A Pensão da Lilly Liligant - Capítulo 5
A
manhã se iniciara com certa paz.
Brianna
tomava seu chá na sala de jantar, estava com as pernas cruzadas e uma expressão
séria. Nem se importava com os resmungos que vinha de Vic que estava ajoelhado
ao seu lado no chão usando uma exótica coleira.
Mirsthy
logo apareceu, se espreguiçando. Quase deu um grito ao ver o amigo naquela
condição.
—
O-o que, em nome de Cresselia, aconteceu? – questionou, observando como a Snivy
segurava a corda presa a coleira.
—
Oh, bom dia, Mi – Brianna soltou um sorriso gentil, ainda que parecesse
extremamente falso. – Isso aqui? É só meu novo e leal companheiro, Vic, o
Lillipup.
—
Bree, ele é um Victini – informou a Minccino, confusa.
A
outra balançou o dedo negativamente.
— O
Victini está morto. Agora eu tenho um Lillipup que me segue pra cima e pra
baixo e me obedece, não é, querido? – ela puxou levemente a coleira e Vic
murmurou mais.
—
Sim, senhora, ó, minha suprema rainha, dona da minha vida. Como eu te amo, devo
tudo a você – respondeu o Lilli- digo, o Victini, em uma fala ensaiada.
—
Quando foi que vocês assumiram esse tipo de relação de fetiche? – questionou
Mirsthy.
—
Alguém achou que seria uma boa debochar de mim fazendo musiquinhas com Woobats.
—
Ah, vocês escutaram também? – perguntou a cinzenta, animada. – Foi maravilhoso,
consegui dormir a noite inteira.
—
Mal consegui dormir – murmurou Brianna. – Pelo menos agora, eles vão dormir por
um bom tempo – ela alcançou algumas berries, devorando com gosto.
—
Majestade, tô com fome – disse o Victini, fazendo bico.
—
Hm? Ah, não é hora da sua ração – respondeu a Snivy, com deboche.
Vic
se levantou, arrancando a coleira.
—
Ok, mulher, já chega! Eu já pedi desculpas e isso não tem graça!
Os
olhos avermelhados da inicial de grama encontraram os olhos azuis do Victini
que gelou. Ela invocou um Vine Whip e fez as vinhas estalarem como um
chicote. Vic engoliu seco e voltou para a sua posição de Lillipup, resmungando
ainda mais.
Lilly
logo apareceu, assim como os outros hóspedes (com a exceção dos Woobats). Ela
convocou uma pequena reunião a fim de contar as novidades.
— Muito
bem, como devem saber, nosso número de hóspedes deu um salto enorme desde...
hã... ontem – ela riu, ansiosa. – E como ninguém esperava esse crescimento
rápido, estamos com alguns problemas de espaço na cozinha e falta de comida. A
partir disso, eu tomei uma decisão importante.
—
Vamos expulsar os Woobats? – questionou Sombra.
— E
se a gente matar metade deles? – sugeriu Brianna.
A
Lilligant encarou o grupo, perplexa.
—
... Eu decidi abrir um café – revelou, por fim.
A
Snivy colocou a mão sobre o queixo, pensativa.
—
Ainda acho que mata-los é uma solução mais rápida e eficiente – concluiu.
— O
Café ficaria do lado da Pensão. As refeições seriam servidas tudo por lá e
ainda teria a possibilidade de oferecer um cardápio para quem fosse de fora –
contou Lilly, como quem tivesse passado a noite inteira pensando sobre o
assunto, planejando cada detalhe.
Exceto...
— E
temos dinheiro pra isso? – questionou Mirsthy, como boa funcionária.
BINGO!
A única coisa que tinha escapado pelas prestativas mãos da Lilligant. Uns
minutos em silêncio confirmaram aquilo que todo mundo pensava.
—
Então – Lilly começou, depois de pigarrear. – É aqui que eu pediria ajuda de
vocês. N-Não é obrigação de vocês, na verdade, eu nem espero que vocês me
ajudem, mas, se puderem, eu ficaria grata – a Pokémon juntou as mãos, ansiosa.
Os
hóspedes se entreolharam. Koin foi o primeiro a levantar a mão.
— Eu
topo! – disse.
Brianna
olhou para o companheiro e levantou a mão também.
—
Vic pode roubar dinheiro – sugeriu. – É a especialidade dele.
Vic,
ainda no chão, com sua coleira, encarou a mulher.
—
Roubar? Você é podre de rica! – retrucou, cruzando os braços. – Pede pra sua
família pagar. Você é a que come mais nesse lugar! Tá até ficando gorda.
Snivy
segurou com um pouco mais de força a corda conectada na coleira de seu
“Lillipup” e soltou um sorriso cínico.
— Se
me dão licença – ela se levantou e se dirigiu para outro cômodo, carregando
Vic. O Pokémon temeu pela sua condição física.
Em
alguns minutos, quem ficou, pode ouvir gritos de desespero e golpes de
chicotadas violentas.
— Tá
virando rotineiro – observou Mirsthy. – De toda forma, acho que todos nós
topamos a ideia. Podemos te ajudar, dona Lilly.
Lilly
deu um leve pulo, animada. Koin sorriu.
— Obrigada,
de verdade – ela disse, eufórica, enquanto procurava os papéis com anotações
quilométricas. – Eu pensei em vender tortas na estradinha perto da Pensão.
Sempre tem grande movimento por lá.
—
Maravilhosa ideia – sorriu Mirsthy. – Se empenhe em fazer deliciosas comidas
enquanto nós vendemos o peixe.
—
Mas ela disse que vai vender tortas – apontou o Tepig, confuso. – Aliás, o que
é peixe?
— Eu
não faço ideia – brincou a Minccino. – Apenas sorria e siga o roteiro.
Foram
preciso alguns poucos dias para que a barraca fosse montada. Com sorte, Wooby e
A Legião haviam saído em uma jornada breve para sua terra natal em busca de
alguns pertences, então não precisariam se preocupar com a cantoria da
madrugada nos próximos dias.
O
grupo se dividiu entre quem ficaria na cozinha: Koin, Lilly e Grimaud.
Enquanto, na parte das vendas, ficaram Vic, Brianna, Sombra e Mirsthy. E assim,
começaram o primeiro dia de vendas.
A
Minccino tentava chamar a atenção junto de Sombra de alguns clientes que
olhavam curiosos para as tortas, mas só alguns realmente paravam. Brianna
recepcionava eles enquanto Vic observava tudo, sentado no chão. Seu castigo com
a coleira continuava firme e forte.
Uma
fêmea Haxorus acompanhada de seu filho Fraxure se aproximaram. A Snivy atendeu
com um sorriso tão meigo que o Victini estranhou com tamanha delicadeza.
—
Vamos levar uma torta hoje? – questionou ela. – Aposto que o rapazinho adora um
bom doce.
—
Estão com uma cara tão boa – comentou o Pokémon dragão.
— Foram
feitos com muito amor e carinho pela Lilly, a dona da Pensão – informou ela,
dando ênfase ao marketing.
O
Fraxure olhou para o Victini no chão e franziu a testa.
— O
que tá fazendo aí? – questionou, com as mãos no bolso.
—
Ele é meu Lillipup de estimação – informou Brianna, sorrindo, mantendo a pose.
—
Mas ele é um Victini.
—
Não adianta falar isso pra ela – resmungou Vic. – Acho que o cérebro dela foi
devorado e ela ficou burra.
A
lei da ação e reação foi imediata e o chicote estralou contra a parte lateral
do Pokémon. A Haxorus se assustou e recuou com o seu filho. Vic se levantou e
encarou Snivy.
— Tá
querendo morrer? – questionou ela, enfurecida.
—
Cai dentro, nariguda! – desafiou. – Se eu ganhar, tu tira essa droga de mim! –
disse, agarrando a coleira.
Uma
aura intensa e demoníaca cercou aqueles dois. Os dois agarraram as mãos do
adversário e começaram a se empurrar, com uma força de igual para igual.
Mirsthy notou a confusão e quase gritou de desespero quando viu a mãe Haxorus
se afastar com seu filho, que parecia interessado em ver uma briga por motivos fúteis.
—
V-Vic, B-Bree – a Minccino levantou as mãos. Queria impedir, era só o primeiro
dia de trabalho, como eles conseguiam estragar tudo em poucas horas?
Mas
ela não impediu. Não quando ela olhou para os lados e notou que alguns
interessados pareciam estar apreciando aquele embate. Era de se surpreender que
até mesmo Pokémon, em toda sua espécie, tinham um interesse por batalhas. Desde
os mais grandes até os pequenos paravam e começavam a apostar no mais forte,
alguns apostavam na vantagem de tipo do Victini, enquanto outros arriscavam na
força bruta da Snivy.
Mirsthy
sentiu uma lâmpada acender em sua cabeça e rapidamente começou a cortar fatias
das tortas. Ela acenou para Sombra, que se aproximou, curiosa:
—
Vai oferecendo e vendendo essas fatias para os que estão assistindo – ordenou.
– Vamos lucrar com entretenimento sensacionalista de baixa qualidade igual na
TV aberta aos domingos.
A
Zorua assentiu e se aproveitou do fascínio do público para oferecer-lhe comida
pega e pronta. Que Pokémon iria perder essa chance? Aos poucos, todo o estoque
iria sumindo e Lilly quase não conseguia dar conta de tantas vendas.
Mirsthy
percebeu que Vic e Brianna estavam para encerrar a briga. Com destreza, ela
berrou:
—
BRIANNA, O VIC DISSE QUE PREFERE SENTAR NO COLO DE GIRATINA DO QUE PASSAR CINCO
MINUTOS OUVINDO SUA VOZ!
A
Snivy fuzilou o Victini com o olhar e o mesmo gritou:
—
QUER PARAR DE ME CALUNIAR?!
— SE
VOCÊ QUER TANTO ENCONTRAR GIRATINA, DEIXA EU QUE ADIANTO ESSE PROCESSO! –
possessa, ela avançou contra o rapaz que, revidou, inconscientemente, com um
golpe de fogo contra o rosto da mulher, que recuou, com dor.
— A-Ah,
B-Bree – Vic gelou pois sabia que um golpe tipo fogo era prejudicial a um tipo
planta. Ele se aproximou, preocupado. – Brianna, ei! Fala comigo! Tá doendo?
C-Chamem um médico!
Brianna
virou o rosto e encontrou os olhos do companheiro. Ela sorria cinicamente e
suas pupilas ardiam como brasa.
—
Acha mesmo que uma faísca dessa iria me derrubar? – perguntou, de forma
retórica. – So you’ve choosen death, foolish boy!
E a
batalha recomeçou, dessa vez, os espectadores gritaram eufóricos e agitados,
como se o round 2 estivesse com muito mais alma. Sombra continuava a
oferecer mais e mais fatias, usando suas artimanhas de fofura para convencer os
clientes, alguns até pagavam a mais pelos pedaços.
Lilly
e Koin se aproximaram com novas tortas e se assustaram com a quantidade de
clientes.
—
U-uau, o que tá acontecendo? – questionou a dona da Pensão, logo depois caindo
seu olhar para a briga. – Ah meu Arceus! Tá tudo bem?
— Dona
Lilly, pau na máquina! – disse Mirsthy, exaltada. – O pessoal tá comprando
tortas como loucos. Tudo isso só para continuarem a assistir aqueles dois
brigando.
— Tá
dizendo que a briga faz parte da estratégia de venda?
— Um
bom produto atrai pessoas, mas um bom atendimento atrai clientes fiéis –
apontou a Minccino. – Agora, continue trabalhando. E traga alguns curativos pra
remendar aqueles dois.
A
Lilligant riu, com uma felicidade diferenciada. Sentia que aqueles hóspedes que
tanto a ajudavam estava se tornando sua nova família. Koin segurou a mão da
mulher:
—
Vamos, Lilly, temos muitas tortas para fazer!
Naquela
noite, os hóspedes e Lilly faziam as contas de quanto haviam lucro, nunca tinha
se visto tanta moeda e dinheiro. Vic e Brianna estavam de costas um para o
outro, segurando pequenos sacos de gelo contra os ferimentos e hematomas. O
Pokémon anjo estava com a sua coleira, indicando que tinha perdido a batalha.
—
Espero que tenha aprendido – disse a Snivy, com o orgulho ferido.
—
Não fala comigo – murmurou o Victini. – Aliás, de quem foi a ideia de
incentivar a briga?
— O
pessoal começou a aparecer quando vocês brigaram – explicou Mirsthy. – Acha que
estarão recuperados até amanhã?
—
Nem fodendo que eu vou brigar com essa ogra de novo! – protestou. – Olha a
nossa situação. Se virem.
A
Minccino cruzou os braços, pensativa. Olhou para Sombra e sorriu.
— Já
sei, podemos pedir para que Sombra conquiste todos com sua fofura. O que acha,
pequena?
—
Posso morder quem não comprar as tortas? – a Zorua pulou, agitada.
— Só
se o cliente pedir – riu.
No
outro dia, foi a vez de Sombra ser o centro das atenções. Mirsthy e Brianna
ficaram responsáveis em vender e Vic aproveitou o dia para ficar deitado (sob a
supervisão de Bree, é claro). O primeiro cliente foi uma gentil Audino que
caminhava com a sua cestinha, Zorua se aproximou:
—
Ei, tia, estamos vendendo tortas – sorriu, usando o máximo da sua fofura. – Que
tal você comprar todas? Digo – ela juntou os dedos indicadores, fazendo charme.
– Pode comprar uma, é para uma amiga nossa e estamos vendendo para ela realizar
o sonho. Sombra ficaria muito feliz se você comprasse.
Uma
flecha imaginária atingiu o coração daquela Audino.
— Se
eu comprar duas, Sombra ficará feliz? – ela perguntou, certificando de que
veria um sorriso daquela obra de Arceus.
—
Muito. MUITO FELIZ! – a Zorua levantou os braços, animada e agitada. – Venha,
venha.
Ela
guiou a primeira cliente do dia para a tenda que logo foi atendida pela
Minccino e a Snivy. Sombra logo notou sua segunda vítima, um Sawk mal-humorado
que nem olhou para o lado. Mas insistência era uma característica dela.
—
Moço! – ela chamou, conseguindo roubar a atenção. – Estamos vendendo torta. Se
você comprar algumas, eu vou ficar muito feliz. Você quer ver Sombra feliz? – e
mais uma vez, ela usou suas artimanhas.
O
Sawk revirou os olhos.
— E
o que acontece se eu não comprar?
Sombra
encarou o cliente com um olhar amedrontador que só os Dark-type sabiam
fazer. A espinha do Pokémon lutador gelou.
—
Então eu vou te morder. E vai doer muito – ela disse, com voz baixa.
No
final, ele levou pelo menos dez tortas.
—
Vocês todos estão presos.
Ninguém
sabia exatamente o que aconteceu. Dois Growlithes e um Stoutland impaciente
foram chamados para a barraca que vendia tortas. Brianna encarou Vic.
— O
que você roubou?
— Eu
nem sai daqui, mulher – defendeu-se.
Mirsthy
se aproximou.
— Em
que posso ajudar, senhores?
—
Recebemos a denúncia de um comércio que usava mão de obra de menor e
incentivavam briga entre duas pessoas.
—
Falando desse jeito, fica parecendo que somos demônios – ironizou Vic.
Lilly
logo surgiu. Desesperada, ela tinha ouvido falar da denúncia e da presença da
polícia.
—
S-Senhores. S-Sinto muito. Estou vendendo tortas para arrecadar dinheiro para
construção de um Café – ela explicou. – Não tive cabeça para impedir que meus
hóspedes se expusessem tanto. Eu assumo toda a culpa.
—
Vai ser presa no lugar de todos? – questionou o Stoutland, sem estar muito
preocupado.
—
Não pode prender ela! – Koin apareceu e interveio.
—
Pera aí, senhor policial – Vic protestou também. – Não podemos negociar. Quer
uma torta? Por conta da casa.
O
Pokémon cão encarou o Victini.
—
Podem pagar uma multa – disse. – E devem fechar essa barraca.
Lilly
engoliu seco com o valor dito pelo policial. Aquilo era praticamente o dinheiro
arrecadado em um dia de trabalho. Ela sorriu, sem graça e logo pagou os
policiais, pedindo mais e mais desculpas. Os outros hóspedes observavam tudo em
absoluto silêncio. Koin percebeu toda a tristeza da Lilligant, como se ela
estivesse entregando o seu curto sonho no lixo.
Naquela
noite, ninguém contou o lucro, só o prejuízo.
Todos
se desculparam milhares de vezes e Lilly teve que acalmar todos, dizendo que
estava tudo bem.
Como
se as notícias ruins já não fossem o suficiente, Wooby e A Legião voltou após
alguns dias de viagem, cheio de pertences. O líder parou ao ver todos naquele
clima de desânimo.
— Meu
santo Hilbert, gente – começou. – Que cara é essa?
—
Ganhamos dinheiro, perdemos dinheiro e vocês voltaram. Essa é a desgraça –
respondeu Brianna, de braços cruzados.
Lilly
riu de leve e explicou a história para os Woobats. Wooby ouviu tudo com muita
atenção e sorriu.
— Na
verdade, essa é a oportunidade perfeita para agradecermos. Sabemos que incomodamos
com nossas cantorias, mas nos divertimos muito – sorriu o líder dA Legião. –
Por isso, vamos morar em uma caverna próxima. Mas antes, queremos pagar com um
dos nossos maiores tesouros.
Alguns
Woobats apareceram carregando um enorme diamante polido.
Os
olhos de todos brilharam junto com a pedra.
—
V-vocês têm certeza? – questionou Lilly.
—
Não pergunta duas vezes ou eles mudam de ideia – sussurrou Mirsthy.
—
Tenho certeza que vão ajudá-los no que precisam – sorriu Wooby, entregando o
objeto.
—
Com uma dessa, acho que abro cafés por todo o mundo – riu a Lilligant. – Muito
obrigada, de verdade. Eu andei pensando num nome pro café.
Todos
olharam curiosos para a proprietária da pensão. Uma chama de esperança tinha
sido acesa no coração de todos. O clima de derrota tinha sido levado para fora
e tudo que restava era a expectativa para o futuro.
— Eu
percebi como adoro essa mistura nossa. Eu me sinto bem com vocês. Dizem que
casa é muito além daquilo que você mora e se sente bem, é onde seu coração fica
e repousa – explicou, um pouco tímida com tanta atenção. – Por isso, quero que
mais pessoas se sintam assim. Lógico que ninguém mora num café, mas vocês
entenderam – ela riu. – Senhoras e senhores, digam boas-vindas ao CAFÉ MIX.
Capítulo 30
Passos
agitados e nervosos foram ouvidos em direção ao quarto em que Hilbert e Jackson
se encontravam. O treinador limpava suas Pokéball enquanto o arqueólogo estava
distraído com seu celular.
Hilda
abriu a porta de correr com impacto que quase a derrubou. Sua expressão era de
profunda raiva, ela encarou o mais velho e estendeu seu celular em direção a
ele.
—
JACKSON, VOCÊ ATACOU O MEU GINÁSIO NO BADGE MASTER?! – berrou a menina.
Hilbert
olhou perplexo e confuso com a acusação da amiga e logo desviou seu olhar para
Jack que se levantou, irritado também, mostrando seu próprio aparelho.
—
VOCÊ ATACOU O MEU GINÁSIO PRIMEIRO! EU NÃO CONFIO MAIS EM VOCÊ! – retrucou.
Era
o começo de mais uma manhã, o jardim dos fundos da casa dos Kurosawa estava
completamente úmido graças a chuva torrencial da madrugada, estava uma
temperatura fria, mas agradável. Inari entrou com uma bandeja em mãos,
acompanhada de Cami.
—
Vejo que acordaram agitados – sorriu a ruiva. – Espero que tenham dormido bem e
que a chuva não tenha atrapalhado vocês.
—
Bom dia, Inari – cumprimentou Hilda. – Ah, foi uma noite maravilhosa. O futon
estava quentinho e macio. E de sobra, coube eu e o Hilbert.
—
Faltaram futons? – questionou a moça, preocupada.
— Não
é isso. É que os dois dormem juntos – contou Jackson.
Inari
assentiu.
—
Ah, sim. São namorados? – sorriu. – Formam um belo casal.
Hilda
sentiu suas orelhas explodirem de tão quentes e seu rosto assumiu um grande
rubor enquanto comprimia seus lábios. Sua reação foi acertar um tapa na cabeça de
Hilbert com certa violência.
— É
CLARO QUE NÃO! – respondeu, toda envergonhada. – É esse idiota que não consegue
dormir sozinho.
O
treinador encarou a amiga, levantando os braços em protesto.
— E
POR QUE É QUE VOCÊ ME BATEU?!
—
PORQUE VOCÊ MERECEU!
— EU
NÃO FIZ NADA! ISSO JÁ TA VIRANDO PERSEGUIÇÃO!
Vic
abriu o zíper da bolsa do garoto e debruçou-se para fora dele, querendo
interagir com os demais, mas pareceu não ser bem recepcionado pela anfitriã da
casa que deu um berro arremessando um travesseiro próximo contra o Victini.
—
AQUILO ERA UM PIKACHU?! – exclamou, recuando para próximo de Jackson.
O
Pokémon anjo se recuperou do golpe e começou a voar, um pouco atordoado.
— Ô
moça, tem jeitos melhores de me conhecer – argumentou ele. – Mas
parabéns pela criatividade, ninguém nunca me recepcionou com um golpe de
travesseiro.
Inari
colocou a mão no peito, suspirando aliviado, com delicadeza.
—
D-Desculpe – riu ela, sem graça. – Eu sou míope e morro de medo de Pikachus –
explicou. – Esqueci de colocar minha lente hoje de manhã, talvez seja por isso
que estou enxergando as coisas um pouco embaçadas.
Jack
se virou para a mulher, interessado.
—
Não usa óculos?
— Eu
tenho um que fica no meu bolso do quimono – respondeu, tirando o objeto da peça
de roupa e colocando-os.
A
armação avermelha com lentes enormes realçavam os olhos esverdeados como
esmeraldas da jovem, que olhou para Jackson a fim de exibir seus óculos,
sorrindo levemente enquanto as bochechas espremiam seus belos olhos. Dessa vez,
foi o arqueólogo que assumiu um tom avermelhado no rosto e jurou sentir seu
coração parar.
A
ruiva mudou seu foco para observar o Victini.
—
Que espécie é você? – questionou.
— Prazer
moça, meu nome é Vic, o Victini – apresentou-se. – Você é a Inari, não
é?
—
Vejo que já sou conhecida – sorriu ela. – Você é Pokémon de quem?
— Ah,
de ninguém. Sou livre e solto, eu só sigo o Hilbert e uso a bolsa dele como
transporte.
— Interessante.
Já que estamos falando de Pokémon – Inari virou-se para Cami, que permanecia no
chão ao seu lado, apoiada sob duas patas. – Essa daqui é a Cami, minha Furret.
Hilbert
se aproximou do Pokémon, usando a Pokédex para tentar obter informações, ainda
que o aparelho não desse muitas graças as limitações de regiões.
—
Que incrível. O que ela faz?
—
Bem, na maior parte do tempo ela... anda – riu a anfitriã. – Ela anda pra cima
e pra baixo atrás de mim.
—
Fascinante – comentou o garoto, acariciando a criatura felpuda que soltou um
grunhido suave.
A
ruiva ajoelhou-se também e serviu o café da manhã para os hóspedes e quis saber
mais sobre eles.
—
Vocês são treinadores? – perguntou, olhando para eles.
— Eu
sou – respondeu Hilbert, se servindo de um pão. – Conquistei 3 insígnias em
Unova já – contou, todo orgulhoso, detalhando algumas batalhas e comentando
sobre seu time. Contou também algumas aventuras quando capturou 15 Woobats e
explicou que precisou deixar Wooby em Unova. – Ouvi dizer que aqui em Johto tem
uma restrição de seis Pokémon que as pessoas podem carregar, então achei melhor
prevenir. Vai que do nada a Legião aparece e eu sou perseguido pela polícia. Já
não basta ser perseguido por roubar Casteliacones.
—
Como é? – Inari questionou, intrigada.
—
Permita-me assumir a história – entrou Hilda, sorrindo.
A
conversa se estendeu por poucas horas, mas que foram incríveis. A Kurosawa ria
de todas as aventuras. Até parecia um ritual para se juntar ao grupo contar
todos os acontecimentos até a presente data. Mas não era por mal, é como se
Inari só precisasse ser apresentada para ser oficialmente parte do bando, eles
não sabiam explicar, só sentiam. Até mesmo sobre a Light Stone lhe foi contada.
—
Sua avó pareceu meio contrariada quando falamos sobre isso. É como se ela
guardasse algum rancor – observou Hilda, em buscas de respostas.
—
Acho que ela só está fazendo o que faz de melhor: me proteger – riu Inari. –
Desde que meus pais morreram em um acidente, ela sente que deve me proteger ao
máximo. Talvez ela tenha um pouco de culpa, mas ela precisa entender que eu
tenho vinte anos e uma vida para viver.
Os
quatro ficaram em silêncio por alguns minutos. Em parte, em respeito pelos pais
da garota e também por não saberem como aconselhar naquela situação. A ruiva
virou para a garota de Unova.
—
Posso ver os fragmentos?
—
Hm? Ah, claro – a jovem tirou o pequeno frasco improvisado e entregou para a
outra.
— É
fascinante como brilham – comentou. – É normal sentir essa forte conexão?
— Eu
já me acostumei, mas é bem poderoso – sorriu a mais nova, sentindo-se
confortável em saber que não era a única a ter ligação com a Light Stone. – Isso
significa que você tem poderes como todos os Kurosawa, né?
— Eu
ouvi histórias sobre a família quando eles moravam em Unova ainda. Foi há muito
tempo atrás – explicou. – Meus antepassados cuidaram de objetos preciosos para
o rei, mas algo trouxe eles para Johto e desde então, é como se fingissem que
isso nunca aconteceu – ela refletiu.
— Se
você sente uma conexão mais forte com os fragmentos, deve ser porque está
destinada a isso – disse Jackson. – Acredita em destino?
—
Meio irônico da sua parte perguntar isso para uma sacerdotisa – sorriu Inari,
olhando para ele. – Mas acredito sim. Acredito que encontramos as pessoas que
somos destinas a encontrar na hora certa, por mais complicado que seja.
— Akai
ito? – questionou Hilda, como se lesse a mente da outra.
—
Exatamente – respondeu a sacerdotisa, pensando na conversa com seu avô.
Hilbert,
que até o momento só tinha observado, resolveu fazer a pergunta que todos
estavam adiando, mas que estavam loucos pela resposta.
—
Isso quer dizer que vai se juntar a nós e nos ajudar?
Inari
olhou para o treinador e sentiu uma enorme pressão contra sua mente, como se
aquela pergunta fosse uma maldição. Parte de si já sabia o que responder, mas é
como se uma parede se colocasse dentro de sua garganta e a impedisse de falar
‘sim’. Essa parede tinha nome e se chamava insegurança. Uma insegurança
plantada por sua avó e cultivada por ela mesma.
Sem
saber como responder e querendo afastar essa sensação, ela se levantou com a
bandeja em mãos.
—
Q-Querem me acompanhar até a cidade hoje? – questionou, soltando um riso
nervoso. – Podemos comprar roupas para o festival de amanhã. Principalmente a
Hilda.
Respeitando
o momento de Inari, a garota sorriu.
—
Com certeza. Sempre quis ter a oportunidade de usar um quimono – comentou,
rindo.
— O
melhor de Johto nem são os quimonos – disse a ruiva. – Nesse inverno, vocês não
podem perder a oportunidade de aproveitarem as famosas fontes termais. Podemos
usá-las essa noite.
Hilda
se agitou mais.
—
Sempre quis conhecer uma fonte termal! Eu vou adorar!
Deixando
mais uma vez de lado o assunto sobre a Light Stone e o poder dos Kurosawa, o
grupo decidiu que não poderiam perder a oportunidade de sair para conhecer
Ecruteak, dessa vez, guiados por uma moradora local que sabia dos melhores
lugares. As garotas paravam a cada momento para entrar em lojas tradicionais de
quimonos para escolherem peças para Hilda, que estava maravilhada com tantas
opções e cores, tanto ela quanto Inari pareciam duas melhores amigas com tanta
sincronia e gostos parecidos.
Jackson
e Hilbert ficavam do lado de fora na maioria das vezes, aproveitando para
degustarem das bebidas vendidas nas máquinas automáticas espalhadas por toda a
cidade. No final, os dois ficavam discutindo qual era o melhor sabor. Sentados
em frente a loja escolhida pelas meninas, os rapazes degustavam da décima lata
de bebida quente quando o treinador notou uma criatura rosa e manchada caminhar
desorientada pela rua, coisa que foi repetida pelos moradores, que olhavam
curiosos e receosos, já que a Pokémon estava manchada de sangue e ferida.
—
Jackson – disse o garoto. – Aquele Pokémon...? – ele apontou, chamando a atenção
do amigo.
—
Aquilo é um Vaporeon? – disse, intrigado. – Ah nossa, o que houve com ele?
Quando
percebeu, estava falando sozinho. Hilbert caminhou em direção ao Pokémon,
preocupado.
Dentro
da loja, Hilda saiu do provador usando um delicado quimono rosa bebê com
estampas de cerejeira. Inari e a vendedora sorriram, aprovando o caimento da
roupa.
—
Maravilhosa – disse a ruiva. – Esse é o melhor até agora.
—
Estou me sentindo incrível – riu a garota. – Acho que vou mostrar para Hilbert
pra ver o que ele acha.
—
Devem estar na porta – Inari apontou para a porta, mas Jack apareceu antes que
pudessem tomar qualquer decisão.
—
Hilbert foi ajudar um Pokémon. Ele parecia bem ferido - contou o arqueólogo. –
Era um Vaporeon.
— Um
Vaporeon? – a ruiva se surpreendeu. – Eu ouvi dizer que existem grupos de
Eevees que se procriam nas florestas da região, mas a gente mal os vê. Acho que
deve ter se envolvido em uma briga de bandos.
Hilda
saiu do provador, vestindo seu boné.
— Eu
vou lá com ele – disse, com urgência, correndo para fora da loja.
Hilbert
abriu espaço entre algumas pessoas que já começavam a rodear a criatura rosada.
Ela, por sua vez, parecia a ponto de desmaiar, não se importando com quem se
aproximava ou com os humanos a observando com pena, e alguns, com certo
desgosto e nojo.
O
garoto agachou perto da Vaporeon deitada no gélido chão. Ele a observava de
igual para igual e parecia sentir as dores dela. Tirou sua jaqueta azul e a
usou para cobrir o Pokémon, que já havia perdido a consciência e desmaiado.
Hilda apareceu logo em seguida, ajoelhando do lado do amigo.
—
Ah, meu Arceus, são ferimentos grandes – analisou a garota, surpresa. – Ela tá
viva, né?
— Só
desmaiou – Hilbert pegou a criatura manchada no colo. – Vamos levá-la para o
Centro Pokémon?
—
Com certeza.
Inari,
que logo apareceu com Jackson, guiou os dois jovens para o Centro Pokémon da
cidade. Era um pouco diferente dos de Unova, com tons pastéis amarelados nas
paredes, mas que seguiam o mesmo padrão, provavelmente para facilitar que
treinadores novatos na região encontrassem sempre que precisassem dos serviços.
Hilbert sentiu que os cheiros entre os Centro Pokémon eram extremamente
semelhantes.
Mercuria
foi levada com urgência para a ala de atendimento, mas logo foi liberada para
visitas, o que a enfermeira não esperasse é que os quatro jovens entrassem
todos de uma vez. Por ser nativa de Johto e a única do grupo a falar a língua,
Inari permaneceu com a profissional de saúde para que ela explicasse com
detalhes qual era a situação da Vaporeon.
A
criatura de água estava repousada sobre uma maca própria para Pokémon acompanhada
de soros e uma pequena bolsa de sangue. Seu corpo estava todo enfaixado e seu
olhar era sereno enquanto ela apenas dormia. Hilbert estava debruçado,
observando a criatura com um apego que nem mesmo ele conseguia explicar. Ao seu
lado, Hilda permanecia imóvel, como uma segurança, analisando os procedimentos
adotados para que a Vaporeon se recuperasse.
Jack
estava do outro lado da sala, perto de uma janela, observando a paisagem,
esperando que a quarta membra aparecesse. Inari entrou com tanto silêncio que
sua presença só foi notada quando a porta de correr colidiu com o batente de
leve.
—
Está “tudo bem” na medida do possível – explicou a sacerdotisa. – A julgar
pelos ferimentos, ela teve uma briga com outros Pokémon, então não foi nada
grave, mas que exige repouso e cuidados. Sobre as manchas e a cor...
Hilbert
interrompeu a ruiva com um olhar inocente, porém sério, como se soubesse exatamente
que as palavras dela iriam direcionar aquela pequena diferença como algo
bizarro. Inari sentiu uma pontada vindo do olhar de seu visitante e engoliu
seco, desviando o olhar como se tivesse arrependida de abrir a boca.
— Eu
só ia dizer que – ela procurou as palavras -, apesar de raro, essa cor
diferente é chamada de shiny e não é nada grave. S-só as manchas, que são
conhecidas como vitiligo, devem ser tratadas com protetor solar e um pomada
própria que foi receitado aqui – a ruiva entregou o papel para Jackson, que
coçou a cabeça ao não entender nada escrito no papel.
—
Ninguém é igual a ninguém. Ela deve ter sofrido muito por causa da aparência
dela – disse Hilbert, como se falasse de si mesmo e Hilda sabia muito bem
disso.
— É
por isso que estamos aqui – sorriu a menina. – Não vamos deixar ela sofrer
mais.
Mercuria
começou a abrir os olhos e suas pupilas arroxeadas se espantaram com o que
tinha em volta. O céu (ou o inferno) era bem diferente do que imaginava, olhou
para a figura de Hilbert e reconheceu ele de minutos atrás de desmaiar.
—
Ei, garota – cumprimentou, com a voz leve. – Tudo bem? Está com dor?
A
Vaporeon continuava a encarar o garoto com um certo alívio no coração. Agitou
sua cauda de leve como se respondesse, ainda que não houve uma interpretação
clara daqueles movimentos, mas o treinador sabia que aquilo significava bom
sinal.
—
Você tem um nome? – questionou, enquanto acariciava a cabeça dela. Devia ser a
primeira vez que Hilda via um Hilbert tão carinhoso, e isso a deixou mais
admirada por aquele que poderia chamar de “primeiro amor”.
Foi
descoberto, por fim, que seu nome era Mercuria. A garota de Unova sentou-se
para observar a saúde da Pokémon, atentando-se nas faixas que cobriam o corpo
dela e até mesmo quando o soro estava para acabar.
— A
médica disse que se deve passar a pomada e o protetor uma vez por dia –
explicou Inari, ao lado de Jack, observando a dupla.
—
Todos os dias? – questionou o treinador. – Eu vou esquecer, tenho certeza.
—
Deixa isso comigo – prontificou-se Hilda, levantando a mão. – Vai ser uma honra
ter um Pokémon pra cuidar.
Hilbert
olhou para a companheira, encarando-a.
—
Mas a Mercuria é minha! – protestou.
—
Oh, então essa era sua intenção – debochou a amiga.
—
Não é só por isso – o garoto levantou o nariz. – Eu não ia deixá-la ferida no
chão. Mas não escondo que talvez queria que ela se juntasse a minha equipe.
—
Você é um livro aberto, Hilbert – riu a garota. – Não se preocupe, só quero te
ajudar com os cuidados.
Hilbert
olhou para Hilda e sorriu de leve.
—
Obrigada, Hilda.
Ela
não pode deixar de corar e torceu que ninguém percebesse sua cara de boba. Mas
Inari parecia estar em sincronia com os pensamentos da garota e com Jackson,
ela olhou o arqueólogo e ele só disse:
— Às
vezes eu sinto que eles tão muitos passos a frente de mim – confessou,
sorrindo. – E eu estou louco para alcança-los.
—
Tem certeza de que eles não são namorados? – questionou a moradora de Johto.
—
Baseados nas minhas boas observações sociais, um deles queria que fosse verdade
– contou para a ruiva, como se fofocasse. – Mas Hilda é muito tímida para tomar
alguma iniciativa. Mas eu tenho um plano.
— Um
plano? – Inari franziu a testa.
— Eu
chamo de “Operação Cupido” – o lado criativo de Jack parecia falar mais alto
conforme ele se orgulhava de suas ações. – É um nome genérico, eu sei.
Ao
contrário da reação esperada, a sacerdotisa quebrou as expectativas e com um
sorriso franco, disse:
— Eu
adorei o nome.
Dessa
vez, era Jackson que assumiu uma expressão boba.
Foi
decidido que Mercuria ficaria até o dia seguinte para que tivesse uma
recuperação tranquila. Hilbert decidiu comprar (no caso, Hilda comprou) uma
Heal Ball de forma simbólica para usar na criatura assim que ela recebesse
alta.
Enquanto
isso, resolverem retornar ao seu objetivo inicial: Procurar roupas para o
famigerado festival que aconteceria na noite seguinte. Com insistência, Jackson
e Hilbert conseguiram se livrar do compromisso de usarem os famosos quimonos,
já que Inari lhes dissera que a tradição era mais comum com mulheres, mas Hilda
fazia questão de entrar no clima da cultura Johtoniana. Retornaram para a loja
onde a garota havia experimentada o quimono rosa mais cedo com o objeto de
mostra-lo, por fim, a Hilbert.
O
garoto encolheu os ombros ao sentir os olhares cheios de expectativas para cima
dele, principalmente de Jack e Inari, que pareciam uma dupla que uniram forças
para um bem maior. Quando Hilda finalmente saiu do provador, não foi preciso
forçar reações.
Era
a segunda vez que estava experimentando aquela roupa, mas sua ansiedade tinha
mudado com a presença do amigo. Juntou as mãos como sinal de timidez e olhou de
relance com a cabeça baixa para Hilbert, que realmente não sabia disfarçar o
queixo caído.
—
Hilbert? – questionou Jack, tentando arrancar alguma palavra do jovem.
Quando
sentiu a boca secar, ele recobrou a consciência e limpou a garganta, não
escondendo a admiração. Não estava acostumado a ver Hilda arrumada com roupas
que não fossem pijamas ou sua clássica vestimenta de jornada. A expectativa
pelo veredito pelo jovem treinador era tanta que ninguém continha a ansiedade,
não esperando muito das atitudes do garoto, o grupo não se surpreendeu quando
ele mandou um:
—
Rosa é realmente sua cor, né? – riu, coçando os fios marrons próximos da nuca.
Hilda
riu desapontada, porém, não surpresa, cogitou que era apenas um elogio
diferenciado.
A
noite caiu rapidamente e para a felicidade de Inari, a temperatura estava
baixa. Ideal para banhos nas famosas fontes termais que comentara de manhã. Os
famosos Onsens, como eram conhecidos os banhos termais na região de Johto, eram
o principal ponto turístico no inverno rigoroso, mas com a breve chegada da
primavera no mês seguinte, o movimento tinha caído consideravelmente, o que
possibilitou que Inari pudesse reservar duas horas seguidas, tempo suficiente
para que os visitantes pudessem aproveitar a oportunidade única.
Attakai
Kokoro estava escrito em kanjis esculpidos em pedra na frente do enorme
estabelecimento. A recepção tinha um ar tão clássico que só perdia para o
templo dos Kurosawa. A moradora de Johto tomou a frente naquela expedição,
conversando com a recepcionista, que ofereceu chaves para dois vestiários
particulares e indicou qual seria a fonte que usariam, tudo na mais
privacidade.
Inari
acenou para que a seguissem, entregou uma das chaves a Jack, que entrou no
vestiário com Hilbert. O menino deixou sua bolsa sob um banco de madeira e Vic
saiu de lá de dentro.
— Quer
dizer que a gente vai finalmente aproveitar um tempo de descanso? –
questionou o Pokémon, animado. Por ser parte tipo fogo, ambientes quentes eram
seus favoritos.
— E
você lá pode ter contato com água? – questionou Jackson, desabotoando sua
camisa verde.
— Eu
posso, quem não tem muito contato é o Hilbert. Um banho vai fazer bem pra ele –
debochou o Victini, levantado em seguida um ataque das peças superiores do
garoto. Hilbert colocou as mãos no quadril em protesto. – Vem cá, quando foi
que vocês dois tiveram intimidade pra tirarem a roupa na minha frente?
O
treinador e Jack se entreolharam. Enquanto o garoto tinha um corpo ideal para
alguém de sua idade, Jackson já se mostrava um rapaz que se preocupava mais com
músculos definidos. Quando ele finalmente tirou a camisa que vestia, a luz do
ambiente chegou a exaltar cada centímetro do tórax do arqueólogo, que se
acanhou quando percebeu que ninguém tirava o olho dele.
— O
que é?! – resmungou.
Vic
foi o primeiro a responder:
— Às
vezes eu sinto que você foi desenhado só pra ser o bonitão do nosso grupo só
pra agradar os fãs.
—
Obrigado?
— O
problema é que você é otaku, então causa o efeito reverso.
Foi
a vez do Pokémon anjo ser atingido pelas vestes do arqueólogo, que logo
terminou de se despir (ficando apena de cueca por pura proteção) e vestiu um
roupão.
— Eu
vou na frente, se me derem licença – Jack agarrou uma toalha disponibilizada
pelo local e saiu, deixando a dupla pra trás.
No
vestiário feminino, Hilda e Inari não pareciam ter a mesma intimidade, muito
menos tinham coragem de olhar uma a outra. Mas a jovem de Johto estava
acostumada com ambientes do tipo e não se poupou de começar a tirar a roupa,
desamarrou o laço do quimono que usava e o retirou, revelando um corpo bem
desenvolvido com curvas herdadas dos seus antepassados quando ainda habitavam
em Unova. Seios firmes e fartos logo se livraram do sutiã e sua calcinha foi
jogada pra dentro do armário, vestiu logo um roupão antes que o vento da janela
lhe castigasse. Olhou de relance para trás e viu que Hilda continuava intacta,
de costas, encarando o armário.
— Tá
tudo bem? – questionou Inari.
—
Não é irônico eu ser filha de uma modelo e dançarina que é admirada pelo seu
corpo e beleza e ser tão insegura com o meu corpo? – questionou, com certa
sinceridade.
—
Parecia tão confortável experimentando os quimonos – retrucou a ruiva,
compreensiva. – Mas não te julgo, toda mulher deve sentir isso, é a nossa
maldição diária. Mas não deixa isso te prender para os prazeres da vida, está
com conhecidos. E se me permite dizer, acho que você é muito bonita.
As
palavras carinhosas e sinceras da jovem surtiram um efeito positivo e Hilda
decidiu por fim começar a se despir.
Não
é que Jackson optasse por ir primeiro porque estava bravo. É que precisava
colocar seu plano em prática antes que alguém o descobrisse. Duas portas
elegantes estavam posicionadas um do lado da outra e com placas com símbolos
que indicavam feminino e masculino, uma em cada entrada. Sem muita discrição,
ele inverteu a ordem das placas e se escondeu, esperando sua primeira vítima
chegar. Ouviu Hilda e Inari se aproximarem, mas a ruiva parou no meio do
caminho.
—
Oh, eu esqueci de pegar algo no vestiário! – avisou. – Vai na frente, eu já volto.
Sem
muito contestar, Hilda entrou na sala com a placa feminina e fechou a porta.
Jack logo se aproximou e voltou as placas para a ordem original, torcendo para
que Hilbert chegasse antes de Inari. E a sorte estava a seu favor.
O
treinador logo entrou no mesmo ambiente que Hilda junto de Vic, mas a
princípio, nenhum deles notaram a suposta confusão. Pela última vez, Jack
trocou as placas de lugar e entrou no único banheiro vazio com a placa feminina
e torceu para que tudo desse certo. Era hora de Hilda ter um pouco de coragem.
A
garota de Unova estranhou um pouco o ambiente antes de seguir as instruções
dada por Inari. Primeiro ela devia se banhar antes de entrar na famosa fonte
termal que tinha sua origem na base do Mt. Mortar, um vulcão adormecido que
ficava na vizinha rota e graças a túneis subterrâneos, era possível oferecer
água rica em sais minerais e com temperatura cedida pela natureza. A quentura
da água levantava grande fumaça que inundava o ambiente. Após um banho rápido,
Hilda adentrou a fonte, sentindo seu corpo se esparramar com o quentinho que
aquilo trazia para ela. Olhou o ambiente e notou que pedras e bambus eram
maioria na decoração, soltou o cabelo e deixou seus longos fios repousarem
sobre seus ombros. A água cobria um pouco acima de seus seios medianos e era
quase impossível ver o reflexo na água graças a luz baixa. Poderia tirar um
cochilo.
Hilbert
demorou alguns minutos até se localizar nas fumaças que pareciam formar um
labirinto até seu destino, usando apenas uma toalha na cintura, teve que se
desfazer dela antes de enfim, entrar naquela banheira natural, respirou fundo e
encostou nas pedras a borda.
Vic
sentou-se próximo, em uma pedra que estava levemente submersa, relaxou seu
corpo mítico contra uma rocha escorregadia e soltou um suspirou divertido:
— Isso
é maravilhoso, cara – comentou. – Me sinto como um líder de alguma ordem
que está relaxando em seu dia de folga, mas que logo vai vir ser perturbado
pelos seus capangas alegando que alguém invadiu nosso território.
Hilbert
riu com a imaginação do amigo. Hilda também riu, imaginando que os dois já
estivessem na sala ao lado, já que as piscinas naturais eram separadas por uma
parede fina feita de bambus que pareciam ressecados.
A
garota sentiu um leve vento atingir seu corpo e resolveu trocar de lado,
arrastando-se levemente para o lado até sentir seu braço encontrar outro corpo.
Quem estaria ali?
Hilbert
também sentiu o impacto e olhou para ela. Os dois demoraram para raciocinar a
situação, ficaram uns minutos se encarando até que o garoto desceu os olhos
para o corpo da amiga, por instinto.
—
NÃO OLHA! – usando a palma da mão, ela acertou um golpe contra o nariz do
treinador que caiu boiando na água, derrotado. Foi aí que Hilda percebeu que o
garoto não usava sua roupa de baixo.
Ela
berrou e cobriu o rosto, completamente envergonhada.
— PUTA
MERDA, HILDA, VOCÊ MATOU O HILBERT! – berrou Vic.
Jack
ouviu o berreiro do outro lado e chegou à conclusão que estava tudo bem na
medida do possível. Agora só torcia que a porta que trancara resultasse algum
efeito. Enquanto isso, aproveitou para relaxar, apoiando os braços abertos nas
pedras e olhando pra cima, por um segundo, esqueceu que o grupo aumentara nos
últimos dias. Seus ouvidos captaram passos leves e pequenos de Inari se
aproximando e sua espinha gelou, usou uma pedra central para se esconder e ali
permaneceu. Imaginou o que Yukiko faria se descobrisse a merda que tinha feito.
Pra
sua sorte, a sacerdotisa não percebeu a presença de ninguém e imaginou que
Hilda já estaria no lugar a julgar pela toalha guardada. Pendurou seu roupão e
nua, sentou em um banquinho de madeira baixo e usou baldes para molhar seu
corpo feminino, fez isso algumas vezes antes de continuar seu ritual enquanto
se ensaboava. Jackson resistiu a tentação, tentando controlar sua respiração
enquanto sua mente tentava imaginar.
Inari
o surpreendeu ao começar a cantar baixinho uma música em japonês que só ela
naquele momento entenderia, mas a letra era de menos quando a mulher tinha uma
incrível voz, suavemente doce que aquecia corações – ou era só o efeito da
fonte termal?
A
cantoria continuou até o momento que ela finalmente adentrou a piscina natural
e encostou no lado inverso da mesma pedra que o arqueólogo estava. Ao olhar levemente
para trás, ele viu os longos fios alaranjados molhados que escorregavam pela
pele de porcelana dela. Não dava pra disfarçar o quanto ele estava admirado com
tamanha beleza.
O
silêncio predominou por minutos antes que Jackson tivesse a coragem de chamá-la.
— Eu
tenho quase certeza que a resposta que você queria dar para o Hilbert quando
ele perguntou sobre ajuda era “sim, eu quero muito!” – disse, como se tivesse
pensado no assunto o dia inteiro.
Ele
percebeu o pulo dado por Inari antes que ela afundasse mais o corpo pra dentro,
deixando a cabeça pra fora.
—
Q-quem é? – questionou, ofegante, enquanto sentia seu coração desregulado.
—
Sou eu, Jackson – ele disse, suavemente.
— O
que faz aqui? – questionou, temendo qualquer ação do homem nas suas costas. –
Por favor, não me ataque.
— O
quê?! – Jackson se defendeu. – Claro que não! Estou aqui por causa do meu plano
de juntar Hilbert e Hilda. Lembra? O “Operação Cupido”.
Inari
tinha um coração gentil e inocente apesar da idade, sabia dos perigos de
dividir um ambiente tão íntimo com um suposto desconhecido. Se manteve alerta,
mas percebeu que o arqueólogo não dava sinais de que sairia dali. Se lembrava
dele ser alto perto dela e isso oferecia uma certa segurança, deixou então o
resto do seu corpo confiar nas palavras do rapaz.
—
Acha que vai dar certo? – perguntou ela, logo depois. – O seu plano – ela
reforçou.
—
Aqueles dois funcionam sozinhos – sorriu. – Quem sabe assim eles criam coragem.
Não se preocupe, aproveite para relaxar – ele olhou pra cima. – Pode voltar a
cantar, sua voz é quase uma canção de ninar para meu coração.
A
sacerdotisa encolheu as pernas e corou. A voz forte de Jack a deixava
incrivelmente tímida.
— Obrigada
– respondeu, sincera. – Sabe do que ela se trata?
—
Pra ser sincero, não entendi nenhuma palavra – e riu.
—
Ela consegue expressar o que eu sinto todos os dias – confessou. – Fala sobre
uma voz interior que me pede para eu não parar de sonhar. Você tem um sonho,
Jackson?
Até
o modo como ela pronunciava seu nome era fofo.
—
Meu sonho? Ser reconhecido de alguma forma.
— E
como vai saber quando esse dia chegar? – questionou.
— Quando
eu estiver pronto para viver outro sonho.
Os
dois, como num acordo comum, se permitiram olhar um para o outro, apenas
exibindo seus rostos serenos. O homem sorriu com sinceridade enquanto a mulher
não sabia exatamente como corresponder a tanto charme. Ouviu-se uma vez que
pessoas do signo de Drapion passavam essa sensualidade única, retribuiu o
sorriso com os lábios antes de continuar a conversa.
—
Sobre a pergunta do Hilbert – ela começou, retomando a pergunta. – Sim, eu
estava louca para aceitar a oferta, mas uma insegurança enorme segurou as
palavras na minha garganta.
—
Está preocupada com a sua avó?
—
Ela me protege bastante. Mas isso é bom? Ser protegida o tempo todo.
—
Inari, minha tia sempre disse: Um barco está seguro no porto, mas não é pra
isso que eles foram feitos. Sua música fala de uma voz interna: O que a sua te
diz?
A
sacerdotisa respirou fundo. Não ligou quando seus olhos lacrimejaram.
—
Ela pede pra eu sair. Que eu devo ajudar vocês.
Jackson
estendeu a mão e usou o polegar para enxugar uma lágrima teimosa e brincar com
uma mecha dela.
—
Vai esperar essa voz ficar rouca de tanto gritar ou vai desancorar o navio do
porto e zarpar em direção ao desconhecido?
Inari
não conseguiu responder e voltou para seu canto, encerrando a conversa, não
antes de dizer baixinho:
—
Obrigada.
Hilbert
acariciava o nariz, impaciente. Não esperava apanhar até no lugar deveria
servir para relaxar. Estava usando sua toalha em volta do quadril enquanto
estava sentado em uma das pedras úmidas da borda da fonte termal. Hilda, ao seu
lado, estava enrolada numa toalha com a cara fechada e pernas encolhidas
enquanto Vic fingia que não era com ele, nadando longe dos dois.
—
Você pediu – disse ela, baixinho.
— Podia
maneirar na força – retrucou, mal humorado. – Nem parece uma menina com essa
violência. Achei que fosse quebrar o nariz.
—
Você entrou no banheiro feminino e esperava ser bem recebido?
—
Nada disso, aqui é o masculino!
— EU
SABIA QUE VOCÊ ERA ANALFABETO, MAS NÃO SABER INTERPRETAR SÍMBOLOS JÁ É DEMAIS!
—
QUAL É? – protestou, ainda mais irritado. – TÁ QUERENDO BRIGAR?!
—
SOSSEGA ESSE CHIFRE ANTES QUE EU TE DÊ OUTRO TAPA NO NARIZ!
Traumatizado,
ele se encolheu e voltou a acariciar o nariz.
Hilda
encarou os chifres do menino sem nenhum motivo, eram raras as vezes que ela
havia visto tão de perto, então não podia deixar de admirar aquele fenômeno
curioso. Hilbert percebeu logo em seguida e tentou esconder com as mãos, como
se tivesse sido invadido.
—
Vai implicar com isso agora?
—
Você sente dor neles? Tipo dor de cabeça com o peso? – questionou, simplesmente
curiosa.
—
E-eu – o garoto precisou pensar. – Eu nunca parei pra pensar. É tão natural
quanto ter orelhas ou boca, você não sente até se concentrar nisso. Já parou
pra pensar que sempre vemos nosso nariz, mas nossos olhos o ignoram?
A garota
riu. Adorava como Hilbert mudava de humor com tanta facilidade, provavelmente
tinha até esquecido da pancada no nariz. Era uma das coisas que mais amava
nele, apesar das brigas e das atitudes infantis, aquela relação só se
fortalecia. Talvez fosse o momento exato para o convite que estivera enrolando
por dias para fazer. Ninguém os interromperia e na pior das hipóteses, a
resposta seria não, certo?
—
Hilbert, posso te pedir algo?
— Se
for me cobrar pelo dinheiro que já gastei, provavelmente vai ter que contratar
um agiota – respondeu, imaginando-se sendo perseguido por dever a alguém tão
perigoso.
—
Nada disso! Dá pra ser um pouco sério? Por 5 minutos? – ela pediu, controlando
a raiva. – Por favor – implorou.
Hilbert
assentiu, assustado. Talvez não visse a amiga falando tão sério desde os
acontecimentos em Nacrene.
—
Você sabe que meu aniversário de 15 anos tá chegando, né? – o garoto assentiu e
ela prosseguiu: - Pois bem, uma das tradições dos aniversários de 15 anos é a
valsa da aniversariante com o “príncipe”.
Como
se esperasse, ele apenas se manteve concordando, balançando a cabeça.
—
Minha mãe pediu para que eu escolhesse um – Hilda brincou com os dedos, tímida.
– E eu queria que você fosse meu príncipe.
O
silêncio reinou. Hilbert evitou trocar olhares com a amiga por alguns minutos
enquanto a menina estava vermelha (efeito das fontes?), quase procurando um
buraco para se enfiar. Perdeu um pouco da paciência quando a resposta estava
demorando mais do que o esperado.
—
Hilbert, é só falar não.
— Eu
estava esperando os 5 minutos de seriedade acabar – ele começou a rir, nervoso.
– Sério mesmo? Tipo, tu não tá zoando? Eu nem sei dançar e já atingi minha cota
de pagar mico.
Hilda
reprimiu um choro e cerrou os lábios. Riu para disfarçar.
—
É-é claro que não, né? – ela continuou, com a voz marejada. – T-Tudo bem, você
está certo. E-Eu posso... arrumar uma outra pessoa.
O
treinador olhou para a amiga e quase se desesperou em vê-la chorar.
—
E-espera, n-não chora...
— N-Não
tô chorando – ela tentou disfarçar.
Hilbert
coçou os cabelos ansioso e perguntou:
—
Isso é importante pra você, né?
Hilda
assentiu:
—
Talvez eu esteja assustada por fazer parte de algo que eu seja o centro das
atenções, então queria pelo menos estar com alguém que me deixasse confortável
e confiante.
O
garoto corou.
—
Ok, ok, eu vou! – ele disse, em claro e bom som. – Mas só porque é importante
pra você. Você me ensina a dançar?
Hilda
encarou o amigo e sorriu como uma criança, voltando a chorar mais.
—
PORQUE VOCÊ TÁ CHORANDO?!
— EU
TO CHORANDO DE EMOÇÃO!
—
MEU ARCEUS, VOCÊ ANDA TÃO ESQUISITA!
Com
uma atitude compulsiva, Hilda se jogou pra cima do garoto em um abraço animado
que quase derrubou ele.
—
OBRIGADA, OBRIGADA! – disse ela, entre risos. – Vai ser o melhor príncipe do
mundo.
Hilbert
continuava a rir, sem graça.
— É
um título bacana.
O
momento era de tanta descontração que Hilda nem percebeu que sua toalha
escorregou e a deixou vulnerável, e novamente, Hilbert não conteve o olhar.
Percebendo, o clima quebrou e Hilda ergueu um punho fechado, irritada.
— EU
JÁ FALEI PRA VOCÊ NÃO OLHAR! – o soco veio com tanto impacto que provavelmente
o nariz fora quebrado dessa vez.
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