• Sunday, August 21, 2022

    Cheren acordou com uma forte de cabeça. Ficou surpresa que ao invés encontrar um céu azul, se deparou com a laje branca combinada com a luz de LED pálida de um hospital. Conforme seus sentidos foram se aguçando, ele pode escutar os passos apressados de pessoas e o cheiro de medicamentos. Estava em um hospital.

    Girou a cabeça para analisar o ambiente e viu que estava em uma ala compartilhada. A julgar pelo ambiente, era uma sala para ferimentos leves. Com dificuldade, se sentou, alcançando seus óculos – felizmente intacto -, na mesinha de cabeceira próxima.

    Uma enfermeira adentrou a sala e percebeu que o garoto acordara.

    — Oh, você acordou – disse a mulher, depositando uma bandeja com remédios na mesa de canto. – Como se sente? Você chegou aqui desacordado, mas estava apenas com alguns arranhões.

    — S-Só tenho dor de cabeça – respondeu o treinador, analisando alguns curativos em seus braços.

    — Trouxe um remédio para ajudar. Muitas pessoas se envolveram no acidente com o Beartic na Rua L – disse a enfermeira, estendendo o copo e um comprimido branco para o jovem.

    Prontamente, Cheren engoliu o comprimido. Sua mente ainda tentava lembrar o que acontecera. Ele quase pulou da cama quando se tocou do contexto e da situação.

    — C-Cadê o motorista do ônibus? – perguntou, temendo pelo pior. Afinal, o motorista tinha insistido que o garoto descesse primeiro. – E-E a Bianca?

    A funcionária do hospital se assustou com o desespero do rapaz. Ela refletiu, tentando raciocinar. Eram tantos pacientes que ela mal tivera tempo de decorar os nomes.

    — U-Uma garota de cabelos loiros – descreveu Cheren. – Ela estava com um Oshawott.

    — OH! A garota do Oshawott – a enfermeira estalou os dedos. – Ela está bem – a mulher apontou para o fim da sala.

    O treinador se levantou, se direcionando para a direção apontada, apressado. Sentiu um alívio no peito quando encontrou a garota sentada em sua maca, com apenas uma faixa enrolada em volta da testa e alguns curativos. O Oshawott da menina choramingava em seu colo, mostrando que estava preocupado e assustado.

    — T-Tá tudo bem agora, Osha – riu Bianca, acariciando os pelos brancos da lontra. – Foi só um susto – ao ouvir os passos, ela olhou para o lado. – C-Cheren?

    Quando pequeno, Bianca sabia que Cheren sempre escondia seus sentimentos atrás de um par de óculos e a expressão fria. Mas não era culpa dele, era como se o garoto fosse treinado para apenas se importar com coisas mais importantes: Ser perfeito. Na escola, a loira se impressionava com a inteligência do garoto, mas sempre ria quando ele ficava encabulado com os abraços.

    E, como da água para o vinho, era a vez de Bianca se encabular com abraços. Cheren envolveu a garota num abraço apertado. Seu rosto se apertou contra o peito do treinador e ela ficou corada.

    — G-Graças a Arceus – disse Cheren. – A-Achei que estava ferida.

    — A-ah... H-hã... – em transe, Bianca mal sabia o que responder.

    O treinador se afastou e olhou pra garota. O rosto avermelhado de Bianca fez o garoto ficar igualmente tímido, principalmente quando ele percebeu que outros pacientes os observavam, maravilhados com o amor juvenil.

    — E-Então – ele coçou o cabelo. – D-Desmaiamos com o susto.

    — É-é – assentiu a loira. – Q-Que bom que você está bem...

    Uma terceira figura chamou a atenção dos dois. E pela voz grossa e mal-humorada, dava pra saber exatamente de quem era.

    — Tsc, vocês dois me deram um baita susto – era o motorista do ônibus, estava com a perna enfaixada, indicando que seu ferimento fora mais grave, mas ele parecia bem, considerando a lucidez. – Mas eu fico feliz que estejam bem. E obrigado por salvarem a minha vida.

    Cheren e Bianca sorriram, duplamente aliviados em verem que aquela figura mal encarada estava bem.

    — Obrigada por nos ajudar – Bianca sorriu gentilmente, fazendo o senhor corar levemente, sentindo o coração aquecido.

    — De toda forma – ele coçou a garganta. – Finalmente vou poder descansar um pouco da droga daquele emprego. Estou ansioso para aproveitar minha família.

    A enfermeira de antes se aproximou e sorriu.

    — Falando em família, já contatei a sua esposa – disse para o motorista. Logo em seguida, ela se virou para Cheren e Bianca: - A família de vocês também foi contatada, eles estão vindo pra cá.

    Por um minuto, os dois se esqueceram completamente do status de fugitivos. A garota gelou e olhou para o treinador, imaginando o que faria se fossem pegos. Cheren engoliu seco e agarrou a mão de Bianca. Só tinha uma alternativa conhecida: continuar fugir.

    — E-Então... A gente precisa ir – o treinador começou a andar, pegando seus pertences.

    — E-Espera! – a enfermeira estendeu o braço, confusa com a repentina ação.

    — O-Obrigado pelos cuidados!

    A dupla apressou o passo e saiu da sala. Ambos notaram estarem sendo seguidos pela funcionária do hospital, mas não olharam para trás. Se estreitaram no meio das pessoas e dos corredores lotados. Cheren não largava a mão de Bianca, apressado em despistar a atenção da mulher.

    Saíram com certa folga do hospital pela porta da frente, mas isso não os fez descansar. Eles continuaram a correr alguns quarteirões até terem certeza que podiam descansar. Encostaram na parede de uma cafeteria com pouco movimento e respiraram fundo, recuperando fôlego.

    — Me sinto um fora da lei fugindo desse jeito – comentou Cheren.

    — Em parte somos – riu Bianca. – Somo dois menores de idade fugindo de casa.

    — Você não precisava me lembrar disso – riu o treinador, em resposta. Ele olhou pro lado e viu a cafeteria e sentiu a boca seca. – Quer beber algo? Tô morto de sede.

    — Q-Querer eu quero, mas não estamos apresentáveis – apontou Bianca.

    Os dois olharam para si próprios. As roupas eram as mesmas, mas estavam sujas e surradas. A humilhação foi maior quando notaram que ainda usavam as pantufas do hospital (pelo menos eram macias).

    — P-Pelo menos ainda temos nossas coisas – disse Bianca, tentando ser positiva, apontando pra bolsa.

    — Cara, vocês estão horríveis. Em que buraco se enfiaram? – a voz familiar soou como uma maldição para Cheren.

    O treinador se virou e se deparou com Benga, saindo da cafeteria, acompanhado de Íris, a nova Campeã de Unova. Era uma dupla inusitada, mas esse nem era o foco maior. O neto de Alder cruzou os braços, analisando a dupla.

    — O que houve com vocês dois? – questionou.

    — E-Eu não sei se tô incrivelmente irritado por rever você ou se estou aliviado – disse Cheren. – Precisamos de roupas novas, nós meio que saímos do hospital agora.




    O hotel que Benga estava hospedado tinha um toque aconchegante típico desse tipo de local. No caminho, foi informado para Cheren e Bianca que o garoto estava em Castelia a pedido do avô, que estava resolvendo algumas coisas da Liga.

    A dupla fugitiva aproveitou a oportunidade de ouro para um banho. Cheren recebeu uma camiseta de cor neutra e uma calça jeans, enquanto Bianca recebeu uma saia e uma blusa de lá, eram roupas provisórias até que as antigas ficassem limpas.

    — Então vocês estavam fugindo de Nuvema, se envolveram em um acidente, foram parar num hospital, e agora, fugiram do hospital porque descobriram que chamaram seus pais? – questionou Benga. – Isso não é muito para um capítulo só?

    — É difícil raciocinar desse jeito – disse Cheren. – Mas acho que nunca senti tanta adrenalina na vida.

    — Aliás, que espécie de fuga é essa? – questionou o garoto de cabelos vermelhos. – Vocês são uma espécie de casal em fuga? Fugindo das garras de reprovação de seus pais?

    A dupla corou.

    — N-NÃO É ISSO! – berrou Bianca, envergonhada.

    — V-Você entendeu tudo errado – Cheren ajeitou os óculos, envergonhado. – E-Estamos só... tentando viver nossas vidas – explicou-se, ainda que parecesse mais idiota. – ALIÁS! E VOCÊS DOIS TAMBÉM?! Eu nunca vi dupla mais inusitada que isso.

    — C-Cheren... – sussurrou Bianca. – V-Você não tá reconhecendo ela?

    O treinador analisou Íris. Talvez seja pela mudança de roupas, já que a garota usava uma blusa bege com detalhes em rosa e uma calça ¾ branca, bem diferente do vestido bufante que usara na batalha contra Alder. Olhando assim, ela só parecia uma garota normal.

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    Benga respirou fundo.

    — Essa daqui é a Íris – ele estendeu o braço para mostrar a garota. – Ela é a Campeã de Unova, mas aparentemente, não sabe andar numa cidade como Castelia.

    A campeã olhou para o rapaz, enfezada. Ela usou o calcanhar para atingir o pé do garoto, que urrou de dor.

    — Eu nem queria estar com um selvagem como você – respondeu ela. – O tio Alder pediu para que você me acompanhasse pela cidade enquanto ele resolvia algumas coisas da liga. Eu ia acompanhar, mas o tio Drayden se ofereceu para resolver tudo pra mim.

    — Nem acredito que uma criança como você conseguiu ganhar do vovô – murmurou Benga, enfezado.

    Íris se aproximou do rapaz, provocativa.

    — Obrigada por me lembrar que eu sou uma treinadora incrível – debochou. – A partir de hoje, você me chame de Princesa Íris.

    Cheren e Bianca observaram a face de Benga ficar vermelha de raiva, tão vermelha quanto as mechas arrepiadas de seu cabelo.

    — Mas nem que se eu tivesse com uma guilhotina na minha cabeça – retrucou ele, irritado.

    Íris riu, se virando para a dupla.

    — É-é um prazer conhecê-los – sorriu a Campeã. – Ainda não entendi a relação de vocês com o Benga direito, mas logo vou me acostumar.

    — É uma honra conhecer a Campeã mais nova de Unova – ressaltou Bianca, sorrindo.

    Cheren coçou a garganta.

    — D-Desculpe por antes. Você é uma treinadora muito habilidosa – envergonhado, ele coçou a nuca. – Meu nome é Cheren, essa é a Bianca.

    — Ora, p-parem com os elogios – envergonhada, Íris coçou os cabelos volumosos e longos. – N-não tô acostumada.

    — Você tá se achando o máximo, isso sim – debochou Benga.

    A Campeã encarou o garoto com um olhar ameaçador, que tremeu.

    Bianca e Cheren riram de leve, “Eles combinam, de alguma forma”, pensaram. A garota de cabelo loiro sentou-se na beirada da cama, perto de onde seu Oshawott repousava, exausto de tanta correria.

    A garota acariciou o topo da cabeça da lontra de água, com um sorriso em canto de boca.

    — Desculpe pela correria, Osha – disse a menina, carinhosa. – Agora podemos descansar.

    Bianca estranhou quando notou a fronte de seu Pokémon estava baixa. Seus curtos braços estavam contra a concha em sua barriga e eles tremiam feito um Snorunt. A garota colocou o inicial de água em seu colo e notou que ele suava frio.

    — O-Osha, tá tudo bem? – questionou a menina. Os outros presentes pararam para observar.

    A lontra inclinou seu corpo para o lado e golfou. O ato criou alarde e gerou desespero em Bianca. A resposta era óbvia: Oshawott não estava bem e necessitava de um Centro Pokémon. O ato foi sugerido por Benga e logo foi aceito pelos demais.


    Não que um atendimento seria rápido, existia o pequeno detalhe da cidade de Castelia estar sofrendo de uma crise de abandono em massa de Pokémon e cada vez mais surgiam pacientes. Havia até mesmo pessoas, que no desespero, levaram parentes ou amigos próximo para o centro para serem atendidos.

    O local estava uma bagunça. Do lado de fora, vários repórteres e policiais tentavam obter informações para investigações. O grupo não se atentou a isso, preocupado em apenas arrumar espaço entre as pessoas a fim de alcançar o balcão principal.

    — C-Com licença! – dizia Bianca, com o Oshawott contra seu peito. – É uma emergência!

    Cheren ajudava a garota a abrir caminho, por ser maior, ele permitiu que eles chegassem em seu destino. Bianca sentou Osha no balcão de madeira, chamando a atenção de uma enfermeira que carregava uma bandeja com Pokéball.

    — E-Enfermeira Joy! – gritou Bianca, em prantos. – Meu Oshawott está mal! Por favor, ajuda ele!

    — H-Hã, v-você pode esperar? – perguntou a enfermeira, com a expressão de quem estava sobrecarregada. – T-Tem outras pessoas na frente – a mulher de cabelos róseos apontou para atrás do grupo. Havia pelo menos cinquenta pessoas na fila de espera.

    — M-Mas, ele vomitou, ele está mal! Ele está tremendo, diferente do normal! E se ele tiver algo grave?! – era a vez da tutora do Pokémon de água começar a tremer.

    Cheren colocou as mãos nos ombros da companheira, oferecendo suporte. Ele tentou manter a calma, mesmo estando afetado em ver Bianca naquele estado.

    — Pode oferecer algum remédio enquanto esperamos? – questionou.

    — Se ele vomitou, podem oferecer algo para mantê-lo hidratado – a enfermeira estendeu o braço e apontou para uma máquina de venda automática de bebidas e alimentos ao lado dos sofás da área de espera. – N-Não posso medicar ele sem uma consulta.

    O treinador suspirou, assentiu e agradeceu. Ele passou o braço em volta do ombro de Bianca, e guiou a garota e o seu Pokémon para a área de espera. Íris e Benga se aproximaram em silêncio, preocupados. Cheren foi até a máquina de bebidas e comprou uma limonada em lata, se aproximando da garota para entregar a ela.

    Bianca agradeceu e ajudou o Oshawott a bebê-lo. Benga olhou em volta, sentindo uma atmosfera familiar como o acontecido em Accumula. As expressões de confusão, os olhares perdidos, tudo era uma indução caótica e o inimigo era silencioso.

    — Acho que tá claro pra gente que foram os mesmos idiotas que fizeram aqui o que aconteceu em Accumula, né? – questionou o neto de Alder. – Acha que foi o mesmo maluco de cabelo branco?

    — Difícil dizer – refletiu Cheren. – Impossível um cara daquele agir sozinho. Unova é muito grande e ele atacou praticamente a capital da região.

    — Talvez ele não esteja sozinho... – apontou Bianca. – Quando eu, Hilda e Hilbert investigamos o desaparecimento da Musharna da senhorita Fennel, o homem de cabelos brancos que vimos em Accumula estava lá – contou ela, se lembrando. – Um homem estranho apareceu e o chamou de Tsuyo. Ele fazia parte da Team Plasma.

    — Espera, Plasma? – questionou Benga. – Plasma e o Dream Mist estão envolvidos?

    — F-Foram eles que mataram Munnas no Dreamyard para recolher alta quantidade do Dream Mist – disse Bianca, com a voz baixa.

    Íris levantou a mão.

    — Espera, vocês estão falando dos Plasmas? Aquela equipe nas redes sociais que resgata Pokémon e alerta sobre os maus tratos com eles? – questionou a Campeã.

    — Não podem ser os mesmos – refletiu Benga. – Mas é o mesmo nome.

    — Isso é tudo muito estranho – comentou Íris.

    A atenção foi rapidamente desviada por uma mulher de cabelos róseos, vestido branco e um cardigan verde em volta dos ombros. Ela se aproximou do grupo como um anjo, sua voz era baixa, mas audível, com uma educação de uma duquesa:

    — Com licença, desculpe atrapalhar a conversa de vocês. Eu estou procurando uma Lillipup, o nome dela é Angel. Ela estava usando uma coleira rosa, com detalhes de florzinha. É de um garotinho e ele está preocupado.

    Bianca olhou para cima, reconhecendo as características dadas. Antes que ela pudesse comentar algo, uma outra figura se aproximou. Os cabelos verdes e a expressão calma faziam ele parecer um ser celestial. Sua atenção, porém, não estava nos humanos, e sim, no doente Oshawott no colo de Bianca.

    N estendeu a mão e a colocou gentilmente sobre a cabeça da lontra. Bianca se assustou, mas a aura que o rapaz trazia era de tranquilidade. O inicial de água olhou para o jovem, seus olhos azulados eram de ternura e compreensão, em seu ombro, uma Purrloin curiosa, apegada a seu mestre.

    — Está tudo bem agora, pequeno – ele acariciou os pelos macios de Oshawott. – Sua amiga humana está bem, eu sei que deve ter sido um acidente perigoso, mas ela parece bem e está preocupada com você.

    Para Susan, Anthea e Concordia, aquela era uma situação normal, mas era impagável a reação dos treinadores. Osha olhou para sua companheira e grunhiu. Bianca sorriu levemente e o abraçou.

    — O susto te deixou em pânico, né? – perguntou. – Mas eu estou bem, eu prometo – depois, ela virou seu olhar para N. – O-Obrigada.

    Natural sorriu levemente. O leve silêncio deixado pela situação foi interrompido quando Oliver, o mais interessado no sequestro de sua Lillipup, se aproximou com Concordia e reconheceu Bianca.

    — Ah! Bianca! – o garoto finalmente demonstrou um sorriso e correu para abraçar a conhecida.

    — O-Oliver – disse Bianca. – Espera, roubaram a Angel?!

    O primo de Hilda assentiu. Ele olhou para Cheren e cumprimentou o treinador.

    — Como aconteceu? – perguntou o treinador.

    — Uma moça veio correndo, trombou em mim – contou Oliver. – Ela parecia apressada, tava fugindo da polícia. Quando eu notei, ela tinha pegado a Angel.

    — N-Não tem motivo para roubarem a Angel. Vocês têm alguma pista pra onde ela foi?

    O garoto negou, lentamente.

    — Não se preocupa, Oliver – disse Bianca, acalmando o menino. – Nós vamos te ajudar a achá-la. Por onde vamos começar?

    Benga se aproximou. Havia se afastado pois estava curioso com uma conversa, e pela cara que fez, tinha descoberto algo.

    — Ouvi dois policiais conversando sobre o desaparecimento repentino de um Beartic na Avenida L – contou. – Eles desconfiam que quem esteja envolvido com esse surto, está envolvido com quem está sequestrando os Pokémon.

    — Espera, estão roubando os Pokémon também? – questionou Íris.

    — Pelo o que deu pra escutar, já teve umas cinquenta denúncias de desaparecimento – contou o garoto de cabelos vermelhos. – Isso é muito estranho. De que lado esses caras estão?  De qualquer forma, o que importa é: Procurando por pistas, eles descobriram que o ataque possa ter vindo de baixo.

    — De baixo? – questionou Bianca, curiosa.

    — Dos esgotos – afirmou Benga.

    — Se as pessoas que atacaram são as mesmas que estão roubando, então... – Cheren começou a refletir na situação.

    — Quer dizer que o lugar na qual estão reunindo os Pokémon roubados só pode estar no esgoto – completou Íris, seguindo o raciocínio. – Faz todo sentido, é um lugar que quase ninguém vai e perfeito para uma base secreta.

    — V-Vocês acham que a Angel está lá, então? – questionou Oliver, com um pingo de esperança e com muita inocência em achar que as coisas eram simples.

    — Provavelmente, é um lugar a se procurar – animou Benga. – Eu vou pra lá agora, quem vem comigo?

    Anthea e Concordia se entreolharam, depois, olharam para Susan. Assim como as irmãs de N, a mulher de cabelos negros sabia que toda aquela parafernália era obra da Team Plasma, a questão era: Natural, o Rei dos Plasmas, não sabia de todos os planos atrozes de seu pai, como esconder isso do garoto? Concordia tomou a frente:

    — Nós ficaremos com Oliver – disse, estendendo a mão para o garoto.

    N olhou para Susan, com um olhar confiante.

    — Virá comigo?

    A mulher se curvou levemente, como uma dedicada guarda-costas. Ela assentiu e respirou fundo. Em sua cabeça, na verdade, só girava pensamentos de como afastar N da verdade.

    Cheren e Bianca se ofereceram para acompanhar Benga e o próprio N. O treinador tirou a Pokédex de sua mochila, usando-a para encontrar a localização da entrada do sistema de esgoto. O objeto causou repulsa em Natural, que jogou seu corpo para trás e sentiu o ódio correr em seu sangue. Aquele maldito objeto, era por causa daquele aparelho cheio de barulhos irritantes, que todos seus amigos Pokémon eram maltratados, capturados e estudados como seres inanimados.

    — Eu já deveria saber qual era a laia de vocês – a voz ameaçadora do rapaz chamou a atenção do grupo. Os olhos azulados brilhavam por baixo da sombra das mechas finas e curtas de sua franja. – As mochilas, o cinto com esses objetos repugnantes, esse aparelho. São treinadores Pokémon, certo? Não preciso da ajuda de vocês!

    Susan se manteve em silêncio, Oliver segurou a saia de Anthea, Bianca e Cheren o encaravam surpresos, enquanto Benga e Íris não pareciam muito pacientes com a grosseria. Quem era aquele maluco?

    — Vamos, Susan – de cabeça erguida, N começou a se dirigir para a saída.

    — Espera aí, esquisitão! – Benga levantou a voz. O Rei dos Plasmas lhe deu atenção. – Que história é essa?! Você nos ofende como se tivéssemos te batido e depois sai sem ouvir nada. O que tem de errado com as minha Pokéball? O que há errado com a Pokédex de Cheren? O que há de errado em treinadores? Aliás, o que há de errado com você?!

    — Posso ouvir a voz de cada Pokémon aqui presente – ele disse, com convicção. – E as vozes me disseram que há dor e sofrimento. Eles se sentem presos, sozinhos e tristes por estarem longe de casa, longe de onde eles deveriam estar. Vocês usam essas coisas para ajudar a si próprios a criarem um confinamento para cada espécie. Vocês são a escória do mundo!

    Benga sentiu o sangue ferver, sua mão fechou-se num punho.

    — Você não sabe de nada, esquisitão! Nossa intenção nunca é machucar os Pokémon!

    — Treinam seus Pokémon como máquinas para imitarem aquelas figuras idiotas que se intitulam uma elite! – retrucou. – O que há com aquele que chama de Campeão? Qual é o troféu dele?! O sangue derramado.

    Os que conheciam Íris e seu título olharam para a garota, que mantinha a fronte calma. Mas Benga não parecia carregar a mesma paciência, já que sentira as dores de seu avô (ou da própria garota ao seu lado).

    — Você é muito idiota julgando as pessoas dessa maneira – retrucou o neto de Alder. – É só olhar para sua volta! Estamos em um hospital para Pokémon, esse lugar tá abarrotado de gente preocupada com seus queridos amigos!

    — APENAS PARA OS LOTAR DE REMÉDIOS E JOGÁ-LOS NO CAMPO DE BATALHA NOVAMENTE! – gritou N. – VOCÊ TEM NOÇÃO DE QUÃO SUPERFICIAL É ESSA RELAÇÃO? VOCÊS AO MENOS PERGUNTARAM SE OS POKÉMON QUEREM ISSO?!

    Cheren abaixou a fronte, guardando a Pokédex, envergonhado até pela sua relação com seus próprios Pokémon. Lembrou da vez que ficou dias na Pinwheel Forest em busca de um Bagon, apenas uma peça perfeita para seu time. Isso queria dizer que os mais comuns não eram? O quão mesquinho ele fora?

    Benga, porém, não parecia compartilhar da mesma opinião e se manteve firme. Ele cerrou o punho e o levantou, como quem ameaça atacar. Ágil como o vento, Susan colocou o braço entre o garoto e o seu protegido, mantendo uma expressão nunca vista antes: séria e pronta para revidar.

    Íris apartou o clima de tensão colocando as duas mãos em volta do punho fechado de Benga. O garoto encarou a menina, mas sua feição mudou quando viu o rosto sereno dela. Ele abaixou a mão e virou o rosto, tentando relaxar. A Campeã, então, deu um passo à frente.

    — É um prazer conhecê-lo, senhor – a educação de Íris era semelhante de uma princesa mesmo. – Meu nome é Íris Kingstone, atualmente, sou a Campeã da região de Unova e também cabeça da Elite dos 4.

    N a encarou com um anjo encararia um pecador. Com um sorriso levemente curvado, ela continuou:

    — Entendo sua preocupação com os Pokémon e também compartilho o sentimento de considerar os Pokémon como nossos amigos – contou. – Na Elite 4 e na Liga, todos nós nos preocupamos com o bem-estar de nossos Pokémon. Muito mais que um troféu para o treinador que se tornar Mestre, oferecemos oportunidades para estreitar laços entre Pokémon e treinador.

    — Desde quando você fala bonito? – questionou Benga, irônico, recebendo uma cotovelada logo em seguida.

    — De toda forma, nos preocupamos com os Pokémon tanto quanto você – concluiu Íris.

    O clima de silêncio pairou o ambiente. A expressão de seriedade de N indicava que ele não cederia aos seus valores facilmente, muito menos seria flexível. Susan, por sua vez, finalmente abaixou o braço que protegia o rapaz e olhou para ele, deixando a decisão do que fazer nas mãos dele. Oliver segurava a roupa de Anthea quando resolveu falar:

    — E-Então vocês não vão mais salvar a minha amiga Angel?

    O resto do grupo virou o rosto, todos igualmente envergonhados pela confusão quando, na verdade, deveriam direcionar todas as forças para um único objetivo. N respirou fundo e lembrou que deveria colocar os Pokémon acima de tudo, inclusive de seus próprios valores, aliás, eles eram a razão destes. Num tratado de paz, ele estendeu a mão para Benga.

    — Se vocês realmente amam os Pokémon, então, assim como eu, vão abandonar todos os preconceitos e ajudar, certo?

    O garoto encarou a mão pálida do rapaz e logo selou as mãos com um aperto forte. Cheren e Bianca sorriram, aliviados, logo se levantaram, pronto para partirem. Íris juntou as mãos, contente e disse:

    — Então vamos!

    Benga agarrou o pulso da Campeã.

    — Você não vai – disse, firme.

    — E porque não?

    — Você é muito idiota, vai se perder fácil. Pode ser perigoso e eu não quero que se machuque – Benga sentiu a espinha arrepiar. – Drayden me ameaçou de morte se algo acontecer com você. Já viu o tamanho daquele homem? Aquilo mata um Haxorus no soco.

    Íris desvencilhou-se da mão do rapaz.

    — Esqueceu meu cargo aqui?! – questionou. – Eu sou a Campeã de Unova e sei me defender.

    — Não deixa esse seu cargo subir à cabeça não! – gritou o outro, argumentando. Ele logo recuperou a calma: - É sério. Só... fique aqui. O garoto vai ficar e vai precisar de uma pessoa forte junto com ele caso algo aconteça.

    Íris observou a expressão preocupada do amigo e cruzou os braços, virando o rosto, levemente envergonhada.

    — Vou querer que me dê aquilo depois, então.

    Benga engoliu o orgulho.

    — Ok, ok. Combinado.

     




    O grupo composto por N, Susan, Benga, Bianca e Cheren deixou o Centro Pokémon. Eles se posicionaram na esquina, onde estava mais calmo. O treinador de óculos analisava o mapa da cidade em sua Pokédex.

    — O escritório da agência de tratamento fica na rua R – explicou. – Mas existe um acesso direto para os esgotos no Deck 1, a sudoeste da cidade.

    — É perto da Avenida de Entrada, deve estar um caos lá – analisou Benga. – Então tenham cuidado.

    N observava os jovens debaterem sobre o que fazer quando notou Susan se afastar.

    — O que foi?

    — Hã... Vamos nos separar – disse, despertando a surpresa em N. – É muito arriscado cobrir apenas dois locais, então eu vou dar uma volta na cidade em busca de pistas. Você fica com eles.

    Natural olhou com certo receio para a mulher, no fundo, ele ainda era uma criança com medo de ficar sozinha. Susan se aproximou e beijou a testa do rapaz, que corou.

    — Ficarei bem. E você também – em seguida, sem prolongar, ela correu.

    A mentira fora boa, mesmo ela odiando enganar N. A verdade é que Susan sabia de tudo que envolvia o Dream Mist até o roubo dos Pokémon, mas não podia deixar que N descobrisse tudo, então tinha que agir de forma rápida. Ela alcançou um pequeno aparelho ovalado em sua roupa e colocou no ouvido, procurando comunicação com um segundo membro dAs Virtudes. Quando ouviu o chiado da ligação atendida, ela falou:

    — Tsuyo, temos problemas...

     

       

    { 1 comentários... read them below or add one }

    1. MOTORISTA AFINAL ESTÁ VIVO!

      Volte para sua família e viva bem, aproveite bem o desemprego, senhor motorista, estou torcendo!

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