• Sunday, September 4, 2022

     


    Tsuyo contava o lucro do furto realizado quando notou que alguém tentava contatá-lo através do ponto preso em seu ouvido. Imaginou ser Maggie, já que a garota continuava atrasada e já passara da hora do almoço e isso o deixava insatisfeito. Quando ele aceitou a ligação, ouviu-se a voz de Susan, umas dAs Virtudes e filha de Gorm, dos Seven Sages:

    — Tsuyo, temos problemas...

    — Problemas? – questionou o ninja, se levantando, indo até o beiral do prédio, conferindo se o prédio estava cercado ou algo do tipo.

    — Estou de passagem por Castelia com o Rei e suas irmãs – contou a mulher. – Tivemos alguns problemas envolvendo um garotinho e seu Lillipup desaparecido.

    — Isso não é uma missão muito digna para uma membra dA Virtude – ironizou Tsuyo.

    — Eu sei – ela suspirou. – O problema é que um grupo de treinadores resolveu se juntar a “equipe de buscas”, e eles descobriram da nossa base no esgoto, além de desconfiarem das nossas ações.

    — O que sugere que façamos? – questionou o rapaz de cabelos brancos, tendo sua atenção desviada para a chegada daquela que ele esperava: Maggie.

    A garota ruiva sentou-se no chão, respirando fundo.

    — Avisarei Mikoto para se livrar das pistas no esgoto que denunciem quem somos – disse Susan. – E se você avistar um Lillipup com uma coleira, por favor, me traga.

    — Acho que vou ter a resposta em breve – Tsuyo cortou a comunicação com a colega de equipe e se aproximou de Maggie. – Você demorou – a expressão dele não era das mais amigáveis.

    A Shadow Triad observava de longe, silenciosos e desinteressados, presos em seus próprios mundos. O ninja cruzou os braços e esperou uma resposta da garota.

    — Eu tive problemas... – respondeu Maggie, envergonhada. – Não consegui pegar nada e ainda tive que fugir da polícia quando tentei capturar um Stoutland.

    — Foi um erro ter trazido você – Tsuyo disse, ríspido. A treinadora encolheu os ombros, envergonhada.

    — Eu tentei, senhor Tsuyo – Maggie estava sem palavras, nem tinha como argumentar. Ela apenas tirou a mochila de suas costas e a colocou com certo impacto no chão. Foi o som de grunhido vindo do objeto que despertou a atenção de todos.

    A garota agachou e abriu o zíper, sendo surpreendida por uma Lillipup com uma delicada coleira rosa. A cachorrinha latiu, completamente fora da noção da situação. Ela apoiou as patinhas para fora da bagagem, curiosa com os outros presentes.

    — Isso foi o lucro que foi trazer você pra cá? – disse Tsuyo, cruzando os braços. – Tem pelo menos cinquenta Pokéballs com Pokémon poderosos, e tudo que a senhorita me trouxe foi um Lillipup de apartamento?

    — E-Eu nem percebi que isso estava aqui – explicou-se a ruiva, segurando a Lillipup no colo, enquanto tentava impedir que ela lambesse seu rosto. – P-Provavelmente foi quando eu trombei com aquela criança.

    — Qual é a sua intenção com a equipe, Maggie? – Tsuyo se fez intimidador. – Se quer tanto ganhar dinheiro, tem que merecer! Por causa dessa sua burrada, existe um grupo de pessoas desconfiando da gente! Você tá tentando ser forte, mas você é só uma criança brincando! Era igual ao Peter, ele achava tudo isso uma grande piada enquanto brincava de casalzinho com você!

    Maggie avançou a acertou um tapa contra o rosto de Tsuyo. A Shadow Triad até mesmo deixaram o desinteresse de lado para olhar a atitude rebelde.

    — EU NÃO LIGO DE VOCÊ ME CHAMAR DE CRIANÇA, EU SEI QUE NÃO SOU EXPERIENTE! – ela começou a gritar. – MAS NUNCA OFENDA ALGUÉM QUE NÃO PODE SE DEFENDER! DEIXE O PETER EM PAZ!

    O tapa havia tirado a máscara utilizada pelo ninja. A cicatriz na região da mandíbula em formato de X explicava o motivo do rapaz estar sempre com o acessório. Ele ajeitou o pano no rosto e seus olhos sorriram.

    — A melhor coisa é atacar quando a vítima não tem nem chance de revidar – ele disse, de forma psicopata. – Irei relatar que você precisa voltar ao treinamento, você ficou fraca novamente e não está pronta para missões de grande porte.

    O ninja tirou a Lillipup dos braços da garota.

    — Eu preciso devolver isso antes que as coisas saiam do controle.





    Havia caixas de madeira empilhadas no deck. A composição delas fazia parecer que eram como um muro, elas aguardavam serem embarcadas no navio cargueiro próximo, mas para os quatro jovens, aquilo era um esconderijo perfeito.

    Aquele local estava bem movimentado, seja por funcionários responsáveis pelo transporte de cargas marítimas, seja pelos grupos de policiais em volta da entrada para o sistema de esgotos. A entrada era bem semelhante a um bunker. Benga encarava o grupo de pessoas, analisando o cenário.

    — Não vai ser tão fácil entrar – concluiu o neto de Alder.

    — O local deve estar interditado – refletiu Cheren. – Eles não vão querem ninguém alterando as provas do crime.

    — N-Não é melhor que nós expliquemos para ele a situação e eles procurem algum sinal da Angel? – questionou Bianca.

    — Eles não vão parar uma operação desse tamanho para procurar uma Lillipup – disse Benga. – Além do mais, tem mais de cinquenta desaparecidos, o máximo que vão falar é “Daremos um jeito”.

    N olhou em volta, procurando alguma ideia para despistar os policiais. Katrina, sua Purrloin, roçou o corpo em suas pernas, indicando que estava pronta para ajudar.

    — A-acha que consegue fazer isso? – disse o rapaz, conversando com a gata.

    A Pokémon ficou sobre as duas patas e fez uma cara determinada. Natural alcançou Katrina e a colocou em seu colo, acariciando seus pelos.

    — Por favor, se cuida.

    Ardilosa como as Purrloin de sua espécie, a gata deixou o abrigo e começou a caminhar por entre as pessoas. Seu alvo era óbvio: Um grupo de Stoutlands e Herdier que estava apenas ali, descansando, esperando ordens dos policiais para começarem mais uma investigação. Katrina sabia dos instintos daquela espécie de que eles nunca deixariam a oportunidade de caçar uma Purrloin solitária.

    A gata se aproximou de um Herdier que parecia o mais suscetível a causar alarde, a expressão atenta de quem vivia lotado de energia fazia seu focinho não parar de farejar o ar. Katrina chegou pelo lado do cão e entrou em seu campo de visão. Ele começou a farejar a gata, como se analisasse se valia a pena a atenção. Cruel, a Purrloin acertou um Scratch no focinho do Herdier.

    O cão comeu a latir irritado. Numa sinfonia, os outros de sua espécie imitaram o gesto. Katrina, provocante, correu por entre as pessoas. Isso criou uma reação em dominó, Herdiers e Stoutlands partiram em perseguição daquela pequena gatuna. Os policiais responsáveis e até mesmos os mais próximos tentavam conter o avanço. A confusão generalizada criou espaço para que o grupo se infiltrasse.

    Benga liderou o grupo até a entrada do sistema de esgoto e abriu a porta de ferro que não ajudava muito com o modo furtivo, mas com a confusão e gritaria, aquele fora o menor dos barulhos. O lance de escadas fazia o som dos passos parecer um cenário de terror, as luzes amareladas criavam uma atmosfera apavorante.

    O neto de Alder, que ia na frente, fez uma parada brusca quando notou algo preocupante. No final das escadas, era possível notar, quase invisível, uma névoa roseada que se movimentava levemente: Era o Dream Mist, numa quantidade nunca vista antes.

    — Eu acho que não é seguro respirar isso – apontou Bianca.

    — Por prevenção, coloquem algum lenço bem preso na boca e no nariz – disse Benga, alcançando um pano velho em sua mochila.

    Os outros três repetiram o processo com seus próprios pertences e logo, alcançaram de vez, o enorme sistema de esgoto de Castelia.

    Não era para ser um lugar agradável, na verdade, a construção não era pensada para ser bonita. As paredes tinham tijolinhos de argila vermelhos a mostra, enquanto o chão era feito de um cimento queimado composto com paralelepípedos, local onde os funcionários usavam para se locomover. Os dutos feitos de metal transportavam todo tipo de dejetos, estes conectados com estruturas verticais que levavam para os bueiros. As valas no cento dos caminhos escorriam água pluvial de forma contínua e calma.

    O grupo caminhava com cautela. A névoa dificultava um pouco da visão e nenhum deles possuía um mapa, então só restaram que eles explorassem todos os cantos em busca de qualquer pista de Angel.

    — Ei! O do cabelo verde – disse Benga, em algum momento do caminho. – Eu me toquei agora que eu não perguntei seu nome.

    N, que estava para trás na pequena fila formada pelos jovens, viu os outros três olharem para ele.

    — Ah, hã... Meu nome é Natural – apresentou-se. – Mas me chamam de N.

    — Seu apelido é a primeira letra do seu nome? – Benga arqueou a sobrancelha. – É, eu acho que fica maneiro. Pode me chamar de B, B de Benga – sorriu o menino, brilhoso.

    — O que faremos com Bianca então? – questionou Cheren, entrando na conversa. – Ela também começa com B.

    — É uma boa pergunta, C – refletiu o jovem de topete. – Oh, já sei, é só mudar a pronuncia. Be para mim e Bi para a Bianca.

    — Deixou de ser uma letra pra virar uma sílaba – argumentou o treinador de óculos.

    — Não dá pra ser perfeito – o rapaz deu de ombros. – N, aquela moça, Susan, ela é sua namorada?

    N sentiu o rosto ruborizar e Cheren cobriu o rosto, com vergonha.

    — Você não faz esse tipo de pergunta como se pergunta o nome de alguém! – disse o treinador, tão envergonhado quanto.

    — Qual é, C, você ainda também não me respondeu muita coisa – o neto de Alder passou o braço em volta do pescoço o garoto de óculos, quase o derrubando pra frente. – Responde aí, você e a Bi tão namorando?

    O treinador ajeitou os óculos. N reparou que Bianca também compartilhava a mesma vergonha. Aparentemente, aquele sentimento de ficar tímido perto de alguém especial não era só exclusividade sua. Benga riu alto, fazendo um pouco de eco, aparentemente ele era o único a não sofrer pelo mal do amor.

    — Ok, ok, eu fui muito malvado com você, então vamos mudar – brincou ele. – Quando ia contar pra gente dessa coisa maravilhosa que você tatuou? – questionou ele, batendo no braço do garoto onde a tatuagem da linha evolutiva de Snivy residia.

    N pareceu curioso e se aproximou um pouco. Tatuagens eram algo longe de sua realidade, a única vez que vira uma era com Mikoto, uma dAs Virtudes, mas ela não costumava falar sobre. Cheren levantou um pouco da camiseta, exibindo a marca para Benga, que elogiou o trabalho, perguntando valores e o tempo.

    — Doeu muito? – questionou ele, em seguida.

    — Mais perto do ombro doeu um pouco – explicou. – O tatuador falou que esse era um lugar bom pra quem queria fazer a primeira tatuagem.

    — P-Porque? – a voz de N saiu quase como um sussurro, mas o grupo todo olhou para ele. As olhadas o deixaram tímido, mas ele prosseguiu: - Tatuagens são permanentes e dolorosas. Você tatuou um Serperior, um Pokémon, por qual motivo?

    Cheren olhou pra cima, buscando uma resposta plausível.

    — Meu Pokémon inicial foi um Snivy, o nome dele é Phienas – o treinador começou a contar. – Ele me ajudou a capturar meu primeiro Pokémon, ele me ajudou a conquistar minha primeira insígnia. Eu acho que ele me ajudou muito e eu não sabia como retribuir. Isso daqui é o mínimo que faço por ele.

    Natural permaneceu quieto, assentiu com a cabeça, mas não pode deixar de esconder a admiração. Na cabeça dele, pessoas como Cheren só usavam seus Pokémon como armas de combate para subirem em um patamar invisível e sem sentido. Mas era a primeira vez que ouvira de um treinador valores que ele mesmo concordava.

    — Só admita que você acha Serperiors maneiros pra caralho – riu Benga.

    — Isso é um motivo também – o treinador concordou. – Agora, é minha vez de perguntar: O que a Íris quer tanto de você?

    — Ah! Ela quer meu-

    Uma onda de silêncio dominou o grupo de repente. Todos eles sentiram não estarem sozinhos. Cheren segurou a mão de Bianca, que encostou no garoto, temerosa. Benga achou se tratar da polícia, mas parecia algo muito maior. N notou que algo se movimentara rapidamente na vala ao seu lado, enquanto o treinador de óculos sentiu uma presença vinda das paredes e do teto.

    O neto de Alder sussurrou para os outros:

    — Devemos correr?

    Das paredes, a criatura surgiu intimidadora. Era uma cobra gigantesca, onde seu corpo era feito de pedra. Era um Onix, um dos Pokémos mais populares da região de Kanto. Ela enrolou-se em alguns canos antes de atingir o solo, na frente do grupo, fazendo certo impacto no chão.

    A segunda criatura foi a vista por N, ela saiu da vala e se juntou ao Onix. Era uma espécie de enguia, com o corpo azul escuro esguio que começava com uma bocarra avermelhada com 4 presas. Seu diferencial era os dois braços que ele usava como apoio para se locomover em terra, e, assim, como a boca, tinha garras afiadas. Cheren usou sua Pokédex e descobriu que se tratava de um Eelektross.

     

    Ambas as criaturas encaram o grupo de jovens com a intenção de não deixarem avança-los. Eles não eram naturais daquele local, então se imaginava que pertenciam a alguém. Bianca olhou em volta em procura do possível treinador daqueles Pokémon.

    — Tsc, é só pra dificultar – Benga pegou uma das Pokéball de seu cinto.

    — Espera! – Bianca alertou. – E-Estamos rodeados de Dream Mist, nossos Pokémon não vão ser atingidos por ela também? Eu até coloquei o Osha na Pokéball por isso.

    — E-Ela tem razão – disse Cheren.

    — Mas eles não parecem sentir – N apontou para as duas criaturas.

    — Devemos arriscar? – questionou o treinador de óculos.

    — Vamos morrer desse jeito – Benga arremessou sua Pokéball e colocou seu Dragonite no campo de batalha.

    O grupo olhou para o dragão amarelo do garoto e percebeu que a única reação dele era esperar algum comando de seu mestre.

    — Deve só atingir pessoas mesmo – Cheren lançou um de seus Pokémon. O pequeno Bagon grunhiu, com sua cara marrenta. O dragãozinho bípede era azulado e possuía braços curtos e pernas grossas. Seu focinho e mandíbula eram redondos, com as presas inferiores saindo para fora, no topo da cabeça, três calombos desciam até atingirem o pescoço.

    — Caraca, é um Bagon! – Benga se entusiasmou, como bom apaixonado por dragões que era. – Essa batalha vai ser boa.

    Natural fez uma cara de desaprovação, receoso por ver uma batalha Pokémon de perto pela primeira vez. Bianca lançou seu Tranquill, pronta para ajudar.

    — Vou tentar dissipar o Dream Mist com Gust pra ajudar na visão – disse a garota.

    Tanto o Eelektross quanto o Onix avançaram contra os Pokémon dos treinadores. Cheren ordenou um Dragon Breath enquanto o Dragonite avançou com Fire Punch contra o Eelektross. O Tranquill de Bianca voava próximo do teto, usando suas asas para criar tufões que dissipavam temporariamente a Dream Mist.

    O golpe do dragão azulado atingiu a face de Onix, que recuou levemente, protegendo seus olhos. Sua cauda girou e varreu o chão. O Dragonite ganhou vôo, Cheren agarrou a cintura de Bianca e se jogou para trás para evitar ser atingindo. N e Benga pularam para um lado oposto do casal. Porém, o Bagon não teve a mesma sorte, sendo arremessado para longe.

    — BAGON! – gritou seu treinador, preocupado.

    O pequeno dragão voou e caiu dentro da vala onde a água escorria. Por sorte, o nível dela estava baixo, possibilitando que o Pokémon não tivesse que nadar. Cheren sentiu um alívio ao ver que estava tudo bem. Benga ordenou um Slam contra o Onix, a fim de ganhar tempo para que o dragãozinho fosse trazido de volta a batalha.

    O Dragonite avançou contra a serpente de pedra e a prendeu contra a parede, danificando parte da estrutura. Bianca virou-se para seu Tranquill.

    — A-Ajude o Bagon do Cheren! Ele não consegue subir!

    A ave piou e mergulhou como uma broca em direção ao companheiro de batalha. Porém, o Eelektross era ágil. Golpes elétricos eram efetivos contra Pokémon voadores, então não foi difícil que o raio lançado pela enguia derrubasse a paralisasse o Pokémon de Bianca.

    — Ah, Arceus! – preocupada, a garota retornou a ave para sua Pokéball. – B-Benga!

    — Segura aí! Eu já chego! – Benga virou-se para seu Pokémon. – Larga ele aí, vamos ajudar Cheren e Bagon.

    O dragão alaranjado se distraiu por um minuto e recebeu uma cabeçada na região do queixo. Aquele golpe o atordoou e ele mal teve tempo de reagir quando o Onix usou seu corpo para envolvê-lo num golpe conhecido como Bind.

    — Ah, que merda!

    Duro como pedra, a cobra fazia questão de apertar cada vez mais o corpo do dragão. Benga ordenou diversos ataques, mas nenhum surtia efeito.

    Cheren estendia o braço, agachado na beirada da vala. Ele tentava alcançar o Bagon, que tentava escalar a parede úmida e escorregadia. N se alertou para o Eelektross se arrastando até a vala onde o pobre dragão estava. Ele se aproximou e tentou alcançar o Pokémon junto do treinador, já que era mais alto.

    — C-Cheren, o Eelektros! – Bianca gritou quando o viu a enorme enguia se juntar ao mesmo piso do adversário.

    — Droga! – o garoto jogou sua mochila de lado e desceu para a vala junto do Bagon.

    O dragão azul pulou em seu colo, apavorado. Cheren colocou o Pokémon em seu ombro e agarrou a mão de N para subir. O Eelektross encarava o grupo de humanos fazendo um resgate atrapalhado de um mísero Pokémon. O corpo do Pokémon enguia começou a faiscar e pelas condições do terreno, a condução seria efetiva e talvez mortal.

    O treinador arremessou Bagon para cima para onde N e Bianca estava. N agarrou o braço do garoto, tentando puxá-lo para cima. A enguia conjurou um Discharge em direção de Cheren. Bianca gritou, mas foi o Bagon que reagiu.

    Lógico que um Pokémon com aquela tipagem, um golpe elétrico não era tão efetivo, mas com o corpo coberto de água, a física faria seu curso natural. O choque atingiu até o último de seus órgãos e o Bagon caiu no solo, fragilizado. N entrou em choque e Cheren se soltou do garoto, correndo até seu Pokémon.

    — Cheren, cuidado! – gritou Bianca, preocupada.

    — Bagon, ei! – o treinador colocou o Pokémon em seu colo, preocupado. Algumas faíscas ainda rodeavam o corpo do dragãozinho. Ele grunhiu baixo, demonstrando exaustão. – S-Seu maluco, v-você já tinha fugido – Cheren mordeu a boca, quase chorando.

    N observava a dupla, ele pode ouvir a voz do Bagon. Palavras como “eu estou bem” ou “eu queria te proteger” eram ouvidas de alto e bom som. Todo aquele sentimento fazia o rapaz engolir com dificuldade todo o amargo de seu preconceito.

    O Eekletross grunhiu de impaciência, avançando para os dois. No momento, o Dragonite de Benga se livrou do Onix com um golpe aquático conhecido como Aqua Tail e voou em direção a enguia.

    Foi uma luz forte vinda do Bagon que fez o Pokémon fechar os olhos. Aquele brilho era conhecido por Cheren: era a luz da evolução. Bagon mudou radicalmente, os calombos em sua cabeça haviam dominado seu corpo e ele agora tinha uma forma ovalada, semelhante como um casulo. O Shelgon tinha quatro patas cinzas e curtas. Não havia cabeça ou qualquer distinção dessa parte do corpo, mas era possível observar os olhos amarelados e rabugentos projetados dentro de um buraco.



    Cheren sorriu, mas os problemas não haviam sido resolvidos. O Fire Punch do Dragonite chegou e derrubou o Eelektross, dando tempo para que N e Bianca ajudassem Cheren e o novo Pokémon subissem para o local seguro.

    — Se recuperem logo, eu seguro eles – disse Benga.

    Cheren tirava um pouco de água do cabelo quando Bianca o abraçou.

    — Seu idiota! – ela berrou, preocupada. – N-Não viu o tamanho daquela coisa?

    O treinador riu e bagunçou o cabelo da garota.

    — Esqueceu a parte que eu disse que ficaria tudo bem? – disse ele, se virando para seu recém evoluído Pokémon. – O-Obrigado, carinha. Salvou minha vida.

    Shelgon revirou os olhos, envergonhado. Cheren procurou itens de cura em sua mochila, aproveitando o tempo para recuperar seu Pokémon.

    Benga parecia estar com dificuldades. Apesar de ser um treinador experiente com o tipo dragão, não era tão fácil encarar dois Pokémon ao mesmo tempo. O nível de experiência dos adversários era alto, o que indica que genuinamente aquelas criaturas pertenciam a alguém.

    O treinador de cabelos vermelhos gritou, em desespero:

    — N! – o Rei dos Plasmas se assustou com o chamado repentino. – Eu sei que você odeia essas coisas, mas você não tem nenhum um Pokémon além de uma Purrloin? Eu realmente tô precisando de uma mãozinha aqui.

    O rapaz de cabelos verdes encolheu os ombros, sentindo-se culpado por não ajudar. Ele viu o Dragonite de Benga levar um golpe elétrico pelas costas e uma cabeçada do Onix no estômago e quase entrou em desespero. Colocou a mão cabeça, tentando raciocinar. Um estalo o trouxe de volta a realidade.

    — Só preciso de um minuto – N fechou os olhos.

    — PELO AMOR DE ARCEUS, NÃO É HORA DE DORMIR! – berrou Benga. – Dragonite, Hyper Beam!

    O dragão de Kanto lançou um raio amarelado contra o Eelektross que foi atingido em cheio e caiu há alguns metros de distância. O golpe era poderoso até mesmo para o seu próprio usuário, que precisava de um tempo de descanso para se recuperar. Isso criou espaço para que o Onix investisse.

    “Por favor, nos ajude”, pensou Natural, apertando mais os olhos.

    — DRAGONITE! – o grito de Benga ecoou pelo local.

    O golpe seria certo, mas o surgimento de mais uma figura conteve a investida. Seismitoad era uma espécie de sapo bípede de cor azulada bem menor que um Onix, mas seu corpo rechonchudo e cheio de esferas conseguiu segurar com facilidade a serpente. N abriu os olhos e sentiu seu coração leve ao ver que seu pedido de ajuda fora atendido. Os olhos engraçados e vermelhos do Pokémon novo encararam o adversário, como se ele tivesse incomodado por ter seu território invadido.



    Seismitoad usou um golpe de água contra o Onix. O golpe super efetivo derrubou o adversário.

    — Isso! – Benga comemorou, enquanto dava suporte para seu Dragonite.

    Cheren se levantou e se aproximou com Shelgon, indicando que estava pronto para batalhar novamente. O Seismitoad olhou para os jovens, em especial para N. O Rei dos Plasmas sorriu levemente e agradeceu pela ajuda. 

    Mas ainda restava um. Das costas do sapo, um golpe elétrico se chocou contra ele, mas ele se manteve inerte. A dupla tipagem de Water e Ground fazia o Pokémon ser um forte aliado no time de vários treinadores.

    — Hehehe – Benga riu, debochado. – Tu se ferrou, cara feia. Vamos acabar com ele, Cheren.

    O treinador ao lado assentiu. Shelgon e Dragonite lançaram um golpe conhecido como Hurricane. O vendaval fez Bianca se segurar em uma estrutura. A batalha foi declarada como ganha quando ambos os adversários caíram sobre o solo, nocauteados.

    — C-Conseguimos... – disse Bianca, ainda meio abismada.

    — Isso foi maneiro demais! – Benga pulou, em êxtase, como se nunca estivesse ficado tenso. – N, esse Pokémon é seu?

    Natural se aproximou do Seismitoad e tocou a pele gosmenta da criatura. Ele negou, com um sorriso de canto de boca:

    — Não, ele é só um dos meus novos amigos – riu o rapaz. – Ele tá me dizendo que uns caras vieram aqui mais cedo e perturbaram o sono dele com explosões. Quando ele notou, quase todo o esgoto estava cheio do Dream Mist.

    — E-E o que explica esses Pokémon? – disse Cheren, apontando para os Pokémon nocauteados.

    Uma luz avermelhada cobriu o corpo do Onix e do Eelektross e eles foram sugadas por ela. Esse acontecimento era como se alguém estivesse retornando-os para suas Pokéball. Isso fez o grupo pular de susto e procurar quem havia feito isso. As enormes criaturas haviam voltado para seu treinador misterioso e os jovens nem notaram quando um Dwebble sorrateiro rastejou para longe de lá pelo teto com as duas esferas em sua pedra.

    — E-Então... realmente pertenciam a alguém – concluiu Cheren.

    — E-Esquece isso! Temos que alcançar nosso objetivo! – Benga apontou para o caminho liberado, era possível ver a porta que levava para a sala de operações. – Teremos pistas lá!

    N se despediu do Seismitoad, agradecendo várias vezes pela ajuda e prometendo um reencontro. O sapo saltou na vala e voltou para o seu canto. Enfim, o grupo correu.

    Ninguém explicou a decepção dos jovens quando eles adentraram a sala de controle e não encontraram nada, muito menos Angel, o maior dos objetivos. Apesar de estar bagunçada, era como se tivessem feito uma limpa e tirado qualquer tipo de pista que acusasse algo. Havia apenas uma cadeira vazia e alguns itens policiais. O painel de controle, assim como os monitores estavam destruídos.

    — N-Não acredito! – Benga exclamou, incrédulo. – N-Não tem nada...

    A porta do local se abriu pela segunda vez. Alguns policiais irritados apareceram, descontentes por terem crianças invadindo o seu local de investigação. A missão estava concluída, mas sem nenhum avanço.

     

    Benga bufou, descontente. Na frente do Centro Pokémon, a confusão parecida mais controlada. O grupo havia se juntado novamente com Anthea, Concordia e Oliver, mas ainda não havia sinal de Susan. Eles estavam do lado de fora do centro médico, desanimados por não encontrarem a Lillipup desaparecida.

    — Certeza de que aqueles canalhas nos atrapalharam com aqueles dois Pokémon só para se livrarem das pistas – disse Benga, bagunçando o próprio cabelo. – UGH! QUE ÓDIO!

    — V-Valeu a intenção – consolou Íris, colocando a mão no ombro do garoto. O neto de Alder estendeu uma Pokéball para a Campeã, que olhou curiosa para ele.

    — Obrigado por ficar e cuidar do garoto – disse o rapaz de cabelos vermelhos. – Tá aí a parte da minha promessa.

    — E-Eu queria ter recebido isso num momento mais animador – disse ela.

    Cheren e Bianca observavam curiosos.

    — É um Pokémon? – questionou a garota loira.

    — Um Gible shiny – contou Benga. – Eu capturei enquanto treinava e essa daí ficou sabendo.

    — Tanto mistério. Eu já estava cogitando que ela queria um beijo seu – debochou Cheren.

    Benga e Íris encaram o treinador e quase voaram no pescoço dele. Aquilo criou um momento de descontração e fez todos rirem.

    N suspirou enquanto acariciava os pelos de Katrina em seu colo e olhou em volta. Ainda faltava alguém e isso o preocupava. Seu coração disparou de alegria quando ele viu Susan se aproximar. Em seu colo, a causa de toda a confusão e correria: Angel, a Lillipup.

    Oliver deu um pulo e abraçou a cachorrinha quando esta lhe foi entregue. A Lillipup choramingou e lambeu o rosto do garoto. A missão estava cumprida, ainda que cheia de incertezas e dúvidas.

    — O-Onde ela estava? – questionou N. – Você está bem?

    — E-Eu estou bem. T-Tenho meus segredos – respondeu Susan. – O importante é eles estarem reunidos.

    A mulher se sentiu aliviada por N não a encher de perguntas, já que o rapaz parecia mais interessado em Oliver e seu Pokémon.

    — O-Obrigado, pessoal! – o menino agradeceu, aliviado. O sorriso da criança era tão reconfortante que nada mais importava.

    Minutos depois, os pais de Oliver, Benjamin e Maisy apareceram. Estavam preocupados com o filho e com as notícias de desaparecimentos dos Pokémon. Ficaram aliviados quando viram o menino são e salvo. Eles se ajoelharam e lotaram a criança de perguntas sobre seu estado de saúde. Oliver se desculpou várias vezes por ter perdido Angel, mas para os dois adultos, o que importava era a segurança. Maisy agradeceu Anthea e Concordia por cuidarem do garoto.

    Quando a atenção foi voltada para o grupo de Cheren e Bianca, Susan sussurrou sobre eles precisarem partir. N olhou de relance para Cheren, que retribuiu o olhar, assim como Bianca e Benga. Não foi necessária nenhuma palavra para saber que eles agradeciam um ao outro pela ajuda e pela aventura. A despedida silenciosa soou com uma estranha sensação de “nos veremos novamente”. O grupo do Rei dos Plasmas sumiu no horizonte.

    O dia terminou com o grupo de Cheren sendo convidado para um jantar especial na casa de Oliver. A Team Plasma havia se safado novamente, mas aquilo não era problema por enquanto. No final, o jantar estava gostoso e tanto Cheren quanto Bianca puderam ter o merecido descanso.

        

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    1. N, procurando a Light Stone e literalmente se esbarrando com as verdades. Amei

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