás lhe dava um ar divertido. Era especializado em Dark-type. As outras duas membras eram mulheres. A primeira parecia que estava num sono eterno, sempre com uma expressão serena com os longos cabelos louros quase lhe cobrindo o rosto. Parecia sair de um sonho de criança com um vestido rosado e leve. Seu nome era Caitlin e ela era a mestre dos Psychic-type. Shauntal era a última membra e tinha um estilo gótico para as roupas. Seu cabelo roxo era curto em um corte chanel. Seus óculos fundo de garrafa a fazia parecer uma pessoa tímida e inteligente. Sua roupa era um vestido curto com meias compridas. Essa era especializada em Ghost-type.


    O grupo dividia a atenção com seus próprios afazeres, fazendo alguns comentários. Marshal andava de um lado para o outro:

    — Ele não pode perder.

    Grimsley revirou os olhos, irritado. Bebericou um gole de seu vinho e olhou para ele.

    — Já entendemos que você tá torcendo para o Alder – respondeu, roubando a atenção do companheiro. – Mas temos que admitir que o vovô está velho. Ele já está se tornando aquelas pessoas que perde de propósito só porque gostou da determinação do treinador. Nunca se viu tantos Mestre Pokémon se formando em Unova.

    — Ouvi dos conselheiros de Kanto e Sinnoh que estamos envergonhando as elites deixando as pessoas ganharem dessa forma – comentou Caitlin, com a voz tão calma e doce que parecia flutuar no ar.

    — EXATO! – Grimsley exclamou. – É horrível andar nos eventos com os campeões e as elites e ver os outros fofocarem nas suas costas.

    — E você acha que nossa imagem vai ficar melhor com uma menina de catorze anos no topo? – questionou Marshal.

    — É melhor do que deixar qualquer um ter o título de Mestre Pokémon – argumentou o especialista em tipo noturno.

    — Eu não sei não – o lutador sentou-se ao lado de Caitlin e ela pegou a sua mão. Só ela conseguia acalma-lo da pilha de nervos que ele era.

    Shauntal era a única a não expor sua opinião, ela se mantinha concentrada fazendo anotações em um caderno vermelho usando uma caneta incrivelmente fofa para o estilo dela. Grimsley e os outros sabiam exatamente o que ela estava fazendo. O rapaz se esgueirou e começou a ler as anotações.

    — “O homem alto e forte agarrou as costas nuas e delicadas do rapaz mais baixo que corou ao imaginar o estrago que aquela mão faria” – leu, em voz alta, fazendo a moça gelar. – Shauntal, estamos numa discussão importante e você tá escrevendo pornô?

    A moça fechou o livro e ajeitou os óculos.

    — Do que estavam falando? – ela questionou, tentando disfarçar.

    — Alder versus Íris. Quem ganha e quem você quer que ganhe? – perguntou Grimsley. – Perceba que são perguntas diferentes.

    — Estou torcendo para o senhor Alder – respondeu, sem muitos segredos. – Ele é minha maior inspiração para escrever meus romances.

    Marshal massageou as têmporas e Caitlin riu com a impaciência do namorado.

    — Sério agora, Shauntal, todo mundo serve de inspiração para os seus pornôs – alegou o especialista em Dark-type. – Quem são os dois desse trecho?

    — Você e o Marshal – uma das características que mais assustava em Shauntal, é que suas respostas eram tão diretas e sinceras que ninguém estava preparado. Grimsley ficou vermelho de raiva e Marshal escondeu o rosto.

    — ELE TEM NAMORADA! – berrou Grismley. – E eu não sou gay!

    Shauntal abriu seu caderno e começou a fazer anotações em voz alta:

    — “O rapaz mais baixo é tsundere e se esconde no armário”.

    — PARA DE FAZER ANOTAÇÃO! – berrou o outro.

    Marshal e Caitlin riram, acostumados com todo aquele clima. Não eram a melhor Elite 4, mas eram especiais da sua maneira.

     

    De volta ao campo de batalha, Alder refletia sobre qual seria sua próxima escolha. Havia de se preocupar também com a escolha de sua adversária. Íris sacou sua segunda Pokéball, determinada, e o campeão repetiu o processo.

    — Vamos lá, Haxorus! – a menina arremessou a esfera e um Pokémon aclamado por muitos se libertou.

    Um segundo dragão alto e bípede grunhiu com poder quando encontrou o solo. Suas cores predominantes eram dourado escuro e preto, com placas de escamas por todo o corpo. Suas patas superiores eram magras enquanto suas pernas eram grossas e fortes. Seu corpo terminava numa cauda comprida e pontuda, no rosto, os olhos vermelhos pequenos dividiam espaço com duas lâminas em cada lado da boca.



    Alder também libertou seu segundo Pokémon. Conhecido com Conkeldurr, o Pokémon tinha uma expressão séria, porém, cômica. Tinha um nariz avermelhado enorme e sua cabeça era inclinada pra frente. Seu tronco era sua parte mais forte, com uma coloração marrom, ele contava também com traços róseos que lembravam veias. Os braços grossos terminavam em mãos que não largavam dos pedaços de pilares de concreto, tudo isso para demonstrar sua força. Já a parte inferior do seu corpo, se encerrava com duas pernas e pés pequenos.


    Era hora do round 2.

    Pelas regras, o perdedor da roda anterior começaria os ataques.

    — Comece com Hammer Arm! – ordenou Alder.

    O Conkeldurr acumulou uma energia física em seus pilares que liberaram um brilho de cor branca. Apesar de não ter uma grande velocidade, ele avançou para cima do dragão que aguardou até o momento que ele levantou uma das estruturas de concreto e usou para atacar o adversário como um martelo. Haxorus fixou as patas no chão e usou a abertura entre as lâminas de sua boca e suas patas para segurar o golpe do inimigo.

    Dessa vez, o round seria ganho por aquele que fosse mais forte fisicamente e demonstrasse grande resistência. O lutador soltou o pilar segurado por Haxorus e usou o que lhe restava para arremessar contra o corpo do dragão caiu para trás, mas não antes de devolver o concreto que segurava contra o próprio dono. Ambos caíram para trás, mas logo se levantaram, com apenas leves arranhões.

    O público ovacionou com tamanha força de ambas as partes.

    Dragon Dance! – Íris comandou seu primeiro golpe. Dessa vez, um golpe de status.

    Com alguns movimentos que pareciam uma dança, o corpo do Haxorus ficou coberto por uma aura rósea meio avermelhada. Seu corpo parecia mais rígido e poderoso. As partículas de poder em volta dele indicavam um aumento considerável de ataque e velocidade. Golpes de status eram bem conhecidos por serem usados por estrategistas que se preocupavam com números. Íris, apesar se não se interessar por esse tipo de movimento, sabia da importância deles graças as suas aulas com Drayden.

    Alder, por sua vez, sempre parecia uma criança. Apelava para golpes bonitos de se falar e com aparência poderosa. Em seu turno, ordenou que seu Pokémon usasse Poison Jab. Conkeldurr largou suas vigas de concreto e sua mão assumiu uma cor púrpura brilhante. Apesar de ser do tipo Fighting-type, era comum ver golpes de outros tipos em Pokémon. Ele avançou e atingiu Haxorus com um soco, o adversário mal se moveu pois estava concentrado em acumular mais poder.

    Se tivesse sorte, o golpe dando por seu Pokémon, poderia gerar um status de envenenamento e debilitar a movimentação e ataques do Haxorus. Íris engoliu seco, receosa, mas logo percebeu que seu dragão estava bem e pronto para o próximo ataque.

    X-Scissor!

    As lâminas do Pokémon da Mestre Pokémon brilharem em um tom esverdeado. O golpe do tipo inseto era tão mortal e crítico que fazia alguns treinadores tremerem na base. Como sugeria o nome, as lâminas atacavam em um formato de X, e graças ao boost do Dragon Dance, elas tinham uma força maior.

    — DEFENDA-SE! – gritou Alder, agitado.

    Conkeldurr sorriu com o canto da boca e bloqueou o ataque do Haxorus, que insistiam em atacar a estrutura de concreto que o adversário carregava como um estudo. A cada batida, a plateia gritava eufórica. O dragão golpeava com agilidade, mas o lutador se divertia em observar seu inimigo sofrendo por cima do pilar. Ele atacou pela última vez e recuou, Alder e seu Pokémon gelaram o notarem que o objeto havia trincado.

    O atual campeão encarou o Haxorus, que arfava para se recuperar, mas que nunca perdia a pose. Atrás dele, ele viu Íris, que mantinha uma expressão confiante e séria, aquela aparência só era reconfortante graças as vestes da garota. Drayden parecia uma sombra protetora. Os três representavam tudo aquilo que os Dragon-type eram: Poderosos.

    Alder sorriu com empolgação. Conseguia enxergar perfeitamente tudo aquilo como uma herança. O mais velho passando suas habilidades e conhecimentos para os mais novos, tudo numa renovação automática para o futuro. Naquele momento, pensou em todos os ensinamentos sobre viver a vida que passara para sua família, olhou para trás e seus olhos encontraram os de Benga, que era a prova viva que sua herança estava em boas mãos. Perdendo ou ganhando, só a emoção daquela batalha havia valido cada segundo na Terra.

    — Vamos balançar esse campo de batalha – o campeão olhou para todos os seus fãs, que reconheciam aquele olhar de longe. Ele gritou juntamente com a plateia: - EARTHQUAKE!

    Conkeldurr agarrou o pilar intacto e com uma força gigantesca, arremessou contra o chão, não importando quando o objeto se partiu em vários pedaços. O chão tremeu com força e Íris teve que se controlar para não sair. O golpe desnivelou o terreno e alguns pedaços de pedra e solo atingiram Haxorus, que tentava se manter em pé. Os espectadores berravam e gritavam pelo nome de Alder.

    O campeão sentiu seu coração acelerar com tanta emoção. Até mesmo Íris conseguiu soltar um riso, naquela hora, os dois tinham esquecido que o preço daquela batalha era um título. Estavam mostrando para centenas de espectadores e para milhares de pessoas que assistiam pela TV que toda e qualquer batalha era muito mais que criaturas em campo disputando e exibindo seu poder, se trava de uma disputa de almas, de coração e de ideais.

    Íris ordenou que Haxorus desse um salto. O chão ainda estava instável e seria perigoso de movimentar por ele. Usando suas pernas e sua agilidade aumentava, o dragão pulou para cima. Era de se impressionar o quão alto um daquele espécie conseguia pular.

    DUAL CHOP! – a garota gritou alto o suficiente para que alcançasse o seu Pokémon e fizesse eco no ginásio.

    Haxorus fechou o punho e mergulhou em direção ao Conkeldurr, que novamente, usou seu antigo pilar para proteger-se e bloquear o golpe. O dragão veio mergulhando com um foguete, alguns até diziam que com a maestria e equilíbrio daquela queda, parecia que o dragão estava voando. O punho assumiu um incrível brilho púrpura, seu corpo começou a queimar e a assumir o tom avermelhado novamente, seus olhos encontraram e intimidaram o lutador.

    Novamente, numa briga de gente grande, ondas de poder e vento ecoaram pelo ginásio. Íris agachou-se, tão impressionada quanto a plateia. Alder estava confiante, porém, preocupado.

    O silêncio no estádio foi ensurdecedor. O narrador estava tão tenso quanto. Os Rotoms continuavam a filmar loucamente. O Conkeldurr sentiu o tempo ir devagar ao ouvir seu pilar de concreto trincar mais e mais, até num ponto que ele se transformasse em apenas pedregulhos aleatórios pelo chão.

    Ninguém soube dizer exatamente o que aconteceu logo em seguida. O campo de batalha se cobriu em uma enorme nuvem de poeira, enquanto os treinadores aguardavam angustiados o resultado da batalha. Todos engoliram seco. Drayden manteve sua pose, Benga quase arrancou os cabelos. Na cabine da Elite 4, Caitlin mantinha as mãos juntas, preocupada. Marshal estava de braços cruzados, Grismley encostou mais no vidro para ver melhor e Shauntal cobriu o rosto.

    Alder só conseguia pensar que aquele ainda não era o embate final.


       

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