• A Pensão da Lilly Liligant - Capítulo 5

     


    A manhã se iniciara com certa paz.

    Brianna tomava seu chá na sala de jantar, estava com as pernas cruzadas e uma expressão séria. Nem se importava com os resmungos que vinha de Vic que estava ajoelhado ao seu lado no chão usando uma exótica coleira.

    Mirsthy logo apareceu, se espreguiçando. Quase deu um grito ao ver o amigo naquela condição.

    — O-o que, em nome de Cresselia, aconteceu? – questionou, observando como a Snivy segurava a corda presa a coleira.

    — Oh, bom dia, Mi – Brianna soltou um sorriso gentil, ainda que parecesse extremamente falso. – Isso aqui? É só meu novo e leal companheiro, Vic, o Lillipup.

    — Bree, ele é um Victini – informou a Minccino, confusa.

    A outra balançou o dedo negativamente.

    — O Victini está morto. Agora eu tenho um Lillipup que me segue pra cima e pra baixo e me obedece, não é, querido? – ela puxou levemente a coleira e Vic murmurou mais.

    — Sim, senhora, ó, minha suprema rainha, dona da minha vida. Como eu te amo, devo tudo a você – respondeu o Lilli- digo, o Victini, em uma fala ensaiada.

    — Quando foi que vocês assumiram esse tipo de relação de fetiche? – questionou Mirsthy.

    — Alguém achou que seria uma boa debochar de mim fazendo musiquinhas com Woobats.

    — Ah, vocês escutaram também? – perguntou a cinzenta, animada. – Foi maravilhoso, consegui dormir a noite inteira.

    — Mal consegui dormir – murmurou Brianna. – Pelo menos agora, eles vão dormir por um bom tempo – ela alcançou algumas berries, devorando com gosto.

    — Majestade, tô com fome – disse o Victini, fazendo bico.

    — Hm? Ah, não é hora da sua ração – respondeu a Snivy, com deboche.

    Vic se levantou, arrancando a coleira.

    — Ok, mulher, já chega! Eu já pedi desculpas e isso não tem graça!

    Os olhos avermelhados da inicial de grama encontraram os olhos azuis do Victini que gelou. Ela invocou um Vine Whip e fez as vinhas estalarem como um chicote. Vic engoliu seco e voltou para a sua posição de Lillipup, resmungando ainda mais.

    Lilly logo apareceu, assim como os outros hóspedes (com a exceção dos Woobats). Ela convocou uma pequena reunião a fim de contar as novidades.

    — Muito bem, como devem saber, nosso número de hóspedes deu um salto enorme desde... hã... ontem – ela riu, ansiosa. – E como ninguém esperava esse crescimento rápido, estamos com alguns problemas de espaço na cozinha e falta de comida. A partir disso, eu tomei uma decisão importante.

    — Vamos expulsar os Woobats? – questionou Sombra.

    — E se a gente matar metade deles? – sugeriu Brianna.

    A Lilligant encarou o grupo, perplexa.

    — ... Eu decidi abrir um café – revelou, por fim.

    A Snivy colocou a mão sobre o queixo, pensativa.  

    — Ainda acho que mata-los é uma solução mais rápida e eficiente – concluiu.

    — O Café ficaria do lado da Pensão. As refeições seriam servidas tudo por lá e ainda teria a possibilidade de oferecer um cardápio para quem fosse de fora – contou Lilly, como quem tivesse passado a noite inteira pensando sobre o assunto, planejando cada detalhe.

    Exceto...

    — E temos dinheiro pra isso? – questionou Mirsthy, como boa funcionária.

    BINGO! A única coisa que tinha escapado pelas prestativas mãos da Lilligant. Uns minutos em silêncio confirmaram aquilo que todo mundo pensava.

    — Então – Lilly começou, depois de pigarrear. – É aqui que eu pediria ajuda de vocês. N-Não é obrigação de vocês, na verdade, eu nem espero que vocês me ajudem, mas, se puderem, eu ficaria grata – a Pokémon juntou as mãos, ansiosa.

    Os hóspedes se entreolharam. Koin foi o primeiro a levantar a mão.

    — Eu topo! – disse.

    Brianna olhou para o companheiro e levantou a mão também.

    — Vic pode roubar dinheiro – sugeriu. – É a especialidade dele.

    Vic, ainda no chão, com sua coleira, encarou a mulher.

    — Roubar? Você é podre de rica! – retrucou, cruzando os braços. – Pede pra sua família pagar. Você é a que come mais nesse lugar! Tá até ficando gorda.

    Snivy segurou com um pouco mais de força a corda conectada na coleira de seu “Lillipup” e soltou um sorriso cínico.

    — Se me dão licença – ela se levantou e se dirigiu para outro cômodo, carregando Vic. O Pokémon temeu pela sua condição física.

    Em alguns minutos, quem ficou, pode ouvir gritos de desespero e golpes de chicotadas violentas.

    — Tá virando rotineiro – observou Mirsthy. – De toda forma, acho que todos nós topamos a ideia. Podemos te ajudar, dona Lilly.

    Lilly deu um leve pulo, animada. Koin sorriu.

    — Obrigada, de verdade – ela disse, eufórica, enquanto procurava os papéis com anotações quilométricas. – Eu pensei em vender tortas na estradinha perto da Pensão. Sempre tem grande movimento por lá.

    — Maravilhosa ideia – sorriu Mirsthy. – Se empenhe em fazer deliciosas comidas enquanto nós vendemos o peixe.

    — Mas ela disse que vai vender tortas – apontou o Tepig, confuso. – Aliás, o que é peixe?

    — Eu não faço ideia – brincou a Minccino. – Apenas sorria e siga o roteiro.

     



    Foram preciso alguns poucos dias para que a barraca fosse montada. Com sorte, Wooby e A Legião haviam saído em uma jornada breve para sua terra natal em busca de alguns pertences, então não precisariam se preocupar com a cantoria da madrugada nos próximos dias.

    O grupo se dividiu entre quem ficaria na cozinha: Koin, Lilly e Grimaud. Enquanto, na parte das vendas, ficaram Vic, Brianna, Sombra e Mirsthy. E assim, começaram o primeiro dia de vendas.

    A Minccino tentava chamar a atenção junto de Sombra de alguns clientes que olhavam curiosos para as tortas, mas só alguns realmente paravam. Brianna recepcionava eles enquanto Vic observava tudo, sentado no chão. Seu castigo com a coleira continuava firme e forte.

    Uma fêmea Haxorus acompanhada de seu filho Fraxure se aproximaram. A Snivy atendeu com um sorriso tão meigo que o Victini estranhou com tamanha delicadeza.

    — Vamos levar uma torta hoje? – questionou ela. – Aposto que o rapazinho adora um bom doce.

    — Estão com uma cara tão boa – comentou o Pokémon dragão.

    — Foram feitos com muito amor e carinho pela Lilly, a dona da Pensão – informou ela, dando ênfase ao marketing.

    O Fraxure olhou para o Victini no chão e franziu a testa.

    — O que tá fazendo aí? – questionou, com as mãos no bolso.

    — Ele é meu Lillipup de estimação – informou Brianna, sorrindo, mantendo a pose.

    — Mas ele é um Victini.

    — Não adianta falar isso pra ela – resmungou Vic. – Acho que o cérebro dela foi devorado e ela ficou burra.

    A lei da ação e reação foi imediata e o chicote estralou contra a parte lateral do Pokémon. A Haxorus se assustou e recuou com o seu filho. Vic se levantou e encarou Snivy.

    — Tá querendo morrer? – questionou ela, enfurecida.

    — Cai dentro, nariguda! – desafiou. – Se eu ganhar, tu tira essa droga de mim! – disse, agarrando a coleira.

    Uma aura intensa e demoníaca cercou aqueles dois. Os dois agarraram as mãos do adversário e começaram a se empurrar, com uma força de igual para igual. Mirsthy notou a confusão e quase gritou de desespero quando viu a mãe Haxorus se afastar com seu filho, que parecia interessado em ver uma briga por motivos fúteis.

    — V-Vic, B-Bree – a Minccino levantou as mãos. Queria impedir, era só o primeiro dia de trabalho, como eles conseguiam estragar tudo em poucas horas?

    Mas ela não impediu. Não quando ela olhou para os lados e notou que alguns interessados pareciam estar apreciando aquele embate. Era de se surpreender que até mesmo Pokémon, em toda sua espécie, tinham um interesse por batalhas. Desde os mais grandes até os pequenos paravam e começavam a apostar no mais forte, alguns apostavam na vantagem de tipo do Victini, enquanto outros arriscavam na força bruta da Snivy.

    Mirsthy sentiu uma lâmpada acender em sua cabeça e rapidamente começou a cortar fatias das tortas. Ela acenou para Sombra, que se aproximou, curiosa:

    — Vai oferecendo e vendendo essas fatias para os que estão assistindo – ordenou. – Vamos lucrar com entretenimento sensacionalista de baixa qualidade igual na TV aberta aos domingos.

    A Zorua assentiu e se aproveitou do fascínio do público para oferecer-lhe comida pega e pronta. Que Pokémon iria perder essa chance? Aos poucos, todo o estoque iria sumindo e Lilly quase não conseguia dar conta de tantas vendas.

    Mirsthy percebeu que Vic e Brianna estavam para encerrar a briga. Com destreza, ela berrou:

    — BRIANNA, O VIC DISSE QUE PREFERE SENTAR NO COLO DE GIRATINA DO QUE PASSAR CINCO MINUTOS OUVINDO SUA VOZ!

    A Snivy fuzilou o Victini com o olhar e o mesmo gritou:

    — QUER PARAR DE ME CALUNIAR?!

    — SE VOCÊ QUER TANTO ENCONTRAR GIRATINA, DEIXA EU QUE ADIANTO ESSE PROCESSO! – possessa, ela avançou contra o rapaz que, revidou, inconscientemente, com um golpe de fogo contra o rosto da mulher, que recuou, com dor.

    — A-Ah, B-Bree – Vic gelou pois sabia que um golpe tipo fogo era prejudicial a um tipo planta. Ele se aproximou, preocupado. – Brianna, ei! Fala comigo! Tá doendo? C-Chamem um médico!

    Brianna virou o rosto e encontrou os olhos do companheiro. Ela sorria cinicamente e suas pupilas ardiam como brasa.

    — Acha mesmo que uma faísca dessa iria me derrubar? – perguntou, de forma retórica. – So you’ve choosen death, foolish boy!

    E a batalha recomeçou, dessa vez, os espectadores gritaram eufóricos e agitados, como se o round 2 estivesse com muito mais alma. Sombra continuava a oferecer mais e mais fatias, usando suas artimanhas de fofura para convencer os clientes, alguns até pagavam a mais pelos pedaços.

    Lilly e Koin se aproximaram com novas tortas e se assustaram com a quantidade de clientes.

    — U-uau, o que tá acontecendo? – questionou a dona da Pensão, logo depois caindo seu olhar para a briga. – Ah meu Arceus! Tá tudo bem?

    — Dona Lilly, pau na máquina! – disse Mirsthy, exaltada. – O pessoal tá comprando tortas como loucos. Tudo isso só para continuarem a assistir aqueles dois brigando.

    — Tá dizendo que a briga faz parte da estratégia de venda?

    — Um bom produto atrai pessoas, mas um bom atendimento atrai clientes fiéis – apontou a Minccino. – Agora, continue trabalhando. E traga alguns curativos pra remendar aqueles dois.

    A Lilligant riu, com uma felicidade diferenciada. Sentia que aqueles hóspedes que tanto a ajudavam estava se tornando sua nova família. Koin segurou a mão da mulher:

    — Vamos, Lilly, temos muitas tortas para fazer!
     

    Naquela noite, os hóspedes e Lilly faziam as contas de quanto haviam lucro, nunca tinha se visto tanta moeda e dinheiro. Vic e Brianna estavam de costas um para o outro, segurando pequenos sacos de gelo contra os ferimentos e hematomas. O Pokémon anjo estava com a sua coleira, indicando que tinha perdido a batalha.

    — Espero que tenha aprendido – disse a Snivy, com o orgulho ferido.

    — Não fala comigo – murmurou o Victini. – Aliás, de quem foi a ideia de incentivar a briga?

    — O pessoal começou a aparecer quando vocês brigaram – explicou Mirsthy. – Acha que estarão recuperados até amanhã?

    — Nem fodendo que eu vou brigar com essa ogra de novo! – protestou. – Olha a nossa situação. Se virem.

    A Minccino cruzou os braços, pensativa. Olhou para Sombra e sorriu.

    — Já sei, podemos pedir para que Sombra conquiste todos com sua fofura. O que acha, pequena?

    — Posso morder quem não comprar as tortas? – a Zorua pulou, agitada.

    — Só se o cliente pedir – riu.
     

    No outro dia, foi a vez de Sombra ser o centro das atenções. Mirsthy e Brianna ficaram responsáveis em vender e Vic aproveitou o dia para ficar deitado (sob a supervisão de Bree, é claro). O primeiro cliente foi uma gentil Audino que caminhava com a sua cestinha, Zorua se aproximou:

    — Ei, tia, estamos vendendo tortas – sorriu, usando o máximo da sua fofura. – Que tal você comprar todas? Digo – ela juntou os dedos indicadores, fazendo charme. – Pode comprar uma, é para uma amiga nossa e estamos vendendo para ela realizar o sonho. Sombra ficaria muito feliz se você comprasse.

    Uma flecha imaginária atingiu o coração daquela Audino.

    — Se eu comprar duas, Sombra ficará feliz? – ela perguntou, certificando de que veria um sorriso daquela obra de Arceus.

    — Muito. MUITO FELIZ! – a Zorua levantou os braços, animada e agitada. – Venha, venha.

    Ela guiou a primeira cliente do dia para a tenda que logo foi atendida pela Minccino e a Snivy. Sombra logo notou sua segunda vítima, um Sawk mal-humorado que nem olhou para o lado. Mas insistência era uma característica dela.

    — Moço! – ela chamou, conseguindo roubar a atenção. – Estamos vendendo torta. Se você comprar algumas, eu vou ficar muito feliz. Você quer ver Sombra feliz? – e mais uma vez, ela usou suas artimanhas.

    O Sawk revirou os olhos.

    — E o que acontece se eu não comprar?

    Sombra encarou o cliente com um olhar amedrontador que só os Dark-type sabiam fazer. A espinha do Pokémon lutador gelou.

    — Então eu vou te morder. E vai doer muito – ela disse, com voz baixa.

    No final, ele levou pelo menos dez tortas.

      

    — Vocês todos estão presos.

    Ninguém sabia exatamente o que aconteceu. Dois Growlithes e um Stoutland impaciente foram chamados para a barraca que vendia tortas. Brianna encarou Vic.

    — O que você roubou?

    — Eu nem sai daqui, mulher – defendeu-se.

    Mirsthy se aproximou.

    — Em que posso ajudar, senhores?

    — Recebemos a denúncia de um comércio que usava mão de obra de menor e incentivavam briga entre duas pessoas.

    — Falando desse jeito, fica parecendo que somos demônios – ironizou Vic.

    Lilly logo surgiu. Desesperada, ela tinha ouvido falar da denúncia e da presença da polícia.

    — S-Senhores. S-Sinto muito. Estou vendendo tortas para arrecadar dinheiro para construção de um Café – ela explicou. – Não tive cabeça para impedir que meus hóspedes se expusessem tanto. Eu assumo toda a culpa.

    — Vai ser presa no lugar de todos? – questionou o Stoutland, sem estar muito preocupado.

    — Não pode prender ela! – Koin apareceu e interveio.

    — Pera aí, senhor policial – Vic protestou também. – Não podemos negociar. Quer uma torta? Por conta da casa.

    O Pokémon cão encarou o Victini.

    — Podem pagar uma multa – disse. – E devem fechar essa barraca.

    Lilly engoliu seco com o valor dito pelo policial. Aquilo era praticamente o dinheiro arrecadado em um dia de trabalho. Ela sorriu, sem graça e logo pagou os policiais, pedindo mais e mais desculpas. Os outros hóspedes observavam tudo em absoluto silêncio. Koin percebeu toda a tristeza da Lilligant, como se ela estivesse entregando o seu curto sonho no lixo.

    Naquela noite, ninguém contou o lucro, só o prejuízo.

    Todos se desculparam milhares de vezes e Lilly teve que acalmar todos, dizendo que estava tudo bem.

    Como se as notícias ruins já não fossem o suficiente, Wooby e A Legião voltou após alguns dias de viagem, cheio de pertences. O líder parou ao ver todos naquele clima de desânimo.

    — Meu santo Hilbert, gente – começou. – Que cara é essa?

    — Ganhamos dinheiro, perdemos dinheiro e vocês voltaram. Essa é a desgraça – respondeu Brianna, de braços cruzados.

    Lilly riu de leve e explicou a história para os Woobats. Wooby ouviu tudo com muita atenção e sorriu.

    — Na verdade, essa é a oportunidade perfeita para agradecermos. Sabemos que incomodamos com nossas cantorias, mas nos divertimos muito – sorriu o líder dA Legião. – Por isso, vamos morar em uma caverna próxima. Mas antes, queremos pagar com um dos nossos maiores tesouros.

    Alguns Woobats apareceram carregando um enorme diamante polido.

    Os olhos de todos brilharam junto com a pedra.

    — V-vocês têm certeza? – questionou Lilly.

    — Não pergunta duas vezes ou eles mudam de ideia – sussurrou Mirsthy.

    — Tenho certeza que vão ajudá-los no que precisam – sorriu Wooby, entregando o objeto.

    — Com uma dessa, acho que abro cafés por todo o mundo – riu a Lilligant. – Muito obrigada, de verdade. Eu andei pensando num nome pro café.

    Todos olharam curiosos para a proprietária da pensão. Uma chama de esperança tinha sido acesa no coração de todos. O clima de derrota tinha sido levado para fora e tudo que restava era a expectativa para o futuro.

    — Eu percebi como adoro essa mistura nossa. Eu me sinto bem com vocês. Dizem que casa é muito além daquilo que você mora e se sente bem, é onde seu coração fica e repousa – explicou, um pouco tímida com tanta atenção. – Por isso, quero que mais pessoas se sintam assim. Lógico que ninguém mora num café, mas vocês entenderam – ela riu. – Senhoras e senhores, digam boas-vindas ao CAFÉ MIX.

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  • Capítulo 30

     



    Passos agitados e nervosos foram ouvidos em direção ao quarto em que Hilbert e Jackson se encontravam. O treinador limpava suas Pokéball enquanto o arqueólogo estava distraído com seu celular.

    Hilda abriu a porta de correr com impacto que quase a derrubou. Sua expressão era de profunda raiva, ela encarou o mais velho e estendeu seu celular em direção a ele.

    — JACKSON, VOCÊ ATACOU O MEU GINÁSIO NO BADGE MASTER?! – berrou a menina.

    Hilbert olhou perplexo e confuso com a acusação da amiga e logo desviou seu olhar para Jack que se levantou, irritado também, mostrando seu próprio aparelho.

    — VOCÊ ATACOU O MEU GINÁSIO PRIMEIRO! EU NÃO CONFIO MAIS EM VOCÊ! – retrucou.

    Era o começo de mais uma manhã, o jardim dos fundos da casa dos Kurosawa estava completamente úmido graças a chuva torrencial da madrugada, estava uma temperatura fria, mas agradável. Inari entrou com uma bandeja em mãos, acompanhada de Cami.

    — Vejo que acordaram agitados – sorriu a ruiva. – Espero que tenham dormido bem e que a chuva não tenha atrapalhado vocês.

    — Bom dia, Inari – cumprimentou Hilda. – Ah, foi uma noite maravilhosa. O futon estava quentinho e macio. E de sobra, coube eu e o Hilbert.

    — Faltaram futons? – questionou a moça, preocupada.

    — Não é isso. É que os dois dormem juntos – contou Jackson.

    Inari assentiu.

    — Ah, sim. São namorados? – sorriu. – Formam um belo casal.

    Hilda sentiu suas orelhas explodirem de tão quentes e seu rosto assumiu um grande rubor enquanto comprimia seus lábios. Sua reação foi acertar um tapa na cabeça de Hilbert com certa violência.

    — É CLARO QUE NÃO! – respondeu, toda envergonhada. – É esse idiota que não consegue dormir sozinho.

    O treinador encarou a amiga, levantando os braços em protesto.

    — E POR QUE É QUE VOCÊ ME BATEU?!

    — PORQUE VOCÊ MERECEU!

    — EU NÃO FIZ NADA! ISSO JÁ TA VIRANDO PERSEGUIÇÃO!

    Vic abriu o zíper da bolsa do garoto e debruçou-se para fora dele, querendo interagir com os demais, mas pareceu não ser bem recepcionado pela anfitriã da casa que deu um berro arremessando um travesseiro próximo contra o Victini.

    — AQUILO ERA UM PIKACHU?! – exclamou, recuando para próximo de Jackson.

    O Pokémon anjo se recuperou do golpe e começou a voar, um pouco atordoado.

    Ô moça, tem jeitos melhores de me conhecer – argumentou ele. – Mas parabéns pela criatividade, ninguém nunca me recepcionou com um golpe de travesseiro.

    Inari colocou a mão no peito, suspirando aliviado, com delicadeza.

    — D-Desculpe – riu ela, sem graça. – Eu sou míope e morro de medo de Pikachus – explicou. – Esqueci de colocar minha lente hoje de manhã, talvez seja por isso que estou enxergando as coisas um pouco embaçadas.

    Jack se virou para a mulher, interessado.

    — Não usa óculos?

    — Eu tenho um que fica no meu bolso do quimono – respondeu, tirando o objeto da peça de roupa e colocando-os.

    A armação avermelha com lentes enormes realçavam os olhos esverdeados como esmeraldas da jovem, que olhou para Jackson a fim de exibir seus óculos, sorrindo levemente enquanto as bochechas espremiam seus belos olhos. Dessa vez, foi o arqueólogo que assumiu um tom avermelhado no rosto e jurou sentir seu coração parar.

    A ruiva mudou seu foco para observar o Victini.

    — Que espécie é você? – questionou.

    Prazer moça, meu nome é Vic, o Victini – apresentou-se. – Você é a Inari, não é?

    — Vejo que já sou conhecida – sorriu ela. – Você é Pokémon de quem?

    Ah, de ninguém. Sou livre e solto, eu só sigo o Hilbert e uso a bolsa dele como transporte.

    — Interessante. Já que estamos falando de Pokémon – Inari virou-se para Cami, que permanecia no chão ao seu lado, apoiada sob duas patas. – Essa daqui é a Cami, minha Furret.

    Hilbert se aproximou do Pokémon, usando a Pokédex para tentar obter informações, ainda que o aparelho não desse muitas graças as limitações de regiões.

    — Que incrível. O que ela faz?

    — Bem, na maior parte do tempo ela... anda – riu a anfitriã. – Ela anda pra cima e pra baixo atrás de mim.

    — Fascinante – comentou o garoto, acariciando a criatura felpuda que soltou um grunhido suave.

    A ruiva ajoelhou-se também e serviu o café da manhã para os hóspedes e quis saber mais sobre eles.

    — Vocês são treinadores? – perguntou, olhando para eles.

    — Eu sou – respondeu Hilbert, se servindo de um pão. – Conquistei 3 insígnias em Unova já – contou, todo orgulhoso, detalhando algumas batalhas e comentando sobre seu time. Contou também algumas aventuras quando capturou 15 Woobats e explicou que precisou deixar Wooby em Unova. – Ouvi dizer que aqui em Johto tem uma restrição de seis Pokémon que as pessoas podem carregar, então achei melhor prevenir. Vai que do nada a Legião aparece e eu sou perseguido pela polícia. Já não basta ser perseguido por roubar Casteliacones.

    — Como é? – Inari questionou, intrigada.

    — Permita-me assumir a história – entrou Hilda, sorrindo.

    A conversa se estendeu por poucas horas, mas que foram incríveis. A Kurosawa ria de todas as aventuras. Até parecia um ritual para se juntar ao grupo contar todos os acontecimentos até a presente data. Mas não era por mal, é como se Inari só precisasse ser apresentada para ser oficialmente parte do bando, eles não sabiam explicar, só sentiam. Até mesmo sobre a Light Stone lhe foi contada.

    — Sua avó pareceu meio contrariada quando falamos sobre isso. É como se ela guardasse algum rancor – observou Hilda, em buscas de respostas.

    — Acho que ela só está fazendo o que faz de melhor: me proteger – riu Inari. – Desde que meus pais morreram em um acidente, ela sente que deve me proteger ao máximo. Talvez ela tenha um pouco de culpa, mas ela precisa entender que eu tenho vinte anos e uma vida para viver.

    Os quatro ficaram em silêncio por alguns minutos. Em parte, em respeito pelos pais da garota e também por não saberem como aconselhar naquela situação. A ruiva virou para a garota de Unova.

    — Posso ver os fragmentos?

    — Hm? Ah, claro – a jovem tirou o pequeno frasco improvisado e entregou para a outra.

    — É fascinante como brilham – comentou. – É normal sentir essa forte conexão?

    — Eu já me acostumei, mas é bem poderoso – sorriu a mais nova, sentindo-se confortável em saber que não era a única a ter ligação com a Light Stone. – Isso significa que você tem poderes como todos os Kurosawa, né?

    — Eu ouvi histórias sobre a família quando eles moravam em Unova ainda. Foi há muito tempo atrás – explicou. – Meus antepassados cuidaram de objetos preciosos para o rei, mas algo trouxe eles para Johto e desde então, é como se fingissem que isso nunca aconteceu – ela refletiu.

    — Se você sente uma conexão mais forte com os fragmentos, deve ser porque está destinada a isso – disse Jackson. – Acredita em destino?

    — Meio irônico da sua parte perguntar isso para uma sacerdotisa – sorriu Inari, olhando para ele. – Mas acredito sim. Acredito que encontramos as pessoas que somos destinas a encontrar na hora certa, por mais complicado que seja.

    Akai ito? – questionou Hilda, como se lesse a mente da outra.

    — Exatamente – respondeu a sacerdotisa, pensando na conversa com seu avô.

    Hilbert, que até o momento só tinha observado, resolveu fazer a pergunta que todos estavam adiando, mas que estavam loucos pela resposta.

    — Isso quer dizer que vai se juntar a nós e nos ajudar?

    Inari olhou para o treinador e sentiu uma enorme pressão contra sua mente, como se aquela pergunta fosse uma maldição. Parte de si já sabia o que responder, mas é como se uma parede se colocasse dentro de sua garganta e a impedisse de falar ‘sim’. Essa parede tinha nome e se chamava insegurança. Uma insegurança plantada por sua avó e cultivada por ela mesma.

    Sem saber como responder e querendo afastar essa sensação, ela se levantou com a bandeja em mãos.

    — Q-Querem me acompanhar até a cidade hoje? – questionou, soltando um riso nervoso. – Podemos comprar roupas para o festival de amanhã. Principalmente a Hilda.

    Respeitando o momento de Inari, a garota sorriu.

    — Com certeza. Sempre quis ter a oportunidade de usar um quimono – comentou, rindo.

    — O melhor de Johto nem são os quimonos – disse a ruiva. – Nesse inverno, vocês não podem perder a oportunidade de aproveitarem as famosas fontes termais. Podemos usá-las essa noite.

    Hilda se agitou mais.

    — Sempre quis conhecer uma fonte termal! Eu vou adorar!

     


    Deixando mais uma vez de lado o assunto sobre a Light Stone e o poder dos Kurosawa, o grupo decidiu que não poderiam perder a oportunidade de sair para conhecer Ecruteak, dessa vez, guiados por uma moradora local que sabia dos melhores lugares. As garotas paravam a cada momento para entrar em lojas tradicionais de quimonos para escolherem peças para Hilda, que estava maravilhada com tantas opções e cores, tanto ela quanto Inari pareciam duas melhores amigas com tanta sincronia e gostos parecidos.

    Jackson e Hilbert ficavam do lado de fora na maioria das vezes, aproveitando para degustarem das bebidas vendidas nas máquinas automáticas espalhadas por toda a cidade. No final, os dois ficavam discutindo qual era o melhor sabor. Sentados em frente a loja escolhida pelas meninas, os rapazes degustavam da décima lata de bebida quente quando o treinador notou uma criatura rosa e manchada caminhar desorientada pela rua, coisa que foi repetida pelos moradores, que olhavam curiosos e receosos, já que a Pokémon estava manchada de sangue e ferida.




    — Jackson – disse o garoto. – Aquele Pokémon...? – ele apontou, chamando a atenção do amigo.

    — Aquilo é um Vaporeon? – disse, intrigado. – Ah nossa, o que houve com ele?

    Quando percebeu, estava falando sozinho. Hilbert caminhou em direção ao Pokémon, preocupado.

    Dentro da loja, Hilda saiu do provador usando um delicado quimono rosa bebê com estampas de cerejeira. Inari e a vendedora sorriram, aprovando o caimento da roupa.

    — Maravilhosa – disse a ruiva. – Esse é o melhor até agora.

    — Estou me sentindo incrível – riu a garota. – Acho que vou mostrar para Hilbert pra ver o que ele acha.

    — Devem estar na porta – Inari apontou para a porta, mas Jack apareceu antes que pudessem tomar qualquer decisão.

    — Hilbert foi ajudar um Pokémon. Ele parecia bem ferido - contou o arqueólogo. – Era um Vaporeon.

    — Um Vaporeon? – a ruiva se surpreendeu. – Eu ouvi dizer que existem grupos de Eevees que se procriam nas florestas da região, mas a gente mal os vê. Acho que deve ter se envolvido em uma briga de bandos.

    Hilda saiu do provador, vestindo seu boné.

    — Eu vou lá com ele – disse, com urgência, correndo para fora da loja.

    Hilbert abriu espaço entre algumas pessoas que já começavam a rodear a criatura rosada. Ela, por sua vez, parecia a ponto de desmaiar, não se importando com quem se aproximava ou com os humanos a observando com pena, e alguns, com certo desgosto e nojo.

    O garoto agachou perto da Vaporeon deitada no gélido chão. Ele a observava de igual para igual e parecia sentir as dores dela. Tirou sua jaqueta azul e a usou para cobrir o Pokémon, que já havia perdido a consciência e desmaiado. Hilda apareceu logo em seguida, ajoelhando do lado do amigo.

    — Ah, meu Arceus, são ferimentos grandes – analisou a garota, surpresa. – Ela tá viva, né?

    — Só desmaiou – Hilbert pegou a criatura manchada no colo. – Vamos levá-la para o Centro Pokémon?

    — Com certeza.

    Inari, que logo apareceu com Jackson, guiou os dois jovens para o Centro Pokémon da cidade. Era um pouco diferente dos de Unova, com tons pastéis amarelados nas paredes, mas que seguiam o mesmo padrão, provavelmente para facilitar que treinadores novatos na região encontrassem sempre que precisassem dos serviços. Hilbert sentiu que os cheiros entre os Centro Pokémon eram extremamente semelhantes.

    Mercuria foi levada com urgência para a ala de atendimento, mas logo foi liberada para visitas, o que a enfermeira não esperasse é que os quatro jovens entrassem todos de uma vez. Por ser nativa de Johto e a única do grupo a falar a língua, Inari permaneceu com a profissional de saúde para que ela explicasse com detalhes qual era a situação da Vaporeon.

    A criatura de água estava repousada sobre uma maca própria para Pokémon acompanhada de soros e uma pequena bolsa de sangue. Seu corpo estava todo enfaixado e seu olhar era sereno enquanto ela apenas dormia. Hilbert estava debruçado, observando a criatura com um apego que nem mesmo ele conseguia explicar. Ao seu lado, Hilda permanecia imóvel, como uma segurança, analisando os procedimentos adotados para que a Vaporeon se recuperasse.

    Jack estava do outro lado da sala, perto de uma janela, observando a paisagem, esperando que a quarta membra aparecesse. Inari entrou com tanto silêncio que sua presença só foi notada quando a porta de correr colidiu com o batente de leve.

    — Está “tudo bem” na medida do possível – explicou a sacerdotisa. – A julgar pelos ferimentos, ela teve uma briga com outros Pokémon, então não foi nada grave, mas que exige repouso e cuidados. Sobre as manchas e a cor...

    Hilbert interrompeu a ruiva com um olhar inocente, porém sério, como se soubesse exatamente que as palavras dela iriam direcionar aquela pequena diferença como algo bizarro. Inari sentiu uma pontada vindo do olhar de seu visitante e engoliu seco, desviando o olhar como se tivesse arrependida de abrir a boca.

    — Eu só ia dizer que – ela procurou as palavras -, apesar de raro, essa cor diferente é chamada de shiny e não é nada grave. S-só as manchas, que são conhecidas como vitiligo, devem ser tratadas com protetor solar e um pomada própria que foi receitado aqui – a ruiva entregou o papel para Jackson, que coçou a cabeça ao não entender nada escrito no papel.

    — Ninguém é igual a ninguém. Ela deve ter sofrido muito por causa da aparência dela – disse Hilbert, como se falasse de si mesmo e Hilda sabia muito bem disso.

    — É por isso que estamos aqui – sorriu a menina. – Não vamos deixar ela sofrer mais.

    Mercuria começou a abrir os olhos e suas pupilas arroxeadas se espantaram com o que tinha em volta. O céu (ou o inferno) era bem diferente do que imaginava, olhou para a figura de Hilbert e reconheceu ele de minutos atrás de desmaiar.

    — Ei, garota – cumprimentou, com a voz leve. – Tudo bem? Está com dor?

    A Vaporeon continuava a encarar o garoto com um certo alívio no coração. Agitou sua cauda de leve como se respondesse, ainda que não houve uma interpretação clara daqueles movimentos, mas o treinador sabia que aquilo significava bom sinal.

    — Você tem um nome? – questionou, enquanto acariciava a cabeça dela. Devia ser a primeira vez que Hilda via um Hilbert tão carinhoso, e isso a deixou mais admirada por aquele que poderia chamar de “primeiro amor”.

    Foi descoberto, por fim, que seu nome era Mercuria. A garota de Unova sentou-se para observar a saúde da Pokémon, atentando-se nas faixas que cobriam o corpo dela e até mesmo quando o soro estava para acabar.

    — A médica disse que se deve passar a pomada e o protetor uma vez por dia – explicou Inari, ao lado de Jack, observando a dupla.

    — Todos os dias? – questionou o treinador. – Eu vou esquecer, tenho certeza.

    — Deixa isso comigo – prontificou-se Hilda, levantando a mão. – Vai ser uma honra ter um Pokémon pra cuidar.

    Hilbert olhou para a companheira, encarando-a.

    — Mas a Mercuria é minha! – protestou.

    — Oh, então essa era sua intenção – debochou a amiga.

    — Não é só por isso – o garoto levantou o nariz. – Eu não ia deixá-la ferida no chão. Mas não escondo que talvez queria que ela se juntasse a minha equipe.

    — Você é um livro aberto, Hilbert – riu a garota. – Não se preocupe, só quero te ajudar com os cuidados.

    Hilbert olhou para Hilda e sorriu de leve.

    — Obrigada, Hilda.

    Ela não pode deixar de corar e torceu que ninguém percebesse sua cara de boba. Mas Inari parecia estar em sincronia com os pensamentos da garota e com Jackson, ela olhou o arqueólogo e ele só disse:

    — Às vezes eu sinto que eles tão muitos passos a frente de mim – confessou, sorrindo. – E eu estou louco para alcança-los.

    — Tem certeza de que eles não são namorados? – questionou a moradora de Johto.

    — Baseados nas minhas boas observações sociais, um deles queria que fosse verdade – contou para a ruiva, como se fofocasse. – Mas Hilda é muito tímida para tomar alguma iniciativa. Mas eu tenho um plano.

    — Um plano? – Inari franziu a testa.

    — Eu chamo de “Operação Cupido” – o lado criativo de Jack parecia falar mais alto conforme ele se orgulhava de suas ações. – É um nome genérico, eu sei.

    Ao contrário da reação esperada, a sacerdotisa quebrou as expectativas e com um sorriso franco, disse:

    — Eu adorei o nome.

    Dessa vez, era Jackson que assumiu uma expressão boba.

     

    Foi decidido que Mercuria ficaria até o dia seguinte para que tivesse uma recuperação tranquila. Hilbert decidiu comprar (no caso, Hilda comprou) uma Heal Ball de forma simbólica para usar na criatura assim que ela recebesse alta.

    Enquanto isso, resolverem retornar ao seu objetivo inicial: Procurar roupas para o famigerado festival que aconteceria na noite seguinte. Com insistência, Jackson e Hilbert conseguiram se livrar do compromisso de usarem os famosos quimonos, já que Inari lhes dissera que a tradição era mais comum com mulheres, mas Hilda fazia questão de entrar no clima da cultura Johtoniana. Retornaram para a loja onde a garota havia experimentada o quimono rosa mais cedo com o objeto de mostra-lo, por fim, a Hilbert.

    O garoto encolheu os ombros ao sentir os olhares cheios de expectativas para cima dele, principalmente de Jack e Inari, que pareciam uma dupla que uniram forças para um bem maior. Quando Hilda finalmente saiu do provador, não foi preciso forçar reações.

    Era a segunda vez que estava experimentando aquela roupa, mas sua ansiedade tinha mudado com a presença do amigo. Juntou as mãos como sinal de timidez e olhou de relance com a cabeça baixa para Hilbert, que realmente não sabia disfarçar o queixo caído.

    — Hilbert? – questionou Jack, tentando arrancar alguma palavra do jovem.

    Quando sentiu a boca secar, ele recobrou a consciência e limpou a garganta, não escondendo a admiração. Não estava acostumado a ver Hilda arrumada com roupas que não fossem pijamas ou sua clássica vestimenta de jornada. A expectativa pelo veredito pelo jovem treinador era tanta que ninguém continha a ansiedade, não esperando muito das atitudes do garoto, o grupo não se surpreendeu quando ele mandou um:

    — Rosa é realmente sua cor, né? – riu, coçando os fios marrons próximos da nuca.

    Hilda riu desapontada, porém, não surpresa, cogitou que era apenas um elogio diferenciado.

     


    A noite caiu rapidamente e para a felicidade de Inari, a temperatura estava baixa. Ideal para banhos nas famosas fontes termais que comentara de manhã. Os famosos Onsens, como eram conhecidos os banhos termais na região de Johto, eram o principal ponto turístico no inverno rigoroso, mas com a breve chegada da primavera no mês seguinte, o movimento tinha caído consideravelmente, o que possibilitou que Inari pudesse reservar duas horas seguidas, tempo suficiente para que os visitantes pudessem aproveitar a oportunidade única.


    Attakai Kokoro estava escrito em kanjis esculpidos em pedra na frente do enorme estabelecimento. A recepção tinha um ar tão clássico que só perdia para o templo dos Kurosawa. A moradora de Johto tomou a frente naquela expedição, conversando com a recepcionista, que ofereceu chaves para dois vestiários particulares e indicou qual seria a fonte que usariam, tudo na mais privacidade.

    Inari acenou para que a seguissem, entregou uma das chaves a Jack, que entrou no vestiário com Hilbert. O menino deixou sua bolsa sob um banco de madeira e Vic saiu de lá de dentro.

    Quer dizer que a gente vai finalmente aproveitar um tempo de descanso? – questionou o Pokémon, animado. Por ser parte tipo fogo, ambientes quentes eram seus favoritos.

    — E você lá pode ter contato com água? – questionou Jackson, desabotoando sua camisa verde.

    Eu posso, quem não tem muito contato é o Hilbert. Um banho vai fazer bem pra ele – debochou o Victini, levantado em seguida um ataque das peças superiores do garoto. Hilbert colocou as mãos no quadril em protesto. – Vem cá, quando foi que vocês dois tiveram intimidade pra tirarem a roupa na minha frente?

    O treinador e Jack se entreolharam. Enquanto o garoto tinha um corpo ideal para alguém de sua idade, Jackson já se mostrava um rapaz que se preocupava mais com músculos definidos. Quando ele finalmente tirou a camisa que vestia, a luz do ambiente chegou a exaltar cada centímetro do tórax do arqueólogo, que se acanhou quando percebeu que ninguém tirava o olho dele.

    — O que é?! – resmungou.

    Vic foi o primeiro a responder:

    Às vezes eu sinto que você foi desenhado só pra ser o bonitão do nosso grupo só pra agradar os fãs.

    — Obrigado?

    O problema é que você é otaku, então causa o efeito reverso.

    Foi a vez do Pokémon anjo ser atingido pelas vestes do arqueólogo, que logo terminou de se despir (ficando apena de cueca por pura proteção) e vestiu um roupão.

    — Eu vou na frente, se me derem licença – Jack agarrou uma toalha disponibilizada pelo local e saiu, deixando a dupla pra trás.

    No vestiário feminino, Hilda e Inari não pareciam ter a mesma intimidade, muito menos tinham coragem de olhar uma a outra. Mas a jovem de Johto estava acostumada com ambientes do tipo e não se poupou de começar a tirar a roupa, desamarrou o laço do quimono que usava e o retirou, revelando um corpo bem desenvolvido com curvas herdadas dos seus antepassados quando ainda habitavam em Unova. Seios firmes e fartos logo se livraram do sutiã e sua calcinha foi jogada pra dentro do armário, vestiu logo um roupão antes que o vento da janela lhe castigasse. Olhou de relance para trás e viu que Hilda continuava intacta, de costas, encarando o armário.

    — Tá tudo bem? – questionou Inari.

    — Não é irônico eu ser filha de uma modelo e dançarina que é admirada pelo seu corpo e beleza e ser tão insegura com o meu corpo? – questionou, com certa sinceridade.

    — Parecia tão confortável experimentando os quimonos – retrucou a ruiva, compreensiva. – Mas não te julgo, toda mulher deve sentir isso, é a nossa maldição diária. Mas não deixa isso te prender para os prazeres da vida, está com conhecidos. E se me permite dizer, acho que você é muito bonita.

    As palavras carinhosas e sinceras da jovem surtiram um efeito positivo e Hilda decidiu por fim começar a se despir.

     

    Não é que Jackson optasse por ir primeiro porque estava bravo. É que precisava colocar seu plano em prática antes que alguém o descobrisse. Duas portas elegantes estavam posicionadas um do lado da outra e com placas com símbolos que indicavam feminino e masculino, uma em cada entrada. Sem muita discrição, ele inverteu a ordem das placas e se escondeu, esperando sua primeira vítima chegar. Ouviu Hilda e Inari se aproximarem, mas a ruiva parou no meio do caminho.

    — Oh, eu esqueci de pegar algo no vestiário! – avisou. – Vai na frente, eu já volto.

    Sem muito contestar, Hilda entrou na sala com a placa feminina e fechou a porta. Jack logo se aproximou e voltou as placas para a ordem original, torcendo para que Hilbert chegasse antes de Inari. E a sorte estava a seu favor.

    O treinador logo entrou no mesmo ambiente que Hilda junto de Vic, mas a princípio, nenhum deles notaram a suposta confusão. Pela última vez, Jack trocou as placas de lugar e entrou no único banheiro vazio com a placa feminina e torceu para que tudo desse certo. Era hora de Hilda ter um pouco de coragem.

     

    A garota de Unova estranhou um pouco o ambiente antes de seguir as instruções dada por Inari. Primeiro ela devia se banhar antes de entrar na famosa fonte termal que tinha sua origem na base do Mt. Mortar, um vulcão adormecido que ficava na vizinha rota e graças a túneis subterrâneos, era possível oferecer água rica em sais minerais e com temperatura cedida pela natureza. A quentura da água levantava grande fumaça que inundava o ambiente. Após um banho rápido, Hilda adentrou a fonte, sentindo seu corpo se esparramar com o quentinho que aquilo trazia para ela. Olhou o ambiente e notou que pedras e bambus eram maioria na decoração, soltou o cabelo e deixou seus longos fios repousarem sobre seus ombros. A água cobria um pouco acima de seus seios medianos e era quase impossível ver o reflexo na água graças a luz baixa. Poderia tirar um cochilo.

    Hilbert demorou alguns minutos até se localizar nas fumaças que pareciam formar um labirinto até seu destino, usando apenas uma toalha na cintura, teve que se desfazer dela antes de enfim, entrar naquela banheira natural, respirou fundo e encostou nas pedras a borda.

    Vic sentou-se próximo, em uma pedra que estava levemente submersa, relaxou seu corpo mítico contra uma rocha escorregadia e soltou um suspirou divertido:

    Isso é maravilhoso, cara – comentou. – Me sinto como um líder de alguma ordem que está relaxando em seu dia de folga, mas que logo vai vir ser perturbado pelos seus capangas alegando que alguém invadiu nosso território.

    Hilbert riu com a imaginação do amigo. Hilda também riu, imaginando que os dois já estivessem na sala ao lado, já que as piscinas naturais eram separadas por uma parede fina feita de bambus que pareciam ressecados.

    A garota sentiu um leve vento atingir seu corpo e resolveu trocar de lado, arrastando-se levemente para o lado até sentir seu braço encontrar outro corpo. Quem estaria ali?

    Hilbert também sentiu o impacto e olhou para ela. Os dois demoraram para raciocinar a situação, ficaram uns minutos se encarando até que o garoto desceu os olhos para o corpo da amiga, por instinto.

    — NÃO OLHA! – usando a palma da mão, ela acertou um golpe contra o nariz do treinador que caiu boiando na água, derrotado. Foi aí que Hilda percebeu que o garoto não usava sua roupa de baixo.

    Ela berrou e cobriu o rosto, completamente envergonhada.

    PUTA MERDA, HILDA, VOCÊ MATOU O HILBERT! – berrou Vic.

     

    Jack ouviu o berreiro do outro lado e chegou à conclusão que estava tudo bem na medida do possível. Agora só torcia que a porta que trancara resultasse algum efeito. Enquanto isso, aproveitou para relaxar, apoiando os braços abertos nas pedras e olhando pra cima, por um segundo, esqueceu que o grupo aumentara nos últimos dias. Seus ouvidos captaram passos leves e pequenos de Inari se aproximando e sua espinha gelou, usou uma pedra central para se esconder e ali permaneceu. Imaginou o que Yukiko faria se descobrisse a merda que tinha feito.

    Pra sua sorte, a sacerdotisa não percebeu a presença de ninguém e imaginou que Hilda já estaria no lugar a julgar pela toalha guardada. Pendurou seu roupão e nua, sentou em um banquinho de madeira baixo e usou baldes para molhar seu corpo feminino, fez isso algumas vezes antes de continuar seu ritual enquanto se ensaboava. Jackson resistiu a tentação, tentando controlar sua respiração enquanto sua mente tentava imaginar.

    Inari o surpreendeu ao começar a cantar baixinho uma música em japonês que só ela naquele momento entenderia, mas a letra era de menos quando a mulher tinha uma incrível voz, suavemente doce que aquecia corações – ou era só o efeito da fonte termal?

    A cantoria continuou até o momento que ela finalmente adentrou a piscina natural e encostou no lado inverso da mesma pedra que o arqueólogo estava. Ao olhar levemente para trás, ele viu os longos fios alaranjados molhados que escorregavam pela pele de porcelana dela. Não dava pra disfarçar o quanto ele estava admirado com tamanha beleza.

    O silêncio predominou por minutos antes que Jackson tivesse a coragem de chamá-la.

    — Eu tenho quase certeza que a resposta que você queria dar para o Hilbert quando ele perguntou sobre ajuda era “sim, eu quero muito!” – disse, como se tivesse pensado no assunto o dia inteiro.

    Ele percebeu o pulo dado por Inari antes que ela afundasse mais o corpo pra dentro, deixando a cabeça pra fora.

    — Q-quem é? – questionou, ofegante, enquanto sentia seu coração desregulado.

    — Sou eu, Jackson – ele disse, suavemente.

    — O que faz aqui? – questionou, temendo qualquer ação do homem nas suas costas. – Por favor, não me ataque.

    — O quê?! – Jackson se defendeu. – Claro que não! Estou aqui por causa do meu plano de juntar Hilbert e Hilda. Lembra? O “Operação Cupido”.

    Inari tinha um coração gentil e inocente apesar da idade, sabia dos perigos de dividir um ambiente tão íntimo com um suposto desconhecido. Se manteve alerta, mas percebeu que o arqueólogo não dava sinais de que sairia dali. Se lembrava dele ser alto perto dela e isso oferecia uma certa segurança, deixou então o resto do seu corpo confiar nas palavras do rapaz.

    — Acha que vai dar certo? – perguntou ela, logo depois. – O seu plano – ela reforçou.

    — Aqueles dois funcionam sozinhos – sorriu. – Quem sabe assim eles criam coragem. Não se preocupe, aproveite para relaxar – ele olhou pra cima. – Pode voltar a cantar, sua voz é quase uma canção de ninar para meu coração.

    A sacerdotisa encolheu as pernas e corou. A voz forte de Jack a deixava incrivelmente tímida.

    — Obrigada – respondeu, sincera. – Sabe do que ela se trata?

    — Pra ser sincero, não entendi nenhuma palavra – e riu.

    — Ela consegue expressar o que eu sinto todos os dias – confessou. – Fala sobre uma voz interior que me pede para eu não parar de sonhar. Você tem um sonho, Jackson?

    Até o modo como ela pronunciava seu nome era fofo.

    — Meu sonho? Ser reconhecido de alguma forma.

    — E como vai saber quando esse dia chegar? – questionou.

    — Quando eu estiver pronto para viver outro sonho.

    Os dois, como num acordo comum, se permitiram olhar um para o outro, apenas exibindo seus rostos serenos. O homem sorriu com sinceridade enquanto a mulher não sabia exatamente como corresponder a tanto charme. Ouviu-se uma vez que pessoas do signo de Drapion passavam essa sensualidade única, retribuiu o sorriso com os lábios antes de continuar a conversa.

    — Sobre a pergunta do Hilbert – ela começou, retomando a pergunta. – Sim, eu estava louca para aceitar a oferta, mas uma insegurança enorme segurou as palavras na minha garganta.

    — Está preocupada com a sua avó?

    — Ela me protege bastante. Mas isso é bom? Ser protegida o tempo todo.

    — Inari, minha tia sempre disse: Um barco está seguro no porto, mas não é pra isso que eles foram feitos. Sua música fala de uma voz interna: O que a sua te diz?

    A sacerdotisa respirou fundo. Não ligou quando seus olhos lacrimejaram.

    — Ela pede pra eu sair. Que eu devo ajudar vocês.

    Jackson estendeu a mão e usou o polegar para enxugar uma lágrima teimosa e brincar com uma mecha dela.

    — Vai esperar essa voz ficar rouca de tanto gritar ou vai desancorar o navio do porto e zarpar em direção ao desconhecido?

    Inari não conseguiu responder e voltou para seu canto, encerrando a conversa, não antes de dizer baixinho:

    — Obrigada.

     

    Hilbert acariciava o nariz, impaciente. Não esperava apanhar até no lugar deveria servir para relaxar. Estava usando sua toalha em volta do quadril enquanto estava sentado em uma das pedras úmidas da borda da fonte termal. Hilda, ao seu lado, estava enrolada numa toalha com a cara fechada e pernas encolhidas enquanto Vic fingia que não era com ele, nadando longe dos dois.

    — Você pediu – disse ela, baixinho.

    — Podia maneirar na força – retrucou, mal humorado. – Nem parece uma menina com essa violência. Achei que fosse quebrar o nariz.

    — Você entrou no banheiro feminino e esperava ser bem recebido?

    — Nada disso, aqui é o masculino!

    — EU SABIA QUE VOCÊ ERA ANALFABETO, MAS NÃO SABER INTERPRETAR SÍMBOLOS JÁ É DEMAIS!

    — QUAL É? – protestou, ainda mais irritado. – TÁ QUERENDO BRIGAR?!

    — SOSSEGA ESSE CHIFRE ANTES QUE EU TE DÊ OUTRO TAPA NO NARIZ!

    Traumatizado, ele se encolheu e voltou a acariciar o nariz.

    Hilda encarou os chifres do menino sem nenhum motivo, eram raras as vezes que ela havia visto tão de perto, então não podia deixar de admirar aquele fenômeno curioso. Hilbert percebeu logo em seguida e tentou esconder com as mãos, como se tivesse sido invadido.

    — Vai implicar com isso agora?

    — Você sente dor neles? Tipo dor de cabeça com o peso? – questionou, simplesmente curiosa.

    — E-eu – o garoto precisou pensar. – Eu nunca parei pra pensar. É tão natural quanto ter orelhas ou boca, você não sente até se concentrar nisso. Já parou pra pensar que sempre vemos nosso nariz, mas nossos olhos o ignoram?

    A garota riu. Adorava como Hilbert mudava de humor com tanta facilidade, provavelmente tinha até esquecido da pancada no nariz. Era uma das coisas que mais amava nele, apesar das brigas e das atitudes infantis, aquela relação só se fortalecia. Talvez fosse o momento exato para o convite que estivera enrolando por dias para fazer. Ninguém os interromperia e na pior das hipóteses, a resposta seria não, certo?

    — Hilbert, posso te pedir algo?

    — Se for me cobrar pelo dinheiro que já gastei, provavelmente vai ter que contratar um agiota – respondeu, imaginando-se sendo perseguido por dever a alguém tão perigoso.

    — Nada disso! Dá pra ser um pouco sério? Por 5 minutos? – ela pediu, controlando a raiva. – Por favor – implorou.

    Hilbert assentiu, assustado. Talvez não visse a amiga falando tão sério desde os acontecimentos em Nacrene.

    — Você sabe que meu aniversário de 15 anos tá chegando, né? – o garoto assentiu e ela prosseguiu: - Pois bem, uma das tradições dos aniversários de 15 anos é a valsa da aniversariante com o “príncipe”.

    Como se esperasse, ele apenas se manteve concordando, balançando a cabeça.

    — Minha mãe pediu para que eu escolhesse um – Hilda brincou com os dedos, tímida. – E eu queria que você fosse meu príncipe.

    O silêncio reinou. Hilbert evitou trocar olhares com a amiga por alguns minutos enquanto a menina estava vermelha (efeito das fontes?), quase procurando um buraco para se enfiar. Perdeu um pouco da paciência quando a resposta estava demorando mais do que o esperado.

    — Hilbert, é só falar não.

    — Eu estava esperando os 5 minutos de seriedade acabar – ele começou a rir, nervoso. – Sério mesmo? Tipo, tu não tá zoando? Eu nem sei dançar e já atingi minha cota de pagar mico.

    Hilda reprimiu um choro e cerrou os lábios. Riu para disfarçar.

    — É-é claro que não, né? – ela continuou, com a voz marejada. – T-Tudo bem, você está certo. E-Eu posso... arrumar uma outra pessoa.

    O treinador olhou para a amiga e quase se desesperou em vê-la chorar.

    — E-espera, n-não chora...

    — N-Não tô chorando – ela tentou disfarçar.

    Hilbert coçou os cabelos ansioso e perguntou:

    — Isso é importante pra você, né?

    Hilda assentiu:

    — Talvez eu esteja assustada por fazer parte de algo que eu seja o centro das atenções, então queria pelo menos estar com alguém que me deixasse confortável e confiante.

    O garoto corou.

    — Ok, ok, eu vou! – ele disse, em claro e bom som. – Mas só porque é importante pra você. Você me ensina a dançar?

    Hilda encarou o amigo e sorriu como uma criança, voltando a chorar mais.

    — PORQUE VOCÊ TÁ CHORANDO?!

    — EU TO CHORANDO DE EMOÇÃO!

    — MEU ARCEUS, VOCÊ ANDA TÃO ESQUISITA!

    Com uma atitude compulsiva, Hilda se jogou pra cima do garoto em um abraço animado que quase derrubou ele.

    — OBRIGADA, OBRIGADA! – disse ela, entre risos. – Vai ser o melhor príncipe do mundo.

    Hilbert continuava a rir, sem graça.

    — É um título bacana.

    O momento era de tanta descontração que Hilda nem percebeu que sua toalha escorregou e a deixou vulnerável, e novamente, Hilbert não conteve o olhar. Percebendo, o clima quebrou e Hilda ergueu um punho fechado, irritada.

    — EU JÁ FALEI PRA VOCÊ NÃO OLHAR! – o soco veio com tanto impacto que provavelmente o nariz fora quebrado dessa vez.



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