• Sunday, August 7, 2022




    Cheren observava a grandiosa Skyarrow Bridge pela janela do ônibus. Sentado em um dos muitos bancos vazios, o meio de transporte não era conhecido por transportar muitas pessoas naquela hora da manhã. Ele bocejou levemente e cruzou os braços, tentado a se entregar ao sono, coisa que Bianca já fizera. Ao seu lado, a garota usava o ombro do garoto como travesseiro, não se importando com o cabelo bagunçado ou a cara engraçada que fazia.

    Depois da saírem de Nuvema, os dois alcançaram a cidade vizinha, Accumula, onde conseguiram pegar o metrô. Devido a um problema da linha férrea, tiveram que pegar um ônibus até o destino: Castelia City. Isso não pareceu atrapalhar, pelo menos Cheren pode olhar o mundo pelos próprios olhos pela primeira vez.

    Era começo de manhã, então o sol estava frio e se levantando no horizonte de Unova. A Skyarrow era conhecida por sua extensão, sustentada por vigilantes torres. O treinador coçou os olhos quando tirou os óculos e procurou a mão de Bianca, entrelaçando os dedos e, cedendo ao seu desejo natural, dormiu.



    Próxima parada, Centro Pokémon de Castelia. – a voz gravada feminina anunciou com seriedade. – Próxima parada, Centro Pokémon de Castelia.

    Bianca foi a primeira a despertar com o anúncio, talvez por estar mais descansada. A menina se espreguiçou e olhou para seu lado, notando o rosto adormecido do companheiro. Cheren tinha uma expressão exausta, provavelmente por correrem a noite toda. A loira sorriu e ajeitou as mechas que fazia cócegas no rosto dele.

    — C-Cheren? – visto que estavam chegando no destino, a garota decidiu despertar o rapaz ao seu lado. – Estamos chegando.

    O treinador bocejou e despertou, coçando os olhos e colocando seus óculos. Ele olhou pela janela do ônibus e se admirou com as imponentes construções de Castelia, símbolos chaves da cidade.

    — É incrível como logo de manhã tem tanta gente nas ruas – comentou Bianca, observando a mesma paisagem.

    — Nimbasa e Castelia nunca dormem – riu o treinador, ajeitando sua mochila. – Precisamos ir no Centro Pokémon, né?

    — A Professora Juniper me mandou mensagem – contou a loira. – Eu acabei esquecendo de pegar o Munny nessa correria.

    Apesar de congestionamento ser algo comum dentro de Castelia, Cheren sentiu que algo estava errado. Ele esticou o pescoço para fora e viu as três fileiras de automóveis buzinando entre si enquanto motoristas se xingavam, tão perdidos quanto o treinador.

    — Tá tudo bem? – questionou a companheira.

    — Provavelmente teve algum acidente logo à frente – especulou o treinador.

    O motorista do ônibus resolveu ligar a rádio com a intenção de ser informar sobre o suposto engarrafamento. A frequência local logo emitiu as informações pelos autofalantes de dentro do transporte público.

    O Departamento de Mobilidade e Trânsito de Castelia City informa congestionamento de 20km na Avenida L, a via principal da cidade. O congestionamento tem início na entrada da cidade até próximo do Centro Pokémon. A causa é um bloqueio na frente do Centro Pokémon graças a um grande movimento de pessoas e Pokémon no local. Recomenda-se que motoristas façam o desvio pelas vias arteriais e colaterais. Mais informações em breve.

    A voz da radialista logo abandonou o tom sério de voz para comentar algo sobre esporte. O motorista bufou, impaciente, provavelmente cansado do seu exaustivo trabalho. Bianca e Cheren se entreolharam, concluindo que teriam que esperar.

    — Consegue teorizar o que tá acontecendo? – questionou a loira.

    — Castelia sempre foi uma bagunça tendo apenas um Centro Pokémon disponível – disse o treinador.

    A garota assentiu, respirando fundo. Paciência era a melhor chave naquele instante.



    Se o dia não começara bem em Castelia, esse fenômeno tinha um nome: Team Plasma. Os bueiros da cidade escondiam um enorme sistema de esgoto que poderia atuar quase como uma cidade subterrânea se não fosse o odor repugnante. Quem quer que trabalhasse lá, tinha o enorme compromisso de zelar pelo pleno funcionamento do sistema, evitando quaisquer desavenças que poderiam acarretar em sérios problemas para a salubridade dos cidadãos de Castelia. E é claro, manter a segurança, pois nunca se sabia quando alguém poderia tentar um ataque debaixo.


    Era madrugada, a mesma madruga em que Cheren e Bianca fugiam de sua vida pacata para abraçarem o mundo. Não havia um batalhão policial dentro dos esgotos, então, a vítima foi um guarda capenga e solitário que tinha uma única função de proteger o sistema dos esgotos em uma sala específica.

    Amarrado em uma cadeira pelos braços e pernas, ele se mexia várias vezes na tentativa de se soltar enquanto resmungava, com a boca tapa com uma fita isolante.

    — Alguém fala pro soldadinho de chumbo aí parar de resmungar? – resmungou Mikoto, focada nas telas do computador que mostravam o funcionamento de cada tubulação de esgoto.

    — Deixa a gente matar ele? – disse uma garota de cabelos vermelhos.

    — Ou só torturar um pouco? – completou um garoto, de aparência semelhante.

    Izami e Izani podiam ser considerados a dupla mais perigosa da Team Plasma. E tudo graças ao simples fato que eles podiam confundir muito as pessoas. Apesar de gêneros opostos, os dois faziam questão de usarem cortes de cabelos e roupas parecidas, além de adorarem pregar peças em membros novatos da Team Plasma.

    Porém, a dupla compartilhava uma rivalidade quando se tratava de Rood, seu pai e um dos Sete Sábios. A briga interna dos irmãos era ver quem era o mais amado pela figura paterna, que já se acostumaram com a disputa inútil dos filhos.

    — Não é pra matar ninguém! – exclamou Mikoto, massageando as têmporas, logo voltando para sua função. – Oh, achei! Kogsu estava certo, eu consigo ver onde estão todos os bueiros e onde eles conectam aqui embaixo – a mulher sorriu satisfeita, virando para a dupla. – Estão prontos?

    Izami, a garota, ajeita um cinto com pequenas bombas de fumaça contendo o já conhecido Dream Mist. Semelhante com o ataque de Accumula, era a vez de Castelia sofrer uma lavagem cerebral. Diferente do que fora feito por Tsuyo, o ataque viria por baixo, sendo mais efetivo para uma cidade daquele tamanho.

    Izani, o garoto, coçou o ouvido com o dedo mindinho e olhou para a irmã, com um sorriso malandro.

    — Quer apostar uma corrida?

    — De quem implanta todas as bombas e volta aqui em menos tempo? – completou a menina, como se lesse os pensamentos do irmão.

    — Quem ganhar avisa o papai que a missão foi cumprida – complementou o outro.

    Mikoto revirou os olhos.

    — Apenas vão! – ordenou, mostrando com o indicado nas telas. – Os locais estão sinalizados com uma luz alaranjada. Tenham certeza de cobrir todos os pontos possíveis.

    A dupla assentiu e logo deixou a pequena sala de comando. Mikoto virou-se para o guara preso, que olhou desesperado para a mulher.

    — Ora, ora, ora – ela se aproximou, ajeitando o decote provocante de sua blusa. – O que eu faço com você?

    Com pouco cuidado, ela arrancou a fita que mantinha a boca do homem fechada. Ela resmungou de dor quando sentiu os pelos faciais de seu rosto serem arrancados. Seus olhos encararam os olhos róseos da mulher. Era inegável a beleza daquela figura. Seus cabelos loiros na altura dos ombros lhe davam um ar adulto, mesmo exalando uma energia jovial. Seu rosto era coberto por uma maquiagem natural, mas a pinta debaixo do olho esquerdo parecia fazer tudo ser sexy.

    Mikoto apoiou as duas mãos em cada lado do apoio de braço da cadeira e curvou-se, aproximando seu rosto com o do homem. Ele não conseguiu esconder o rubor.

    — Tá tremendo de medo? – ela riu, molhando os lábios com a língua. – Você me lembra meu ex-namorado. Será que beija igual ele?

    De uma figura cheia de medo, a expressão do homem mudou para excitação. Mikoto aproximou um pouco mais dos rostos, pronta para selar os lábios.

    — Pfff... – o guarda se assustou quando Mikoto começou a rir. – HA! HA! HA! Meu Arceus, vocês homens são tão simplistas – debochou. – Há 5 segundos atrás você estava tremendo pela sua vida, eu só precisei insinuar algo pra você ignorá-la e se deixar levar pelo seu tesão – ela desceu os olhos. – Seu pau está até duro!

    O guarda encolheu-se de vergonha, sentindo-se um tolo fútil perto daquela mulher. Mikoto espremeu o olho e notou algo brilhante na mão do homem.

    — Ouch! Você é casado – a expressão se fez séria. – Estava largando toda sua ética de um relacionamento para aceitar migalhas de uma mulher qualquer. Sua esposa ou esposo, sei lá, não merece nem um pouco uma pessoa como você – ela reprimiu os lábios antes de tirar algo do bolso. – E traição é algo imperdoável...

    Izami e Izani corriam por caminhos opostos. Velocidade era um dos pontos fortes da dupla, então não foi preciso muito tempo para que as bombas fossem implantadas nos seus devidos lugares. Pelo menos cem pontos foram atingidos, só restava o show principal: O Boom!

    Izani estava no local combinado, se alongando e se espreguiçando como se tivesse corrido uma maratona. Sua expressão facial mudou para o puro deboche ao ver a irmã chegando, alguns segundos atrasados.

    — Parece que eu ganhei – disse o jovem.

    — Eu só perdi pois o meu caminho era mais longo – explicou Izami, recuperando o fôlego.

    — Que desculpa fajuta – riu o irmão. – Dá o Xtransceiver aí que eu vou ligar pro papai. Eu ganhei, eu dou a notícia.

    Izami sorriu de forma sinistra, tirando o relógio com tela de seu pulso, logo em seguida, estendeu para o irmão. Izani quase se remoeu de ódio quando a garota trocou o objeto de mão, com rapidez.

    — É muito inocente da sua parte pensar que eu vou entregar isso de mão beijada – brincou ela.

    — Não tenho culpa se você não sabe perder – retrucou o irmão, tentando alcançar o objeto, mas sendo driblado novamente.

    — Você é muito lerdo – Izami disse, com a voz lenta.

    As veias de Izani saltaram de raiva.

    — Você quer brigar? – desafiou o irmão.

    Izami assoviou em resposta. Ao passo que o rapaz daria pra atacar a irmã, Mikoto abriu a porta, com certa impaciência.

    — Ao invés de ficarem discutindo aí fora, deveria ter me avisado que estamos prontos – resmungou ela, irritada.

    A dupla fez bico e se desculpou, logo adentrando a sala. Izami quase deu um pulo ao ver o corpo desfalecido do guarda com a cabeça pendendo para trás, em sua boca, uma das bombas de Dream Mist repousava.

    — Ele não tá morto, eu só apaguei ele – explicou Mikoto, notando a surpresa dos gêmeos. – DeeDee, pode trazer pra mim?

    Debaixo de uma das mesas, tímido como a maioria de sua espécie, surgiu um Dwebble. O inseto de pedra se aproximou de sua mestra com um pequeno controle. Ela soltou uma exclamação fina, pegando o Pokémon no colo.

    — Bom menino – com um sorriso, ela alcançou o objeto. – Coloquem suas máscaras. É hora do Boom!

     

    Bom dia, aqui é o repórter Willian da PNN e eu trago informações urgentes – quem quer que estivesse assistindo TV logo pela manhã, levou um susto quando a programação da cidade foi interrompida. – Castelia City amanheceu com um surto. Treinadores e donos de Pokémon estão libertando e fazendo abandono em massa. Semelhante com o caso de Accumula, algumas testemunhas relatam que as pessoas afetadas acordaram coagidos a manterem seus próprios Pokémon consigo. Com isso, uma confusão generalizada se alastrou em diversos pontos da cidade, o que fez os habitantes procurarem o Centro Pokémon local, que sofre de um abarrotamento.

    A transmissão se estendeu para a rádio local. Com isso, Cheren e Bianca, que ainda estavam presos no congestionamento, se entreolharam. O motorista, ainda impaciente, desligou o rádio, praguejando sobre odiar seu trabalho.

    Bianca pegou o Oshawott em seu colo e o abraçou com certa força, preocupada.

    – E se formos atingidos também? Já vimos o que esse tipo de coisa faz, você já foi contaminado por isso – disse a garota, aproximando a lontra do rosto.

    Cheren suspirou, ele colocou levemente a mão na parte de trás da garota, emaranhando os dedos nos fios dourados dela. Sua expressão era de ternura e ele aproximou os rostos, depositando um leve beijo na bochecha de Bianca, fazendo-a corar.

    — Eu vou ficar bem – disse o treinador, ajeitando o óculos.

    — H-Hã... – ainda envergonhada, Bianca sussurrou tímida: - Acho que precisamos falar sobre isso... Digo... S-Sobre a gente...

    Cheren coçou o cabelo, encabulado. A loira abaixou a cabeça, se perguntando se tinha errado ao tocar no assunto ou se o treinador tinha apenas se arrependido do beijo.

    — B-Bianca – chamou o garoto, trêmulo.

    — N-Não precisa falar n-nada...

    — N-Não... L-Levanta. R-Rápido, a gente precisa sair.

    Quando Bianca levantou a cabeça, curiosa, ela viu o que Cheren estava se referindo. Parecia um trem, alguns carros desviavam, mas ninguém saberia conter um Beartic em seu estado de loucura em fúria. O urso branco enorme tinha um pelo de aparência macia, e sua tipagem de gelo se reforçava nas estalactites embaixo de seu queixo, preenchendo o pescoço.



    Alguns motoristas tentavam alertar sobre o verdadeiro boliche que o urso fazia. Cheren segurou o pulso de Bianca, que se agarrou a lontra de água contra seu corpo. Ele saiu de seu lugar e atravessou o corredor do ônibus vazio.

    — Senhor, um Beartic está vindo! Precisamos sair! – alertou o treinador.

    O motorista acionou o dispositivo que abria as portas, mas estas travaram, por puro azar. Do lado de fora, alguns motoristas que saíram de seus carros tentavam alertar, com desespero. “Vai bater! Vai bater!”.

    — MALDITO SEJA ESSE EMPREGO! – possesso, o condutor do transporte correu até as portas frontais emperradas e usou de força para abrir. Cheren soltou a mão de sua companheira e partiu para ajudar.

    — Bianca, você primeiro! – berrou o treinador.

    — S-SIM! – a garota abaixou-se e saiu por entre a fresta maior aberta pelos dois.

    Quando pulou no solo, ela conseguiu ver que o Beartic estava mais próximo do que próprios Pokémon.

    — CHEREN, RÁPIDO! – berrou a loira.

    — SUA VEZ, GAROTO! – gritou o motorista, recebendo o olhar surpreso do treinador.

    — Você não vai conseguir sair! – retrucou.

    — VAI DE UMA VEZ!

    Contra a vontade, Cheren foi empurrado para fora do ônibus. Bianca logo agarrou o braço do amigo e o puxou. Foi o tempo suficiente para que eles evitassem de serem esmagados. O Beartic foi atingido por um golpe de um Pokémon policial, fazendo-o perder o equilíbrio e se chocasse contra o ônibus, que não aguento tamanho impacto e capotou.

    A reação em cadeia fez com que o próprio Beartic caísse e outros carros se desviassem. Postes de energia caíram sobre carros acidentados e até mesmo algumas edificações foram atingidas. Um dos postes, ainda com energia elétrica, atingiu o circuito do motor de um carro e isso se desenvolveu em chamas e uma grande fumaça negra.

    Era impossível calcular o tamanho do prejuízo e o número de vítimas. Alguns dos que estavam próximos e com plena consciência, conseguiram acionar seus Pokémon de água para extinguir o fogo criado, evitando uma explosão que acarretaria numa tragédia maior.

    Mas aquilo nem era o ápice do mistério que aconteceria em seguida.

    Alguns policiais finalmente conseguir chegar até a área do acidente. Alguns se aproximaram das vítimas e foram conferir as pessoas que utilizavam o transporte público. Outra equipe foi designada para remover o Beartic descontrolado.

    Porém, quando a fumaça cessou, ninguém soube dizer, mas um Pokémon de quase 3 metros havia simplesmente desaparecido.

     

    Tsuyo adorava a vista do alto. Então era comum que ele preferisse topos de prédios como bases provisórias para seus planos. Em suas mãos, ele contava o número de Net Balls, uma Pokéball de coloração azulada e faixas pretas, obtidas, jogando-as em um saco logo em seguida. Sua solidão foi interrompida quando três figuras surgiram como vultos.

    A Shadow Triad era um trio de operações de alto escalão da Team Plasma. Não se sabia ao certo os nomes dos três, mas fora contado que um dia Ghetsis os ajudou e eles prestaram obediência como forma de retribuir. Suas peles claras e cabelos platinados lhes traziam um ar de perigo, que se confirmava pelas roupas largas e escuras.



    Um deles se aproximou e estendeu outra das Net Ball.

    — Esse foi complicado – contou. – Um Beartic correndo por aí descontrolado é um perigo. Fez um grande acidente na Rua L.

    — Alguém te viu? – questionou Tsuyo, pegando o objeto.

    O membro da Shadow Triad negou.

    Depois do ataque subterrâneo comandado por Mikoto, Izami e Izani, era a vez de Tsuyo agir. O ninja havia sido designado por Ghetsis para obter o máximo de Pokémon poderosos que estavam sendo soltos por seus treinadores. Não era roubo se o Pokémon já não pertencia a mais ninguém, certo?

    O rapaz sabia muito bem que Ghetsis queria os mais fortes para que suas réplicas de argila fossem tão poderosas quanto. Mas também sabia que capturar criaturas de tamanho poder treinadas por especialistas e fortes treinadores não era uma tarefa fácil, por isso, convocou a Shadow Triad para ajudar.

    — Onde está Maggie? – murmurou o ninja.

    Depois de muito implorar, a filha de Drayden conseguiu se juntar a operação. Seu maior interesse era tentar algum destaque dentro da Team Plasma, e quem sabe assim, conseguisse mais dinheiro para sua própria jornada para enfrentar a liga.

    — Quem sabe – murmurou um dos trigêmeos, despreocupado. – Só sei que ela não apareceu desde que nos separamos.

    — Tsc, eu sabia que seria encrenca trazer aquela pirralha – murmurou o ninja.

     

    Maggie não estava tendo muita sorte em sua missão. Tentara capturar pelo menos uns três Pokémon, mas sempre se deparava com criaturas com níveis desbalanceados, que faziam seu time suar frio. Ofegante, ela entrou em uma viela, encostando numa parede para recuperar o fôlego.

    Ela agachou-se e colocou a mão no rosto, enxugando o suor. Apesar de ser começo de outono, ainda estava quente.

    — Que droga, não consegui pegar nenhum Pokémon – resmungou, observando seu relógio de pulso. – Já se passou duas horas desde que nos separamos.

    Pensou em contatar seu superior através do ponto em seu ouvido dado pelo próprio, mas se sentia inútil e idiota imaginando falar que não tinha conseguido um mísero Pokémon. Ela era uma treinadora com três insígnias, precisava ter mais pose de uma. Bateu as mãos na bochecha para animar e espiou para fora da viela, conferindo se avistava uma vítima próxima.

    Um Stoutland fora avistado. O cachorro peludo andava atento, parecia pertencer a um policial. Era óbvio, desde o início da confusão, o policiamento fora redobrado. O Pokémon farejava o chão em busca de qualquer pista, e por pertencer a alguém, Maggie sabia que não poderia utilizar uma Pokéball.

    Ela começou a revirar todos os pertences oferecidos por Tsuyo e se deparou com uma coleira. A princípio parecia idiota, mas ela refletiu:

    — Bom, as peças combinam – ela se levantou e ajeitou o objeto de captura.

    Esperaria ele passar e arremessaria, se desse sorte, puxaria o cão para dentro. Para evitar qualquer escândalo, seu Amoonguss estava pronto para derrubá-lo com um golpe de sono. Ela respirou fundo e se ateve aos passos, confiaria em seu ouvido.

    Próximo e cada vez mais próximo, Maggie se sentiu ansiosa e mordeu o lábio. Quando notou a sombra se formando, ela fechou os olhos, desejou sorte e arremessou a coleira, puxando-a logo em seguida.

    O baque no chão e o gemido de dor que veio logo em seguida não se pareciam nem um pouco com de um Stoutland. A ruiva se virou num pulo para olhar sua presa. Era uma pessoa. Um garoto que parecia ter a sua idade. Apesar da sombra local, era possível ver que ele tinha cabelos de tom roxo escuro. Sua roupa não se destacava e revelava que o jovem tinha um estilo simples, com uma blusa de tecido fino de cor preta e calças jeans.


    Maggie não conseguiu ver o rosto pois este estava quase enterrado no concreto do chão, mas ela pode ver um par de óculos de lentes retangulares – e quebradas, graças a queda – perto do corpo. A treinadora tremeu, pensando ter se metido em uma encrenca, mas estranhou quando o corpo do garoto simplesmente não se mexia. Não era possível que tinha matado ele.

    Ela se aproximou para conferir, a coleira usada tinha caído como um acessório estranho em seu pescoço, mas que combinava de alguma forma. Agachou-se e cutucou o suposto cadáver:

    — Ei, garoto.

    Maggie caiu para trás quando os olhos roseados do jovem se abriram. Desnorteado e confuso, ele forçou a vista, provavelmente com dificuldades para enxergar.

    — H-hã... – olhando para os lados, ele supostamente conseguiu enxergar a garota de cabelos ruivos.

    Maggie se manteve em silêncio. Pela cara de confuso, claramente ele não estava conseguindo discernir quem era ela, o que era uma vantagem. O garoto, porém, não parecia irritado, só com medo. A ruiva achou bizarro como ele tremia igual a Snorunt.

    — D-Desculpa, foi um mal entendido – explicou-se, envergonhada.

    O jovem assentiu, tateando o chão em busca de seus óculos.

    Por fim, aquele que era o real alvo surgiu. O Stoutland farejou e logo notou a presença dos dois. Com um faro aguçado e com uma desconfiança treinada, ela começou a latir, pra desespero de Maggie.

    — O que tem aí, garoto? – a alma da garota quase saiu do corpo quando ela ouviu uma voz adulta policial se aproximar.

    — Merda, merda! – Maggie pegou sua mochila e correu, deixando a viela para trás e qualquer explicação para o garoto.

    Ela vestiu uma touca preta, esperando despistar qualquer pista visual. O Stoutland latiu e partiu em caçada. A ruiva sentiu os pulmões próximos de explodirem, mas o azar dela só estava começando.

    Maggie se chocou com outro garoto, dessa vez, mais novo. A mochila dela caiu no chão, espalhando os objetos. O menino resmungou de dor e se ajeitou, sendo amparado por sua Lillipup.

    — Que droga, que droga! – nem um pouco interessada em pedir desculpas, Maggie começou a reunir seus pertences, sempre do olho de seu perseguidor.

    Alheia do que estava recolhendo, nem notou quando um objeto mais pesado foi parar em sua mochila. Apenas se levantou e se preparou para correr.

    — MOÇA, ESPERA! – berrou o garotinho com quem tinha se chocado.

    — AGORA NÃO DÁ, MOLEQUE! – berrou ela, irritada, correndo.

    A criança levou as mãos na cabeça quando viu a adolescente sumir na multidão e cortando a esquina.

    — D-DEVOLVE A ANGEL! – berrou ele, mas sem resposta.

     

    O silêncio absoluto no automóvel fazia parecer que havia poucas pessoas dentro do meio de transporte, mas, pelo contrário, os cinco bancos estavam ocupados por figuras conhecidas. Natural brincava com seu cubo mágico enquanto estava sentado no meio de suas irmãs, Anthea e Concordia, como uma criança. As duas mulheres se mantinham caladas, apenas aproveitando a paisagem de Castelia através das janelas.

    Susan estava sentada no banco do passageiro, ao lado do motorista. Vez ou outra, ela olhava sobre os ombros para checar o comportamento de N. As mãos do jovem suavam e suas pernas sacudiam, impacientes.

    — Ainda está escutando? – questionou a mulher.

    — São muitas vozes – respondeu o de cabelos verdes, soltando o objeto. – São tantas que eu sinto que minha cabeça vai explodir. Essa cidade está um caos, os Pokémon estão sofrendo aqui.

    Apesar de parecer coisa da imaginação de Natural, ouvir as vozes do Pokémon era uma das suas maiores habilidades. Foi difícil fazer a própria Team Plasma assimilar tal fato, mas ninguém conseguia deixar de ficar impressionado quando o garoto conseguia se comunicar com qualquer criatura. Susan achava que tudo estava relacionado ao coração puro de N.

    — Quer dar uma pausa? – sugeriu Susan. A proposta foi aceita de bom grado.

    N, suas irmãs e Susan estavam em uma missão importante. Depois da conversa com Eric, Natural decidira procurar quem era a responsável pela contraparte de Zekrom. Eles não sabiam a exata localização de tal pessoa, muito menos seu nome ou quem era, mas N jurava que saberia que era ela quando a encontrasse. Ghetsis chamou a missão de inútil, mas achou interessante quando ouviu o garoto falar sobre estar disposto a guerrear para um mundo ideal.

    Anthea e Concordia se ofereceram para acompanhar, sob pedido de Ghetsis. Susan fora a pedido do próprio N, já qu ela era uma das únicas que o rapaz acreditava que poderia protege-lo.

    Natural encostou em um dos pilares de uma edificação, respirando fundo. Susan se aproximou, acariciando as mexas verdes do rapaz, preocupada. O cabelo do garoto dava inveja pela maciez.

    — Logo vamos sair de Castelia – disse a mulher, tirando uma mecha do olho da criatura indefesa. – Tem certeza que ela não está aqui? Não sente nada?

    Natural negou com a cabeça.

    — Só ouço as vozes dos Pokémon – confessou. – Eu não entendo, Ghetsis disse que as pessoas estão concordando com nossos ideais, estão dando uma vida melhor para seus Pokémon. Mas eu só ouço vozes de sofrimento, e nessa cidade está forte demais.

    Susan abraçou o garoto. Talvez não fosse tão boa com palavras, mas desde nova, adorava confortar N com abraços. Natural se reconfortou, escondendo os ouvidos nos braços de porcelana da mulher.

    — Parece que houve um abandono em massa dos Pokémon – disse Susan. É lógico que ela sabia que o surto era culpa da própria Team Plasma. – Estão usando o discurso de seu pai, Ghetsis, como desculpa para fazer essas coisas.

    — M-Mas não é assim! – disse N, com a voz um pouco alterada. – Eles não ouvem os Pokémon, eles estão sofrendo. Eu os odeio! ODEIO!

    Susan sentiu uma corrente elétrica percorrer seu corpo, vindo de Natural. A Plasma recuou, assustada e olhou para o rapaz. Ele tremia e seus olhos, antes azulados, estavam vermelhos. A mulher o encarou, preocupado.

    — N!

    Garoto, não é hora de você perder o controle! – berrou Eric, na mente do Rei dos Plasmas. – Controle sua raiva e seus sentimentos.

    Susan agarrou as mãos do jovem, resmungando de dor pelas ondas elétricas. N olhou para ela e notou estar ferindo alguém importante pra ele. Logo, ele se acalmou, segurando as mãos de volta da mulher.

    — D-Desculpa, você tá bem? – perguntou, preocupada.

    — E-eu é que deveria te perguntar isso – aliviada, a mulher riu de leve, enxugando algumas lágrimas. – Você me deu um susto.

    N corou, só não sabia se era de vergonha ou de timidez.

    Anthea chamou a atenção de sua irmã para uma criança que chorava, sentada na guia da calçada. A dupla se aproximou, agachando para dar atenção. Natural logo notou a ação, curioso em saber o que acontecia. Minutos depois, Concordia se aproximou, segurando a mão do pequeno garoto.

    O menino em questão tinha seus oito anos e cabelos negros. Seus olhos esverdeados estavam vermelhos pelo choro. Ele usou a manga do moletom para limpar as lágrimas, enquanto segurava a mão da mulher loira.

    — Ele disse que uma pessoa roubou o Pokémon dele – contou. – Uma Lillipup de estimação.

    Natural se aproximou do garoto.

    — Qual o seu nome?

    — O-Oliver... – respondeu a criança.

    — Essa Lillipup... Ela tem um nome também?

    Oliver assentiu, choroso.

    — O nome dela é Angel. Ela é minha melhor amiga – contou. – Eu saí pra passear com ela como faço todo dia – ele mostrou a guia rosa que usava com a pequena cachorrinha. – Eu não posso voltar pra casa sem ela, papai e mamãe vão ficar tristes também. Eu quero achar ela, eu a amo demais.

    — Ele disse que um policial prometeu achar, mas ele continua em prantos – disse Anthea.

    N mordeu o lábio, enxergando a si mesmo naquela criança. Conseguiu lembrar da época que se divertia com seus amigos Pokémon antes de ser adotado por Ghetsis. Podia até ler o garoto como um espelho, enxergando todo o amor e carinho pelos Pokémon. Desejava que todas as pessoas fossem assim.

    — Vamos te ajudar – Natural se levantou. – Um Pokémon precisa de nós. Todos são iguais, desde um pequeno Joltik até o maior dos Hydregon – a voz do rapaz era de confiança. Ele se virou para Susan: - O que podemos fazer?

    — Acho que podemos checar no Centro Pokémon – contou Susan. – Talvez alguém possa ter visto.

    Natural não sabia, mas a partir dali, ele teria que enfrentar seus próprios valores para um bem maior.

        

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    1. CANALHAS, DUPLAMENTE CANALHAS. Devolvam a Angel, devolvam a Lillipup agora e ninguém sairá ferido. Pode roubar todos os Pokémon de Unova, mas não toquem na cadelinha do Oliver, seus puto!

      Enfim, eu amei muito esse capítulo. As cenas do Cheren e da Bianca aqueceram meu coraçãozinho, eles são muito preciosos, eu preciso proteger eles a todo custo, eles sofreram tadinhos e agora eles tão nesse caos que é essa cidade grande e quase morreram pra um Beartic potássio, eu penso em como está o motorista do busão, mas Cheren e Bianca estão a salvo e apenas isso importa.
      Mikoto, a maior respeitadora de casados que se há neste Neo Mundo e eu posso provar. Eu genuinamente gostei dela, tô achando que achei meu Virtude favorito. Em contrapartida temos os gêmeos que PUTA QUE PARIU eles são insuportáveis, eu quero quebrar o crânio dos dois no socão, mano essas crianças são insuportáveis, não há pedagogia ou Paulo Freire que me impeça de quebrar esses dois na tijolada, tá me ouvindo, Star?
      A Maggie com o moleque, meu deus, eu ri. Os Pokémon sendo roubados e ele andando TRANQUILAMENTE por Castelia, esse garoto não tem um senso de direção, tá pior que o Leon, meu Deus. Kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk

      Amei esse capítulo Star, estou ansios pro próximo

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      1. Yoo Leucro

        DEVOLVAM IMEDIATAMENTE! PELA ANGEL EU DOU A MINHA VIDA.

        Cheren e Bianca só provam que casais secundários superam os protagonistas PQ ELES NÃO FICAM DE FRESCURAS! HilHil, SE ASSUMAM DE UMA VEZ.
        Aquele meme do motorista "ô motorista pode correr que os protagonistas não tem medo de morrer" nunca foi tão real hausahusahushu

        MIKOTO É DO FÃ CLUBE FIEL! A última romântica do mundo hayahuuhashu FICO FELIZ DELA TE CONQUISTAR. Faz tempo que eu enrolei pra aprofundar um pouco dela, mas agora a segunda temporada me dá a possibilidade de explorar melhor, já que estamos fartos de tantas introduções. Agora só sucesso.
        OS GÊMEOS SÃO AQUELE CLICHÊ DE QUE ELES TEM QUE FAZER TUDO JUNTO E SEREM SUPER INFANTIS, porém, eles são os primeiros shippes de Susan e N, então, damos um desconto
        O moleque com o mundo pegando fogo atrás dele e ele "ta tudo bem agr" haushuasuhahusuahhu

        Obrigada pelo comentário, Leucro

        See ya

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    2. RIP MOTORISTA
      Capitulo 41 - Capitulo 41

      PARA SEMPRE NOS NOSSOS CORAÇÕES

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