• Thursday, February 25, 2021

     

    Art by: PinkGermy

    A Pinwheel Forest era provavelmente umas das florestas mais extensas do mundo Pokémon. Suas enormes árvores faziam que suas copas cobrissem o sol, dando a impressão que o tempo não passava dentro daquele local, por isso, assim com o lado externo, tudo era muito úmido, cheia de vegetações e musgos presos nas árvores e pedras. Por ser frequentemente usada como uma rota que ligava Nacrece a Castelia, o governo local investira na construção de uma estrada para que os mais despreparados não se perdessem, porém, preservando toda a fauna e flora local, sendo assim, um bom ponto para os aventureiros e treinadores treinarem e capturarem Pokémon.

    — Por que estamos pegando a rota por dentro da floresta ao invés de seguirmos a estrada? – questionou Hilda, seguindo os dois amigos, um pouco para trás.

    — Porque é muito mais divertido ir por aqui – respondeu Hilbert, olhando para trás. – E eu preciso treinar. Dizem que sempre tem uns treinadores prontos para batalhar. Qual é o tipo do próximo ginásio mesmo?

    Bug-type – informou Jackson. – Burgh é um excelente líder, tive prazer de encontra-lo algumas vezes.

    — Acho que encontrei ele vez ou outra em Castelia – pensou a menina.

    Os Pokémon de Hilda, incluindo o novo companheiro Lucio, o Palpitoad, acompanhavam o grupo com empolgação. A Zorua brincava com a cauda do anfíbio que parecia ter se adaptado bem a nova família. Hilbert aproveitou para lutar com alguns treinadores sedentos por batalhas, ganhando algumas e perdendo outras e isso acabou deixando a jornada um pouco mais lerda, quando perceberam, a hora do almoço tinha chegado e mal tinham avançado muito. De toda forma, resolveram parar para um breve descanso antes de seguirem viagem.

    Jackson tirou alguns macarrões instantâneos da mochila e entregou para os amigos enquanto Hilda servia os Pokémon com rações próprias para eles.

    — O paraíso em três minutos – comentou o arqueólogo sobre o alimento. – Já salvou muito dos meus almoços.

    — Eu costumava fazer quando minha tia ia pra reunião do meu primo e eu ficava sozinha em casa – contou a menina, preparando o dela.

    —Mudando de assunto. Quanto tempo acham que vamos demorar para juntar todos os fragmentos da Light Stone? – questionou Hilbert, tentando entender o preparo do almoço.

    — É uma boa pergunta – refletiu Hilda. – Acho que algumas virão até nós e outras teremos que procurar. Imagino que tipos de lugares esses fragmentos foram parar.

    — Imagina se um deles caiu dentro da boca de um Wailord e tivermos que entrar no estômago deles para pegar? – o treinador de boné sonhou alto, animado. – Cara, essa aventura vai ser incrível!

    — Melhor que coletar as insígnias? – riu a garota.

    — Aí você me colocou num dilema – o menino retribuiu a risada.

    — Eu não quero ser negativo, mas estamos falando de uma jornada às cegas – comentou Jackson, usando um garfo para comer seu macarrão. – Não sabemos o que vai acontecer se juntarmos tudo ou se vamos conseguir juntar. Por isso, precisamos estar preparados e prevenidos. Até porque temos outros interessados nessa esfera branca, né?

    Hilda suspirou.

    — A Team Plasma. Sou só eu, ou eu nunca entendo o porquê dessa “face dupla” dos Plasmas?

    — Como eles podem defender os Pokémon e do nada, matarem eles nos planos? – questionou Hilbert. – Lembra do Dreamyard?

    — Como esquecer? – a colega voltou a suspirar e encolheu as pernas, focada em seu almoço, um tanto desanimada.

    — O que houve no Dreamyard? – questionou o arqueólogo, curioso.

    — Nós encontramos alguns capangas dos Plamas com uma espécie de líder extraindo o Dream Mist de Munnas e Musharnas – contou o menino. – Cara, eles mataram Pokémon inocentes só por causa de uma fumaça rosa.

    — I-Isso é horrível – respondeu Jackson, chocado.

    — Não confiamos nos Plasmas, mas nunca temos uma prova concreta para provar que eles são os vilões – disse Hilda. – É horrível não poder fazer nada.

    — Ei, ei, os dois vão ficar negativos? – interferiu Hilbert. – Confiaram uma missão importante em nós! Nós vamos juntar todos os pedacinhos dessa bola branca que carrega um dragão lendário ou sei lá o quê e vamos provar que a Team Plasma são os vilões. Mas para isso precisamos confiar em nós mesmos.

    Hilda e Jack olharam para o colega e sorriram. Não era a primeira vez que o garoto levantava o astral deles com aquele jeito inocente.

    — Com esse discurso, eu poderia revirar Unova em um dia só – riu o negro, brincando com Bijou.

    Provavelmente não iria muito longe, já que o Hilbert é um preguiçoso – brincou Vic, repousando sobre o boné do amigo.

    — Obrigada pela amizade, Vic – ironizou o garoto. – Mas acho que você tem razão, Unova é meio grande.

    O grupo voltou a rir, aproveitando o término do almoço para descansarem um pouco sobre a sombra das árvores, o clima estava tão bom que o vento brincava com as mechas dos cabelos, a Zorua de Hilda se divertia com alguns Pokémon insetos selvagens, que pareciam estar acostumados com a presença de humanos. Os outros Pokémon da equipe estavam preocupados em socializarem com os de Jackson. Winston, apesar de calmo, parecia assustar os menores, Bijou, a Cleffa e a doce Mirsthy, a Minccino pareciam ser as únicas a tentarem a compreender o jeito sério do Darmanitan.    

    Ele dá um pouco de medo – sussurrou Vic para Brianna.

    “Fico me perguntando que tipo de coisa ele passou”, começou a Snivy, observando. “Olha todas aquelas cicatrizes, parece que ele foi para a guerra.”

    Ouvi dizer que ele era militar, imagina o tipo de coisa que esse cara já viu? – refletiu o Victini.

    “Estamos tão acostumados a ver os treinadores batalhando entre si de forma casual e competitiva que nem nos damos contas que existem outros de nós sofrendo nas mãos erradas” refletiu a cobra de grama, mantendo seu olhar em Winston, que parecia estar focado na pequena Cleffa.

    P-pois é – respondeu o anjo, abaixando um pouco a cabeça em sinal de pesar. – Vamos dar o nosso melhor para que ele se sinta confortável conosco. Caso contrário, eu tenho certeza que aquelas “mãozinhas” podem arrancar nossas cabecinhas com um golpe só – Vic riu, um tanto temeroso. Brianna retribuiu a risada.

    “Você não tem jeito.”

     

    Após algum tempo, o trio resolveu que era a hora de colocar o pé na estrada novamente. Com as energias recarregadas e bem alimentados, eles terminavam de arrumar suas bolsas quando um vento diferente voltou a rodear os garotos, um vento mais pesado e violento. A sensação de tensão tomou conta dos jovens que se entreolharam, não parecia ser um fenômeno simples da natureza. Algo ou alguém se aproximava.

    Hilda guardou os fragmentos da Light Stone em seu colete com muito cuidado, poderia ser qualquer pessoa, até mesmo a Team Plasma que provavelmente já sabiam da existência dos fragmentos da pedra.

    Porém, quem quer que estivesse envolvido nisso, estava extremamente focado em Hilbert. Uma ventania mais forte atingiu o corpo do garoto que caiu no chão e teve seu boné jogado para longe, ele estendeu a mão para a direção que o objeto foi, desesperado, como se tivesse perdido uma parte do seu corpo. Hilda se aproximou do amigo e Jackson não conseguiu conter o choque ao ver os chifres amarelados e pontudos do garoto.

    — Q-quem está aí?! – berrou o menino, recebendo ajuda para levantar.

    Do meio das árvores, completamente camuflado, ele saiu. Com quase dois metros e andando majestosamente sobre as quatro patas, estava o Pokémon conhecido como Virizion. Com a pompa de um cavaleiro, sua cabeça tinha dois chifres curvados na ponta, o focinho era comprido e fino. O corpo era predominantemente verde com detalhes em branco na barriga e cara, as quatro pernas eram compridas e ele parecia usar botas.



    A julgar pela sua expressão séria com que olhar para Hilbert, ele parecia conhecer o jovem e não parecia ser um contato muito amigável ou satisfeito. Em sua pata frontal, ele segurava o boné vermelho que tinha um significado muito importante, mas que perto do Pokémon, parecia ser um objeto inútil

    O filho de Athos... – resmungou a criatura com voz imponente, grossa e masculina. – É impressionante como Athos ainda queira ter contato com essa espécie.

    Hilbert reprimiu um xingamento. Não ouvia outra pessoa falar do seu pai além de sua mãe e do velho Joltik. Grimaud saiu de dentro do colete de Hilda e olhou com enorme surpresa para o Virizion.

    Lorde Aramis? – disse o Pokémon, como se há muito tempo não pronunciasse esse nome.

    Vejo que sou bem conhecido – riu o mosqueteiro. – Reconheço essa voz enjoativa de longe, senhor Grimaud, lacaio de Sir Athos.

    Achei que nunca mais iriamos nos ver, depois da transformação, cada mosqueteiro seguiu um caminho diferente – disse o Joltik, meio intimado, encolhido no ombro da garota.

    E parece que o caminho de Athos Autevielle foi continuar se envolvendo com os humanos a ponto de ter filhos – Aramis voltou seu olhar para o jovem Hilbert. – Que criatura bizarra e fraca.

    — VOCÊ TÁ FALANDO DE MIM?! – berrou o treinador. – Pois saiba que eu já te odeio por conhecer o idiota do meu pai!

    O Virizion riu, debochado.

    Nem seu pai aguentou a aberração que você é? – o olhar dele caiu sobre os chifres de menino. – Você não é nem humano, nem Pokémon. Isso é um desperdício.

    — Eu não preciso ouvir sua opinião sobre mim! – Hilbert cerrou o punho, extremamente irritado. Diferente das humilhações sofridas por outras pessoas, aquela criatura parecia querer deixa-lo irritado e não triste. Estava prestes a explodir.

    Me encarar com essa cara feia não vai adiantar nada – riu o Pokémon. – Você precisa de mais ação.

    Rápido como o vento, Aramis investiu contra Hilbert, atingindo-o no estômago e arremessando-se contra uma árvore. Hilda quase sofreu o impacto, mas foi salva por Jackson, que recuou para longe com a garota.

    — Hilbert! – gritou a amiga.

    O baque contra a árvore fez o jovem soltar um grito surdo, como se tivesse perdido todo ar do peito, ele caiu no chão e gemeu de dor, encolhido. O Virizion se aproximou.

    Vamos, reaja.

    O garoto caçou uma Pokéball em seu bolso, mas percebeu que todas estavam na sua bolsa que estava há alguns metros.

    — O-o que você quer comigo? – questionou, entre uma respirada funda e outra.

    Você tem um enorme poder em suas mãos e desperdiça ele – respondeu Aramis. – Se eu fosse você, aprimoraria esse poder enquanto ainda sou jovem. Se eu soubesse que poderia me transformar em Pokémon há mais tempo atrás, eu não teria pensado duas vezes.

    — Do que diabos você está falando? – Hilbert sentou-se, tentando arranjar apoio para se levantar, mas logo sofreu outra investida do Virizion, sendo arremessado para longe de novo.

    Vamos, desperte, garoto! Você só tem esse defeito de ser meio humano, mas tem um monstro dentro de você pronto para te dominar...

    O menino continuava a resmungar de dor quando viu a primeira gota de sangue pingar na grama verde e úmida da Pinwheel Forest, seus amigos encaram tudo aquilo com preocupação e estavam tão confusos quanto ele, o que os impedia de reagir de qualquer forma. Aramis continuava com as palavras de humilhação, testando cada vez o psicológico do menino, que se encolhia cada vez mais.

    Sentiu seu corpo queimar tanto que podia jurar que a floresta estava pegando fogo.

    A primeira visão que o Virizion, Hilda, Jack e Vic tiveram foram dos pontudos chifres do garoto tomarem proporções como as de um adulto, os castanhos cabelos agora tinham enormes mechas pretas na frente e brancas na parte de trás. Toda a dor dos impactos parecia ter sarado milagrosamente, como se o corpo estivesse mais jovem e forte (se é que isso era possível). Levantou-se ereto e duro, Aramis recuava, mas não podia esconder a animação. O choque maior foi quando Hilbert virou-se para o mosqueteiro, os olhos castanhos agora assumiam um amarelado insano, dois riscos pretos desenhavam a bochecha.

    O monstro finalmente se libertou – sorriu o Virizion, em posição de batalha.

    — Grimaud, o que aconteceu com ele? – questionou Hilda.

    E-eu não sei, senhorita Hilda – disse Grimaud, temeroso, repetindo novamente, com a voz de pesar. – Eu realmente não sei.

    A garota olhou para o amigo, preocupada. Um arrepio lhe correu a espinha.

    Hilbert deu a primeira investida com um soco contra Aramis que sacudiu as árvores próximas como ondas de vento, só não as derrubou pois eram extremamente fortes a julgar pela idade. Dessa vez, o Virizion foi arremessado pra longe, mas diferente do garoto, pareceu aguentar o impacto e se recuperar rapidamente, pronto para outro ataque.

    Gosta da sensação, garoto? – provocou o Pokémon. – A sensação de poder? Será que todos os Pokémon sente essa força ilimitada emanando de seus corpos?

    Porém, Hilbert permanecia em silêncio, era como se todas as funções de seu cérebro se redirecionassem a um único objetivo: FORÇA.

    O embate voltou a acontecer. Dois lados que pareciam com níveis semelhantes, estratégias diferentes, mas com uma única visão: derrotar um ao outro. Aquela batalha impactava tudo ao seu redor, fazendo com que Pokémon selvagens fugissem para longe daquele duelo de titãs.

    Hilda e Jackson correram para uma área segura, mas num lugar em que pudessem assistir tudo, atrás de um arbusto junto de alguns insetos que pareciam tão atônitos quanto os jovens. A garota parecia sentir seu coração na mão ao ver o amigo daquele jeito, enquanto o arqueólogo parecia extremamente confuso.

    — Temos que fazer algo, Jack! – exclamou a menina, segurando o braço do negro. – Ele nunca ficou assim? E se ele se machucar?!

    — Você tem coragem de entrar no meio daqueles dois? – respondeu o outro, segurando os ombros da colega. – Se a gente entrar ali, os feridos seremos nós. Eu ainda tô tentando assimilar o fato do Hilbert ter chifres!

    Virizion tomou um tempo para repousar enquanto encarava o garoto que estava com as suas roupas sujas de folhas e terra, sem contar os arranhões e hematomas que ele simplesmente não parecia sentir. Era como se seu corpo estivesse em um êxtase tão grande que ele ignorava qualquer sensação de dor.

    Quando eu era humano, sempre achei fascinantes os mistérios por trás de um Pokémon – contou Aramis, ainda que seu adversário não parecesse muito interessado. – No dia em que eu senti meu velho corpo cansado se transformar em um corpo jovem poderoso e cheio de vida, eu jurei nunca mais ter compaixão por essa raça fraca.

    — Não... somos fracos – a voz de Hilbert pareceu extremamente grossa. Não era o Hilbert monstro que tentava dialogar, e sim o jovem treinador determinado. – Somos tão fortes quanto os Pokémon p-porque...

    Aramis não quis saber do final da frase e usou um golpe conhecido como Megahorn contra o adversário, que caiu de joelhos no chão.

    — Hilbert! – Hilda ignorou qualquer alerta de cuidado de Jack e correu em direção ao local, atirando alguns pedregulhos em vão. – Chega! Deixa o Hilbert em paz!

    Virizion riu com a figura da menina que lutava desesperadamente.

    Acho que o único jeito de excluir esse seu lado humano, é se livrando de tudo aquilo que te mantém desse lado – o mosqueteiro virou-se para a morena e começou a caminhar até ela com passos lentos e intimidantes, seus dois chifres assumiram outra cor, ele estava prestes a usar o mesmo golpe contra ela, mas diferente do treinador, ela só era... uma humana fraca.

    Jackson tirou a Pokéball de Winston de seu cinto, mas a pequena Cleffa em sua mochila exclamou como um apelo para que não fizesse isso. Bijou choramingou de medo e o arqueólogo a pegou em seu colo.

    — O-Obrigada por me impedir... – sussurrou ele, saindo do arbusto também e correndo ao lado de Hilda, que estava paralisada.

    Dois Bunnearys em uma só cajadada? – debochou Aramis, pronto para atacar os dois humanos.

    O que ele não esperava é que Hilbert surgisse novamente para contra atacar com um golpe semelhante ao Close Combat, que não deu oportunidade para o Virizion desviar os tentar golpeá-lo. Ele recebeu chutes, socos e tapas em todas as partes do corpo antes de cair alguns metros longe, com concussões, machucados, hematomas e sangramentos, ficou aliviado por pelo menos estar vivo.

    O garoto encarava seu adversário com uma postura dura, os músculos enrijecidos tremiam com tanta força, ele estava de costa para seus amigos e sua figura nunca pareceu tão intimidadora. O Pokémon mosqueteiro percebeu que uma de suas patas estava impossibilitada de lhe ajudar a voltar a batalha, então decidiu que era hora de recuar. Levantou-se com dificuldade e notou que o menino já se preparava para o novo round, porém, como o vento e em um movimento extremamente rápido, o Virizion sumiu floresta a dentro, sem deixar rastros.

    Sua única herança daquela confusão era um Hilbert completamente fora de si e que não parecia querer voltar ao normal tão cedo. Acumulando toda a coragem possível, Hilda correu para a frente de seu amigo e o encarou nos olhos, partiu o coração ao ver que aquela expressão juvenil, inocente e determinada dava lugar pra uma figura coberta de ódio, ela agarrou o braço do companheiro e se assustou em ver como os músculos estavam fortes e enrijecidos.

    — Hilbert! – ela berrou, como se o jovem fosse surdo. – O que tá acontecendo com você?! Volta pra gente!

    O resmungo semelhante ao um rosnar que Hilbert soltou não parecia ser uma resposta positiva. A garota segurou os braços dele com mais força e o sacudiu, desesperada:

    — Vamos lá, você não é isso! Hilbert! – sua voz ficou embargada e ela jurou ter sentido uma lágrima escorrer de seus olhos.

    Mas nem isso comoveu o menino, que sem pensar, agarrou Hilda pelo pescoço e a levantou com uma força sobre humana e deixou a garota em desespero, balançando as pernas enquanto lutava por um ar que logo acabaria. Jack tentou intervir agarrando o braço livre de Hilbert.

    — Hilbert, para com isso! Você é melhor do que essa coisa!

    Com outro grunhido, ele empurrou o arqueólogo que caiu no chão e caminhou com Hilda até uma árvore, prendendo-a contra o grosso tronco, encarando-a com uma expressão de insanidade. A garota retribuiu o olhar, com pena e tristeza. Havia perdido o menino que escalara o prédio da sua casa de madrugada para lhe dar lições sobre sonhos? Tudo aquilo agora se resumira a um monstro que havia dominado seu corpo?

    — Hilbert... – ela chamou novamente, com a voz mais gentil, pronta para aceitar seu destino.

    — Vic, por favor! – Jackson berrou.

    Vic saiu de dentro da bolsa e olhou para seu amigo. Disposto a ajudar, seu corpo tomou uma aura psíquica rosa e seus olhos brilharam.

    Desculpa por isso, amigão – começou o Victini. – Mas eu faço tudo para te salvar.

    O Pokémon liberou um golpe conhecido como Psyshock que, como o nome sugere, acertou Hilbert como um raio psíquico, fazendo-o curvar suas costas para frente e soltar um grito, como se toda descarga tivesse dominado seu cérebro, seu corpo amoleceu, os olhos se tornaram brancos e opacos e ele soltou Hilda, que caiu de joelhos no chão com a cabeça do garoto desmaiado em seu colo. Apesar da reação de alívio que todos soltaram, a menina não pode segurar o choro, acariciou os cabelos do menino que aos poucos voltavam a assumir completamente o castanho, enquanto os chifres voltavam ao seu tamanho inicial.

    — Por favor, não me assuste mais assim... – sussurrou, depositando um longo e suave beijo na testa de Hilbert.

     



    A noite caiu e nada da jornada tinha avançado. Jackson preparava uma fogueira com uma refeição mais decente porque sabia que a ocasião necessitava, tudo estava quieto, os Pokémon dos três se mantinham em grupo, tão tensos quantos os humanos. A única conversa ouvida era de Grimaud e Jack.

    — Então o Hilbert é um meio Pokémon? – questionou o arqueólogo, tentando ficar a par da situação.

    Exatamente – respondeu o Joltik, com precisão. – Os três mosqueteiros e eu fomos transformados em Pokémon. Acredito que seja uma forma de agradecimento por terem salvado tantas vidas. E acredito que eles queriam continuar sua missão, apesar do Lorde Aramis ter se desviado tanto de seu objetivo inicial.

    — O jeito que ele fala dos seres humanos... – comentou o jovem, mexendo nas labaredas da fogueira. – Imagino o que o deixou assim. Ele já foi humano.

    Esse poder deve ter lhe subido a cabeça de uma forma que o deixou cego – comentou Grimaud, reflexivo. – Lembro-me de que o lorde odiava a corrupção dos humanos, talvez isso tenha o incentivado.

    — Eu admito que somos uma espécie que muitas das vezes não pensa nas consequências de seus atos – ele olhou de relance para Winston, como se quisesse dar exemplo. – Mas sempre existe aqueles que combatem e isso e querem transformar o mundo num lugar melhor. Ainda que sejamos poucos, somos a gota de esperança que ainda move nossa sociedade.

    O senhor Athos acredita nisso também... Acho que Hilbert puxou isso dele, sempre enxergar o lado positivo das coisas e nunca abaixar a cabeça.

    — Espero que esteja tudo bem com ele – disse Jack, servindo um pouco da comida em um prato descartável. – Ele está distante desde que acordou. Hilda, o jantar está pronto.

    Hilda, que estava encostada em uma pedra um pouco longe, se aproximou e pegou o prato.

    — Obrigada, Jack. Vou levar para o Hilbert – sorriu a garota levemente, com a voz baixa e rouca.

    Ela se virou nos calcanhares e foi até onde Hilbert jazia. Um baixo galho de árvore grosso, sentado com as pernas encolhidas, cheio de curativos feitos pela menina, usando apenas a camiseta preta e suas calças. Com a expressão distante e desanimada, mal notou quando sua companheira sentou ao seu lado e lhe serviu o jantar.

    — Isso é meio nostálgico, né? Sempre que acontece algo, a gente senta num tronco de árvore para refletir – riu ela, tentando manter o bom humor.

    Mas o menino não parecia compartilhar a mesma empolgação, ele olhou de relance para o pescoço de sua amiga que estava coberto por um pano úmido, provavelmente para aliviar quaisquer marcas deixadas.

    — Como tá seu pescoço? – questionou ele, com a voz quase inaudível.

    — Hm? – Hilda olhou curiosa para ele. – Ah, está melhor. Jack me pediu para ficar com isso durante a noite assim não fica tão vermelho.

    — Desculpe... – Hilbert encolheu-se mais, desanimado.

    O silêncio predominou novamente antes que o garoto pudesse confessar.

    — Eu ouvi você me chamando – disse, um pouco tímido. – Foi o que não deixou aquela... coisa me dominar completamente.

    — Ficamos com medo de te perder – respondeu Hilda, corada. – E-Eu fiquei...

    E o menino nada respondeu de novo, ele apenas virou-se de costas e se manteve isolado novamente, como se fechasse completamente uma porta para que ninguém pudesse entrar, mas a garota parecia ter a chave dessa fechadura. Ela colocou as duas mãos nas costas do amigo e apoiou a cabeça nela, como um gesto de carinho.

    — Lembra da conversa sobre médico, né? – disse ela, arrancando um riso baixo do garoto.

    A atenção foi desviada quando Jackson e Vic apareceram e fizeram os dois recuarem, tímidos.

    — Vocês não fazem nem questão de disfarçar que estão espiando, né? – ironizou a menina.

    Espiar? Nunca nem vi – disfarçou o Victini, indo até o ombro de Hilbert. – Você tá melhor? Ainda consegue pensar? Quanto é 2+2?

    — Eu fiquei sabendo que você deu um choque no meu cérebro, senhor Vic – o treinador olhou para o Pokémon. – Eu poderia te bater, mas você me salvou. Obrigado, amigão – o sorriso gentil, sincero e calmo deixou o anjo emocionado.

    Ah, não me olha desse jeito ­– respondeu, com a voz embargada. – Eu só não queria te perder.

    — Desde quando o Vic é tão sentimental assim? – questionou Hilda, arqueando a sobrancelha.

    Ei, eu não sou uma pedra! Eu só não gosto de externar meus sentimentos nos momentos errados.

    — Sei, sei...

    Jackson foi o próximo a subir no galho, agradeceram a Arceus por ele ser bem resistente. O arqueólogo estendeu para o menino o famoso boné vermelho, um tanto surrado e sujo.

    — Eu achei isso aqui com a ajuda dos meus Pokémon – sorriu o rapaz. – Acho que ele é extremamente importante pra você.

    Hilbert pegou aquele acessório de pano e o observou cheio de memórias.

    — Obrigado, Jack. Acredito que devemos uma explicação pra você.

    — O Grimaud, o Joltik falante, me contou tudo – disse Jackson, sorrindo.

    — Está assustado? Com medo?

    — Na verdade, só estou curioso pra saber se você pode ser capturado com uma Pokéball – refletiu o arqueólogo.

    — Ninguém nunca tentou.

    O grupo gargalhou e Hilbert se sentiu confortável em saber que mesmo nas dificuldades e nos momentos de tensão, ele tinha excelentes companhias que sempre iriam segurar ele. E ele com certeza tentaria retribuir tudo a altura.

     


    Aramis estava deitado com as patas escolhidas, observando a que estava ferida, torcendo para que fosse algo momentâneo. Não imaginava que o filho de Athos atingiria uma força tão grande quanto o pai, apesar de saber que era o mais fraco, praguejou ao imaginar que sua velocidade não fora tão eficaz. Mas não queria pensar nisso agora, seu maior medo – se é que isso era possível em alguém como ele – era ser descoberto daquele jeito.

    Sua atenção se desviou para um arbusto que se mexeu violentamente.

    Um Pokémon?

    Não.

    Era um humano. A pequena figura apareceu. Uma garotinha de quase seis ou sete anos que parecia extremamente assustada e perdida, sua pele negra brilhava com alguns raios de lua que atravessavam as folhas das árvores. Usava uma roupa extremamente pobre e mal-acabada. Seus olhos observaram aquela enorme criatura com esperança, a pose do Virizion remetia à segurança graças a seu tamanho, mas seu rosto não demonstrava a mesma imagem.

    O que você quer, garotinha? Saia daqui antes que eu te mate – ameaçou ele.

    A menina tentou falar, mas nenhum som saia. Seria ela muda?

    Você não fala? Que “sorte” a minha – ironizou a criatura. – Vá embora. Você é uma criança, é perigoso ficar sozinha.

    Ela se aproximou e sentou-se perto do tronco do Virizion, que a encarou arisco, mas a menina não pareceu se importar, ela descansou seu corpo contra o do Pokémon, como se fosse um travesseiro gigante. Seja lá quem fosse essa garota, ela só parecia querer um porto seguro.

    Aramis pensou na possibilidade de simplesmente matá-la ali e não deixar rastros. Mas ver os olhinhos perolados dela aos poucos se cerrando para dormir o fez sentir uma compaixão que há anos não sentia. Ele deitou a cabeça no chão, próximo a menina.

    Que droga... – ele murmurou antes de dormir.


        

    { 10 comentários... read them below or Comment }

    1. Um Pokémon lendário fingindo ser durão mas não aguenta uma criança humana e muito menos o poder dos chifres do Hilbert.

      Magnifico cap. Estou esperando o próximo. <3

      Não entendi como a explosão foi tanto forte que Unova ficou cheia de fragmentos de pedra branca quebrada, mas otima coisa para treta futura. Veremos se alguém por ai anda consumindo pó de Light Stone

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      1. Yoo Shii

        É aquela coisa né? Pose de machão, mas apanha que nem cadelinha haushuahus

        Obrigada Shii

        Imagine que na explosão, os fragmentos foram tipo estrelas cadentes que se espalharam pela região. Faz mais sentido se vc assiste Inuyasha huasuahus

        Obrigada pelo comentário

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    2. TÁ SAINDO DA JAULA O MONSTRO, BIRL!! AÊ PORRA!!!
      Mano eu amei esse capítulo, meu Ho-Oh do céu que tá acontecendo. Olha essa rinha do Bertinho vs o tio digna de Casos de Família, puta merda, to boquiabrido menina, olha que eu li seus capítulos de ação agorinha pouco, mas esse se supera ver Cobalion!Bertinho foi assustador, ele usando Close Combat e a Hilda tendo de acalmá-lo e o Vic tendo que nocauteá-lo com Psyshock, cara isso foi intenso.
      O melhor disso tudo foi o Jack aceitando na maior tranquilidade, meu pai amado, kk, eu amo esse homem.
      Enfim, eu não tenho palavras a acrescentar sobre esse cap, ele foi bem escrito e deu pra ver o quanto de Inuyasha vs Sesshomaru vc colocou ali, além de fazer a referencia lá ao Inu full yokai. Eu tenho medo de ver um Bertinho assim no futuro, mas por sorte temos patroa Hilda e Vic pra dar conta do recado caso ocorrer.
      É isso

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      1. Yooo Leucro

        BIRRRRRRRRRRRRRL!
        HOJE NO CASOS DE FAMÍLIA : VAI SE FUDER, TIO, EU NÃO QUERO VIRAR MONSTRO
        É com vc, Cristina Roggenrola ahgsahushuashu
        CEIS TÃO ACHANDO QUE MEU CORNO É PORCARIA? Ainda é porcaria, mas o chifre dele cresce agr hausahushuahus
        TOO MUCH AÇÃO PRA ESCREVER SÓ EM PALAVRAS HASUAHUSHU

        Pensa que o Jack já viu a Hilda falar com vozes na cabeça dela, UM MOLEQUE CORNO É FICHINHA HAUSHUAHUSHAUSHU Ele é otaku, é mais fácil de aceitar

        Adoro quando pegam minhas referências (mesmo eu tendo falado milhões de vezes), mas fico feliz de passar essa vibe, Rumiko é um puta inspiração pra mim pq ela fez uma puta aventura recheada de elementos que eu amo.

        CUIDADO! CORNO RAIVOSO!

        Obrigada pelo comentário, Leucro

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    3. Um dos melhores capítulos da temporada, com toda certeza! Eu estava ansioso para ver esse encontro do Hilbert com seu tio, porque na minha cabeça tudo não passaria de um tremendo mal entendido. No fim das contas, Virizion foi cuzaum e ponto final kkkkkkkk Mas ele é um tipo de antagonista intrigante, pois levou o Hilbert a um novo patamar ao ponto de aprender Close Combat e Megahorn kkkkk Brincadeiras à parte, foi uma transformação incrível. Pior foi ter que ver seus amigos incapacitados, o medo de machucar o amigo ou causar um acidente no nível que o Winston causou na cidade (por sinal, obrigado pelo trechinho fofo que a Brianna e o Vic conversam, eu sempre adorei essas interações dos Pokémon na história principal!). Tem muita coisa interessante para se notar aqui, como o fato dos chifres ainda não serem de conhecimento do Jackson. Qual seria a melhor hora de contar algo tão importante para um colega? Se eles demorassem demais, ia ficar aquela sensação de que eles esconderam algo importante durante meses e ninguém abriu o bico. Foi um excelente timing!

      Ah, então esse é o famoso chupão no pescoço HAEUHHUAE Poxa, eu fazendo graça e era um negócio maior sério! Achei curioso que você ainda comente sobre o machucado lá na frente, essa continuidade é o que me faz adorar as fanfics de Pokémon (aguardo ansiosamente o dia em que os 10 pesadíssimos exemplares do Dragão Guerreiro sejam usados de alguma forma kkkkkkkkk).

      E da mesma forma que você nos apresentou um velho Virizion rabugento de dois metros (eu precisei ver na bulbapedia pra ver se era real kkkkk me surpreendi) eu adorei a interação dele com uma garota humana. É aquele velho e sábio provérbio: cuspiu, caiu na testa, seu trouxa! kkkkkkk Ele vai acabar se afeiçoando à garotinha, e torço para que ela surja lá na frente montando cavalinho nele. Vai ser louco.
      Parabéns por mais esse capítulo incrível! <3

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      1. Yooo Canas

        O número de capítulos favoritos só aumenta <3 Eu fico feliz em 20 capítulos trazer uma grande bagagem de capítulos que caem no gosto da galerinha jovem hausuhas
        Virizion já tem aquela pose de completo babaca, como ser diferente disso? hasuahushuas Hilbert usando golpes de Pokémon me cura numa agilidade.
        Ninguém espera um Virizion aparecendo do nada pra resolver briga de família, então a reação foi a mais genuína possível. Acho que assim como Inuyasha, alguns personagens ficam em planos de fundo para que outros tenham destaque.
        VC GOSTOU DO VIC E DA BREE CONVERSANDO? Eu acho que esse é prólogo e a motivação para eles, enfim, montarem uma guilda de verdade :3
        Obrigada por isso <3

        AH, O CHUPÃO, VAI SER MARAVILHOSO LEVAR ESSE APELIDO ATÉ O ÚLTIMO DIA! O importante é usar termos que te façam lembrar ahushuas
        ESSES EXEMPLARES DE DRAGÃO GUERREIRO SERÃO MUITOOOOO IMPORTANTES hsaushuahus

        Eu adoro que o Virizion não vai simplesmente embora e dane-se, eu quis trazer algo que mostre que ele ainda continuará entre nós e será importante, além de ter seu próprio plot :3

        Obrigada pelo comentário, Canas

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    4. Star o que é esse chupão no pescoço da Hilda?

      Hilhil se provando uma força de ligação para segurar Hil-macho na sanidade dos humanos :) pena que Hil-femea saiu ferida desse triste evento.

      Até o próximo Star e taque a pokebola no Hilbert!

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      1. Yoo Anan

        É ALERGIA, ANAN, TE JURO HAUSAHUSHUASHU

        Hilda maior destruidora de Hétero top hasuahushua Pobre Hilda, sempre disposta a ajudar.

        PEGUE UMA MASTER BALL, ANAN

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    5. Caraca, esse foi um dos melhores capítulos na minha opinião, se não o melhor dessa temporada até então. O desenvolvimento da cena até o clímax do capítulo aconteceu de maneira muito natural e ao mesmo tempo nos deixou tenso o tempo inteiro acerca do que ia ocorrer.
      O ponto da transformação do Hilbert foi muito interessante. Realmente vejo que ele e a May tem algo em comum, ambos tem dentro deles algo que não podem controlar. Se algum dia os dois chegassem a se encontrar, creio que seriam grandes amigos (arrumar encrencas juntos por ai).
      Aramis foi corrompido pelo amor, agora é tarde demais e ele se tornou papai de primeira viagem haha. A menininha vai fazer muito melhor a ele do que ele a ela, no fim.
      Acho q é isso, Star. Demorei muito pra comentar esse cap e acabei tendo que ler de novo. Mas até vai me ajudar a terminar o desenho que comecei.
      Até a próxima!

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      1. Yooo Carol

        Eu fico feliz que tenha gostado. Nunca é tarde pra trazer mais um vilão pra história <3
        Eu adoro o desenvolvimento desse capítulo também, foi algo muito fácil de escrever e divertido :3
        Espero que o crossover entre May e Hilbert possa rolar algum dia pro Vic roubar as comidas de todo mundo. Certeza que isso aconteceria.

        Aramis não teve 5 minutos de paz pra ter ódio sossegado que já jogaram uma criança muda na fuça pra ele assumir. Não se pode mais ser revoltado nesse mundo tsc tsch uashuashuahushu

        Estou ansiosa pelo desenhos e não se preocupe com os atrasos, NPU está de braços abertos <3

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