• Capítulo 44

     


    Tsuyo contava o lucro do furto realizado quando notou que alguém tentava contatá-lo através do ponto preso em seu ouvido. Imaginou ser Maggie, já que a garota continuava atrasada e já passara da hora do almoço e isso o deixava insatisfeito. Quando ele aceitou a ligação, ouviu-se a voz de Susan, umas dAs Virtudes e filha de Gorm, dos Seven Sages:

    — Tsuyo, temos problemas...

    — Problemas? – questionou o ninja, se levantando, indo até o beiral do prédio, conferindo se o prédio estava cercado ou algo do tipo.

    — Estou de passagem por Castelia com o Rei e suas irmãs – contou a mulher. – Tivemos alguns problemas envolvendo um garotinho e seu Lillipup desaparecido.

    — Isso não é uma missão muito digna para uma membra dA Virtude – ironizou Tsuyo.

    — Eu sei – ela suspirou. – O problema é que um grupo de treinadores resolveu se juntar a “equipe de buscas”, e eles descobriram da nossa base no esgoto, além de desconfiarem das nossas ações.

    — O que sugere que façamos? – questionou o rapaz de cabelos brancos, tendo sua atenção desviada para a chegada daquela que ele esperava: Maggie.

    A garota ruiva sentou-se no chão, respirando fundo.

    — Avisarei Mikoto para se livrar das pistas no esgoto que denunciem quem somos – disse Susan. – E se você avistar um Lillipup com uma coleira, por favor, me traga.

    — Acho que vou ter a resposta em breve – Tsuyo cortou a comunicação com a colega de equipe e se aproximou de Maggie. – Você demorou – a expressão dele não era das mais amigáveis.

    A Shadow Triad observava de longe, silenciosos e desinteressados, presos em seus próprios mundos. O ninja cruzou os braços e esperou uma resposta da garota.

    — Eu tive problemas... – respondeu Maggie, envergonhada. – Não consegui pegar nada e ainda tive que fugir da polícia quando tentei capturar um Stoutland.

    — Foi um erro ter trazido você – Tsuyo disse, ríspido. A treinadora encolheu os ombros, envergonhada.

    — Eu tentei, senhor Tsuyo – Maggie estava sem palavras, nem tinha como argumentar. Ela apenas tirou a mochila de suas costas e a colocou com certo impacto no chão. Foi o som de grunhido vindo do objeto que despertou a atenção de todos.

    A garota agachou e abriu o zíper, sendo surpreendida por uma Lillipup com uma delicada coleira rosa. A cachorrinha latiu, completamente fora da noção da situação. Ela apoiou as patinhas para fora da bagagem, curiosa com os outros presentes.

    — Isso foi o lucro que foi trazer você pra cá? – disse Tsuyo, cruzando os braços. – Tem pelo menos cinquenta Pokéballs com Pokémon poderosos, e tudo que a senhorita me trouxe foi um Lillipup de apartamento?

    — E-Eu nem percebi que isso estava aqui – explicou-se a ruiva, segurando a Lillipup no colo, enquanto tentava impedir que ela lambesse seu rosto. – P-Provavelmente foi quando eu trombei com aquela criança.

    — Qual é a sua intenção com a equipe, Maggie? – Tsuyo se fez intimidador. – Se quer tanto ganhar dinheiro, tem que merecer! Por causa dessa sua burrada, existe um grupo de pessoas desconfiando da gente! Você tá tentando ser forte, mas você é só uma criança brincando! Era igual ao Peter, ele achava tudo isso uma grande piada enquanto brincava de casalzinho com você!

    Maggie avançou a acertou um tapa contra o rosto de Tsuyo. A Shadow Triad até mesmo deixaram o desinteresse de lado para olhar a atitude rebelde.

    — EU NÃO LIGO DE VOCÊ ME CHAMAR DE CRIANÇA, EU SEI QUE NÃO SOU EXPERIENTE! – ela começou a gritar. – MAS NUNCA OFENDA ALGUÉM QUE NÃO PODE SE DEFENDER! DEIXE O PETER EM PAZ!

    O tapa havia tirado a máscara utilizada pelo ninja. A cicatriz na região da mandíbula em formato de X explicava o motivo do rapaz estar sempre com o acessório. Ele ajeitou o pano no rosto e seus olhos sorriram.

    — A melhor coisa é atacar quando a vítima não tem nem chance de revidar – ele disse, de forma psicopata. – Irei relatar que você precisa voltar ao treinamento, você ficou fraca novamente e não está pronta para missões de grande porte.

    O ninja tirou a Lillipup dos braços da garota.

    — Eu preciso devolver isso antes que as coisas saiam do controle.





    Havia caixas de madeira empilhadas no deck. A composição delas fazia parecer que eram como um muro, elas aguardavam serem embarcadas no navio cargueiro próximo, mas para os quatro jovens, aquilo era um esconderijo perfeito.

    Aquele local estava bem movimentado, seja por funcionários responsáveis pelo transporte de cargas marítimas, seja pelos grupos de policiais em volta da entrada para o sistema de esgotos. A entrada era bem semelhante a um bunker. Benga encarava o grupo de pessoas, analisando o cenário.

    — Não vai ser tão fácil entrar – concluiu o neto de Alder.

    — O local deve estar interditado – refletiu Cheren. – Eles não vão querem ninguém alterando as provas do crime.

    — N-Não é melhor que nós expliquemos para ele a situação e eles procurem algum sinal da Angel? – questionou Bianca.

    — Eles não vão parar uma operação desse tamanho para procurar uma Lillipup – disse Benga. – Além do mais, tem mais de cinquenta desaparecidos, o máximo que vão falar é “Daremos um jeito”.

    N olhou em volta, procurando alguma ideia para despistar os policiais. Katrina, sua Purrloin, roçou o corpo em suas pernas, indicando que estava pronta para ajudar.

    — A-acha que consegue fazer isso? – disse o rapaz, conversando com a gata.

    A Pokémon ficou sobre as duas patas e fez uma cara determinada. Natural alcançou Katrina e a colocou em seu colo, acariciando seus pelos.

    — Por favor, se cuida.

    Ardilosa como as Purrloin de sua espécie, a gata deixou o abrigo e começou a caminhar por entre as pessoas. Seu alvo era óbvio: Um grupo de Stoutlands e Herdier que estava apenas ali, descansando, esperando ordens dos policiais para começarem mais uma investigação. Katrina sabia dos instintos daquela espécie de que eles nunca deixariam a oportunidade de caçar uma Purrloin solitária.

    A gata se aproximou de um Herdier que parecia o mais suscetível a causar alarde, a expressão atenta de quem vivia lotado de energia fazia seu focinho não parar de farejar o ar. Katrina chegou pelo lado do cão e entrou em seu campo de visão. Ele começou a farejar a gata, como se analisasse se valia a pena a atenção. Cruel, a Purrloin acertou um Scratch no focinho do Herdier.

    O cão comeu a latir irritado. Numa sinfonia, os outros de sua espécie imitaram o gesto. Katrina, provocante, correu por entre as pessoas. Isso criou uma reação em dominó, Herdiers e Stoutlands partiram em perseguição daquela pequena gatuna. Os policiais responsáveis e até mesmos os mais próximos tentavam conter o avanço. A confusão generalizada criou espaço para que o grupo se infiltrasse.

    Benga liderou o grupo até a entrada do sistema de esgoto e abriu a porta de ferro que não ajudava muito com o modo furtivo, mas com a confusão e gritaria, aquele fora o menor dos barulhos. O lance de escadas fazia o som dos passos parecer um cenário de terror, as luzes amareladas criavam uma atmosfera apavorante.

    O neto de Alder, que ia na frente, fez uma parada brusca quando notou algo preocupante. No final das escadas, era possível notar, quase invisível, uma névoa roseada que se movimentava levemente: Era o Dream Mist, numa quantidade nunca vista antes.

    — Eu acho que não é seguro respirar isso – apontou Bianca.

    — Por prevenção, coloquem algum lenço bem preso na boca e no nariz – disse Benga, alcançando um pano velho em sua mochila.

    Os outros três repetiram o processo com seus próprios pertences e logo, alcançaram de vez, o enorme sistema de esgoto de Castelia.

    Não era para ser um lugar agradável, na verdade, a construção não era pensada para ser bonita. As paredes tinham tijolinhos de argila vermelhos a mostra, enquanto o chão era feito de um cimento queimado composto com paralelepípedos, local onde os funcionários usavam para se locomover. Os dutos feitos de metal transportavam todo tipo de dejetos, estes conectados com estruturas verticais que levavam para os bueiros. As valas no cento dos caminhos escorriam água pluvial de forma contínua e calma.

    O grupo caminhava com cautela. A névoa dificultava um pouco da visão e nenhum deles possuía um mapa, então só restaram que eles explorassem todos os cantos em busca de qualquer pista de Angel.

    — Ei! O do cabelo verde – disse Benga, em algum momento do caminho. – Eu me toquei agora que eu não perguntei seu nome.

    N, que estava para trás na pequena fila formada pelos jovens, viu os outros três olharem para ele.

    — Ah, hã... Meu nome é Natural – apresentou-se. – Mas me chamam de N.

    — Seu apelido é a primeira letra do seu nome? – Benga arqueou a sobrancelha. – É, eu acho que fica maneiro. Pode me chamar de B, B de Benga – sorriu o menino, brilhoso.

    — O que faremos com Bianca então? – questionou Cheren, entrando na conversa. – Ela também começa com B.

    — É uma boa pergunta, C – refletiu o jovem de topete. – Oh, já sei, é só mudar a pronuncia. Be para mim e Bi para a Bianca.

    — Deixou de ser uma letra pra virar uma sílaba – argumentou o treinador de óculos.

    — Não dá pra ser perfeito – o rapaz deu de ombros. – N, aquela moça, Susan, ela é sua namorada?

    N sentiu o rosto ruborizar e Cheren cobriu o rosto, com vergonha.

    — Você não faz esse tipo de pergunta como se pergunta o nome de alguém! – disse o treinador, tão envergonhado quanto.

    — Qual é, C, você ainda também não me respondeu muita coisa – o neto de Alder passou o braço em volta do pescoço o garoto de óculos, quase o derrubando pra frente. – Responde aí, você e a Bi tão namorando?

    O treinador ajeitou os óculos. N reparou que Bianca também compartilhava a mesma vergonha. Aparentemente, aquele sentimento de ficar tímido perto de alguém especial não era só exclusividade sua. Benga riu alto, fazendo um pouco de eco, aparentemente ele era o único a não sofrer pelo mal do amor.

    — Ok, ok, eu fui muito malvado com você, então vamos mudar – brincou ele. – Quando ia contar pra gente dessa coisa maravilhosa que você tatuou? – questionou ele, batendo no braço do garoto onde a tatuagem da linha evolutiva de Snivy residia.

    N pareceu curioso e se aproximou um pouco. Tatuagens eram algo longe de sua realidade, a única vez que vira uma era com Mikoto, uma dAs Virtudes, mas ela não costumava falar sobre. Cheren levantou um pouco da camiseta, exibindo a marca para Benga, que elogiou o trabalho, perguntando valores e o tempo.

    — Doeu muito? – questionou ele, em seguida.

    — Mais perto do ombro doeu um pouco – explicou. – O tatuador falou que esse era um lugar bom pra quem queria fazer a primeira tatuagem.

    — P-Porque? – a voz de N saiu quase como um sussurro, mas o grupo todo olhou para ele. As olhadas o deixaram tímido, mas ele prosseguiu: - Tatuagens são permanentes e dolorosas. Você tatuou um Serperior, um Pokémon, por qual motivo?

    Cheren olhou pra cima, buscando uma resposta plausível.

    — Meu Pokémon inicial foi um Snivy, o nome dele é Phienas – o treinador começou a contar. – Ele me ajudou a capturar meu primeiro Pokémon, ele me ajudou a conquistar minha primeira insígnia. Eu acho que ele me ajudou muito e eu não sabia como retribuir. Isso daqui é o mínimo que faço por ele.

    Natural permaneceu quieto, assentiu com a cabeça, mas não pode deixar de esconder a admiração. Na cabeça dele, pessoas como Cheren só usavam seus Pokémon como armas de combate para subirem em um patamar invisível e sem sentido. Mas era a primeira vez que ouvira de um treinador valores que ele mesmo concordava.

    — Só admita que você acha Serperiors maneiros pra caralho – riu Benga.

    — Isso é um motivo também – o treinador concordou. – Agora, é minha vez de perguntar: O que a Íris quer tanto de você?

    — Ah! Ela quer meu-

    Uma onda de silêncio dominou o grupo de repente. Todos eles sentiram não estarem sozinhos. Cheren segurou a mão de Bianca, que encostou no garoto, temerosa. Benga achou se tratar da polícia, mas parecia algo muito maior. N notou que algo se movimentara rapidamente na vala ao seu lado, enquanto o treinador de óculos sentiu uma presença vinda das paredes e do teto.

    O neto de Alder sussurrou para os outros:

    — Devemos correr?

    Das paredes, a criatura surgiu intimidadora. Era uma cobra gigantesca, onde seu corpo era feito de pedra. Era um Onix, um dos Pokémos mais populares da região de Kanto. Ela enrolou-se em alguns canos antes de atingir o solo, na frente do grupo, fazendo certo impacto no chão.

    A segunda criatura foi a vista por N, ela saiu da vala e se juntou ao Onix. Era uma espécie de enguia, com o corpo azul escuro esguio que começava com uma bocarra avermelhada com 4 presas. Seu diferencial era os dois braços que ele usava como apoio para se locomover em terra, e, assim, como a boca, tinha garras afiadas. Cheren usou sua Pokédex e descobriu que se tratava de um Eelektross.

     

    Ambas as criaturas encaram o grupo de jovens com a intenção de não deixarem avança-los. Eles não eram naturais daquele local, então se imaginava que pertenciam a alguém. Bianca olhou em volta em procura do possível treinador daqueles Pokémon.

    — Tsc, é só pra dificultar – Benga pegou uma das Pokéball de seu cinto.

    — Espera! – Bianca alertou. – E-Estamos rodeados de Dream Mist, nossos Pokémon não vão ser atingidos por ela também? Eu até coloquei o Osha na Pokéball por isso.

    — E-Ela tem razão – disse Cheren.

    — Mas eles não parecem sentir – N apontou para as duas criaturas.

    — Devemos arriscar? – questionou o treinador de óculos.

    — Vamos morrer desse jeito – Benga arremessou sua Pokéball e colocou seu Dragonite no campo de batalha.

    O grupo olhou para o dragão amarelo do garoto e percebeu que a única reação dele era esperar algum comando de seu mestre.

    — Deve só atingir pessoas mesmo – Cheren lançou um de seus Pokémon. O pequeno Bagon grunhiu, com sua cara marrenta. O dragãozinho bípede era azulado e possuía braços curtos e pernas grossas. Seu focinho e mandíbula eram redondos, com as presas inferiores saindo para fora, no topo da cabeça, três calombos desciam até atingirem o pescoço.

    — Caraca, é um Bagon! – Benga se entusiasmou, como bom apaixonado por dragões que era. – Essa batalha vai ser boa.

    Natural fez uma cara de desaprovação, receoso por ver uma batalha Pokémon de perto pela primeira vez. Bianca lançou seu Tranquill, pronta para ajudar.

    — Vou tentar dissipar o Dream Mist com Gust pra ajudar na visão – disse a garota.

    Tanto o Eelektross quanto o Onix avançaram contra os Pokémon dos treinadores. Cheren ordenou um Dragon Breath enquanto o Dragonite avançou com Fire Punch contra o Eelektross. O Tranquill de Bianca voava próximo do teto, usando suas asas para criar tufões que dissipavam temporariamente a Dream Mist.

    O golpe do dragão azulado atingiu a face de Onix, que recuou levemente, protegendo seus olhos. Sua cauda girou e varreu o chão. O Dragonite ganhou vôo, Cheren agarrou a cintura de Bianca e se jogou para trás para evitar ser atingindo. N e Benga pularam para um lado oposto do casal. Porém, o Bagon não teve a mesma sorte, sendo arremessado para longe.

    — BAGON! – gritou seu treinador, preocupado.

    O pequeno dragão voou e caiu dentro da vala onde a água escorria. Por sorte, o nível dela estava baixo, possibilitando que o Pokémon não tivesse que nadar. Cheren sentiu um alívio ao ver que estava tudo bem. Benga ordenou um Slam contra o Onix, a fim de ganhar tempo para que o dragãozinho fosse trazido de volta a batalha.

    O Dragonite avançou contra a serpente de pedra e a prendeu contra a parede, danificando parte da estrutura. Bianca virou-se para seu Tranquill.

    — A-Ajude o Bagon do Cheren! Ele não consegue subir!

    A ave piou e mergulhou como uma broca em direção ao companheiro de batalha. Porém, o Eelektross era ágil. Golpes elétricos eram efetivos contra Pokémon voadores, então não foi difícil que o raio lançado pela enguia derrubasse a paralisasse o Pokémon de Bianca.

    — Ah, Arceus! – preocupada, a garota retornou a ave para sua Pokéball. – B-Benga!

    — Segura aí! Eu já chego! – Benga virou-se para seu Pokémon. – Larga ele aí, vamos ajudar Cheren e Bagon.

    O dragão alaranjado se distraiu por um minuto e recebeu uma cabeçada na região do queixo. Aquele golpe o atordoou e ele mal teve tempo de reagir quando o Onix usou seu corpo para envolvê-lo num golpe conhecido como Bind.

    — Ah, que merda!

    Duro como pedra, a cobra fazia questão de apertar cada vez mais o corpo do dragão. Benga ordenou diversos ataques, mas nenhum surtia efeito.

    Cheren estendia o braço, agachado na beirada da vala. Ele tentava alcançar o Bagon, que tentava escalar a parede úmida e escorregadia. N se alertou para o Eelektross se arrastando até a vala onde o pobre dragão estava. Ele se aproximou e tentou alcançar o Pokémon junto do treinador, já que era mais alto.

    — C-Cheren, o Eelektros! – Bianca gritou quando o viu a enorme enguia se juntar ao mesmo piso do adversário.

    — Droga! – o garoto jogou sua mochila de lado e desceu para a vala junto do Bagon.

    O dragão azul pulou em seu colo, apavorado. Cheren colocou o Pokémon em seu ombro e agarrou a mão de N para subir. O Eelektross encarava o grupo de humanos fazendo um resgate atrapalhado de um mísero Pokémon. O corpo do Pokémon enguia começou a faiscar e pelas condições do terreno, a condução seria efetiva e talvez mortal.

    O treinador arremessou Bagon para cima para onde N e Bianca estava. N agarrou o braço do garoto, tentando puxá-lo para cima. A enguia conjurou um Discharge em direção de Cheren. Bianca gritou, mas foi o Bagon que reagiu.

    Lógico que um Pokémon com aquela tipagem, um golpe elétrico não era tão efetivo, mas com o corpo coberto de água, a física faria seu curso natural. O choque atingiu até o último de seus órgãos e o Bagon caiu no solo, fragilizado. N entrou em choque e Cheren se soltou do garoto, correndo até seu Pokémon.

    — Cheren, cuidado! – gritou Bianca, preocupada.

    — Bagon, ei! – o treinador colocou o Pokémon em seu colo, preocupado. Algumas faíscas ainda rodeavam o corpo do dragãozinho. Ele grunhiu baixo, demonstrando exaustão. – S-Seu maluco, v-você já tinha fugido – Cheren mordeu a boca, quase chorando.

    N observava a dupla, ele pode ouvir a voz do Bagon. Palavras como “eu estou bem” ou “eu queria te proteger” eram ouvidas de alto e bom som. Todo aquele sentimento fazia o rapaz engolir com dificuldade todo o amargo de seu preconceito.

    O Eekletross grunhiu de impaciência, avançando para os dois. No momento, o Dragonite de Benga se livrou do Onix com um golpe aquático conhecido como Aqua Tail e voou em direção a enguia.

    Foi uma luz forte vinda do Bagon que fez o Pokémon fechar os olhos. Aquele brilho era conhecido por Cheren: era a luz da evolução. Bagon mudou radicalmente, os calombos em sua cabeça haviam dominado seu corpo e ele agora tinha uma forma ovalada, semelhante como um casulo. O Shelgon tinha quatro patas cinzas e curtas. Não havia cabeça ou qualquer distinção dessa parte do corpo, mas era possível observar os olhos amarelados e rabugentos projetados dentro de um buraco.



    Cheren sorriu, mas os problemas não haviam sido resolvidos. O Fire Punch do Dragonite chegou e derrubou o Eelektross, dando tempo para que N e Bianca ajudassem Cheren e o novo Pokémon subissem para o local seguro.

    — Se recuperem logo, eu seguro eles – disse Benga.

    Cheren tirava um pouco de água do cabelo quando Bianca o abraçou.

    — Seu idiota! – ela berrou, preocupada. – N-Não viu o tamanho daquela coisa?

    O treinador riu e bagunçou o cabelo da garota.

    — Esqueceu a parte que eu disse que ficaria tudo bem? – disse ele, se virando para seu recém evoluído Pokémon. – O-Obrigado, carinha. Salvou minha vida.

    Shelgon revirou os olhos, envergonhado. Cheren procurou itens de cura em sua mochila, aproveitando o tempo para recuperar seu Pokémon.

    Benga parecia estar com dificuldades. Apesar de ser um treinador experiente com o tipo dragão, não era tão fácil encarar dois Pokémon ao mesmo tempo. O nível de experiência dos adversários era alto, o que indica que genuinamente aquelas criaturas pertenciam a alguém.

    O treinador de cabelos vermelhos gritou, em desespero:

    — N! – o Rei dos Plasmas se assustou com o chamado repentino. – Eu sei que você odeia essas coisas, mas você não tem nenhum um Pokémon além de uma Purrloin? Eu realmente tô precisando de uma mãozinha aqui.

    O rapaz de cabelos verdes encolheu os ombros, sentindo-se culpado por não ajudar. Ele viu o Dragonite de Benga levar um golpe elétrico pelas costas e uma cabeçada do Onix no estômago e quase entrou em desespero. Colocou a mão cabeça, tentando raciocinar. Um estalo o trouxe de volta a realidade.

    — Só preciso de um minuto – N fechou os olhos.

    — PELO AMOR DE ARCEUS, NÃO É HORA DE DORMIR! – berrou Benga. – Dragonite, Hyper Beam!

    O dragão de Kanto lançou um raio amarelado contra o Eelektross que foi atingido em cheio e caiu há alguns metros de distância. O golpe era poderoso até mesmo para o seu próprio usuário, que precisava de um tempo de descanso para se recuperar. Isso criou espaço para que o Onix investisse.

    “Por favor, nos ajude”, pensou Natural, apertando mais os olhos.

    — DRAGONITE! – o grito de Benga ecoou pelo local.

    O golpe seria certo, mas o surgimento de mais uma figura conteve a investida. Seismitoad era uma espécie de sapo bípede de cor azulada bem menor que um Onix, mas seu corpo rechonchudo e cheio de esferas conseguiu segurar com facilidade a serpente. N abriu os olhos e sentiu seu coração leve ao ver que seu pedido de ajuda fora atendido. Os olhos engraçados e vermelhos do Pokémon novo encararam o adversário, como se ele tivesse incomodado por ter seu território invadido.



    Seismitoad usou um golpe de água contra o Onix. O golpe super efetivo derrubou o adversário.

    — Isso! – Benga comemorou, enquanto dava suporte para seu Dragonite.

    Cheren se levantou e se aproximou com Shelgon, indicando que estava pronto para batalhar novamente. O Seismitoad olhou para os jovens, em especial para N. O Rei dos Plasmas sorriu levemente e agradeceu pela ajuda. 

    Mas ainda restava um. Das costas do sapo, um golpe elétrico se chocou contra ele, mas ele se manteve inerte. A dupla tipagem de Water e Ground fazia o Pokémon ser um forte aliado no time de vários treinadores.

    — Hehehe – Benga riu, debochado. – Tu se ferrou, cara feia. Vamos acabar com ele, Cheren.

    O treinador ao lado assentiu. Shelgon e Dragonite lançaram um golpe conhecido como Hurricane. O vendaval fez Bianca se segurar em uma estrutura. A batalha foi declarada como ganha quando ambos os adversários caíram sobre o solo, nocauteados.

    — C-Conseguimos... – disse Bianca, ainda meio abismada.

    — Isso foi maneiro demais! – Benga pulou, em êxtase, como se nunca estivesse ficado tenso. – N, esse Pokémon é seu?

    Natural se aproximou do Seismitoad e tocou a pele gosmenta da criatura. Ele negou, com um sorriso de canto de boca:

    — Não, ele é só um dos meus novos amigos – riu o rapaz. – Ele tá me dizendo que uns caras vieram aqui mais cedo e perturbaram o sono dele com explosões. Quando ele notou, quase todo o esgoto estava cheio do Dream Mist.

    — E-E o que explica esses Pokémon? – disse Cheren, apontando para os Pokémon nocauteados.

    Uma luz avermelhada cobriu o corpo do Onix e do Eelektross e eles foram sugadas por ela. Esse acontecimento era como se alguém estivesse retornando-os para suas Pokéball. Isso fez o grupo pular de susto e procurar quem havia feito isso. As enormes criaturas haviam voltado para seu treinador misterioso e os jovens nem notaram quando um Dwebble sorrateiro rastejou para longe de lá pelo teto com as duas esferas em sua pedra.

    — E-Então... realmente pertenciam a alguém – concluiu Cheren.

    — E-Esquece isso! Temos que alcançar nosso objetivo! – Benga apontou para o caminho liberado, era possível ver a porta que levava para a sala de operações. – Teremos pistas lá!

    N se despediu do Seismitoad, agradecendo várias vezes pela ajuda e prometendo um reencontro. O sapo saltou na vala e voltou para o seu canto. Enfim, o grupo correu.

    Ninguém explicou a decepção dos jovens quando eles adentraram a sala de controle e não encontraram nada, muito menos Angel, o maior dos objetivos. Apesar de estar bagunçada, era como se tivessem feito uma limpa e tirado qualquer tipo de pista que acusasse algo. Havia apenas uma cadeira vazia e alguns itens policiais. O painel de controle, assim como os monitores estavam destruídos.

    — N-Não acredito! – Benga exclamou, incrédulo. – N-Não tem nada...

    A porta do local se abriu pela segunda vez. Alguns policiais irritados apareceram, descontentes por terem crianças invadindo o seu local de investigação. A missão estava concluída, mas sem nenhum avanço.

     

    Benga bufou, descontente. Na frente do Centro Pokémon, a confusão parecida mais controlada. O grupo havia se juntado novamente com Anthea, Concordia e Oliver, mas ainda não havia sinal de Susan. Eles estavam do lado de fora do centro médico, desanimados por não encontrarem a Lillipup desaparecida.

    — Certeza de que aqueles canalhas nos atrapalharam com aqueles dois Pokémon só para se livrarem das pistas – disse Benga, bagunçando o próprio cabelo. – UGH! QUE ÓDIO!

    — V-Valeu a intenção – consolou Íris, colocando a mão no ombro do garoto. O neto de Alder estendeu uma Pokéball para a Campeã, que olhou curiosa para ele.

    — Obrigado por ficar e cuidar do garoto – disse o rapaz de cabelos vermelhos. – Tá aí a parte da minha promessa.

    — E-Eu queria ter recebido isso num momento mais animador – disse ela.

    Cheren e Bianca observavam curiosos.

    — É um Pokémon? – questionou a garota loira.

    — Um Gible shiny – contou Benga. – Eu capturei enquanto treinava e essa daí ficou sabendo.

    — Tanto mistério. Eu já estava cogitando que ela queria um beijo seu – debochou Cheren.

    Benga e Íris encaram o treinador e quase voaram no pescoço dele. Aquilo criou um momento de descontração e fez todos rirem.

    N suspirou enquanto acariciava os pelos de Katrina em seu colo e olhou em volta. Ainda faltava alguém e isso o preocupava. Seu coração disparou de alegria quando ele viu Susan se aproximar. Em seu colo, a causa de toda a confusão e correria: Angel, a Lillipup.

    Oliver deu um pulo e abraçou a cachorrinha quando esta lhe foi entregue. A Lillipup choramingou e lambeu o rosto do garoto. A missão estava cumprida, ainda que cheia de incertezas e dúvidas.

    — O-Onde ela estava? – questionou N. – Você está bem?

    — E-Eu estou bem. T-Tenho meus segredos – respondeu Susan. – O importante é eles estarem reunidos.

    A mulher se sentiu aliviada por N não a encher de perguntas, já que o rapaz parecia mais interessado em Oliver e seu Pokémon.

    — O-Obrigado, pessoal! – o menino agradeceu, aliviado. O sorriso da criança era tão reconfortante que nada mais importava.

    Minutos depois, os pais de Oliver, Benjamin e Maisy apareceram. Estavam preocupados com o filho e com as notícias de desaparecimentos dos Pokémon. Ficaram aliviados quando viram o menino são e salvo. Eles se ajoelharam e lotaram a criança de perguntas sobre seu estado de saúde. Oliver se desculpou várias vezes por ter perdido Angel, mas para os dois adultos, o que importava era a segurança. Maisy agradeceu Anthea e Concordia por cuidarem do garoto.

    Quando a atenção foi voltada para o grupo de Cheren e Bianca, Susan sussurrou sobre eles precisarem partir. N olhou de relance para Cheren, que retribuiu o olhar, assim como Bianca e Benga. Não foi necessária nenhuma palavra para saber que eles agradeciam um ao outro pela ajuda e pela aventura. A despedida silenciosa soou com uma estranha sensação de “nos veremos novamente”. O grupo do Rei dos Plasmas sumiu no horizonte.

    O dia terminou com o grupo de Cheren sendo convidado para um jantar especial na casa de Oliver. A Team Plasma havia se safado novamente, mas aquilo não era problema por enquanto. No final, o jantar estava gostoso e tanto Cheren quanto Bianca puderam ter o merecido descanso.

        

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  • Capítulo 43

    Cheren acordou com uma forte de cabeça. Ficou surpresa que ao invés encontrar um céu azul, se deparou com a laje branca combinada com a luz de LED pálida de um hospital. Conforme seus sentidos foram se aguçando, ele pode escutar os passos apressados de pessoas e o cheiro de medicamentos. Estava em um hospital.

    Girou a cabeça para analisar o ambiente e viu que estava em uma ala compartilhada. A julgar pelo ambiente, era uma sala para ferimentos leves. Com dificuldade, se sentou, alcançando seus óculos – felizmente intacto -, na mesinha de cabeceira próxima.

    Uma enfermeira adentrou a sala e percebeu que o garoto acordara.

    — Oh, você acordou – disse a mulher, depositando uma bandeja com remédios na mesa de canto. – Como se sente? Você chegou aqui desacordado, mas estava apenas com alguns arranhões.

    — S-Só tenho dor de cabeça – respondeu o treinador, analisando alguns curativos em seus braços.

    — Trouxe um remédio para ajudar. Muitas pessoas se envolveram no acidente com o Beartic na Rua L – disse a enfermeira, estendendo o copo e um comprimido branco para o jovem.

    Prontamente, Cheren engoliu o comprimido. Sua mente ainda tentava lembrar o que acontecera. Ele quase pulou da cama quando se tocou do contexto e da situação.

    — C-Cadê o motorista do ônibus? – perguntou, temendo pelo pior. Afinal, o motorista tinha insistido que o garoto descesse primeiro. – E-E a Bianca?

    A funcionária do hospital se assustou com o desespero do rapaz. Ela refletiu, tentando raciocinar. Eram tantos pacientes que ela mal tivera tempo de decorar os nomes.

    — U-Uma garota de cabelos loiros – descreveu Cheren. – Ela estava com um Oshawott.

    — OH! A garota do Oshawott – a enfermeira estalou os dedos. – Ela está bem – a mulher apontou para o fim da sala.

    O treinador se levantou, se direcionando para a direção apontada, apressado. Sentiu um alívio no peito quando encontrou a garota sentada em sua maca, com apenas uma faixa enrolada em volta da testa e alguns curativos. O Oshawott da menina choramingava em seu colo, mostrando que estava preocupado e assustado.

    — T-Tá tudo bem agora, Osha – riu Bianca, acariciando os pelos brancos da lontra. – Foi só um susto – ao ouvir os passos, ela olhou para o lado. – C-Cheren?

    Quando pequeno, Bianca sabia que Cheren sempre escondia seus sentimentos atrás de um par de óculos e a expressão fria. Mas não era culpa dele, era como se o garoto fosse treinado para apenas se importar com coisas mais importantes: Ser perfeito. Na escola, a loira se impressionava com a inteligência do garoto, mas sempre ria quando ele ficava encabulado com os abraços.

    E, como da água para o vinho, era a vez de Bianca se encabular com abraços. Cheren envolveu a garota num abraço apertado. Seu rosto se apertou contra o peito do treinador e ela ficou corada.

    — G-Graças a Arceus – disse Cheren. – A-Achei que estava ferida.

    — A-ah... H-hã... – em transe, Bianca mal sabia o que responder.

    O treinador se afastou e olhou pra garota. O rosto avermelhado de Bianca fez o garoto ficar igualmente tímido, principalmente quando ele percebeu que outros pacientes os observavam, maravilhados com o amor juvenil.

    — E-Então – ele coçou o cabelo. – D-Desmaiamos com o susto.

    — É-é – assentiu a loira. – Q-Que bom que você está bem...

    Uma terceira figura chamou a atenção dos dois. E pela voz grossa e mal-humorada, dava pra saber exatamente de quem era.

    — Tsc, vocês dois me deram um baita susto – era o motorista do ônibus, estava com a perna enfaixada, indicando que seu ferimento fora mais grave, mas ele parecia bem, considerando a lucidez. – Mas eu fico feliz que estejam bem. E obrigado por salvarem a minha vida.

    Cheren e Bianca sorriram, duplamente aliviados em verem que aquela figura mal encarada estava bem.

    — Obrigada por nos ajudar – Bianca sorriu gentilmente, fazendo o senhor corar levemente, sentindo o coração aquecido.

    — De toda forma – ele coçou a garganta. – Finalmente vou poder descansar um pouco da droga daquele emprego. Estou ansioso para aproveitar minha família.

    A enfermeira de antes se aproximou e sorriu.

    — Falando em família, já contatei a sua esposa – disse para o motorista. Logo em seguida, ela se virou para Cheren e Bianca: - A família de vocês também foi contatada, eles estão vindo pra cá.

    Por um minuto, os dois se esqueceram completamente do status de fugitivos. A garota gelou e olhou para o treinador, imaginando o que faria se fossem pegos. Cheren engoliu seco e agarrou a mão de Bianca. Só tinha uma alternativa conhecida: continuar fugir.

    — E-Então... A gente precisa ir – o treinador começou a andar, pegando seus pertences.

    — E-Espera! – a enfermeira estendeu o braço, confusa com a repentina ação.

    — O-Obrigado pelos cuidados!

    A dupla apressou o passo e saiu da sala. Ambos notaram estarem sendo seguidos pela funcionária do hospital, mas não olharam para trás. Se estreitaram no meio das pessoas e dos corredores lotados. Cheren não largava a mão de Bianca, apressado em despistar a atenção da mulher.

    Saíram com certa folga do hospital pela porta da frente, mas isso não os fez descansar. Eles continuaram a correr alguns quarteirões até terem certeza que podiam descansar. Encostaram na parede de uma cafeteria com pouco movimento e respiraram fundo, recuperando fôlego.

    — Me sinto um fora da lei fugindo desse jeito – comentou Cheren.

    — Em parte somos – riu Bianca. – Somo dois menores de idade fugindo de casa.

    — Você não precisava me lembrar disso – riu o treinador, em resposta. Ele olhou pro lado e viu a cafeteria e sentiu a boca seca. – Quer beber algo? Tô morto de sede.

    — Q-Querer eu quero, mas não estamos apresentáveis – apontou Bianca.

    Os dois olharam para si próprios. As roupas eram as mesmas, mas estavam sujas e surradas. A humilhação foi maior quando notaram que ainda usavam as pantufas do hospital (pelo menos eram macias).

    — P-Pelo menos ainda temos nossas coisas – disse Bianca, tentando ser positiva, apontando pra bolsa.

    — Cara, vocês estão horríveis. Em que buraco se enfiaram? – a voz familiar soou como uma maldição para Cheren.

    O treinador se virou e se deparou com Benga, saindo da cafeteria, acompanhado de Íris, a nova Campeã de Unova. Era uma dupla inusitada, mas esse nem era o foco maior. O neto de Alder cruzou os braços, analisando a dupla.

    — O que houve com vocês dois? – questionou.

    — E-Eu não sei se tô incrivelmente irritado por rever você ou se estou aliviado – disse Cheren. – Precisamos de roupas novas, nós meio que saímos do hospital agora.




    O hotel que Benga estava hospedado tinha um toque aconchegante típico desse tipo de local. No caminho, foi informado para Cheren e Bianca que o garoto estava em Castelia a pedido do avô, que estava resolvendo algumas coisas da Liga.

    A dupla fugitiva aproveitou a oportunidade de ouro para um banho. Cheren recebeu uma camiseta de cor neutra e uma calça jeans, enquanto Bianca recebeu uma saia e uma blusa de lá, eram roupas provisórias até que as antigas ficassem limpas.

    — Então vocês estavam fugindo de Nuvema, se envolveram em um acidente, foram parar num hospital, e agora, fugiram do hospital porque descobriram que chamaram seus pais? – questionou Benga. – Isso não é muito para um capítulo só?

    — É difícil raciocinar desse jeito – disse Cheren. – Mas acho que nunca senti tanta adrenalina na vida.

    — Aliás, que espécie de fuga é essa? – questionou o garoto de cabelos vermelhos. – Vocês são uma espécie de casal em fuga? Fugindo das garras de reprovação de seus pais?

    A dupla corou.

    — N-NÃO É ISSO! – berrou Bianca, envergonhada.

    — V-Você entendeu tudo errado – Cheren ajeitou os óculos, envergonhado. – E-Estamos só... tentando viver nossas vidas – explicou-se, ainda que parecesse mais idiota. – ALIÁS! E VOCÊS DOIS TAMBÉM?! Eu nunca vi dupla mais inusitada que isso.

    — C-Cheren... – sussurrou Bianca. – V-Você não tá reconhecendo ela?

    O treinador analisou Íris. Talvez seja pela mudança de roupas, já que a garota usava uma blusa bege com detalhes em rosa e uma calça ¾ branca, bem diferente do vestido bufante que usara na batalha contra Alder. Olhando assim, ela só parecia uma garota normal.

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    Benga respirou fundo.

    — Essa daqui é a Íris – ele estendeu o braço para mostrar a garota. – Ela é a Campeã de Unova, mas aparentemente, não sabe andar numa cidade como Castelia.

    A campeã olhou para o rapaz, enfezada. Ela usou o calcanhar para atingir o pé do garoto, que urrou de dor.

    — Eu nem queria estar com um selvagem como você – respondeu ela. – O tio Alder pediu para que você me acompanhasse pela cidade enquanto ele resolvia algumas coisas da liga. Eu ia acompanhar, mas o tio Drayden se ofereceu para resolver tudo pra mim.

    — Nem acredito que uma criança como você conseguiu ganhar do vovô – murmurou Benga, enfezado.

    Íris se aproximou do rapaz, provocativa.

    — Obrigada por me lembrar que eu sou uma treinadora incrível – debochou. – A partir de hoje, você me chame de Princesa Íris.

    Cheren e Bianca observaram a face de Benga ficar vermelha de raiva, tão vermelha quanto as mechas arrepiadas de seu cabelo.

    — Mas nem que se eu tivesse com uma guilhotina na minha cabeça – retrucou ele, irritado.

    Íris riu, se virando para a dupla.

    — É-é um prazer conhecê-los – sorriu a Campeã. – Ainda não entendi a relação de vocês com o Benga direito, mas logo vou me acostumar.

    — É uma honra conhecer a Campeã mais nova de Unova – ressaltou Bianca, sorrindo.

    Cheren coçou a garganta.

    — D-Desculpe por antes. Você é uma treinadora muito habilidosa – envergonhado, ele coçou a nuca. – Meu nome é Cheren, essa é a Bianca.

    — Ora, p-parem com os elogios – envergonhada, Íris coçou os cabelos volumosos e longos. – N-não tô acostumada.

    — Você tá se achando o máximo, isso sim – debochou Benga.

    A Campeã encarou o garoto com um olhar ameaçador, que tremeu.

    Bianca e Cheren riram de leve, “Eles combinam, de alguma forma”, pensaram. A garota de cabelo loiro sentou-se na beirada da cama, perto de onde seu Oshawott repousava, exausto de tanta correria.

    A garota acariciou o topo da cabeça da lontra de água, com um sorriso em canto de boca.

    — Desculpe pela correria, Osha – disse a menina, carinhosa. – Agora podemos descansar.

    Bianca estranhou quando notou a fronte de seu Pokémon estava baixa. Seus curtos braços estavam contra a concha em sua barriga e eles tremiam feito um Snorunt. A garota colocou o inicial de água em seu colo e notou que ele suava frio.

    — O-Osha, tá tudo bem? – questionou a menina. Os outros presentes pararam para observar.

    A lontra inclinou seu corpo para o lado e golfou. O ato criou alarde e gerou desespero em Bianca. A resposta era óbvia: Oshawott não estava bem e necessitava de um Centro Pokémon. O ato foi sugerido por Benga e logo foi aceito pelos demais.


    Não que um atendimento seria rápido, existia o pequeno detalhe da cidade de Castelia estar sofrendo de uma crise de abandono em massa de Pokémon e cada vez mais surgiam pacientes. Havia até mesmo pessoas, que no desespero, levaram parentes ou amigos próximo para o centro para serem atendidos.

    O local estava uma bagunça. Do lado de fora, vários repórteres e policiais tentavam obter informações para investigações. O grupo não se atentou a isso, preocupado em apenas arrumar espaço entre as pessoas a fim de alcançar o balcão principal.

    — C-Com licença! – dizia Bianca, com o Oshawott contra seu peito. – É uma emergência!

    Cheren ajudava a garota a abrir caminho, por ser maior, ele permitiu que eles chegassem em seu destino. Bianca sentou Osha no balcão de madeira, chamando a atenção de uma enfermeira que carregava uma bandeja com Pokéball.

    — E-Enfermeira Joy! – gritou Bianca, em prantos. – Meu Oshawott está mal! Por favor, ajuda ele!

    — H-Hã, v-você pode esperar? – perguntou a enfermeira, com a expressão de quem estava sobrecarregada. – T-Tem outras pessoas na frente – a mulher de cabelos róseos apontou para atrás do grupo. Havia pelo menos cinquenta pessoas na fila de espera.

    — M-Mas, ele vomitou, ele está mal! Ele está tremendo, diferente do normal! E se ele tiver algo grave?! – era a vez da tutora do Pokémon de água começar a tremer.

    Cheren colocou as mãos nos ombros da companheira, oferecendo suporte. Ele tentou manter a calma, mesmo estando afetado em ver Bianca naquele estado.

    — Pode oferecer algum remédio enquanto esperamos? – questionou.

    — Se ele vomitou, podem oferecer algo para mantê-lo hidratado – a enfermeira estendeu o braço e apontou para uma máquina de venda automática de bebidas e alimentos ao lado dos sofás da área de espera. – N-Não posso medicar ele sem uma consulta.

    O treinador suspirou, assentiu e agradeceu. Ele passou o braço em volta do ombro de Bianca, e guiou a garota e o seu Pokémon para a área de espera. Íris e Benga se aproximaram em silêncio, preocupados. Cheren foi até a máquina de bebidas e comprou uma limonada em lata, se aproximando da garota para entregar a ela.

    Bianca agradeceu e ajudou o Oshawott a bebê-lo. Benga olhou em volta, sentindo uma atmosfera familiar como o acontecido em Accumula. As expressões de confusão, os olhares perdidos, tudo era uma indução caótica e o inimigo era silencioso.

    — Acho que tá claro pra gente que foram os mesmos idiotas que fizeram aqui o que aconteceu em Accumula, né? – questionou o neto de Alder. – Acha que foi o mesmo maluco de cabelo branco?

    — Difícil dizer – refletiu Cheren. – Impossível um cara daquele agir sozinho. Unova é muito grande e ele atacou praticamente a capital da região.

    — Talvez ele não esteja sozinho... – apontou Bianca. – Quando eu, Hilda e Hilbert investigamos o desaparecimento da Musharna da senhorita Fennel, o homem de cabelos brancos que vimos em Accumula estava lá – contou ela, se lembrando. – Um homem estranho apareceu e o chamou de Tsuyo. Ele fazia parte da Team Plasma.

    — Espera, Plasma? – questionou Benga. – Plasma e o Dream Mist estão envolvidos?

    — F-Foram eles que mataram Munnas no Dreamyard para recolher alta quantidade do Dream Mist – disse Bianca, com a voz baixa.

    Íris levantou a mão.

    — Espera, vocês estão falando dos Plasmas? Aquela equipe nas redes sociais que resgata Pokémon e alerta sobre os maus tratos com eles? – questionou a Campeã.

    — Não podem ser os mesmos – refletiu Benga. – Mas é o mesmo nome.

    — Isso é tudo muito estranho – comentou Íris.

    A atenção foi rapidamente desviada por uma mulher de cabelos róseos, vestido branco e um cardigan verde em volta dos ombros. Ela se aproximou do grupo como um anjo, sua voz era baixa, mas audível, com uma educação de uma duquesa:

    — Com licença, desculpe atrapalhar a conversa de vocês. Eu estou procurando uma Lillipup, o nome dela é Angel. Ela estava usando uma coleira rosa, com detalhes de florzinha. É de um garotinho e ele está preocupado.

    Bianca olhou para cima, reconhecendo as características dadas. Antes que ela pudesse comentar algo, uma outra figura se aproximou. Os cabelos verdes e a expressão calma faziam ele parecer um ser celestial. Sua atenção, porém, não estava nos humanos, e sim, no doente Oshawott no colo de Bianca.

    N estendeu a mão e a colocou gentilmente sobre a cabeça da lontra. Bianca se assustou, mas a aura que o rapaz trazia era de tranquilidade. O inicial de água olhou para o jovem, seus olhos azulados eram de ternura e compreensão, em seu ombro, uma Purrloin curiosa, apegada a seu mestre.

    — Está tudo bem agora, pequeno – ele acariciou os pelos macios de Oshawott. – Sua amiga humana está bem, eu sei que deve ter sido um acidente perigoso, mas ela parece bem e está preocupada com você.

    Para Susan, Anthea e Concordia, aquela era uma situação normal, mas era impagável a reação dos treinadores. Osha olhou para sua companheira e grunhiu. Bianca sorriu levemente e o abraçou.

    — O susto te deixou em pânico, né? – perguntou. – Mas eu estou bem, eu prometo – depois, ela virou seu olhar para N. – O-Obrigada.

    Natural sorriu levemente. O leve silêncio deixado pela situação foi interrompido quando Oliver, o mais interessado no sequestro de sua Lillipup, se aproximou com Concordia e reconheceu Bianca.

    — Ah! Bianca! – o garoto finalmente demonstrou um sorriso e correu para abraçar a conhecida.

    — O-Oliver – disse Bianca. – Espera, roubaram a Angel?!

    O primo de Hilda assentiu. Ele olhou para Cheren e cumprimentou o treinador.

    — Como aconteceu? – perguntou o treinador.

    — Uma moça veio correndo, trombou em mim – contou Oliver. – Ela parecia apressada, tava fugindo da polícia. Quando eu notei, ela tinha pegado a Angel.

    — N-Não tem motivo para roubarem a Angel. Vocês têm alguma pista pra onde ela foi?

    O garoto negou, lentamente.

    — Não se preocupa, Oliver – disse Bianca, acalmando o menino. – Nós vamos te ajudar a achá-la. Por onde vamos começar?

    Benga se aproximou. Havia se afastado pois estava curioso com uma conversa, e pela cara que fez, tinha descoberto algo.

    — Ouvi dois policiais conversando sobre o desaparecimento repentino de um Beartic na Avenida L – contou. – Eles desconfiam que quem esteja envolvido com esse surto, está envolvido com quem está sequestrando os Pokémon.

    — Espera, estão roubando os Pokémon também? – questionou Íris.

    — Pelo o que deu pra escutar, já teve umas cinquenta denúncias de desaparecimento – contou o garoto de cabelos vermelhos. – Isso é muito estranho. De que lado esses caras estão?  De qualquer forma, o que importa é: Procurando por pistas, eles descobriram que o ataque possa ter vindo de baixo.

    — De baixo? – questionou Bianca, curiosa.

    — Dos esgotos – afirmou Benga.

    — Se as pessoas que atacaram são as mesmas que estão roubando, então... – Cheren começou a refletir na situação.

    — Quer dizer que o lugar na qual estão reunindo os Pokémon roubados só pode estar no esgoto – completou Íris, seguindo o raciocínio. – Faz todo sentido, é um lugar que quase ninguém vai e perfeito para uma base secreta.

    — V-Vocês acham que a Angel está lá, então? – questionou Oliver, com um pingo de esperança e com muita inocência em achar que as coisas eram simples.

    — Provavelmente, é um lugar a se procurar – animou Benga. – Eu vou pra lá agora, quem vem comigo?

    Anthea e Concordia se entreolharam, depois, olharam para Susan. Assim como as irmãs de N, a mulher de cabelos negros sabia que toda aquela parafernália era obra da Team Plasma, a questão era: Natural, o Rei dos Plasmas, não sabia de todos os planos atrozes de seu pai, como esconder isso do garoto? Concordia tomou a frente:

    — Nós ficaremos com Oliver – disse, estendendo a mão para o garoto.

    N olhou para Susan, com um olhar confiante.

    — Virá comigo?

    A mulher se curvou levemente, como uma dedicada guarda-costas. Ela assentiu e respirou fundo. Em sua cabeça, na verdade, só girava pensamentos de como afastar N da verdade.

    Cheren e Bianca se ofereceram para acompanhar Benga e o próprio N. O treinador tirou a Pokédex de sua mochila, usando-a para encontrar a localização da entrada do sistema de esgoto. O objeto causou repulsa em Natural, que jogou seu corpo para trás e sentiu o ódio correr em seu sangue. Aquele maldito objeto, era por causa daquele aparelho cheio de barulhos irritantes, que todos seus amigos Pokémon eram maltratados, capturados e estudados como seres inanimados.

    — Eu já deveria saber qual era a laia de vocês – a voz ameaçadora do rapaz chamou a atenção do grupo. Os olhos azulados brilhavam por baixo da sombra das mechas finas e curtas de sua franja. – As mochilas, o cinto com esses objetos repugnantes, esse aparelho. São treinadores Pokémon, certo? Não preciso da ajuda de vocês!

    Susan se manteve em silêncio, Oliver segurou a saia de Anthea, Bianca e Cheren o encaravam surpresos, enquanto Benga e Íris não pareciam muito pacientes com a grosseria. Quem era aquele maluco?

    — Vamos, Susan – de cabeça erguida, N começou a se dirigir para a saída.

    — Espera aí, esquisitão! – Benga levantou a voz. O Rei dos Plasmas lhe deu atenção. – Que história é essa?! Você nos ofende como se tivéssemos te batido e depois sai sem ouvir nada. O que tem de errado com as minha Pokéball? O que há errado com a Pokédex de Cheren? O que há de errado em treinadores? Aliás, o que há de errado com você?!

    — Posso ouvir a voz de cada Pokémon aqui presente – ele disse, com convicção. – E as vozes me disseram que há dor e sofrimento. Eles se sentem presos, sozinhos e tristes por estarem longe de casa, longe de onde eles deveriam estar. Vocês usam essas coisas para ajudar a si próprios a criarem um confinamento para cada espécie. Vocês são a escória do mundo!

    Benga sentiu o sangue ferver, sua mão fechou-se num punho.

    — Você não sabe de nada, esquisitão! Nossa intenção nunca é machucar os Pokémon!

    — Treinam seus Pokémon como máquinas para imitarem aquelas figuras idiotas que se intitulam uma elite! – retrucou. – O que há com aquele que chama de Campeão? Qual é o troféu dele?! O sangue derramado.

    Os que conheciam Íris e seu título olharam para a garota, que mantinha a fronte calma. Mas Benga não parecia carregar a mesma paciência, já que sentira as dores de seu avô (ou da própria garota ao seu lado).

    — Você é muito idiota julgando as pessoas dessa maneira – retrucou o neto de Alder. – É só olhar para sua volta! Estamos em um hospital para Pokémon, esse lugar tá abarrotado de gente preocupada com seus queridos amigos!

    — APENAS PARA OS LOTAR DE REMÉDIOS E JOGÁ-LOS NO CAMPO DE BATALHA NOVAMENTE! – gritou N. – VOCÊ TEM NOÇÃO DE QUÃO SUPERFICIAL É ESSA RELAÇÃO? VOCÊS AO MENOS PERGUNTARAM SE OS POKÉMON QUEREM ISSO?!

    Cheren abaixou a fronte, guardando a Pokédex, envergonhado até pela sua relação com seus próprios Pokémon. Lembrou da vez que ficou dias na Pinwheel Forest em busca de um Bagon, apenas uma peça perfeita para seu time. Isso queria dizer que os mais comuns não eram? O quão mesquinho ele fora?

    Benga, porém, não parecia compartilhar da mesma opinião e se manteve firme. Ele cerrou o punho e o levantou, como quem ameaça atacar. Ágil como o vento, Susan colocou o braço entre o garoto e o seu protegido, mantendo uma expressão nunca vista antes: séria e pronta para revidar.

    Íris apartou o clima de tensão colocando as duas mãos em volta do punho fechado de Benga. O garoto encarou a menina, mas sua feição mudou quando viu o rosto sereno dela. Ele abaixou a mão e virou o rosto, tentando relaxar. A Campeã, então, deu um passo à frente.

    — É um prazer conhecê-lo, senhor – a educação de Íris era semelhante de uma princesa mesmo. – Meu nome é Íris Kingstone, atualmente, sou a Campeã da região de Unova e também cabeça da Elite dos 4.

    N a encarou com um anjo encararia um pecador. Com um sorriso levemente curvado, ela continuou:

    — Entendo sua preocupação com os Pokémon e também compartilho o sentimento de considerar os Pokémon como nossos amigos – contou. – Na Elite 4 e na Liga, todos nós nos preocupamos com o bem-estar de nossos Pokémon. Muito mais que um troféu para o treinador que se tornar Mestre, oferecemos oportunidades para estreitar laços entre Pokémon e treinador.

    — Desde quando você fala bonito? – questionou Benga, irônico, recebendo uma cotovelada logo em seguida.

    — De toda forma, nos preocupamos com os Pokémon tanto quanto você – concluiu Íris.

    O clima de silêncio pairou o ambiente. A expressão de seriedade de N indicava que ele não cederia aos seus valores facilmente, muito menos seria flexível. Susan, por sua vez, finalmente abaixou o braço que protegia o rapaz e olhou para ele, deixando a decisão do que fazer nas mãos dele. Oliver segurava a roupa de Anthea quando resolveu falar:

    — E-Então vocês não vão mais salvar a minha amiga Angel?

    O resto do grupo virou o rosto, todos igualmente envergonhados pela confusão quando, na verdade, deveriam direcionar todas as forças para um único objetivo. N respirou fundo e lembrou que deveria colocar os Pokémon acima de tudo, inclusive de seus próprios valores, aliás, eles eram a razão destes. Num tratado de paz, ele estendeu a mão para Benga.

    — Se vocês realmente amam os Pokémon, então, assim como eu, vão abandonar todos os preconceitos e ajudar, certo?

    O garoto encarou a mão pálida do rapaz e logo selou as mãos com um aperto forte. Cheren e Bianca sorriram, aliviados, logo se levantaram, pronto para partirem. Íris juntou as mãos, contente e disse:

    — Então vamos!

    Benga agarrou o pulso da Campeã.

    — Você não vai – disse, firme.

    — E porque não?

    — Você é muito idiota, vai se perder fácil. Pode ser perigoso e eu não quero que se machuque – Benga sentiu a espinha arrepiar. – Drayden me ameaçou de morte se algo acontecer com você. Já viu o tamanho daquele homem? Aquilo mata um Haxorus no soco.

    Íris desvencilhou-se da mão do rapaz.

    — Esqueceu meu cargo aqui?! – questionou. – Eu sou a Campeã de Unova e sei me defender.

    — Não deixa esse seu cargo subir à cabeça não! – gritou o outro, argumentando. Ele logo recuperou a calma: - É sério. Só... fique aqui. O garoto vai ficar e vai precisar de uma pessoa forte junto com ele caso algo aconteça.

    Íris observou a expressão preocupada do amigo e cruzou os braços, virando o rosto, levemente envergonhada.

    — Vou querer que me dê aquilo depois, então.

    Benga engoliu o orgulho.

    — Ok, ok. Combinado.

     




    O grupo composto por N, Susan, Benga, Bianca e Cheren deixou o Centro Pokémon. Eles se posicionaram na esquina, onde estava mais calmo. O treinador de óculos analisava o mapa da cidade em sua Pokédex.

    — O escritório da agência de tratamento fica na rua R – explicou. – Mas existe um acesso direto para os esgotos no Deck 1, a sudoeste da cidade.

    — É perto da Avenida de Entrada, deve estar um caos lá – analisou Benga. – Então tenham cuidado.

    N observava os jovens debaterem sobre o que fazer quando notou Susan se afastar.

    — O que foi?

    — Hã... Vamos nos separar – disse, despertando a surpresa em N. – É muito arriscado cobrir apenas dois locais, então eu vou dar uma volta na cidade em busca de pistas. Você fica com eles.

    Natural olhou com certo receio para a mulher, no fundo, ele ainda era uma criança com medo de ficar sozinha. Susan se aproximou e beijou a testa do rapaz, que corou.

    — Ficarei bem. E você também – em seguida, sem prolongar, ela correu.

    A mentira fora boa, mesmo ela odiando enganar N. A verdade é que Susan sabia de tudo que envolvia o Dream Mist até o roubo dos Pokémon, mas não podia deixar que N descobrisse tudo, então tinha que agir de forma rápida. Ela alcançou um pequeno aparelho ovalado em sua roupa e colocou no ouvido, procurando comunicação com um segundo membro dAs Virtudes. Quando ouviu o chiado da ligação atendida, ela falou:

    — Tsuyo, temos problemas...

     

       

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