• Capítulo 43

    Cheren acordou com uma forte de cabeça. Ficou surpresa que ao invés encontrar um céu azul, se deparou com a laje branca combinada com a luz de LED pálida de um hospital. Conforme seus sentidos foram se aguçando, ele pode escutar os passos apressados de pessoas e o cheiro de medicamentos. Estava em um hospital.

    Girou a cabeça para analisar o ambiente e viu que estava em uma ala compartilhada. A julgar pelo ambiente, era uma sala para ferimentos leves. Com dificuldade, se sentou, alcançando seus óculos – felizmente intacto -, na mesinha de cabeceira próxima.

    Uma enfermeira adentrou a sala e percebeu que o garoto acordara.

    — Oh, você acordou – disse a mulher, depositando uma bandeja com remédios na mesa de canto. – Como se sente? Você chegou aqui desacordado, mas estava apenas com alguns arranhões.

    — S-Só tenho dor de cabeça – respondeu o treinador, analisando alguns curativos em seus braços.

    — Trouxe um remédio para ajudar. Muitas pessoas se envolveram no acidente com o Beartic na Rua L – disse a enfermeira, estendendo o copo e um comprimido branco para o jovem.

    Prontamente, Cheren engoliu o comprimido. Sua mente ainda tentava lembrar o que acontecera. Ele quase pulou da cama quando se tocou do contexto e da situação.

    — C-Cadê o motorista do ônibus? – perguntou, temendo pelo pior. Afinal, o motorista tinha insistido que o garoto descesse primeiro. – E-E a Bianca?

    A funcionária do hospital se assustou com o desespero do rapaz. Ela refletiu, tentando raciocinar. Eram tantos pacientes que ela mal tivera tempo de decorar os nomes.

    — U-Uma garota de cabelos loiros – descreveu Cheren. – Ela estava com um Oshawott.

    — OH! A garota do Oshawott – a enfermeira estalou os dedos. – Ela está bem – a mulher apontou para o fim da sala.

    O treinador se levantou, se direcionando para a direção apontada, apressado. Sentiu um alívio no peito quando encontrou a garota sentada em sua maca, com apenas uma faixa enrolada em volta da testa e alguns curativos. O Oshawott da menina choramingava em seu colo, mostrando que estava preocupado e assustado.

    — T-Tá tudo bem agora, Osha – riu Bianca, acariciando os pelos brancos da lontra. – Foi só um susto – ao ouvir os passos, ela olhou para o lado. – C-Cheren?

    Quando pequeno, Bianca sabia que Cheren sempre escondia seus sentimentos atrás de um par de óculos e a expressão fria. Mas não era culpa dele, era como se o garoto fosse treinado para apenas se importar com coisas mais importantes: Ser perfeito. Na escola, a loira se impressionava com a inteligência do garoto, mas sempre ria quando ele ficava encabulado com os abraços.

    E, como da água para o vinho, era a vez de Bianca se encabular com abraços. Cheren envolveu a garota num abraço apertado. Seu rosto se apertou contra o peito do treinador e ela ficou corada.

    — G-Graças a Arceus – disse Cheren. – A-Achei que estava ferida.

    — A-ah... H-hã... – em transe, Bianca mal sabia o que responder.

    O treinador se afastou e olhou pra garota. O rosto avermelhado de Bianca fez o garoto ficar igualmente tímido, principalmente quando ele percebeu que outros pacientes os observavam, maravilhados com o amor juvenil.

    — E-Então – ele coçou o cabelo. – D-Desmaiamos com o susto.

    — É-é – assentiu a loira. – Q-Que bom que você está bem...

    Uma terceira figura chamou a atenção dos dois. E pela voz grossa e mal-humorada, dava pra saber exatamente de quem era.

    — Tsc, vocês dois me deram um baita susto – era o motorista do ônibus, estava com a perna enfaixada, indicando que seu ferimento fora mais grave, mas ele parecia bem, considerando a lucidez. – Mas eu fico feliz que estejam bem. E obrigado por salvarem a minha vida.

    Cheren e Bianca sorriram, duplamente aliviados em verem que aquela figura mal encarada estava bem.

    — Obrigada por nos ajudar – Bianca sorriu gentilmente, fazendo o senhor corar levemente, sentindo o coração aquecido.

    — De toda forma – ele coçou a garganta. – Finalmente vou poder descansar um pouco da droga daquele emprego. Estou ansioso para aproveitar minha família.

    A enfermeira de antes se aproximou e sorriu.

    — Falando em família, já contatei a sua esposa – disse para o motorista. Logo em seguida, ela se virou para Cheren e Bianca: - A família de vocês também foi contatada, eles estão vindo pra cá.

    Por um minuto, os dois se esqueceram completamente do status de fugitivos. A garota gelou e olhou para o treinador, imaginando o que faria se fossem pegos. Cheren engoliu seco e agarrou a mão de Bianca. Só tinha uma alternativa conhecida: continuar fugir.

    — E-Então... A gente precisa ir – o treinador começou a andar, pegando seus pertences.

    — E-Espera! – a enfermeira estendeu o braço, confusa com a repentina ação.

    — O-Obrigado pelos cuidados!

    A dupla apressou o passo e saiu da sala. Ambos notaram estarem sendo seguidos pela funcionária do hospital, mas não olharam para trás. Se estreitaram no meio das pessoas e dos corredores lotados. Cheren não largava a mão de Bianca, apressado em despistar a atenção da mulher.

    Saíram com certa folga do hospital pela porta da frente, mas isso não os fez descansar. Eles continuaram a correr alguns quarteirões até terem certeza que podiam descansar. Encostaram na parede de uma cafeteria com pouco movimento e respiraram fundo, recuperando fôlego.

    — Me sinto um fora da lei fugindo desse jeito – comentou Cheren.

    — Em parte somos – riu Bianca. – Somo dois menores de idade fugindo de casa.

    — Você não precisava me lembrar disso – riu o treinador, em resposta. Ele olhou pro lado e viu a cafeteria e sentiu a boca seca. – Quer beber algo? Tô morto de sede.

    — Q-Querer eu quero, mas não estamos apresentáveis – apontou Bianca.

    Os dois olharam para si próprios. As roupas eram as mesmas, mas estavam sujas e surradas. A humilhação foi maior quando notaram que ainda usavam as pantufas do hospital (pelo menos eram macias).

    — P-Pelo menos ainda temos nossas coisas – disse Bianca, tentando ser positiva, apontando pra bolsa.

    — Cara, vocês estão horríveis. Em que buraco se enfiaram? – a voz familiar soou como uma maldição para Cheren.

    O treinador se virou e se deparou com Benga, saindo da cafeteria, acompanhado de Íris, a nova Campeã de Unova. Era uma dupla inusitada, mas esse nem era o foco maior. O neto de Alder cruzou os braços, analisando a dupla.

    — O que houve com vocês dois? – questionou.

    — E-Eu não sei se tô incrivelmente irritado por rever você ou se estou aliviado – disse Cheren. – Precisamos de roupas novas, nós meio que saímos do hospital agora.




    O hotel que Benga estava hospedado tinha um toque aconchegante típico desse tipo de local. No caminho, foi informado para Cheren e Bianca que o garoto estava em Castelia a pedido do avô, que estava resolvendo algumas coisas da Liga.

    A dupla fugitiva aproveitou a oportunidade de ouro para um banho. Cheren recebeu uma camiseta de cor neutra e uma calça jeans, enquanto Bianca recebeu uma saia e uma blusa de lá, eram roupas provisórias até que as antigas ficassem limpas.

    — Então vocês estavam fugindo de Nuvema, se envolveram em um acidente, foram parar num hospital, e agora, fugiram do hospital porque descobriram que chamaram seus pais? – questionou Benga. – Isso não é muito para um capítulo só?

    — É difícil raciocinar desse jeito – disse Cheren. – Mas acho que nunca senti tanta adrenalina na vida.

    — Aliás, que espécie de fuga é essa? – questionou o garoto de cabelos vermelhos. – Vocês são uma espécie de casal em fuga? Fugindo das garras de reprovação de seus pais?

    A dupla corou.

    — N-NÃO É ISSO! – berrou Bianca, envergonhada.

    — V-Você entendeu tudo errado – Cheren ajeitou os óculos, envergonhado. – E-Estamos só... tentando viver nossas vidas – explicou-se, ainda que parecesse mais idiota. – ALIÁS! E VOCÊS DOIS TAMBÉM?! Eu nunca vi dupla mais inusitada que isso.

    — C-Cheren... – sussurrou Bianca. – V-Você não tá reconhecendo ela?

    O treinador analisou Íris. Talvez seja pela mudança de roupas, já que a garota usava uma blusa bege com detalhes em rosa e uma calça ¾ branca, bem diferente do vestido bufante que usara na batalha contra Alder. Olhando assim, ela só parecia uma garota normal.

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    Benga respirou fundo.

    — Essa daqui é a Íris – ele estendeu o braço para mostrar a garota. – Ela é a Campeã de Unova, mas aparentemente, não sabe andar numa cidade como Castelia.

    A campeã olhou para o rapaz, enfezada. Ela usou o calcanhar para atingir o pé do garoto, que urrou de dor.

    — Eu nem queria estar com um selvagem como você – respondeu ela. – O tio Alder pediu para que você me acompanhasse pela cidade enquanto ele resolvia algumas coisas da liga. Eu ia acompanhar, mas o tio Drayden se ofereceu para resolver tudo pra mim.

    — Nem acredito que uma criança como você conseguiu ganhar do vovô – murmurou Benga, enfezado.

    Íris se aproximou do rapaz, provocativa.

    — Obrigada por me lembrar que eu sou uma treinadora incrível – debochou. – A partir de hoje, você me chame de Princesa Íris.

    Cheren e Bianca observaram a face de Benga ficar vermelha de raiva, tão vermelha quanto as mechas arrepiadas de seu cabelo.

    — Mas nem que se eu tivesse com uma guilhotina na minha cabeça – retrucou ele, irritado.

    Íris riu, se virando para a dupla.

    — É-é um prazer conhecê-los – sorriu a Campeã. – Ainda não entendi a relação de vocês com o Benga direito, mas logo vou me acostumar.

    — É uma honra conhecer a Campeã mais nova de Unova – ressaltou Bianca, sorrindo.

    Cheren coçou a garganta.

    — D-Desculpe por antes. Você é uma treinadora muito habilidosa – envergonhado, ele coçou a nuca. – Meu nome é Cheren, essa é a Bianca.

    — Ora, p-parem com os elogios – envergonhada, Íris coçou os cabelos volumosos e longos. – N-não tô acostumada.

    — Você tá se achando o máximo, isso sim – debochou Benga.

    A Campeã encarou o garoto com um olhar ameaçador, que tremeu.

    Bianca e Cheren riram de leve, “Eles combinam, de alguma forma”, pensaram. A garota de cabelo loiro sentou-se na beirada da cama, perto de onde seu Oshawott repousava, exausto de tanta correria.

    A garota acariciou o topo da cabeça da lontra de água, com um sorriso em canto de boca.

    — Desculpe pela correria, Osha – disse a menina, carinhosa. – Agora podemos descansar.

    Bianca estranhou quando notou a fronte de seu Pokémon estava baixa. Seus curtos braços estavam contra a concha em sua barriga e eles tremiam feito um Snorunt. A garota colocou o inicial de água em seu colo e notou que ele suava frio.

    — O-Osha, tá tudo bem? – questionou a menina. Os outros presentes pararam para observar.

    A lontra inclinou seu corpo para o lado e golfou. O ato criou alarde e gerou desespero em Bianca. A resposta era óbvia: Oshawott não estava bem e necessitava de um Centro Pokémon. O ato foi sugerido por Benga e logo foi aceito pelos demais.


    Não que um atendimento seria rápido, existia o pequeno detalhe da cidade de Castelia estar sofrendo de uma crise de abandono em massa de Pokémon e cada vez mais surgiam pacientes. Havia até mesmo pessoas, que no desespero, levaram parentes ou amigos próximo para o centro para serem atendidos.

    O local estava uma bagunça. Do lado de fora, vários repórteres e policiais tentavam obter informações para investigações. O grupo não se atentou a isso, preocupado em apenas arrumar espaço entre as pessoas a fim de alcançar o balcão principal.

    — C-Com licença! – dizia Bianca, com o Oshawott contra seu peito. – É uma emergência!

    Cheren ajudava a garota a abrir caminho, por ser maior, ele permitiu que eles chegassem em seu destino. Bianca sentou Osha no balcão de madeira, chamando a atenção de uma enfermeira que carregava uma bandeja com Pokéball.

    — E-Enfermeira Joy! – gritou Bianca, em prantos. – Meu Oshawott está mal! Por favor, ajuda ele!

    — H-Hã, v-você pode esperar? – perguntou a enfermeira, com a expressão de quem estava sobrecarregada. – T-Tem outras pessoas na frente – a mulher de cabelos róseos apontou para atrás do grupo. Havia pelo menos cinquenta pessoas na fila de espera.

    — M-Mas, ele vomitou, ele está mal! Ele está tremendo, diferente do normal! E se ele tiver algo grave?! – era a vez da tutora do Pokémon de água começar a tremer.

    Cheren colocou as mãos nos ombros da companheira, oferecendo suporte. Ele tentou manter a calma, mesmo estando afetado em ver Bianca naquele estado.

    — Pode oferecer algum remédio enquanto esperamos? – questionou.

    — Se ele vomitou, podem oferecer algo para mantê-lo hidratado – a enfermeira estendeu o braço e apontou para uma máquina de venda automática de bebidas e alimentos ao lado dos sofás da área de espera. – N-Não posso medicar ele sem uma consulta.

    O treinador suspirou, assentiu e agradeceu. Ele passou o braço em volta do ombro de Bianca, e guiou a garota e o seu Pokémon para a área de espera. Íris e Benga se aproximaram em silêncio, preocupados. Cheren foi até a máquina de bebidas e comprou uma limonada em lata, se aproximando da garota para entregar a ela.

    Bianca agradeceu e ajudou o Oshawott a bebê-lo. Benga olhou em volta, sentindo uma atmosfera familiar como o acontecido em Accumula. As expressões de confusão, os olhares perdidos, tudo era uma indução caótica e o inimigo era silencioso.

    — Acho que tá claro pra gente que foram os mesmos idiotas que fizeram aqui o que aconteceu em Accumula, né? – questionou o neto de Alder. – Acha que foi o mesmo maluco de cabelo branco?

    — Difícil dizer – refletiu Cheren. – Impossível um cara daquele agir sozinho. Unova é muito grande e ele atacou praticamente a capital da região.

    — Talvez ele não esteja sozinho... – apontou Bianca. – Quando eu, Hilda e Hilbert investigamos o desaparecimento da Musharna da senhorita Fennel, o homem de cabelos brancos que vimos em Accumula estava lá – contou ela, se lembrando. – Um homem estranho apareceu e o chamou de Tsuyo. Ele fazia parte da Team Plasma.

    — Espera, Plasma? – questionou Benga. – Plasma e o Dream Mist estão envolvidos?

    — F-Foram eles que mataram Munnas no Dreamyard para recolher alta quantidade do Dream Mist – disse Bianca, com a voz baixa.

    Íris levantou a mão.

    — Espera, vocês estão falando dos Plasmas? Aquela equipe nas redes sociais que resgata Pokémon e alerta sobre os maus tratos com eles? – questionou a Campeã.

    — Não podem ser os mesmos – refletiu Benga. – Mas é o mesmo nome.

    — Isso é tudo muito estranho – comentou Íris.

    A atenção foi rapidamente desviada por uma mulher de cabelos róseos, vestido branco e um cardigan verde em volta dos ombros. Ela se aproximou do grupo como um anjo, sua voz era baixa, mas audível, com uma educação de uma duquesa:

    — Com licença, desculpe atrapalhar a conversa de vocês. Eu estou procurando uma Lillipup, o nome dela é Angel. Ela estava usando uma coleira rosa, com detalhes de florzinha. É de um garotinho e ele está preocupado.

    Bianca olhou para cima, reconhecendo as características dadas. Antes que ela pudesse comentar algo, uma outra figura se aproximou. Os cabelos verdes e a expressão calma faziam ele parecer um ser celestial. Sua atenção, porém, não estava nos humanos, e sim, no doente Oshawott no colo de Bianca.

    N estendeu a mão e a colocou gentilmente sobre a cabeça da lontra. Bianca se assustou, mas a aura que o rapaz trazia era de tranquilidade. O inicial de água olhou para o jovem, seus olhos azulados eram de ternura e compreensão, em seu ombro, uma Purrloin curiosa, apegada a seu mestre.

    — Está tudo bem agora, pequeno – ele acariciou os pelos macios de Oshawott. – Sua amiga humana está bem, eu sei que deve ter sido um acidente perigoso, mas ela parece bem e está preocupada com você.

    Para Susan, Anthea e Concordia, aquela era uma situação normal, mas era impagável a reação dos treinadores. Osha olhou para sua companheira e grunhiu. Bianca sorriu levemente e o abraçou.

    — O susto te deixou em pânico, né? – perguntou. – Mas eu estou bem, eu prometo – depois, ela virou seu olhar para N. – O-Obrigada.

    Natural sorriu levemente. O leve silêncio deixado pela situação foi interrompido quando Oliver, o mais interessado no sequestro de sua Lillipup, se aproximou com Concordia e reconheceu Bianca.

    — Ah! Bianca! – o garoto finalmente demonstrou um sorriso e correu para abraçar a conhecida.

    — O-Oliver – disse Bianca. – Espera, roubaram a Angel?!

    O primo de Hilda assentiu. Ele olhou para Cheren e cumprimentou o treinador.

    — Como aconteceu? – perguntou o treinador.

    — Uma moça veio correndo, trombou em mim – contou Oliver. – Ela parecia apressada, tava fugindo da polícia. Quando eu notei, ela tinha pegado a Angel.

    — N-Não tem motivo para roubarem a Angel. Vocês têm alguma pista pra onde ela foi?

    O garoto negou, lentamente.

    — Não se preocupa, Oliver – disse Bianca, acalmando o menino. – Nós vamos te ajudar a achá-la. Por onde vamos começar?

    Benga se aproximou. Havia se afastado pois estava curioso com uma conversa, e pela cara que fez, tinha descoberto algo.

    — Ouvi dois policiais conversando sobre o desaparecimento repentino de um Beartic na Avenida L – contou. – Eles desconfiam que quem esteja envolvido com esse surto, está envolvido com quem está sequestrando os Pokémon.

    — Espera, estão roubando os Pokémon também? – questionou Íris.

    — Pelo o que deu pra escutar, já teve umas cinquenta denúncias de desaparecimento – contou o garoto de cabelos vermelhos. – Isso é muito estranho. De que lado esses caras estão?  De qualquer forma, o que importa é: Procurando por pistas, eles descobriram que o ataque possa ter vindo de baixo.

    — De baixo? – questionou Bianca, curiosa.

    — Dos esgotos – afirmou Benga.

    — Se as pessoas que atacaram são as mesmas que estão roubando, então... – Cheren começou a refletir na situação.

    — Quer dizer que o lugar na qual estão reunindo os Pokémon roubados só pode estar no esgoto – completou Íris, seguindo o raciocínio. – Faz todo sentido, é um lugar que quase ninguém vai e perfeito para uma base secreta.

    — V-Vocês acham que a Angel está lá, então? – questionou Oliver, com um pingo de esperança e com muita inocência em achar que as coisas eram simples.

    — Provavelmente, é um lugar a se procurar – animou Benga. – Eu vou pra lá agora, quem vem comigo?

    Anthea e Concordia se entreolharam, depois, olharam para Susan. Assim como as irmãs de N, a mulher de cabelos negros sabia que toda aquela parafernália era obra da Team Plasma, a questão era: Natural, o Rei dos Plasmas, não sabia de todos os planos atrozes de seu pai, como esconder isso do garoto? Concordia tomou a frente:

    — Nós ficaremos com Oliver – disse, estendendo a mão para o garoto.

    N olhou para Susan, com um olhar confiante.

    — Virá comigo?

    A mulher se curvou levemente, como uma dedicada guarda-costas. Ela assentiu e respirou fundo. Em sua cabeça, na verdade, só girava pensamentos de como afastar N da verdade.

    Cheren e Bianca se ofereceram para acompanhar Benga e o próprio N. O treinador tirou a Pokédex de sua mochila, usando-a para encontrar a localização da entrada do sistema de esgoto. O objeto causou repulsa em Natural, que jogou seu corpo para trás e sentiu o ódio correr em seu sangue. Aquele maldito objeto, era por causa daquele aparelho cheio de barulhos irritantes, que todos seus amigos Pokémon eram maltratados, capturados e estudados como seres inanimados.

    — Eu já deveria saber qual era a laia de vocês – a voz ameaçadora do rapaz chamou a atenção do grupo. Os olhos azulados brilhavam por baixo da sombra das mechas finas e curtas de sua franja. – As mochilas, o cinto com esses objetos repugnantes, esse aparelho. São treinadores Pokémon, certo? Não preciso da ajuda de vocês!

    Susan se manteve em silêncio, Oliver segurou a saia de Anthea, Bianca e Cheren o encaravam surpresos, enquanto Benga e Íris não pareciam muito pacientes com a grosseria. Quem era aquele maluco?

    — Vamos, Susan – de cabeça erguida, N começou a se dirigir para a saída.

    — Espera aí, esquisitão! – Benga levantou a voz. O Rei dos Plasmas lhe deu atenção. – Que história é essa?! Você nos ofende como se tivéssemos te batido e depois sai sem ouvir nada. O que tem de errado com as minha Pokéball? O que há errado com a Pokédex de Cheren? O que há de errado em treinadores? Aliás, o que há de errado com você?!

    — Posso ouvir a voz de cada Pokémon aqui presente – ele disse, com convicção. – E as vozes me disseram que há dor e sofrimento. Eles se sentem presos, sozinhos e tristes por estarem longe de casa, longe de onde eles deveriam estar. Vocês usam essas coisas para ajudar a si próprios a criarem um confinamento para cada espécie. Vocês são a escória do mundo!

    Benga sentiu o sangue ferver, sua mão fechou-se num punho.

    — Você não sabe de nada, esquisitão! Nossa intenção nunca é machucar os Pokémon!

    — Treinam seus Pokémon como máquinas para imitarem aquelas figuras idiotas que se intitulam uma elite! – retrucou. – O que há com aquele que chama de Campeão? Qual é o troféu dele?! O sangue derramado.

    Os que conheciam Íris e seu título olharam para a garota, que mantinha a fronte calma. Mas Benga não parecia carregar a mesma paciência, já que sentira as dores de seu avô (ou da própria garota ao seu lado).

    — Você é muito idiota julgando as pessoas dessa maneira – retrucou o neto de Alder. – É só olhar para sua volta! Estamos em um hospital para Pokémon, esse lugar tá abarrotado de gente preocupada com seus queridos amigos!

    — APENAS PARA OS LOTAR DE REMÉDIOS E JOGÁ-LOS NO CAMPO DE BATALHA NOVAMENTE! – gritou N. – VOCÊ TEM NOÇÃO DE QUÃO SUPERFICIAL É ESSA RELAÇÃO? VOCÊS AO MENOS PERGUNTARAM SE OS POKÉMON QUEREM ISSO?!

    Cheren abaixou a fronte, guardando a Pokédex, envergonhado até pela sua relação com seus próprios Pokémon. Lembrou da vez que ficou dias na Pinwheel Forest em busca de um Bagon, apenas uma peça perfeita para seu time. Isso queria dizer que os mais comuns não eram? O quão mesquinho ele fora?

    Benga, porém, não parecia compartilhar da mesma opinião e se manteve firme. Ele cerrou o punho e o levantou, como quem ameaça atacar. Ágil como o vento, Susan colocou o braço entre o garoto e o seu protegido, mantendo uma expressão nunca vista antes: séria e pronta para revidar.

    Íris apartou o clima de tensão colocando as duas mãos em volta do punho fechado de Benga. O garoto encarou a menina, mas sua feição mudou quando viu o rosto sereno dela. Ele abaixou a mão e virou o rosto, tentando relaxar. A Campeã, então, deu um passo à frente.

    — É um prazer conhecê-lo, senhor – a educação de Íris era semelhante de uma princesa mesmo. – Meu nome é Íris Kingstone, atualmente, sou a Campeã da região de Unova e também cabeça da Elite dos 4.

    N a encarou com um anjo encararia um pecador. Com um sorriso levemente curvado, ela continuou:

    — Entendo sua preocupação com os Pokémon e também compartilho o sentimento de considerar os Pokémon como nossos amigos – contou. – Na Elite 4 e na Liga, todos nós nos preocupamos com o bem-estar de nossos Pokémon. Muito mais que um troféu para o treinador que se tornar Mestre, oferecemos oportunidades para estreitar laços entre Pokémon e treinador.

    — Desde quando você fala bonito? – questionou Benga, irônico, recebendo uma cotovelada logo em seguida.

    — De toda forma, nos preocupamos com os Pokémon tanto quanto você – concluiu Íris.

    O clima de silêncio pairou o ambiente. A expressão de seriedade de N indicava que ele não cederia aos seus valores facilmente, muito menos seria flexível. Susan, por sua vez, finalmente abaixou o braço que protegia o rapaz e olhou para ele, deixando a decisão do que fazer nas mãos dele. Oliver segurava a roupa de Anthea quando resolveu falar:

    — E-Então vocês não vão mais salvar a minha amiga Angel?

    O resto do grupo virou o rosto, todos igualmente envergonhados pela confusão quando, na verdade, deveriam direcionar todas as forças para um único objetivo. N respirou fundo e lembrou que deveria colocar os Pokémon acima de tudo, inclusive de seus próprios valores, aliás, eles eram a razão destes. Num tratado de paz, ele estendeu a mão para Benga.

    — Se vocês realmente amam os Pokémon, então, assim como eu, vão abandonar todos os preconceitos e ajudar, certo?

    O garoto encarou a mão pálida do rapaz e logo selou as mãos com um aperto forte. Cheren e Bianca sorriram, aliviados, logo se levantaram, pronto para partirem. Íris juntou as mãos, contente e disse:

    — Então vamos!

    Benga agarrou o pulso da Campeã.

    — Você não vai – disse, firme.

    — E porque não?

    — Você é muito idiota, vai se perder fácil. Pode ser perigoso e eu não quero que se machuque – Benga sentiu a espinha arrepiar. – Drayden me ameaçou de morte se algo acontecer com você. Já viu o tamanho daquele homem? Aquilo mata um Haxorus no soco.

    Íris desvencilhou-se da mão do rapaz.

    — Esqueceu meu cargo aqui?! – questionou. – Eu sou a Campeã de Unova e sei me defender.

    — Não deixa esse seu cargo subir à cabeça não! – gritou o outro, argumentando. Ele logo recuperou a calma: - É sério. Só... fique aqui. O garoto vai ficar e vai precisar de uma pessoa forte junto com ele caso algo aconteça.

    Íris observou a expressão preocupada do amigo e cruzou os braços, virando o rosto, levemente envergonhada.

    — Vou querer que me dê aquilo depois, então.

    Benga engoliu o orgulho.

    — Ok, ok. Combinado.

     




    O grupo composto por N, Susan, Benga, Bianca e Cheren deixou o Centro Pokémon. Eles se posicionaram na esquina, onde estava mais calmo. O treinador de óculos analisava o mapa da cidade em sua Pokédex.

    — O escritório da agência de tratamento fica na rua R – explicou. – Mas existe um acesso direto para os esgotos no Deck 1, a sudoeste da cidade.

    — É perto da Avenida de Entrada, deve estar um caos lá – analisou Benga. – Então tenham cuidado.

    N observava os jovens debaterem sobre o que fazer quando notou Susan se afastar.

    — O que foi?

    — Hã... Vamos nos separar – disse, despertando a surpresa em N. – É muito arriscado cobrir apenas dois locais, então eu vou dar uma volta na cidade em busca de pistas. Você fica com eles.

    Natural olhou com certo receio para a mulher, no fundo, ele ainda era uma criança com medo de ficar sozinha. Susan se aproximou e beijou a testa do rapaz, que corou.

    — Ficarei bem. E você também – em seguida, sem prolongar, ela correu.

    A mentira fora boa, mesmo ela odiando enganar N. A verdade é que Susan sabia de tudo que envolvia o Dream Mist até o roubo dos Pokémon, mas não podia deixar que N descobrisse tudo, então tinha que agir de forma rápida. Ela alcançou um pequeno aparelho ovalado em sua roupa e colocou no ouvido, procurando comunicação com um segundo membro dAs Virtudes. Quando ouviu o chiado da ligação atendida, ela falou:

    — Tsuyo, temos problemas...

     

       

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  • Capítulo 42




    Cheren observava a grandiosa Skyarrow Bridge pela janela do ônibus. Sentado em um dos muitos bancos vazios, o meio de transporte não era conhecido por transportar muitas pessoas naquela hora da manhã. Ele bocejou levemente e cruzou os braços, tentado a se entregar ao sono, coisa que Bianca já fizera. Ao seu lado, a garota usava o ombro do garoto como travesseiro, não se importando com o cabelo bagunçado ou a cara engraçada que fazia.

    Depois da saírem de Nuvema, os dois alcançaram a cidade vizinha, Accumula, onde conseguiram pegar o metrô. Devido a um problema da linha férrea, tiveram que pegar um ônibus até o destino: Castelia City. Isso não pareceu atrapalhar, pelo menos Cheren pode olhar o mundo pelos próprios olhos pela primeira vez.

    Era começo de manhã, então o sol estava frio e se levantando no horizonte de Unova. A Skyarrow era conhecida por sua extensão, sustentada por vigilantes torres. O treinador coçou os olhos quando tirou os óculos e procurou a mão de Bianca, entrelaçando os dedos e, cedendo ao seu desejo natural, dormiu.



    Próxima parada, Centro Pokémon de Castelia. – a voz gravada feminina anunciou com seriedade. – Próxima parada, Centro Pokémon de Castelia.

    Bianca foi a primeira a despertar com o anúncio, talvez por estar mais descansada. A menina se espreguiçou e olhou para seu lado, notando o rosto adormecido do companheiro. Cheren tinha uma expressão exausta, provavelmente por correrem a noite toda. A loira sorriu e ajeitou as mechas que fazia cócegas no rosto dele.

    — C-Cheren? – visto que estavam chegando no destino, a garota decidiu despertar o rapaz ao seu lado. – Estamos chegando.

    O treinador bocejou e despertou, coçando os olhos e colocando seus óculos. Ele olhou pela janela do ônibus e se admirou com as imponentes construções de Castelia, símbolos chaves da cidade.

    — É incrível como logo de manhã tem tanta gente nas ruas – comentou Bianca, observando a mesma paisagem.

    — Nimbasa e Castelia nunca dormem – riu o treinador, ajeitando sua mochila. – Precisamos ir no Centro Pokémon, né?

    — A Professora Juniper me mandou mensagem – contou a loira. – Eu acabei esquecendo de pegar o Munny nessa correria.

    Apesar de congestionamento ser algo comum dentro de Castelia, Cheren sentiu que algo estava errado. Ele esticou o pescoço para fora e viu as três fileiras de automóveis buzinando entre si enquanto motoristas se xingavam, tão perdidos quanto o treinador.

    — Tá tudo bem? – questionou a companheira.

    — Provavelmente teve algum acidente logo à frente – especulou o treinador.

    O motorista do ônibus resolveu ligar a rádio com a intenção de ser informar sobre o suposto engarrafamento. A frequência local logo emitiu as informações pelos autofalantes de dentro do transporte público.

    O Departamento de Mobilidade e Trânsito de Castelia City informa congestionamento de 20km na Avenida L, a via principal da cidade. O congestionamento tem início na entrada da cidade até próximo do Centro Pokémon. A causa é um bloqueio na frente do Centro Pokémon graças a um grande movimento de pessoas e Pokémon no local. Recomenda-se que motoristas façam o desvio pelas vias arteriais e colaterais. Mais informações em breve.

    A voz da radialista logo abandonou o tom sério de voz para comentar algo sobre esporte. O motorista bufou, impaciente, provavelmente cansado do seu exaustivo trabalho. Bianca e Cheren se entreolharam, concluindo que teriam que esperar.

    — Consegue teorizar o que tá acontecendo? – questionou a loira.

    — Castelia sempre foi uma bagunça tendo apenas um Centro Pokémon disponível – disse o treinador.

    A garota assentiu, respirando fundo. Paciência era a melhor chave naquele instante.



    Se o dia não começara bem em Castelia, esse fenômeno tinha um nome: Team Plasma. Os bueiros da cidade escondiam um enorme sistema de esgoto que poderia atuar quase como uma cidade subterrânea se não fosse o odor repugnante. Quem quer que trabalhasse lá, tinha o enorme compromisso de zelar pelo pleno funcionamento do sistema, evitando quaisquer desavenças que poderiam acarretar em sérios problemas para a salubridade dos cidadãos de Castelia. E é claro, manter a segurança, pois nunca se sabia quando alguém poderia tentar um ataque debaixo.


    Era madrugada, a mesma madruga em que Cheren e Bianca fugiam de sua vida pacata para abraçarem o mundo. Não havia um batalhão policial dentro dos esgotos, então, a vítima foi um guarda capenga e solitário que tinha uma única função de proteger o sistema dos esgotos em uma sala específica.

    Amarrado em uma cadeira pelos braços e pernas, ele se mexia várias vezes na tentativa de se soltar enquanto resmungava, com a boca tapa com uma fita isolante.

    — Alguém fala pro soldadinho de chumbo aí parar de resmungar? – resmungou Mikoto, focada nas telas do computador que mostravam o funcionamento de cada tubulação de esgoto.

    — Deixa a gente matar ele? – disse uma garota de cabelos vermelhos.

    — Ou só torturar um pouco? – completou um garoto, de aparência semelhante.

    Izami e Izani podiam ser considerados a dupla mais perigosa da Team Plasma. E tudo graças ao simples fato que eles podiam confundir muito as pessoas. Apesar de gêneros opostos, os dois faziam questão de usarem cortes de cabelos e roupas parecidas, além de adorarem pregar peças em membros novatos da Team Plasma.

    Porém, a dupla compartilhava uma rivalidade quando se tratava de Rood, seu pai e um dos Sete Sábios. A briga interna dos irmãos era ver quem era o mais amado pela figura paterna, que já se acostumaram com a disputa inútil dos filhos.

    — Não é pra matar ninguém! – exclamou Mikoto, massageando as têmporas, logo voltando para sua função. – Oh, achei! Kogsu estava certo, eu consigo ver onde estão todos os bueiros e onde eles conectam aqui embaixo – a mulher sorriu satisfeita, virando para a dupla. – Estão prontos?

    Izami, a garota, ajeita um cinto com pequenas bombas de fumaça contendo o já conhecido Dream Mist. Semelhante com o ataque de Accumula, era a vez de Castelia sofrer uma lavagem cerebral. Diferente do que fora feito por Tsuyo, o ataque viria por baixo, sendo mais efetivo para uma cidade daquele tamanho.

    Izani, o garoto, coçou o ouvido com o dedo mindinho e olhou para a irmã, com um sorriso malandro.

    — Quer apostar uma corrida?

    — De quem implanta todas as bombas e volta aqui em menos tempo? – completou a menina, como se lesse os pensamentos do irmão.

    — Quem ganhar avisa o papai que a missão foi cumprida – complementou o outro.

    Mikoto revirou os olhos.

    — Apenas vão! – ordenou, mostrando com o indicado nas telas. – Os locais estão sinalizados com uma luz alaranjada. Tenham certeza de cobrir todos os pontos possíveis.

    A dupla assentiu e logo deixou a pequena sala de comando. Mikoto virou-se para o guara preso, que olhou desesperado para a mulher.

    — Ora, ora, ora – ela se aproximou, ajeitando o decote provocante de sua blusa. – O que eu faço com você?

    Com pouco cuidado, ela arrancou a fita que mantinha a boca do homem fechada. Ela resmungou de dor quando sentiu os pelos faciais de seu rosto serem arrancados. Seus olhos encararam os olhos róseos da mulher. Era inegável a beleza daquela figura. Seus cabelos loiros na altura dos ombros lhe davam um ar adulto, mesmo exalando uma energia jovial. Seu rosto era coberto por uma maquiagem natural, mas a pinta debaixo do olho esquerdo parecia fazer tudo ser sexy.

    Mikoto apoiou as duas mãos em cada lado do apoio de braço da cadeira e curvou-se, aproximando seu rosto com o do homem. Ele não conseguiu esconder o rubor.

    — Tá tremendo de medo? – ela riu, molhando os lábios com a língua. – Você me lembra meu ex-namorado. Será que beija igual ele?

    De uma figura cheia de medo, a expressão do homem mudou para excitação. Mikoto aproximou um pouco mais dos rostos, pronta para selar os lábios.

    — Pfff... – o guarda se assustou quando Mikoto começou a rir. – HA! HA! HA! Meu Arceus, vocês homens são tão simplistas – debochou. – Há 5 segundos atrás você estava tremendo pela sua vida, eu só precisei insinuar algo pra você ignorá-la e se deixar levar pelo seu tesão – ela desceu os olhos. – Seu pau está até duro!

    O guarda encolheu-se de vergonha, sentindo-se um tolo fútil perto daquela mulher. Mikoto espremeu o olho e notou algo brilhante na mão do homem.

    — Ouch! Você é casado – a expressão se fez séria. – Estava largando toda sua ética de um relacionamento para aceitar migalhas de uma mulher qualquer. Sua esposa ou esposo, sei lá, não merece nem um pouco uma pessoa como você – ela reprimiu os lábios antes de tirar algo do bolso. – E traição é algo imperdoável...

    Izami e Izani corriam por caminhos opostos. Velocidade era um dos pontos fortes da dupla, então não foi preciso muito tempo para que as bombas fossem implantadas nos seus devidos lugares. Pelo menos cem pontos foram atingidos, só restava o show principal: O Boom!

    Izani estava no local combinado, se alongando e se espreguiçando como se tivesse corrido uma maratona. Sua expressão facial mudou para o puro deboche ao ver a irmã chegando, alguns segundos atrasados.

    — Parece que eu ganhei – disse o jovem.

    — Eu só perdi pois o meu caminho era mais longo – explicou Izami, recuperando o fôlego.

    — Que desculpa fajuta – riu o irmão. – Dá o Xtransceiver aí que eu vou ligar pro papai. Eu ganhei, eu dou a notícia.

    Izami sorriu de forma sinistra, tirando o relógio com tela de seu pulso, logo em seguida, estendeu para o irmão. Izani quase se remoeu de ódio quando a garota trocou o objeto de mão, com rapidez.

    — É muito inocente da sua parte pensar que eu vou entregar isso de mão beijada – brincou ela.

    — Não tenho culpa se você não sabe perder – retrucou o irmão, tentando alcançar o objeto, mas sendo driblado novamente.

    — Você é muito lerdo – Izami disse, com a voz lenta.

    As veias de Izani saltaram de raiva.

    — Você quer brigar? – desafiou o irmão.

    Izami assoviou em resposta. Ao passo que o rapaz daria pra atacar a irmã, Mikoto abriu a porta, com certa impaciência.

    — Ao invés de ficarem discutindo aí fora, deveria ter me avisado que estamos prontos – resmungou ela, irritada.

    A dupla fez bico e se desculpou, logo adentrando a sala. Izami quase deu um pulo ao ver o corpo desfalecido do guarda com a cabeça pendendo para trás, em sua boca, uma das bombas de Dream Mist repousava.

    — Ele não tá morto, eu só apaguei ele – explicou Mikoto, notando a surpresa dos gêmeos. – DeeDee, pode trazer pra mim?

    Debaixo de uma das mesas, tímido como a maioria de sua espécie, surgiu um Dwebble. O inseto de pedra se aproximou de sua mestra com um pequeno controle. Ela soltou uma exclamação fina, pegando o Pokémon no colo.

    — Bom menino – com um sorriso, ela alcançou o objeto. – Coloquem suas máscaras. É hora do Boom!

     

    Bom dia, aqui é o repórter Willian da PNN e eu trago informações urgentes – quem quer que estivesse assistindo TV logo pela manhã, levou um susto quando a programação da cidade foi interrompida. – Castelia City amanheceu com um surto. Treinadores e donos de Pokémon estão libertando e fazendo abandono em massa. Semelhante com o caso de Accumula, algumas testemunhas relatam que as pessoas afetadas acordaram coagidos a manterem seus próprios Pokémon consigo. Com isso, uma confusão generalizada se alastrou em diversos pontos da cidade, o que fez os habitantes procurarem o Centro Pokémon local, que sofre de um abarrotamento.

    A transmissão se estendeu para a rádio local. Com isso, Cheren e Bianca, que ainda estavam presos no congestionamento, se entreolharam. O motorista, ainda impaciente, desligou o rádio, praguejando sobre odiar seu trabalho.

    Bianca pegou o Oshawott em seu colo e o abraçou com certa força, preocupada.

    – E se formos atingidos também? Já vimos o que esse tipo de coisa faz, você já foi contaminado por isso – disse a garota, aproximando a lontra do rosto.

    Cheren suspirou, ele colocou levemente a mão na parte de trás da garota, emaranhando os dedos nos fios dourados dela. Sua expressão era de ternura e ele aproximou os rostos, depositando um leve beijo na bochecha de Bianca, fazendo-a corar.

    — Eu vou ficar bem – disse o treinador, ajeitando o óculos.

    — H-Hã... – ainda envergonhada, Bianca sussurrou tímida: - Acho que precisamos falar sobre isso... Digo... S-Sobre a gente...

    Cheren coçou o cabelo, encabulado. A loira abaixou a cabeça, se perguntando se tinha errado ao tocar no assunto ou se o treinador tinha apenas se arrependido do beijo.

    — B-Bianca – chamou o garoto, trêmulo.

    — N-Não precisa falar n-nada...

    — N-Não... L-Levanta. R-Rápido, a gente precisa sair.

    Quando Bianca levantou a cabeça, curiosa, ela viu o que Cheren estava se referindo. Parecia um trem, alguns carros desviavam, mas ninguém saberia conter um Beartic em seu estado de loucura em fúria. O urso branco enorme tinha um pelo de aparência macia, e sua tipagem de gelo se reforçava nas estalactites embaixo de seu queixo, preenchendo o pescoço.



    Alguns motoristas tentavam alertar sobre o verdadeiro boliche que o urso fazia. Cheren segurou o pulso de Bianca, que se agarrou a lontra de água contra seu corpo. Ele saiu de seu lugar e atravessou o corredor do ônibus vazio.

    — Senhor, um Beartic está vindo! Precisamos sair! – alertou o treinador.

    O motorista acionou o dispositivo que abria as portas, mas estas travaram, por puro azar. Do lado de fora, alguns motoristas que saíram de seus carros tentavam alertar, com desespero. “Vai bater! Vai bater!”.

    — MALDITO SEJA ESSE EMPREGO! – possesso, o condutor do transporte correu até as portas frontais emperradas e usou de força para abrir. Cheren soltou a mão de sua companheira e partiu para ajudar.

    — Bianca, você primeiro! – berrou o treinador.

    — S-SIM! – a garota abaixou-se e saiu por entre a fresta maior aberta pelos dois.

    Quando pulou no solo, ela conseguiu ver que o Beartic estava mais próximo do que próprios Pokémon.

    — CHEREN, RÁPIDO! – berrou a loira.

    — SUA VEZ, GAROTO! – gritou o motorista, recebendo o olhar surpreso do treinador.

    — Você não vai conseguir sair! – retrucou.

    — VAI DE UMA VEZ!

    Contra a vontade, Cheren foi empurrado para fora do ônibus. Bianca logo agarrou o braço do amigo e o puxou. Foi o tempo suficiente para que eles evitassem de serem esmagados. O Beartic foi atingido por um golpe de um Pokémon policial, fazendo-o perder o equilíbrio e se chocasse contra o ônibus, que não aguento tamanho impacto e capotou.

    A reação em cadeia fez com que o próprio Beartic caísse e outros carros se desviassem. Postes de energia caíram sobre carros acidentados e até mesmo algumas edificações foram atingidas. Um dos postes, ainda com energia elétrica, atingiu o circuito do motor de um carro e isso se desenvolveu em chamas e uma grande fumaça negra.

    Era impossível calcular o tamanho do prejuízo e o número de vítimas. Alguns dos que estavam próximos e com plena consciência, conseguiram acionar seus Pokémon de água para extinguir o fogo criado, evitando uma explosão que acarretaria numa tragédia maior.

    Mas aquilo nem era o ápice do mistério que aconteceria em seguida.

    Alguns policiais finalmente conseguir chegar até a área do acidente. Alguns se aproximaram das vítimas e foram conferir as pessoas que utilizavam o transporte público. Outra equipe foi designada para remover o Beartic descontrolado.

    Porém, quando a fumaça cessou, ninguém soube dizer, mas um Pokémon de quase 3 metros havia simplesmente desaparecido.

     

    Tsuyo adorava a vista do alto. Então era comum que ele preferisse topos de prédios como bases provisórias para seus planos. Em suas mãos, ele contava o número de Net Balls, uma Pokéball de coloração azulada e faixas pretas, obtidas, jogando-as em um saco logo em seguida. Sua solidão foi interrompida quando três figuras surgiram como vultos.

    A Shadow Triad era um trio de operações de alto escalão da Team Plasma. Não se sabia ao certo os nomes dos três, mas fora contado que um dia Ghetsis os ajudou e eles prestaram obediência como forma de retribuir. Suas peles claras e cabelos platinados lhes traziam um ar de perigo, que se confirmava pelas roupas largas e escuras.



    Um deles se aproximou e estendeu outra das Net Ball.

    — Esse foi complicado – contou. – Um Beartic correndo por aí descontrolado é um perigo. Fez um grande acidente na Rua L.

    — Alguém te viu? – questionou Tsuyo, pegando o objeto.

    O membro da Shadow Triad negou.

    Depois do ataque subterrâneo comandado por Mikoto, Izami e Izani, era a vez de Tsuyo agir. O ninja havia sido designado por Ghetsis para obter o máximo de Pokémon poderosos que estavam sendo soltos por seus treinadores. Não era roubo se o Pokémon já não pertencia a mais ninguém, certo?

    O rapaz sabia muito bem que Ghetsis queria os mais fortes para que suas réplicas de argila fossem tão poderosas quanto. Mas também sabia que capturar criaturas de tamanho poder treinadas por especialistas e fortes treinadores não era uma tarefa fácil, por isso, convocou a Shadow Triad para ajudar.

    — Onde está Maggie? – murmurou o ninja.

    Depois de muito implorar, a filha de Drayden conseguiu se juntar a operação. Seu maior interesse era tentar algum destaque dentro da Team Plasma, e quem sabe assim, conseguisse mais dinheiro para sua própria jornada para enfrentar a liga.

    — Quem sabe – murmurou um dos trigêmeos, despreocupado. – Só sei que ela não apareceu desde que nos separamos.

    — Tsc, eu sabia que seria encrenca trazer aquela pirralha – murmurou o ninja.

     

    Maggie não estava tendo muita sorte em sua missão. Tentara capturar pelo menos uns três Pokémon, mas sempre se deparava com criaturas com níveis desbalanceados, que faziam seu time suar frio. Ofegante, ela entrou em uma viela, encostando numa parede para recuperar o fôlego.

    Ela agachou-se e colocou a mão no rosto, enxugando o suor. Apesar de ser começo de outono, ainda estava quente.

    — Que droga, não consegui pegar nenhum Pokémon – resmungou, observando seu relógio de pulso. – Já se passou duas horas desde que nos separamos.

    Pensou em contatar seu superior através do ponto em seu ouvido dado pelo próprio, mas se sentia inútil e idiota imaginando falar que não tinha conseguido um mísero Pokémon. Ela era uma treinadora com três insígnias, precisava ter mais pose de uma. Bateu as mãos na bochecha para animar e espiou para fora da viela, conferindo se avistava uma vítima próxima.

    Um Stoutland fora avistado. O cachorro peludo andava atento, parecia pertencer a um policial. Era óbvio, desde o início da confusão, o policiamento fora redobrado. O Pokémon farejava o chão em busca de qualquer pista, e por pertencer a alguém, Maggie sabia que não poderia utilizar uma Pokéball.

    Ela começou a revirar todos os pertences oferecidos por Tsuyo e se deparou com uma coleira. A princípio parecia idiota, mas ela refletiu:

    — Bom, as peças combinam – ela se levantou e ajeitou o objeto de captura.

    Esperaria ele passar e arremessaria, se desse sorte, puxaria o cão para dentro. Para evitar qualquer escândalo, seu Amoonguss estava pronto para derrubá-lo com um golpe de sono. Ela respirou fundo e se ateve aos passos, confiaria em seu ouvido.

    Próximo e cada vez mais próximo, Maggie se sentiu ansiosa e mordeu o lábio. Quando notou a sombra se formando, ela fechou os olhos, desejou sorte e arremessou a coleira, puxando-a logo em seguida.

    O baque no chão e o gemido de dor que veio logo em seguida não se pareciam nem um pouco com de um Stoutland. A ruiva se virou num pulo para olhar sua presa. Era uma pessoa. Um garoto que parecia ter a sua idade. Apesar da sombra local, era possível ver que ele tinha cabelos de tom roxo escuro. Sua roupa não se destacava e revelava que o jovem tinha um estilo simples, com uma blusa de tecido fino de cor preta e calças jeans.


    Maggie não conseguiu ver o rosto pois este estava quase enterrado no concreto do chão, mas ela pode ver um par de óculos de lentes retangulares – e quebradas, graças a queda – perto do corpo. A treinadora tremeu, pensando ter se metido em uma encrenca, mas estranhou quando o corpo do garoto simplesmente não se mexia. Não era possível que tinha matado ele.

    Ela se aproximou para conferir, a coleira usada tinha caído como um acessório estranho em seu pescoço, mas que combinava de alguma forma. Agachou-se e cutucou o suposto cadáver:

    — Ei, garoto.

    Maggie caiu para trás quando os olhos roseados do jovem se abriram. Desnorteado e confuso, ele forçou a vista, provavelmente com dificuldades para enxergar.

    — H-hã... – olhando para os lados, ele supostamente conseguiu enxergar a garota de cabelos ruivos.

    Maggie se manteve em silêncio. Pela cara de confuso, claramente ele não estava conseguindo discernir quem era ela, o que era uma vantagem. O garoto, porém, não parecia irritado, só com medo. A ruiva achou bizarro como ele tremia igual a Snorunt.

    — D-Desculpa, foi um mal entendido – explicou-se, envergonhada.

    O jovem assentiu, tateando o chão em busca de seus óculos.

    Por fim, aquele que era o real alvo surgiu. O Stoutland farejou e logo notou a presença dos dois. Com um faro aguçado e com uma desconfiança treinada, ela começou a latir, pra desespero de Maggie.

    — O que tem aí, garoto? – a alma da garota quase saiu do corpo quando ela ouviu uma voz adulta policial se aproximar.

    — Merda, merda! – Maggie pegou sua mochila e correu, deixando a viela para trás e qualquer explicação para o garoto.

    Ela vestiu uma touca preta, esperando despistar qualquer pista visual. O Stoutland latiu e partiu em caçada. A ruiva sentiu os pulmões próximos de explodirem, mas o azar dela só estava começando.

    Maggie se chocou com outro garoto, dessa vez, mais novo. A mochila dela caiu no chão, espalhando os objetos. O menino resmungou de dor e se ajeitou, sendo amparado por sua Lillipup.

    — Que droga, que droga! – nem um pouco interessada em pedir desculpas, Maggie começou a reunir seus pertences, sempre do olho de seu perseguidor.

    Alheia do que estava recolhendo, nem notou quando um objeto mais pesado foi parar em sua mochila. Apenas se levantou e se preparou para correr.

    — MOÇA, ESPERA! – berrou o garotinho com quem tinha se chocado.

    — AGORA NÃO DÁ, MOLEQUE! – berrou ela, irritada, correndo.

    A criança levou as mãos na cabeça quando viu a adolescente sumir na multidão e cortando a esquina.

    — D-DEVOLVE A ANGEL! – berrou ele, mas sem resposta.

     

    O silêncio absoluto no automóvel fazia parecer que havia poucas pessoas dentro do meio de transporte, mas, pelo contrário, os cinco bancos estavam ocupados por figuras conhecidas. Natural brincava com seu cubo mágico enquanto estava sentado no meio de suas irmãs, Anthea e Concordia, como uma criança. As duas mulheres se mantinham caladas, apenas aproveitando a paisagem de Castelia através das janelas.

    Susan estava sentada no banco do passageiro, ao lado do motorista. Vez ou outra, ela olhava sobre os ombros para checar o comportamento de N. As mãos do jovem suavam e suas pernas sacudiam, impacientes.

    — Ainda está escutando? – questionou a mulher.

    — São muitas vozes – respondeu o de cabelos verdes, soltando o objeto. – São tantas que eu sinto que minha cabeça vai explodir. Essa cidade está um caos, os Pokémon estão sofrendo aqui.

    Apesar de parecer coisa da imaginação de Natural, ouvir as vozes do Pokémon era uma das suas maiores habilidades. Foi difícil fazer a própria Team Plasma assimilar tal fato, mas ninguém conseguia deixar de ficar impressionado quando o garoto conseguia se comunicar com qualquer criatura. Susan achava que tudo estava relacionado ao coração puro de N.

    — Quer dar uma pausa? – sugeriu Susan. A proposta foi aceita de bom grado.

    N, suas irmãs e Susan estavam em uma missão importante. Depois da conversa com Eric, Natural decidira procurar quem era a responsável pela contraparte de Zekrom. Eles não sabiam a exata localização de tal pessoa, muito menos seu nome ou quem era, mas N jurava que saberia que era ela quando a encontrasse. Ghetsis chamou a missão de inútil, mas achou interessante quando ouviu o garoto falar sobre estar disposto a guerrear para um mundo ideal.

    Anthea e Concordia se ofereceram para acompanhar, sob pedido de Ghetsis. Susan fora a pedido do próprio N, já qu ela era uma das únicas que o rapaz acreditava que poderia protege-lo.

    Natural encostou em um dos pilares de uma edificação, respirando fundo. Susan se aproximou, acariciando as mexas verdes do rapaz, preocupada. O cabelo do garoto dava inveja pela maciez.

    — Logo vamos sair de Castelia – disse a mulher, tirando uma mecha do olho da criatura indefesa. – Tem certeza que ela não está aqui? Não sente nada?

    Natural negou com a cabeça.

    — Só ouço as vozes dos Pokémon – confessou. – Eu não entendo, Ghetsis disse que as pessoas estão concordando com nossos ideais, estão dando uma vida melhor para seus Pokémon. Mas eu só ouço vozes de sofrimento, e nessa cidade está forte demais.

    Susan abraçou o garoto. Talvez não fosse tão boa com palavras, mas desde nova, adorava confortar N com abraços. Natural se reconfortou, escondendo os ouvidos nos braços de porcelana da mulher.

    — Parece que houve um abandono em massa dos Pokémon – disse Susan. É lógico que ela sabia que o surto era culpa da própria Team Plasma. – Estão usando o discurso de seu pai, Ghetsis, como desculpa para fazer essas coisas.

    — M-Mas não é assim! – disse N, com a voz um pouco alterada. – Eles não ouvem os Pokémon, eles estão sofrendo. Eu os odeio! ODEIO!

    Susan sentiu uma corrente elétrica percorrer seu corpo, vindo de Natural. A Plasma recuou, assustada e olhou para o rapaz. Ele tremia e seus olhos, antes azulados, estavam vermelhos. A mulher o encarou, preocupado.

    — N!

    Garoto, não é hora de você perder o controle! – berrou Eric, na mente do Rei dos Plasmas. – Controle sua raiva e seus sentimentos.

    Susan agarrou as mãos do jovem, resmungando de dor pelas ondas elétricas. N olhou para ela e notou estar ferindo alguém importante pra ele. Logo, ele se acalmou, segurando as mãos de volta da mulher.

    — D-Desculpa, você tá bem? – perguntou, preocupada.

    — E-eu é que deveria te perguntar isso – aliviada, a mulher riu de leve, enxugando algumas lágrimas. – Você me deu um susto.

    N corou, só não sabia se era de vergonha ou de timidez.

    Anthea chamou a atenção de sua irmã para uma criança que chorava, sentada na guia da calçada. A dupla se aproximou, agachando para dar atenção. Natural logo notou a ação, curioso em saber o que acontecia. Minutos depois, Concordia se aproximou, segurando a mão do pequeno garoto.

    O menino em questão tinha seus oito anos e cabelos negros. Seus olhos esverdeados estavam vermelhos pelo choro. Ele usou a manga do moletom para limpar as lágrimas, enquanto segurava a mão da mulher loira.

    — Ele disse que uma pessoa roubou o Pokémon dele – contou. – Uma Lillipup de estimação.

    Natural se aproximou do garoto.

    — Qual o seu nome?

    — O-Oliver... – respondeu a criança.

    — Essa Lillipup... Ela tem um nome também?

    Oliver assentiu, choroso.

    — O nome dela é Angel. Ela é minha melhor amiga – contou. – Eu saí pra passear com ela como faço todo dia – ele mostrou a guia rosa que usava com a pequena cachorrinha. – Eu não posso voltar pra casa sem ela, papai e mamãe vão ficar tristes também. Eu quero achar ela, eu a amo demais.

    — Ele disse que um policial prometeu achar, mas ele continua em prantos – disse Anthea.

    N mordeu o lábio, enxergando a si mesmo naquela criança. Conseguiu lembrar da época que se divertia com seus amigos Pokémon antes de ser adotado por Ghetsis. Podia até ler o garoto como um espelho, enxergando todo o amor e carinho pelos Pokémon. Desejava que todas as pessoas fossem assim.

    — Vamos te ajudar – Natural se levantou. – Um Pokémon precisa de nós. Todos são iguais, desde um pequeno Joltik até o maior dos Hydregon – a voz do rapaz era de confiança. Ele se virou para Susan: - O que podemos fazer?

    — Acho que podemos checar no Centro Pokémon – contou Susan. – Talvez alguém possa ter visto.

    Natural não sabia, mas a partir dali, ele teria que enfrentar seus próprios valores para um bem maior.

        

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