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- Capítulo 43
Cheren acordou com uma forte de cabeça. Ficou surpresa que
ao invés encontrar um céu azul, se deparou com a laje branca combinada com a
luz de LED pálida de um hospital. Conforme seus sentidos foram se aguçando, ele
pode escutar os passos apressados de pessoas e o cheiro de medicamentos. Estava
em um hospital.
Girou a cabeça para analisar o ambiente e viu que estava em
uma ala compartilhada. A julgar pelo ambiente, era uma sala para ferimentos
leves. Com dificuldade, se sentou, alcançando seus óculos – felizmente intacto
-, na mesinha de cabeceira próxima.
Uma enfermeira adentrou a sala e percebeu que o garoto
acordara.
— Oh, você acordou – disse a mulher, depositando uma
bandeja com remédios na mesa de canto. – Como se sente? Você chegou aqui
desacordado, mas estava apenas com alguns arranhões.
— S-Só tenho dor de cabeça – respondeu o treinador,
analisando alguns curativos em seus braços.
— Trouxe um remédio para ajudar. Muitas pessoas se
envolveram no acidente com o Beartic na Rua L – disse a enfermeira, estendendo
o copo e um comprimido branco para o jovem.
Prontamente, Cheren engoliu o comprimido. Sua mente ainda
tentava lembrar o que acontecera. Ele quase pulou da cama quando se tocou do
contexto e da situação.
— C-Cadê o motorista do ônibus? – perguntou, temendo pelo
pior. Afinal, o motorista tinha insistido que o garoto descesse primeiro. – E-E
a Bianca?
A funcionária do hospital se assustou com o desespero do
rapaz. Ela refletiu, tentando raciocinar. Eram tantos pacientes que ela mal
tivera tempo de decorar os nomes.
— U-Uma garota de cabelos loiros – descreveu Cheren. – Ela
estava com um Oshawott.
— OH! A garota do Oshawott – a enfermeira estalou os dedos.
– Ela está bem – a mulher apontou para o fim da sala.
O treinador se levantou, se direcionando para a direção
apontada, apressado. Sentiu um alívio no peito quando encontrou a garota
sentada em sua maca, com apenas uma faixa enrolada em volta da testa e alguns
curativos. O Oshawott da menina choramingava em seu colo, mostrando que estava
preocupado e assustado.
— T-Tá tudo bem agora, Osha – riu Bianca, acariciando os
pelos brancos da lontra. – Foi só um susto – ao ouvir os passos, ela olhou para
o lado. – C-Cheren?
Quando pequeno, Bianca sabia que Cheren sempre escondia
seus sentimentos atrás de um par de óculos e a expressão fria. Mas não era
culpa dele, era como se o garoto fosse treinado para apenas se importar com
coisas mais importantes: Ser perfeito. Na escola, a loira se impressionava com
a inteligência do garoto, mas sempre ria quando ele ficava encabulado com os
abraços.
E, como da água para o vinho, era a vez de Bianca se
encabular com abraços. Cheren envolveu a garota num abraço apertado. Seu rosto
se apertou contra o peito do treinador e ela ficou corada.
— G-Graças a Arceus – disse Cheren. – A-Achei que estava
ferida.
— A-ah... H-hã... – em transe, Bianca mal sabia o que
responder.
O treinador se afastou e olhou pra garota. O rosto
avermelhado de Bianca fez o garoto ficar igualmente tímido, principalmente
quando ele percebeu que outros pacientes os observavam, maravilhados com o amor
juvenil.
— E-Então – ele coçou o cabelo. – D-Desmaiamos com o susto.
— É-é – assentiu a loira. – Q-Que bom que você está bem...
Uma terceira figura chamou a atenção dos dois. E pela voz
grossa e mal-humorada, dava pra saber exatamente de quem era.
— Tsc, vocês dois me deram um baita susto – era o motorista
do ônibus, estava com a perna enfaixada, indicando que seu ferimento fora mais
grave, mas ele parecia bem, considerando a lucidez. – Mas eu fico feliz que
estejam bem. E obrigado por salvarem a minha vida.
Cheren e Bianca sorriram, duplamente aliviados em verem que
aquela figura mal encarada estava bem.
— Obrigada por nos ajudar – Bianca sorriu gentilmente,
fazendo o senhor corar levemente, sentindo o coração aquecido.
— De toda forma – ele coçou a garganta. – Finalmente vou
poder descansar um pouco da droga daquele emprego. Estou ansioso para
aproveitar minha família.
A enfermeira de antes se aproximou e sorriu.
— Falando em família, já contatei a sua esposa – disse para
o motorista. Logo em seguida, ela se virou para Cheren e Bianca: - A família de
vocês também foi contatada, eles estão vindo pra cá.
Por um minuto, os dois se esqueceram completamente do status
de fugitivos. A garota gelou e olhou para o treinador, imaginando o que faria
se fossem pegos. Cheren engoliu seco e agarrou a mão de Bianca. Só tinha uma
alternativa conhecida: continuar fugir.
— E-Então... A gente precisa ir – o treinador começou a
andar, pegando seus pertences.
— E-Espera! – a enfermeira estendeu o braço, confusa com a
repentina ação.
— O-Obrigado pelos cuidados!
A dupla apressou o passo e saiu da sala. Ambos notaram
estarem sendo seguidos pela funcionária do hospital, mas não olharam para trás.
Se estreitaram no meio das pessoas e dos corredores lotados. Cheren não largava
a mão de Bianca, apressado em despistar a atenção da mulher.
Saíram com certa folga do hospital pela porta da frente,
mas isso não os fez descansar. Eles continuaram a correr alguns quarteirões até
terem certeza que podiam descansar. Encostaram na parede de uma cafeteria com
pouco movimento e respiraram fundo, recuperando fôlego.
— Me sinto um fora da lei fugindo desse jeito – comentou
Cheren.
— Em parte somos – riu Bianca. – Somo dois menores de idade
fugindo de casa.
— Você não precisava me lembrar disso – riu o treinador, em
resposta. Ele olhou pro lado e viu a cafeteria e sentiu a boca seca. – Quer beber
algo? Tô morto de sede.
— Q-Querer eu quero, mas não estamos apresentáveis –
apontou Bianca.
Os dois olharam para si próprios. As roupas eram as mesmas,
mas estavam sujas e surradas. A humilhação foi maior quando notaram que ainda
usavam as pantufas do hospital (pelo menos eram macias).
— P-Pelo menos ainda temos nossas coisas – disse Bianca,
tentando ser positiva, apontando pra bolsa.
— Cara, vocês estão horríveis. Em que buraco se enfiaram? –
a voz familiar soou como uma maldição para Cheren.
O treinador se virou e se deparou com Benga, saindo da
cafeteria, acompanhado de Íris, a nova Campeã de Unova. Era uma dupla
inusitada, mas esse nem era o foco maior. O neto de Alder cruzou os braços,
analisando a dupla.
— O que houve com vocês dois? – questionou.
— E-Eu não sei se tô incrivelmente irritado por rever você
ou se estou aliviado – disse Cheren. – Precisamos de roupas novas, nós meio que
saímos do hospital agora.
O hotel que Benga estava hospedado tinha um toque
aconchegante típico desse tipo de local. No caminho, foi informado para Cheren
e Bianca que o garoto estava em Castelia a pedido do avô, que estava resolvendo
algumas coisas da Liga.
A dupla fugitiva aproveitou a oportunidade de ouro para um
banho. Cheren recebeu uma camiseta de cor neutra e uma calça jeans, enquanto
Bianca recebeu uma saia e uma blusa de lá, eram roupas provisórias até que as
antigas ficassem limpas.
— Então vocês estavam fugindo de Nuvema, se envolveram em
um acidente, foram parar num hospital, e agora, fugiram do hospital porque
descobriram que chamaram seus pais? – questionou Benga. – Isso não é muito para
um capítulo só?
— É difícil raciocinar desse jeito – disse Cheren. – Mas
acho que nunca senti tanta adrenalina na vida.
— Aliás, que espécie de fuga é essa? – questionou o garoto
de cabelos vermelhos. – Vocês são uma espécie de casal em fuga? Fugindo das
garras de reprovação de seus pais?
A dupla corou.
— N-NÃO É ISSO! – berrou Bianca, envergonhada.
— V-Você entendeu tudo errado – Cheren ajeitou os óculos,
envergonhado. – E-Estamos só... tentando viver nossas vidas – explicou-se,
ainda que parecesse mais idiota. – ALIÁS! E VOCÊS DOIS TAMBÉM?! Eu nunca vi
dupla mais inusitada que isso.
— C-Cheren... – sussurrou Bianca. – V-Você não tá
reconhecendo ela?
O treinador analisou Íris. Talvez seja pela mudança de
roupas, já que a garota usava uma blusa bege com detalhes em rosa e uma calça ¾
branca, bem diferente do vestido bufante que usara na batalha contra Alder.
Olhando assim, ela só parecia uma garota normal.
Autor original na imagem |
Benga respirou fundo.
— Essa daqui é a Íris – ele estendeu o braço para mostrar a
garota. – Ela é a Campeã de Unova, mas aparentemente, não sabe andar numa
cidade como Castelia.
A campeã olhou para o rapaz, enfezada. Ela usou o calcanhar
para atingir o pé do garoto, que urrou de dor.
— Eu nem queria estar com um selvagem como você – respondeu
ela. – O tio Alder pediu para que você me acompanhasse pela cidade enquanto ele
resolvia algumas coisas da liga. Eu ia acompanhar, mas o tio Drayden se
ofereceu para resolver tudo pra mim.
— Nem acredito que uma criança como você conseguiu ganhar
do vovô – murmurou Benga, enfezado.
Íris se aproximou do rapaz, provocativa.
— Obrigada por me lembrar que eu sou uma treinadora
incrível – debochou. – A partir de hoje, você me chame de Princesa Íris.
Cheren e Bianca observaram a face de Benga ficar vermelha
de raiva, tão vermelha quanto as mechas arrepiadas de seu cabelo.
— Mas nem que se eu tivesse com uma guilhotina na minha
cabeça – retrucou ele, irritado.
Íris riu, se virando para a dupla.
— É-é um prazer conhecê-los – sorriu a Campeã. – Ainda não
entendi a relação de vocês com o Benga direito, mas logo vou me acostumar.
— É uma honra conhecer a Campeã mais nova de Unova –
ressaltou Bianca, sorrindo.
Cheren coçou a garganta.
— D-Desculpe por antes. Você é uma treinadora muito
habilidosa – envergonhado, ele coçou a nuca. – Meu nome é Cheren, essa é a
Bianca.
— Ora, p-parem com os elogios – envergonhada, Íris coçou os
cabelos volumosos e longos. – N-não tô acostumada.
— Você tá se achando o máximo, isso sim – debochou Benga.
A Campeã encarou o garoto com um olhar ameaçador, que
tremeu.
Bianca e Cheren riram de leve, “Eles combinam, de alguma
forma”, pensaram. A garota de cabelo loiro sentou-se na beirada da cama,
perto de onde seu Oshawott repousava, exausto de tanta correria.
A garota acariciou o topo da cabeça da lontra de água, com
um sorriso em canto de boca.
— Desculpe pela correria, Osha – disse a menina, carinhosa.
– Agora podemos descansar.
Bianca estranhou quando notou a fronte de seu Pokémon
estava baixa. Seus curtos braços estavam contra a concha em sua barriga e eles
tremiam feito um Snorunt. A garota colocou o inicial de água em seu colo e
notou que ele suava frio.
— O-Osha, tá tudo bem? – questionou a menina. Os outros
presentes pararam para observar.
A lontra inclinou seu corpo para o lado e golfou. O ato
criou alarde e gerou desespero em Bianca. A resposta era óbvia: Oshawott não estava
bem e necessitava de um Centro Pokémon. O ato foi sugerido por Benga e logo foi
aceito pelos demais.
Não que um atendimento seria rápido, existia o pequeno
detalhe da cidade de Castelia estar sofrendo de uma crise de abandono em massa
de Pokémon e cada vez mais surgiam pacientes. Havia até mesmo pessoas, que no
desespero, levaram parentes ou amigos próximo para o centro para serem
atendidos.
O local estava uma bagunça. Do lado de fora, vários
repórteres e policiais tentavam obter informações para investigações. O grupo
não se atentou a isso, preocupado em apenas arrumar espaço entre as pessoas a
fim de alcançar o balcão principal.
— C-Com licença! – dizia Bianca, com o Oshawott contra seu
peito. – É uma emergência!
Cheren ajudava a garota a abrir caminho, por ser maior, ele
permitiu que eles chegassem em seu destino. Bianca sentou Osha no balcão de
madeira, chamando a atenção de uma enfermeira que carregava uma bandeja com
Pokéball.
— E-Enfermeira Joy! – gritou Bianca, em prantos. – Meu
Oshawott está mal! Por favor, ajuda ele!
— H-Hã, v-você pode esperar? – perguntou a enfermeira, com
a expressão de quem estava sobrecarregada. – T-Tem outras pessoas na frente – a
mulher de cabelos róseos apontou para atrás do grupo. Havia pelo menos
cinquenta pessoas na fila de espera.
— M-Mas, ele vomitou, ele está mal! Ele está tremendo,
diferente do normal! E se ele tiver algo grave?! – era a vez da tutora do
Pokémon de água começar a tremer.
Cheren colocou as mãos nos ombros da companheira,
oferecendo suporte. Ele tentou manter a calma, mesmo estando afetado em ver
Bianca naquele estado.
— Pode oferecer algum remédio enquanto esperamos? –
questionou.
— Se ele vomitou, podem oferecer algo para mantê-lo
hidratado – a enfermeira estendeu o braço e apontou para uma máquina de venda
automática de bebidas e alimentos ao lado dos sofás da área de espera. – N-Não
posso medicar ele sem uma consulta.
O treinador suspirou, assentiu e agradeceu. Ele passou o
braço em volta do ombro de Bianca, e guiou a garota e o seu Pokémon para a área
de espera. Íris e Benga se aproximaram em silêncio, preocupados. Cheren foi até
a máquina de bebidas e comprou uma limonada em lata, se aproximando da garota
para entregar a ela.
Bianca agradeceu e ajudou o Oshawott a bebê-lo. Benga olhou
em volta, sentindo uma atmosfera familiar como o acontecido em Accumula. As
expressões de confusão, os olhares perdidos, tudo era uma indução caótica e o
inimigo era silencioso.
— Acho que tá claro pra gente que foram os mesmos idiotas
que fizeram aqui o que aconteceu em Accumula, né? – questionou o neto de Alder.
– Acha que foi o mesmo maluco de cabelo branco?
— Difícil dizer – refletiu Cheren. – Impossível um cara
daquele agir sozinho. Unova é muito grande e ele atacou praticamente a capital
da região.
— Talvez ele não esteja sozinho... – apontou Bianca. –
Quando eu, Hilda e Hilbert investigamos o desaparecimento da Musharna da
senhorita Fennel, o homem de cabelos brancos que vimos em Accumula estava lá – contou
ela, se lembrando. – Um homem estranho apareceu e o chamou de Tsuyo. Ele fazia
parte da Team Plasma.
— Espera, Plasma? – questionou Benga. – Plasma e o Dream
Mist estão envolvidos?
— F-Foram eles que mataram Munnas no Dreamyard para
recolher alta quantidade do Dream Mist – disse Bianca, com a voz baixa.
Íris levantou a mão.
— Espera, vocês estão falando dos Plasmas? Aquela equipe
nas redes sociais que resgata Pokémon e alerta sobre os maus tratos com eles? –
questionou a Campeã.
— Não podem ser os mesmos – refletiu Benga. – Mas é o mesmo
nome.
— Isso é tudo muito estranho – comentou Íris.
A atenção foi rapidamente desviada por uma mulher de
cabelos róseos, vestido branco e um cardigan verde em volta dos ombros.
Ela se aproximou do grupo como um anjo, sua voz era baixa, mas audível, com uma
educação de uma duquesa:
— Com licença, desculpe atrapalhar a conversa de vocês. Eu
estou procurando uma Lillipup, o nome dela é Angel. Ela estava usando uma
coleira rosa, com detalhes de florzinha. É de um garotinho e ele está
preocupado.
Bianca olhou para cima, reconhecendo as características
dadas. Antes que ela pudesse comentar algo, uma outra figura se aproximou. Os
cabelos verdes e a expressão calma faziam ele parecer um ser celestial. Sua
atenção, porém, não estava nos humanos, e sim, no doente Oshawott no colo de
Bianca.
N estendeu a mão e a colocou gentilmente sobre a cabeça da
lontra. Bianca se assustou, mas a aura que o rapaz trazia era de tranquilidade.
O inicial de água olhou para o jovem, seus olhos azulados eram de ternura e
compreensão, em seu ombro, uma Purrloin curiosa, apegada a seu mestre.
— Está tudo bem agora, pequeno – ele acariciou os pelos
macios de Oshawott. – Sua amiga humana está bem, eu sei que deve ter sido um
acidente perigoso, mas ela parece bem e está preocupada com você.
Para Susan, Anthea e Concordia, aquela era uma situação
normal, mas era impagável a reação dos treinadores. Osha olhou para sua
companheira e grunhiu. Bianca sorriu levemente e o abraçou.
— O susto te deixou em pânico, né? – perguntou. – Mas eu
estou bem, eu prometo – depois, ela virou seu olhar para N. – O-Obrigada.
Natural sorriu levemente. O leve silêncio deixado pela
situação foi interrompido quando Oliver, o mais interessado no sequestro de sua
Lillipup, se aproximou com Concordia e reconheceu Bianca.
— Ah! Bianca! – o garoto finalmente demonstrou um sorriso e
correu para abraçar a conhecida.
— O-Oliver – disse Bianca. – Espera, roubaram a Angel?!
O primo de Hilda assentiu. Ele olhou para Cheren e
cumprimentou o treinador.
— Como aconteceu? – perguntou o treinador.
— Uma moça veio correndo, trombou em mim – contou Oliver. –
Ela parecia apressada, tava fugindo da polícia. Quando eu notei, ela tinha
pegado a Angel.
— N-Não tem motivo para roubarem a Angel. Vocês têm alguma
pista pra onde ela foi?
O garoto negou, lentamente.
— Não se preocupa, Oliver – disse Bianca, acalmando o
menino. – Nós vamos te ajudar a achá-la. Por onde vamos começar?
Benga se aproximou. Havia se afastado pois estava curioso
com uma conversa, e pela cara que fez, tinha descoberto algo.
— Ouvi dois policiais conversando sobre o desaparecimento
repentino de um Beartic na Avenida L – contou. – Eles desconfiam que quem
esteja envolvido com esse surto, está envolvido com quem está sequestrando os
Pokémon.
— Espera, estão roubando os Pokémon também? – questionou
Íris.
— Pelo o que deu pra escutar, já teve umas cinquenta
denúncias de desaparecimento – contou o garoto de cabelos vermelhos. – Isso é
muito estranho. De que lado esses caras estão?
De qualquer forma, o que importa é: Procurando por pistas, eles
descobriram que o ataque possa ter vindo de baixo.
— De baixo? – questionou Bianca, curiosa.
— Dos esgotos – afirmou Benga.
— Se as pessoas que atacaram são as mesmas que estão
roubando, então... – Cheren começou a refletir na situação.
— Quer dizer que o lugar na qual estão reunindo os Pokémon
roubados só pode estar no esgoto – completou Íris, seguindo o raciocínio. – Faz
todo sentido, é um lugar que quase ninguém vai e perfeito para uma base
secreta.
— V-Vocês acham que a Angel está lá, então? – questionou
Oliver, com um pingo de esperança e com muita inocência em achar que as coisas
eram simples.
— Provavelmente, é um lugar a se procurar – animou Benga. –
Eu vou pra lá agora, quem vem comigo?
Anthea e Concordia se entreolharam, depois, olharam para
Susan. Assim como as irmãs de N, a mulher de cabelos negros sabia que toda
aquela parafernália era obra da Team Plasma, a questão era: Natural, o Rei dos
Plasmas, não sabia de todos os planos atrozes de seu pai, como esconder isso do
garoto? Concordia tomou a frente:
— Nós ficaremos com Oliver – disse, estendendo a mão para o
garoto.
N olhou para Susan, com um olhar confiante.
— Virá comigo?
A mulher se curvou levemente, como uma dedicada
guarda-costas. Ela assentiu e respirou fundo. Em sua cabeça, na verdade, só
girava pensamentos de como afastar N da verdade.
Cheren e Bianca se ofereceram para acompanhar Benga e o
próprio N. O treinador tirou a Pokédex de sua mochila, usando-a para encontrar
a localização da entrada do sistema de esgoto. O objeto causou repulsa em
Natural, que jogou seu corpo para trás e sentiu o ódio correr em seu sangue.
Aquele maldito objeto, era por causa daquele aparelho cheio de barulhos
irritantes, que todos seus amigos Pokémon eram maltratados, capturados e
estudados como seres inanimados.
— Eu já deveria saber qual era a laia de vocês – a voz
ameaçadora do rapaz chamou a atenção do grupo. Os olhos azulados brilhavam por
baixo da sombra das mechas finas e curtas de sua franja. – As mochilas, o cinto
com esses objetos repugnantes, esse aparelho. São treinadores Pokémon, certo?
Não preciso da ajuda de vocês!
Susan se manteve em silêncio, Oliver segurou a saia de Anthea,
Bianca e Cheren o encaravam surpresos, enquanto Benga e Íris não pareciam muito
pacientes com a grosseria. Quem era aquele maluco?
— Vamos, Susan – de cabeça erguida, N começou a se dirigir
para a saída.
— Espera aí, esquisitão! – Benga levantou a voz. O Rei dos
Plasmas lhe deu atenção. – Que história é essa?! Você nos ofende como se
tivéssemos te batido e depois sai sem ouvir nada. O que tem de errado com as
minha Pokéball? O que há errado com a Pokédex de Cheren? O que há de errado em
treinadores? Aliás, o que há de errado com você?!
— Posso ouvir a voz de cada Pokémon aqui presente – ele
disse, com convicção. – E as vozes me disseram que há dor e sofrimento. Eles se
sentem presos, sozinhos e tristes por estarem longe de casa, longe de onde eles
deveriam estar. Vocês usam essas coisas para ajudar a si próprios a criarem um
confinamento para cada espécie. Vocês são a escória do mundo!
Benga sentiu o sangue ferver, sua mão fechou-se num punho.
— Você não sabe de nada, esquisitão! Nossa intenção nunca é
machucar os Pokémon!
— Treinam seus Pokémon como máquinas para imitarem aquelas
figuras idiotas que se intitulam uma elite! – retrucou. – O que há com aquele
que chama de Campeão? Qual é o troféu dele?! O sangue derramado.
Os que conheciam Íris e seu título olharam para a garota,
que mantinha a fronte calma. Mas Benga não parecia carregar a mesma paciência,
já que sentira as dores de seu avô (ou da própria garota ao seu lado).
— Você é muito idiota julgando as pessoas dessa maneira –
retrucou o neto de Alder. – É só olhar para sua volta! Estamos em um hospital
para Pokémon, esse lugar tá abarrotado de gente preocupada com seus queridos
amigos!
— APENAS PARA OS LOTAR DE REMÉDIOS E JOGÁ-LOS NO CAMPO DE
BATALHA NOVAMENTE! – gritou N. – VOCÊ TEM NOÇÃO DE QUÃO SUPERFICIAL É ESSA
RELAÇÃO? VOCÊS AO MENOS PERGUNTARAM SE OS POKÉMON QUEREM ISSO?!
Cheren abaixou a fronte, guardando a Pokédex, envergonhado
até pela sua relação com seus próprios Pokémon. Lembrou da vez que ficou dias
na Pinwheel Forest em busca de um Bagon, apenas uma peça perfeita para seu
time. Isso queria dizer que os mais comuns não eram? O quão mesquinho ele fora?
Benga, porém, não parecia compartilhar da mesma opinião e
se manteve firme. Ele cerrou o punho e o levantou, como quem ameaça atacar.
Ágil como o vento, Susan colocou o braço entre o garoto e o seu protegido,
mantendo uma expressão nunca vista antes: séria e pronta para revidar.
Íris apartou o clima de tensão colocando as duas mãos em
volta do punho fechado de Benga. O garoto encarou a menina, mas sua feição
mudou quando viu o rosto sereno dela. Ele abaixou a mão e virou o rosto,
tentando relaxar. A Campeã, então, deu um passo à frente.
— É um prazer conhecê-lo, senhor – a educação de Íris era
semelhante de uma princesa mesmo. – Meu nome é Íris Kingstone, atualmente, sou
a Campeã da região de Unova e também cabeça da Elite dos 4.
N a encarou com um anjo encararia um pecador. Com um
sorriso levemente curvado, ela continuou:
— Entendo sua preocupação com os Pokémon e também
compartilho o sentimento de considerar os Pokémon como nossos amigos – contou.
– Na Elite 4 e na Liga, todos nós nos preocupamos com o bem-estar de nossos
Pokémon. Muito mais que um troféu para o treinador que se tornar Mestre,
oferecemos oportunidades para estreitar laços entre Pokémon e treinador.
— Desde quando você fala bonito? – questionou Benga,
irônico, recebendo uma cotovelada logo em seguida.
— De toda forma, nos preocupamos com os Pokémon tanto
quanto você – concluiu Íris.
O clima de silêncio pairou o ambiente. A expressão de
seriedade de N indicava que ele não cederia aos seus valores facilmente, muito
menos seria flexível. Susan, por sua vez, finalmente abaixou o braço que
protegia o rapaz e olhou para ele, deixando a decisão do que fazer nas mãos
dele. Oliver segurava a roupa de Anthea quando resolveu falar:
— E-Então vocês não vão mais salvar a minha amiga Angel?
O resto do grupo virou o rosto, todos igualmente
envergonhados pela confusão quando, na verdade, deveriam direcionar todas as
forças para um único objetivo. N respirou fundo e lembrou que deveria colocar
os Pokémon acima de tudo, inclusive de seus próprios valores, aliás, eles eram
a razão destes. Num tratado de paz, ele estendeu a mão para Benga.
— Se vocês realmente amam os Pokémon, então, assim como eu,
vão abandonar todos os preconceitos e ajudar, certo?
O garoto encarou a mão pálida do rapaz e logo selou as mãos
com um aperto forte. Cheren e Bianca sorriram, aliviados, logo se levantaram,
pronto para partirem. Íris juntou as mãos, contente e disse:
— Então vamos!
Benga agarrou o pulso da Campeã.
— Você não vai – disse, firme.
— E porque não?
— Você é muito idiota, vai se perder fácil. Pode ser
perigoso e eu não quero que se machuque – Benga sentiu a espinha arrepiar. –
Drayden me ameaçou de morte se algo acontecer com você. Já viu o tamanho
daquele homem? Aquilo mata um Haxorus no soco.
Íris desvencilhou-se da mão do rapaz.
— Esqueceu meu cargo aqui?! – questionou. – Eu sou a Campeã
de Unova e sei me defender.
— Não deixa esse seu cargo subir à cabeça não! – gritou o
outro, argumentando. Ele logo recuperou a calma: - É sério. Só... fique aqui. O
garoto vai ficar e vai precisar de uma pessoa forte junto com ele caso algo
aconteça.
Íris observou a expressão preocupada do amigo e cruzou os
braços, virando o rosto, levemente envergonhada.
— Vou querer que me dê aquilo depois, então.
Benga engoliu o orgulho.
— Ok, ok. Combinado.
O grupo composto por N, Susan, Benga, Bianca e Cheren
deixou o Centro Pokémon. Eles se posicionaram na esquina, onde estava mais
calmo. O treinador de óculos analisava o mapa da cidade em sua Pokédex.
— O escritório da agência de tratamento fica na rua R –
explicou. – Mas existe um acesso direto para os esgotos no Deck 1, a sudoeste
da cidade.
— É perto da Avenida de Entrada, deve estar um caos lá –
analisou Benga. – Então tenham cuidado.
N observava os jovens debaterem sobre o que fazer quando
notou Susan se afastar.
— O que foi?
— Hã... Vamos nos separar – disse, despertando a surpresa
em N. – É muito arriscado cobrir apenas dois locais, então eu vou dar uma volta
na cidade em busca de pistas. Você fica com eles.
Natural olhou com certo receio para a mulher, no fundo, ele
ainda era uma criança com medo de ficar sozinha. Susan se aproximou e beijou a
testa do rapaz, que corou.
— Ficarei bem. E você também – em seguida, sem prolongar,
ela correu.
A mentira fora boa, mesmo ela odiando enganar N. A verdade
é que Susan sabia de tudo que envolvia o Dream Mist até o roubo dos
Pokémon, mas não podia deixar que N descobrisse tudo, então tinha que agir de
forma rápida. Ela alcançou um pequeno aparelho ovalado em sua roupa e colocou
no ouvido, procurando comunicação com um segundo membro dAs Virtudes. Quando
ouviu o chiado da ligação atendida, ela falou:
— Tsuyo, temos problemas...
MOTORISTA AFINAL ESTÁ VIVO!
ReplyDeleteVolte para sua família e viva bem, aproveite bem o desemprego, senhor motorista, estou torcendo!