• Thursday, February 11, 2021


    Uma semana havia se passado desde os acontecimentos envolvendo a Light Stone. Jackson passara os dias frequentando a delegacia para retratar com detalhes os acontecimentos envolvendo seu Darmanitan. Como os únicos danos envolviam o material, uma multa fora aplicada – que logo foi paga pelo Museu de Nacrene a pedido de Lenora.

    As investigações sobre a confusão causada pela Team Plasma foram em vão pois não havia quaisquer vestígios, o que dificultava a apresentação de provas para culpar a equipe, que mais uma vez, tinha saído como inocente. E para piorar, as publicações em redes sociais sobre “resgates” de Pokémon vítimas de maus tratos ganhava cada vez mais repercussão.

    A boa notícia é que a recuperação de Hilda havia sido ótima, permitindo que ela recebesse alta rapidamente. Hilbert estava em seu quarto de hospital, aguardando a enfermeira retirar as últimas faixas curativas de seu braço.

    — Acho que a última vez que fiquei tanto tempo num hospital foi quando eu torci o tornozelo numa apresentação de teatro – comentou a garota entre risos enquanto observava a funcionária retirar o objeto de algodão próxima do seu pulso.

    — Eu quebrei o braço uma vez, tava escalando uma árvore – contou seu colega, pensativo. – É, a dor é insuportável, mas pelo menos eu ganhei um gesso maneiro – riu. Seus olhos pousaram sobre o pulso da garota, local onde a enfermeira trabalhava, algo curioso chamou sua atenção. – Ué, isso é um machucado?

    — Ah, não, não é – respondeu Hilda, acariciando de leve. – É uma marca de nascença. Parece um coraçãozinho né? – riu. – Acho tão fofo, minha mãe não tem, então acredito que eu deva ter puxado do meu pai.

    — Pais, como sempre, deixando marcas na gente – suspirou Hilbert, com bom humor.

    Lenora requisitou a presença de Hilbert, Hilda e Jackson em seu escritório, seu sobrinho a havia contado sobre as aventuras envolvendo a Light Stone e em como a garota tinha um certo “poder sensitivo” quanto a ela, tudo aquilo era muito intrigante, porém, extremamente útil.

    — Espero que esteja melhor, Hilda – sorriu a líder, sentada em sua confortável cadeira, parecendo o mais receptiva possível.

    — Estou bem melhor, pronta para mais uns quinze tombos – riu a menina, sentada em uma cadeira igualmente confortável, no meio dos dois amigos.

    — Bem, certamente não chamei só vocês para saber de Hilda. Mas sim para conversar sobre algo importante – ela encurvou-se pra frente, apoiando os braços na mesa. – Jack me contou tudo o que aconteceu. Posso ver o fragmento da Light Stone?

    Hilda retirou o pequeno fragmento branco de seu colete, era incrível ver como o objeto permanecia limpo e brilhante. Lenora o pegou com certo cuidado, examinando a veracidade. Não se parecia com nada que tenha visto anteriormente, era maciça como a Dark Stone que havia conhecido pessoalmente. Naquela altura, não tinha como duvidar: As esferas que prendiam os dragões lendários de Unova existiam.

    — Vocês acham que podem ter mais fragmentos desse? – questionou a líder para os jovens, os observando.

    — Eu acredito que sim, eu ainda ouço um pouco do crepitar de fogo – a menina contou, apontando para o objeto. – Vem desse aí, então quer dizer que talvez a Light Stone ainda exista, ela só precisa... ser montada novamente – apesar de não acreditar muito nas suas próprias palavras, a morena parecia confiante.

    — Isso é... – a negra procurou a palavra certa. – Inacreditável, porém, não consigo provar o contrário. Não é nada contra você, Hilda, é que eu estou há tantos anos no meio da ciência que eu preciso de muitas provas concretas pra acreditar – ela riu de leve, devolvendo o objeto para a garota.

    — Não se preocupe, senhora Lenora, eu também estou meio perdida com tudo isso – a jovem riu de volta. – Mas tem algo dentro de mim que me... destina a isso. E é isso que está sendo o meu motor.

    — Admirável – Lenora se levantou e caminhou por sua sala, arquitetando para si mesma um plano. – Vamos trabalhar com hipóteses. SE POR ACASO – ela enfatizou as palavras. – Os fragmentos existirem, e for possível unir eles novamente, vocês acham que o Reshiram que está dentro dela, se libertará?

    — Se não se libertar, alguém fará isso – comentou Jackson. – Se os fragmentos estiverem espalhados por Unova, as pessoas vão encontrar e pesquisar, teremos sorte se alguns ignorarem. Mas não podemos confiar.

    — Isso logo se espalhará, não é possível esconder segredos da internet. Alguém vai descobrir algo, publicar e isso vai se espalhar – continuou o sobrinho.

    — O que podemos fazer? Não posso chegar para os líderes ou para meu grupo de cientistas e pedir para eles caçarem pecinhas minúsculas por toda a Unova.

    — É para isso que estamos aqui, não? – Hilbert se pronunciou pela primeira vez. – A Hilda sente a presença dos fragmentos. Ela é basicamente nosso Herdier farejador – o garoto levou uma cotovelada da amiga.

    — Não posso deixar duas crianças resolverem sozinhas um problema que pode tomar grandes proporções – Lenora demonstrou preocupação. – Apesar de vocês se provarem capazes, eu sou mãezona o suficiente para me preocupar com a segurança de vocês.

    — Eu vou com eles – Jackson levantou o braço. – Tia, aquilo que eu disse no discurso para o conselho e a polícia não foi da boca pra fora.

    — Jack..

    — Não, deixa eu terminar – o rapaz se levantou. – Eu sei que pareceu um ataque a você. Mas nós dois sabemos melhor do que ninguém o que é ser rebaixado ou menosprezado por detalhes bestas como cor de pele ou quantidade de experiência. Nós dois sofremos por um sistema que prioriza sempre o maior, mas nós dois temos algo muito maior em comum: Nós temos pulso firme, ninguém nos derruba fácil.

    Hilda e Hilbert ouviam o amigo com admiração. A garota sabia dos privilégios de sua vida e de como ela extremamente fácil, então agradecia imensamente em ter a oportunidade de conhecer pessoas guerreiras como seu companheiro de jornada e Jackson, que apesar de serem pisoteados por coisas triviais como cor, experiência e aparência, mantinham a cabeça erguida. Era isso que a motivava a procurar um sonho. Adoraria poder ajudar as pessoas.

    A líder por sua vez, soltou um sorriso espontâneo, não se preocupando em manter segredo sobre seu orgulho, ela levantou a cabeça e encarou seu sobrinho:

    — Eu realmente te coloquei no caminho certo, né?

    — Eu tenho orgulho de dizer que sou sobrinho da melhor arqueóloga e líder do mundo Pokémon. Eu vou trazer essa esfera de volta, eu prometo.

    Os dois selaram a conversa com um abraço reconfortante.


    No apartamento de Jack, o trio se preparava para pôr o pé na estrada. A líder do ginásio de Nacrene pedira pra que os jovens fossem um pouco discretos na busca, então eles deviam conciliar a procura dos fragmentos da Light Stone com a jornada de Hilbert pelas insígnias. O arqueólogo reuniu seus Pokémon, deixando Winston, o Darmanitan e Jesse, seu Excadrill em Pokéball, enquanto a Cleffa Bijou resolveu o acompanhar do lado de fora, usando sua mochila como transporte. Mochila essa que estava sendo preenchida com o essencial.

    — Como eu faço os trinta volumes das “Aventuras dos Dragão Guerreiro” caber nessa mochila? – questionou Jackson, sentado de pernas cruzadas no chão de seu quarto, encarando sua bolsa.

    — A ideia não era levar o essencial? – questionou Hilda, alimentando Koin e Sombra com alguns petiscos.

    — E eu tô levando o essencial – o negro olhou para a amiga.

    — Posso levar metade na minha mochila – ofereceu Hilbert, interessado naquela coleção de mangás.

    Que história é essa de “posso levar metade”? – questionou Vic, ao lado do amigo. – Esqueceu que eu moro na sua bolsa?

    — Poxa, Vic, é uma coleção do Dragão Guerreiro, imagina a possibilidade de ler durante a jornada – argumento o treinador. – Dá uma apertadinha que cabe.

    — Ok, ok, vamos dividir então, cada um leva dez volumes e pronto, todo mundo vai ler o mangá – disse Hilda, recebendo um abraço duplo dos garotos.

    — VOCÊ É UM ANJO! – eles disseram, em coro. A menina suspirou, seria uma longa jornada ao lado dos dois, mas ela estava feliz.

    Lenora encontrou-se com o trio na saída da cidade para últimas instruções antes de finalmente se dirigirem a Castelia City, lar de Hilda e palco do primeiro encontro dela com Hilbert. Reflexiva, a líder disse:

    — Eu andei pesquisando sobre as pedras, talvez procurar algo nos arquivos históricos pudesse me ajudar a reconstruir a Light Stone – começou, com as mãos na cintura. – E eu encontrei um nome que pode nos ajudar: Junsei Kurosawa.

    — O noveleiro e desenhista? – questionou Jack, reconhecendo o nome.

    — Ele mesmo, obviamente não vão conseguirão falar com ele, ele viveu há mais de setecentos anos atrás. Mas ele e sua família foram responsáveis por cuidar das duas orbes por mais de mil anos.

    — E o que devemos fazer? Tem alguma instrução nos livros dele? – questionou Hilda.

    — Nada do que eu vi, mas estamos falando de uma pessoa conectada a arte – Lenora colocou a mão sobre o queixo. – E se tem alguém que entende de arte é o Burgh.

    — O líder de Castelia! – pronunciou Hilbert, animado. – É para onde estamos indo.

    — Exatamente, ao encontrarem Burgh, questionem sobre Junsei Kurosawa, ele provavelmente saberá como ajudar vocês.

    — Obrigada pelo apoio, dona Lenora – sorriu o treinador de boné vermelho.

    — Dona não, assim eu me sinto velha – riu ela. – De qualquer forma, por favor, se cuidem. Vocês têm uma missão importante na mão – a líder abraçou seu sobrinho, carinhosamente. – Eu vou sentir sua falta no museu, garotão.

    Jack retribuiu o abraço.

    — Voltarei vitorioso só pra te deixar orgulhosa – ele sorriu, confiante.

    — Você já faz isso muito bem, meu querido.



    A rota que ligava Nacrene City e a majestosa Pinwheel Forest também recebia o nome da floresta e era incrivelmente úmida, ao sul, pequenas poças e até algumas lagoas se formavam, a natureza crescia de forma desarmoniosa, mas isso não deixava de ser belo, gramas altas se misturavam com as rasas e a combinação de verdes era um alívio para os olhos do trio que caminhavam calmamente por uma estrada de asfalto que direcionava eles até para dentro da floresta. Os três conversavam sobre assuntos triviais, aproveitando o clima agradável de verão para se conhecerem melhor.

    — Deixa eu ver se eu entendi – começou Jack. – Seu time atual é uma Snivy, uma Minccino e QUINZE WOOBATS?!

    — Isso porque ele tava tentando pegar um Roggenrola inofensivo – riu Hilda.

    — Cara, eu morria de medo de Woobats. Agora eu adoro minha Legião – riu o treinador. – Eles nos ajudaram muito contra os Plasmas.

    — É inspirador ver Pokémon dedicados aos seus treinadores – comentou o arqueólogo, observando a Cleffa em sua mochila, a criatura rosa se divertia em observar cada cantinho do mundo externo. – Vocês são cheios de histórias, vou adorar compartilhar as minhas e ouvir as suas.

    — Vamos contar pra ele como a gente se conheceu, Hilda! – riu Hilbert, empolgando, olhando pra a amiga. Ele parou bruscamente quando notou que sua companheira tinha ficado uns metros para trás.

    A garota estava fixando seu olhar para o sul da rota, seus olhos pareciam procurar algo enquanto ela se concentrava. Jackson e Bert se aproximaram, preocupados.

    — Hilda, tá tudo bem? – questionou o treinador.

    — Acho que tô sentindo um fragmento – disse ela, meio ansiosa. – Digo, é uma sensação diferente desse que tá no meu colete, meio longe, mas naquela direção – ela apontou.

    — Eita – exclamou seu amigo, surpreso. – Não achei que seria tão fácil.

    — Geralmente as primeiras peças são as mais fáceis mesmo – riu Jackson, animado. – O que estamos esperando? Nos leve até esse fragmento, Hilda.

    O arqueólogo ajeitou seu sobretudo e caminhou pela grama molhada e pelas poças da rota, seguido de seus novos companheiros de jornada, seus calçados aguentavam bem o impacto da terra úmida, seguindo o poder sensitivo da garota, eles apressaram o passo, ansiosos. Alguns Pokémon se assustaram com a agitação, era possível perceber que os treinadores raramente frequentavam aquela região da rota.

    A busca os levou até entre algumas árvores baixas e um som de coaxar harmonioso como uma melodia preencheu os ouvidos dos jovens. Havia uma extensa lagoa com um tamanho considerável e não parecia funda, e na beirada dela, estava o dono da música, um Pokémon anfíbio bípede com menos de um metro de altura rechonchudo, não tinha braços ou mãos, apenas pés com três dedos redondos, de cor azul predominante com exceção de sua barriga que era bege. Três esferas azul claro decoravam o topo de sua cabeça, dois olhos e uma boca carregavam uma expressão engraçada, fora alguns detalhes em preto, o corpo da criatura terminava em uma cauda branca achada.



    Hilbert sacou sua Pokédex imediatamente, permitindo que a voz eletrônica lhes desse informação sobre o novo Pokémon:

    “Palpitoad, o Pokémon vibração. Ele vive na terra e na água e usa sua língua pegajosa para imobilizar clientes. Além disso, quando ele vibra os solavancos em sua cabeça, é capaz de fazer ondas na água e na terra faz pequenos terremotos”

    A melodia do coaxar era diferente de um coaxar tradicional. Era tão harmonioso que parecia ensinado, cativante, porém, soava como um lamento, ainda que as notas que saíam não parecessem como um. Os três jovens encaravam aquilo com certa admiração e por um minuto se esqueceram do motivo de estarem ali.

    Hilda foi a primeira a sair do transe causado pela cantoria.

    — T-Tá dentro da lagoa – apontou a menina, entrando na laguna, que mal chegava nos seus joelhos.

    Seguindo seu instinto paranormal, ela caminhou até o centro do lago e teve que mergulhar seu braço na água para procurar o fragmento da Light Stone, deu o azar daquela água não ser transparente e o objeto que procurava podia facilmente se camuflar. Dessa vez, foi o Palpitoad que notou a presença dos humanos, ele cerrou sua cantoria e se levantou receoso, mas logo seu olhar baixou-se sobre a garota que parecia extremamente focada em sua busca. Seus olhos brilharam ao ver aquela humana, como se aquela figura fosse conhecida sua. Sem rodeios, o Pokémon grunhiu e se aproximou, roçando se gordo corpo contra a perna da menina que quase pulou ao sentir pele úmida e pegajosa do Palpitoad.

    — A-ah! – Hilda olhou para o anfíbio que parecia a encarar com extrema felicidade. – O-oi, rapazinho. Eu tô meio ocupada, mas logo vou deixar sua lagoa em paz, eu prometo – disse, com calma, e logo depois, retomando sua procura.

    Jackson e Hilbert ajudavam na busca em volta do lago enquanto o Pokémon aquático insistia em ficar perto da garota como um servo fiel. Apesar disso, a jovem não de desviava de seu objetivo, as falas de Clara sobre Reshiram e a decisão da guerra ser responsabilidade dela a impactaram o suficiente.

    Foi quando ela sentiu o objeto, pontiagudo e de um tamanho considerável. Seu sorriso foi instantâneo quando ela retirou a mão da água e levantou o fragmento contra o sol, como um sinal de comemoração.

    — Achei! – exclamou para seus amigos, que deram atenção para ela na hora, tão contentes quanto a companheira.

    Por estar com as mãos molhadas, aquela lasca nunca lhe pareceu tão escorregadia. Um acidente, um pequeno vacilo e aquela preciosidade escapou por entre seus dedos retornando à água, mas dessa vez, não para o fundo da lagoa, e sim para a boca de um Tympole, criatura semelhante a um anfíbio menor que era da família evolutiva de Palpitoad. A curiosa figura olhou para a humana e seu grunhido parecia de deboche, como se chamasse ela de idiota.



    — Seu... – Hilda reprimiu um xingamento. – Devolve isso!

    O Pokémon grunhiu e saltou para fora do lago, fugindo por entre a grama alta, deixando o trio completamente perplexo e derrotado.

    — É isto! Vamos voltar para casa e nos enfiar debaixo de cobertores em nossos pijamas velhos! – exclamou Jackson. – É isso o que fazemos de melhor mesmo.

    — Calma aí, Jack. Vamos seguir ele – riu Hilbert, pegando uma Pokéball de sua bolsa, começando a correr.

    — Mal começamos essa procura e estamos apanhando pra um Tympole – retrucou o rapaz, correndo também, seguido da menina.

    — Faz parte da aventura – ela disse. E é claro, o Palpitoad não pôde ficar para trás e foi-se junto a eles.

    Por não possuir pernas, a forma de locomoção do Tympole era por pulos, então dava pra ver a criatura saltitar ao longe, em direção ao que parecia ser outra lagoa. O problema foi quando o trio alcançou e ninguém pode conter o choque. Dezenas de Tympoles brincavam e conviviam entre si. Era bizarro pensar como aquela espécie andava em grupo e como eles eram incrivelmente azarados por serem roubados por tal família.

    — Cara... E agora? – questionou Jack, ainda sabendo que não receberia uma resposta concreta.

    — A gente pode abrir a boca de um por um – sugeriu o treinador, liberando Brianna.

    — Além de demorado, isso é nojento e perigoso – respondeu a menina. – E se eles se irritarem?

    — Você não consegue sentir?

    — C-consigo, m-mas tem tantos deles que fica difícil apontar um. E eles não param de se mexer – observou a morena, tentando se concentrar.

    — Vic, de ladrão para o ladrão. Quem você acha que é? – questionou o treinador de boné vermelho.

    O Victini saiu de sua bolsa e encarou o amigo.

    Eu não vou nem comentar sobre a imagem que você tem de mim – o Pokémon cruzou os braços. – Mas não faço ideia de quem seja.

    Palpitoad assumiu a frente dos três, fazendo uma pose pomposa e convencida, como se tivesse a solução dos problemas, ele olhou para Hilda e grunhiu, ela, por sua vez, franziu a testa e estranhou.

    — Alguém traduz? – a jovem olhou para os amigos, que estavam tão confusos quanto ela.

    O Pokémon aquático chamou para si as atenção dos Tympoles. Ele grunhiu como se coçasse a garganta, fechou os olhos e mais uma vez, pôs-se a cantar. Mas dessa vez, ao invés da melodia anterior, era algo mais animado - talvez até infantil - uma canção que animou aqueles anfíbios e logo os fizeram se posicionar e acompanharem com coaxares melódicos. Muito semelhante a uma sinfonia, o Palpitoad agia como um excelentíssimo maestro.

    Hilda foi a primeira a notar a finalidade daquele plano e sorriu.

    — Fiquem de olho em todos os Tympoles – alertou ela para seus amigos. - Agora que eles estão cantando, irão abrir e fechar a boca o tempo todo, é nossa hora de encontrar nosso ladrãozinho.

    O grupo se manteve atento em todos os cantores daquele concerto, observando atentamente suas enormes bocas entoando notas musicais. Se alguém passasse por lá e se deparasse com a cena, provavelmente riria por ser inusitada.

    Jackson apontou para um Tympole no fundo. Dava pra ver por entre sua língua pegajosa, o pequeno fragmento brincando e se movimentando. Era sorte aquele Pokémon não ter engolido o objeto.

    — Aquele ali! – apontou o arqueólogo.

    — Ok, Brianna, traga aquele rapazinho pra gente com o Vine Whip – ordenou Hilbert.

    A Snivy usou suas vinhas para agarrar o culpado, isso acabou assustando os outros de sua espécie, que fugiram. O ladrão foi trazido para perto, ele encarava assustado os humanos, confusos com aquela ação repentina. Hilda se aproximou gentilmente, libertando o Pokémon das vinhas e segurando-o em seu colo.

    — Fica calmo, tá? É que você tem algo na sua boca que nos pertence e é muito perigoso se você engolir – com paciência e delicadeza, ela sentou-se no chão com o pequeno e retirou um pouco de petiscos para Pokémon da sua bolsa. – Vamos fazer um acordo? Eu te dou esses petiscos e você nos devolve o fragmento.

    Compreendendo as palavras da garota, Tympole cuspiu o fragmento da Light Stone na mão da garota e logo em seguida recebeu com satisfação seu alimento, grunhindo animado.

    — Missão cumprida – Hilda estendeu o recebido para os amigos e mostrou a língua. – Uma negociação um pouco nojenta, mas concluída com sucesso.

    Hilbert riu e sentou-se perto da amiga também, usando sua Pokédex para registrar aquela criatura.

    — Pessoal – chamou Jackson, observando em volta. – Temos companhia.

    Os dois sentados olharam e viram o grupo que tinha fugido, se aproximar novamente, interessados nos petiscos oferecidos pela menina, por ser uma região afastada e frequentada por raros treinadores só interessado em subir o nível de seus Pokémon, a oportunidade de receber um pouco de carinho, comida diferente e atenção não podia ser desperdiçada.

    Todos os Tympoles receberam atenção, eles brincaram com Vic e os outros Pokémon, fizeram uma pequena cantoria e muitas outras coisas que tornaram aquela tarde super divertida. Não tinha clima mais leve e melhor para recomeçar uma jornada cheia de desafios.

    Quando acharam que eram a hora de partir, Hilda, Hilbert e Jackson se despediram daquela rota, prontos para adentrarem a serena Pinwheel Forest antes que anoitecesse definitivamente. Mas parecia que nem tudo estava concluído.

    Ei, galera – chamou Vic, de dentro da bolsa, olhando para trás. – Olha só.

    Os três humanos também desviaram seus olhares para trás, curiosos. E lá estava ele, admirando a garota com seu jeito desengonçado e tímido, o Palpitoad cantor parecia insistir em seguir o grupo como se faltasse algo para fazer.

    — Tudo bem, rapazinho? – questionou Hilda, se aproximando. – Quer mais petiscos?

    Carinhoso e talvez carente, o Pokémon aquático roçou na perna da garota, mas dessa vez, ela não se importou de sentir a pele úmida e gosmenta dele, pelo contrário, sorriu ao notar tanto carinho.

    — Eu tô com a sensação de que você gostou de mim – riu, agachando para acariciar o Pokémon. – Eu não sou treinadora, mas sei dar muito amor e carinho.

    Os grunhidos da criatura pareciam querer falar algo, mas a menina não conseguia entender, então resolveram apelar para o único tradutor: Vic.

    Vocês abusam demais dos meus poderes – murmurou ele, convencido. – Vamos lá, rapazinho, não faço isso com qualquer um, então seja rápido nas palavras – o Victini concentrou uma habilidade psíquica que parecia abusar de seus poderes.

    — Pode falar agora – sorriu Hilda.

    “V-Você é a Rosa?”, questionou o Palpitoad, esperançoso.

    — R-Rosa? – a garota respondeu, curiosa. – N-Não, meu nome é Hilda. V-Você está perdido?

    “R-Rosa é minha treinadora, f-faz um ano que ela me deixou e não voltou”, a voz da criatura soava como uma súplica. Uma súplica que provavelmente nenhum dos quatro poderiam ajudar a julgar pelo olhar que trocaram.

    — Qual é o seu nome? – questionou Hilda depois de uns segundos.

    “E-Eu não consigo me lembrar, faz tanto tempo que ninguém me chama pelo nome que eu simplesmente esqueci”, respondeu o Pokémon, desanimado.

    Com um carinho gentil e confortante, a garota soltou um sorriso meigo.

    — Você pode se chamar Lucio – disse. – Uma vez ouvi uma história onde tinha um cantor com esse nome. Acho que combina com você, canta tão bem.

    “O-obrigado”, Palpitoad virou os olhos, acanhado.

    — Eu não sei se sua treinadora batalhava por insígnias ou se tinha um time poderoso – ela liberou Sombra e Koin, que olharam intrigados para o novo Pokémon. – Mas eu não sou uma treinadora poderosa, então o melhor que posso te oferecer é muitos mimos e abraços. Sei que sente falta da sua mestra, talvez a encontremos no meio da nossa jornada. Mas enquanto isso, que tal se juntar a nós? – ela procurou na bolsa uma Pokéball na bolsa, mas logo sua feição mudou para decepção. – Hã... Hilbert, você tem Pokéballs?

    — Eu? Não – respondeu Hilbert. – Eu meio que gastei todas capturando quinze Woobats. E a gente não reabasteceu.

    — Jackson?

    — Eu esqueci de pegar algumas também – o arqueólogo respondeu, coçando o cabelo sem graça.

    Hilda suspirou e riu.

    — Como pode perceber, não somos a equipe mais preparada. Mas te daremos todo o suporte que precisar.

    Lucio se jogou nos braços da menina. Aquilo aqueceu ambos os corações, como se completassem um quebra-cabeça.

    — Prometo que assim que chegarmos em Castelia irei te comprar uma Pokéball para oficializarmos a captura – informou a morena.

    O-Ok, rapaziada – riu o Victini, meio tenso. – Sei que o papo tá lindo, mas quando só tem um psíquico trabalhando, isso me esgota demais.

    — Ah, obrigada Vic. Você foi um anjo.

    Vic respirou fundo, se desfazendo de seu poder e voltando para a bolsa de Hilbert para um longo descanso merecido. 

    Resolveram acampar próximos a entrada da Pinwheel Forest, o céu estava estrelado e o clima agradável, perfeito para dormir ao ar livre. Os jovens se acomodavam em paz, deitavam em suas barracas e sacos de dormir sem a menor preocupação. Mas ninguém imagina que as árvores possuíam olhos observadores.

    Escondido nas sombras como um assassino, o Pokémon encarava aquele patético grupo de humanos com certa soberba, não tinha intenção de ataca-los, pelo contrário, queria manter distância deles. Mas a figura sonolenta de Hilbert lhe chamava a atenção, aqueles chifres pontiagudos amarelos lhe era tão familiar que ele não pode deixar de esconder a surpresa.

    Então os boatos estavam corretos – comentou para si mesmo, ainda que parecesse que conversasse com alguém. – Athos realmente teve um filho com uma humana – ele reprimiu uma risada antes de saltar para o topo de uma árvore. – Isso vai ser interessante. Vamos conhecer meu “sobrinho”.


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    1. Roi Star, né? Aqui estou eu finalmente lendo e eu vim dizer: QUE OBRA DIVINA DOS DEUSES SUPREMOS CELESTIAIS DE OUTRA DIMENSÃO
      Jackson finalmente se une a trupe e traz seus trinta volumes de mangá e agora eles devem procurar fragmentos de uma preda q só a Hilda pode achar. Simbora galera, entra no carro vamo procurar preda!
      Amei a marquinha da Hilda <3
      Eu amei eles indo procurar o fragmento da preda na floresta e eles encontrando o Palpitoad, que tadinho, foi abandonado pela dona. Bem-vindo à equipe Lucio, vc será amado por todos e vai ganhar uma Pokéball legal (já que o Bertinho gastou tudo na Legião)

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      1. Roi, Leucro, né?

        MEU DEUS DO CÉU, É SÓ UM CAPÍTULO LEUCRO HASUAUSHUAHUS
        Jackson otaku é real e nos cura ahusauhshuahu Eu acho maravilhoso como esse trio já está se dando bem com alguns capítulos, eles tem objetivos em comum, então isso ajuda pra caralho na hora de escrever ahsuahushu
        GET IN THE CAR, BITCH, LETS FIND SOME PREDAS hausahushuas
        MARQUINHA QUE PASSA TÃO DESPERCEBIDA, FICO FELIZ QUE TENHA NOTADO <3
        Lucio mal chegou na equipe e já sofre com a falta de planejamento dos protagonistas de não comprarem UMA POKÉBALL SEQUER hausahushuahush
        CARRE AQUI, ENFERMEIRA JOY

        Obrigada pelo comentário, Leucro

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    2. Por instantes eu pensai que a Hilda ia adotar os Tympoles todos que nem o Hilbert com o Woobats

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      1. Boatos que Hilbert e Hilda vão acabar com a fauna de Unova pq resolveram adotar todos os bichos ahsuahushuaush

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    3. Hora de voltar para as aventuras de Chifrudo e sua trupe! <3 Olha só esse trio bonito saindo para sua primeira desventura juntos, que orgulho.
      Você sabe que sou apaixonado pela sua Lenora kkkkk Gosto muito dessa maneira discreta como ela cuida de todos e os incentiva sempre que pode. Vai deixar saudades!

      Olha só para essas fofurinhas de Tympoles <3 Quanta coisa boa nesse capítulo! Teve referência à nossa música favorita, teve a Hilda mostrando que não veio a esse mundo pra ser protagonista fresca com nojo de sapinhos, e também os primeiros sinais da busca pelos fragmentos que está só começando!

      Eu adoro essa ideia de sidequest com os personagens explorando as localidades da região. Uma fic de Pokémon sem florestas estaria incompleta, e é como dizem, se teve captura é canon! kkkkk
      A fala da Hilda sobre amor e carinho foi a minha preferida, tenho certeza que o Lucio estará em boas mãos. E fiquei intrigado com a história da treinadora ser chamada Rosa, o que me faz pensar: seria a mesma Rosa que conhecemos de B2W2? E se for, estaria ela bem mais jovem nessa época que se passa as aventuras do Hilbert? Um baita background para ficarmos um tempão matutando sobre o significado kkkkkk Até a próxima!

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      1. Yoo Canas

        Estou oficialmente trocando o nome da fanfic para As Aventuras do Chifrudo e sua Trupe, pq NPU é muito americanizado hasuahushua
        OLHA ESSA MOLECADA BOTANDO O PÉ NA ESTRADA PRONTOS PARA DESTRUÍREM MEIO CONTINENTE
        AWNNNNN OBRIGADA <3 Lenora foi uma personagem que eu tive certo carinho por causa do parentesco dela com o Jack, mas no final, ela fez o próprio caminho. Adoro personagens de suporte que fornecem informações, mas que não estragam a experiência de nenhum personagem. Isso dá uma liberdade para escolherem o próprio caminho ao mesmo que dá ao leitor uma sensação de objetivo a cumprir

        A HILDA SEM NOJO DE SAPO É TUDO QUE EU ADMIRO PQ NEM FODENDO QUE EU PEGARIA ESSE FRAGMENTO AHSUAUHSHUA Mas adoro como Palpitoads são engraçados, eles tem uma expressão engraçada e uma animação fofinha, então, pq não?

        Teve captura, teve fragmento da joia, é cannon haushuashu Lógico que eu não vou mostrar eles pegando fragmento por fragmento, mas acho que aventuras e quests assim ajudam demais na hora de trazer um senso de jogo de aventura pro leitor hausahus

        Não é um capítulo sem terminar com falas fofas ahusahushu E, se permitido o spoiler: Sim, é a Rosa de BW2, PQ ESPERAR 2 ANOS QUANDO PODEMOS TER TODO MUNDO CONVIVENDO NO MESMO AMBIENTE? NPU tenta misturar ao máximo o elemento dos dois jogos <3 Isso pq vc ainda não viu o Nate por aí hausahus

        Obrigada pelo comentário, Canas

        See ya

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    4. Rooii Star!
      Finalmente a entrada oficial do Jack no grupo e... o cara vai levar 30 volumes de mangá... A falta q n faz um Kindle na vida das pessoas. Pobre Vic, esmagado sem nem ver. Uma constatação que acabei de perceber é que se juntar todos 4, a quantidade de neurônios não chegou a 1,5 (só a Hildinha q salva) pq conseguiram ser roubados pela porra de um girino, nem foi um sapo, foi a porqueira de um girino.
      Eu amei os Tympoles brincando com eles e pedindo comida. EU NUNCA ESPERAVA QUE GIRINOS FOSSEM FOFOS AGORA QUERO UM. Vendo pelo lado bom, a busca pelas partes da Light Stone começaram, imagino até o tanto de perrengues que eles ainda vão passar por causa delas kkkk.
      O Lucio também é um pokémon muito fofo que com certeza terá uma participação importante no time da Hilda. O mistério que começa é se a Rosa é quem todos estamos pensando que é, pq das duas uma, ou ela é muito cuzona que abandonou o poke ou aconteceu algo muito ruim com ela. As duas alternativas são meio tristes se você parar pra pensar, mas estou aguardando o que você irá fazer.
      O capútulo ficou ótimo, Star. Adorei a volta do clima leve de Aventura e exploração de rotas que ele teve. Ansiosa pela entrada do trio na floresta e por saber o que você prepara pra eles por lá.
      Abraços e até o próximo cap!

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      1. Yoo Carol

        FINALMENTE OFICIALIZAMOS O OTAKU NO GRUPO
        Não tem graça não levar um monte de coisa inútil numa viagem, eu mesma faço isso o tempo todo hausuahshu

        Você não sabe o medo que dá um girino pra Star, EU ENTENDO COMPLETAMENTE ESSES CARAS SENDO ROUBADOS HAUSHUASHUAHUS Quando a Inari chegar no grupo, os neurônios sobem pra 2 ahsuahushu

        Eu acho fofissimos eles cantando e a BRIANNA QUASE MATANDO UM HAUSAHUSHU
        Lúcio tem um puta background, é uma adição interessante para a Hilda, espero que ele encontre a Rosa

        Obrigada pelo comentário, Carol

        See ya

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    5. Yey primeiro fragmento!

      Meu deus tem 3 no grupo agora e nenhum tem uma pokebola, to ouvindo a musiquinha meme do "vai dar merda vai, vai..."

      O loco, primeiro dos mosqueteiro vai dar as caras na fic :) até o próximo Star!

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      1. Yoo Anan

        Achamos 0,0000000000001% dos fragmentos e PUTA MERDA, VAI DEMORAR DEMAIS AAAAAA
        Já pensou Anan? 3 protagonistas e NENHUM PASSOU NUM CP, MAS PRA CARREGAR MANGÁS ELES PRESTAM, PUTA MERDA! O destino de Unova tá na mão desses caras

        Obrigada pelo comentário

        See ya

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