• Tuesday, June 29, 2021

     


    A manhã se iniciara com certa paz.

    Brianna tomava seu chá na sala de jantar, estava com as pernas cruzadas e uma expressão séria. Nem se importava com os resmungos que vinha de Vic que estava ajoelhado ao seu lado no chão usando uma exótica coleira.

    Mirsthy logo apareceu, se espreguiçando. Quase deu um grito ao ver o amigo naquela condição.

    — O-o que, em nome de Cresselia, aconteceu? – questionou, observando como a Snivy segurava a corda presa a coleira.

    — Oh, bom dia, Mi – Brianna soltou um sorriso gentil, ainda que parecesse extremamente falso. – Isso aqui? É só meu novo e leal companheiro, Vic, o Lillipup.

    — Bree, ele é um Victini – informou a Minccino, confusa.

    A outra balançou o dedo negativamente.

    — O Victini está morto. Agora eu tenho um Lillipup que me segue pra cima e pra baixo e me obedece, não é, querido? – ela puxou levemente a coleira e Vic murmurou mais.

    — Sim, senhora, ó, minha suprema rainha, dona da minha vida. Como eu te amo, devo tudo a você – respondeu o Lilli- digo, o Victini, em uma fala ensaiada.

    — Quando foi que vocês assumiram esse tipo de relação de fetiche? – questionou Mirsthy.

    — Alguém achou que seria uma boa debochar de mim fazendo musiquinhas com Woobats.

    — Ah, vocês escutaram também? – perguntou a cinzenta, animada. – Foi maravilhoso, consegui dormir a noite inteira.

    — Mal consegui dormir – murmurou Brianna. – Pelo menos agora, eles vão dormir por um bom tempo – ela alcançou algumas berries, devorando com gosto.

    — Majestade, tô com fome – disse o Victini, fazendo bico.

    — Hm? Ah, não é hora da sua ração – respondeu a Snivy, com deboche.

    Vic se levantou, arrancando a coleira.

    — Ok, mulher, já chega! Eu já pedi desculpas e isso não tem graça!

    Os olhos avermelhados da inicial de grama encontraram os olhos azuis do Victini que gelou. Ela invocou um Vine Whip e fez as vinhas estalarem como um chicote. Vic engoliu seco e voltou para a sua posição de Lillipup, resmungando ainda mais.

    Lilly logo apareceu, assim como os outros hóspedes (com a exceção dos Woobats). Ela convocou uma pequena reunião a fim de contar as novidades.

    — Muito bem, como devem saber, nosso número de hóspedes deu um salto enorme desde... hã... ontem – ela riu, ansiosa. – E como ninguém esperava esse crescimento rápido, estamos com alguns problemas de espaço na cozinha e falta de comida. A partir disso, eu tomei uma decisão importante.

    — Vamos expulsar os Woobats? – questionou Sombra.

    — E se a gente matar metade deles? – sugeriu Brianna.

    A Lilligant encarou o grupo, perplexa.

    — ... Eu decidi abrir um café – revelou, por fim.

    A Snivy colocou a mão sobre o queixo, pensativa.  

    — Ainda acho que mata-los é uma solução mais rápida e eficiente – concluiu.

    — O Café ficaria do lado da Pensão. As refeições seriam servidas tudo por lá e ainda teria a possibilidade de oferecer um cardápio para quem fosse de fora – contou Lilly, como quem tivesse passado a noite inteira pensando sobre o assunto, planejando cada detalhe.

    Exceto...

    — E temos dinheiro pra isso? – questionou Mirsthy, como boa funcionária.

    BINGO! A única coisa que tinha escapado pelas prestativas mãos da Lilligant. Uns minutos em silêncio confirmaram aquilo que todo mundo pensava.

    — Então – Lilly começou, depois de pigarrear. – É aqui que eu pediria ajuda de vocês. N-Não é obrigação de vocês, na verdade, eu nem espero que vocês me ajudem, mas, se puderem, eu ficaria grata – a Pokémon juntou as mãos, ansiosa.

    Os hóspedes se entreolharam. Koin foi o primeiro a levantar a mão.

    — Eu topo! – disse.

    Brianna olhou para o companheiro e levantou a mão também.

    — Vic pode roubar dinheiro – sugeriu. – É a especialidade dele.

    Vic, ainda no chão, com sua coleira, encarou a mulher.

    — Roubar? Você é podre de rica! – retrucou, cruzando os braços. – Pede pra sua família pagar. Você é a que come mais nesse lugar! Tá até ficando gorda.

    Snivy segurou com um pouco mais de força a corda conectada na coleira de seu “Lillipup” e soltou um sorriso cínico.

    — Se me dão licença – ela se levantou e se dirigiu para outro cômodo, carregando Vic. O Pokémon temeu pela sua condição física.

    Em alguns minutos, quem ficou, pode ouvir gritos de desespero e golpes de chicotadas violentas.

    — Tá virando rotineiro – observou Mirsthy. – De toda forma, acho que todos nós topamos a ideia. Podemos te ajudar, dona Lilly.

    Lilly deu um leve pulo, animada. Koin sorriu.

    — Obrigada, de verdade – ela disse, eufórica, enquanto procurava os papéis com anotações quilométricas. – Eu pensei em vender tortas na estradinha perto da Pensão. Sempre tem grande movimento por lá.

    — Maravilhosa ideia – sorriu Mirsthy. – Se empenhe em fazer deliciosas comidas enquanto nós vendemos o peixe.

    — Mas ela disse que vai vender tortas – apontou o Tepig, confuso. – Aliás, o que é peixe?

    — Eu não faço ideia – brincou a Minccino. – Apenas sorria e siga o roteiro.

     



    Foram preciso alguns poucos dias para que a barraca fosse montada. Com sorte, Wooby e A Legião haviam saído em uma jornada breve para sua terra natal em busca de alguns pertences, então não precisariam se preocupar com a cantoria da madrugada nos próximos dias.

    O grupo se dividiu entre quem ficaria na cozinha: Koin, Lilly e Grimaud. Enquanto, na parte das vendas, ficaram Vic, Brianna, Sombra e Mirsthy. E assim, começaram o primeiro dia de vendas.

    A Minccino tentava chamar a atenção junto de Sombra de alguns clientes que olhavam curiosos para as tortas, mas só alguns realmente paravam. Brianna recepcionava eles enquanto Vic observava tudo, sentado no chão. Seu castigo com a coleira continuava firme e forte.

    Uma fêmea Haxorus acompanhada de seu filho Fraxure se aproximaram. A Snivy atendeu com um sorriso tão meigo que o Victini estranhou com tamanha delicadeza.

    — Vamos levar uma torta hoje? – questionou ela. – Aposto que o rapazinho adora um bom doce.

    — Estão com uma cara tão boa – comentou o Pokémon dragão.

    — Foram feitos com muito amor e carinho pela Lilly, a dona da Pensão – informou ela, dando ênfase ao marketing.

    O Fraxure olhou para o Victini no chão e franziu a testa.

    — O que tá fazendo aí? – questionou, com as mãos no bolso.

    — Ele é meu Lillipup de estimação – informou Brianna, sorrindo, mantendo a pose.

    — Mas ele é um Victini.

    — Não adianta falar isso pra ela – resmungou Vic. – Acho que o cérebro dela foi devorado e ela ficou burra.

    A lei da ação e reação foi imediata e o chicote estralou contra a parte lateral do Pokémon. A Haxorus se assustou e recuou com o seu filho. Vic se levantou e encarou Snivy.

    — Tá querendo morrer? – questionou ela, enfurecida.

    — Cai dentro, nariguda! – desafiou. – Se eu ganhar, tu tira essa droga de mim! – disse, agarrando a coleira.

    Uma aura intensa e demoníaca cercou aqueles dois. Os dois agarraram as mãos do adversário e começaram a se empurrar, com uma força de igual para igual. Mirsthy notou a confusão e quase gritou de desespero quando viu a mãe Haxorus se afastar com seu filho, que parecia interessado em ver uma briga por motivos fúteis.

    — V-Vic, B-Bree – a Minccino levantou as mãos. Queria impedir, era só o primeiro dia de trabalho, como eles conseguiam estragar tudo em poucas horas?

    Mas ela não impediu. Não quando ela olhou para os lados e notou que alguns interessados pareciam estar apreciando aquele embate. Era de se surpreender que até mesmo Pokémon, em toda sua espécie, tinham um interesse por batalhas. Desde os mais grandes até os pequenos paravam e começavam a apostar no mais forte, alguns apostavam na vantagem de tipo do Victini, enquanto outros arriscavam na força bruta da Snivy.

    Mirsthy sentiu uma lâmpada acender em sua cabeça e rapidamente começou a cortar fatias das tortas. Ela acenou para Sombra, que se aproximou, curiosa:

    — Vai oferecendo e vendendo essas fatias para os que estão assistindo – ordenou. – Vamos lucrar com entretenimento sensacionalista de baixa qualidade igual na TV aberta aos domingos.

    A Zorua assentiu e se aproveitou do fascínio do público para oferecer-lhe comida pega e pronta. Que Pokémon iria perder essa chance? Aos poucos, todo o estoque iria sumindo e Lilly quase não conseguia dar conta de tantas vendas.

    Mirsthy percebeu que Vic e Brianna estavam para encerrar a briga. Com destreza, ela berrou:

    — BRIANNA, O VIC DISSE QUE PREFERE SENTAR NO COLO DE GIRATINA DO QUE PASSAR CINCO MINUTOS OUVINDO SUA VOZ!

    A Snivy fuzilou o Victini com o olhar e o mesmo gritou:

    — QUER PARAR DE ME CALUNIAR?!

    — SE VOCÊ QUER TANTO ENCONTRAR GIRATINA, DEIXA EU QUE ADIANTO ESSE PROCESSO! – possessa, ela avançou contra o rapaz que, revidou, inconscientemente, com um golpe de fogo contra o rosto da mulher, que recuou, com dor.

    — A-Ah, B-Bree – Vic gelou pois sabia que um golpe tipo fogo era prejudicial a um tipo planta. Ele se aproximou, preocupado. – Brianna, ei! Fala comigo! Tá doendo? C-Chamem um médico!

    Brianna virou o rosto e encontrou os olhos do companheiro. Ela sorria cinicamente e suas pupilas ardiam como brasa.

    — Acha mesmo que uma faísca dessa iria me derrubar? – perguntou, de forma retórica. – So you’ve choosen death, foolish boy!

    E a batalha recomeçou, dessa vez, os espectadores gritaram eufóricos e agitados, como se o round 2 estivesse com muito mais alma. Sombra continuava a oferecer mais e mais fatias, usando suas artimanhas de fofura para convencer os clientes, alguns até pagavam a mais pelos pedaços.

    Lilly e Koin se aproximaram com novas tortas e se assustaram com a quantidade de clientes.

    — U-uau, o que tá acontecendo? – questionou a dona da Pensão, logo depois caindo seu olhar para a briga. – Ah meu Arceus! Tá tudo bem?

    — Dona Lilly, pau na máquina! – disse Mirsthy, exaltada. – O pessoal tá comprando tortas como loucos. Tudo isso só para continuarem a assistir aqueles dois brigando.

    — Tá dizendo que a briga faz parte da estratégia de venda?

    — Um bom produto atrai pessoas, mas um bom atendimento atrai clientes fiéis – apontou a Minccino. – Agora, continue trabalhando. E traga alguns curativos pra remendar aqueles dois.

    A Lilligant riu, com uma felicidade diferenciada. Sentia que aqueles hóspedes que tanto a ajudavam estava se tornando sua nova família. Koin segurou a mão da mulher:

    — Vamos, Lilly, temos muitas tortas para fazer!
     

    Naquela noite, os hóspedes e Lilly faziam as contas de quanto haviam lucro, nunca tinha se visto tanta moeda e dinheiro. Vic e Brianna estavam de costas um para o outro, segurando pequenos sacos de gelo contra os ferimentos e hematomas. O Pokémon anjo estava com a sua coleira, indicando que tinha perdido a batalha.

    — Espero que tenha aprendido – disse a Snivy, com o orgulho ferido.

    — Não fala comigo – murmurou o Victini. – Aliás, de quem foi a ideia de incentivar a briga?

    — O pessoal começou a aparecer quando vocês brigaram – explicou Mirsthy. – Acha que estarão recuperados até amanhã?

    — Nem fodendo que eu vou brigar com essa ogra de novo! – protestou. – Olha a nossa situação. Se virem.

    A Minccino cruzou os braços, pensativa. Olhou para Sombra e sorriu.

    — Já sei, podemos pedir para que Sombra conquiste todos com sua fofura. O que acha, pequena?

    — Posso morder quem não comprar as tortas? – a Zorua pulou, agitada.

    — Só se o cliente pedir – riu.
     

    No outro dia, foi a vez de Sombra ser o centro das atenções. Mirsthy e Brianna ficaram responsáveis em vender e Vic aproveitou o dia para ficar deitado (sob a supervisão de Bree, é claro). O primeiro cliente foi uma gentil Audino que caminhava com a sua cestinha, Zorua se aproximou:

    — Ei, tia, estamos vendendo tortas – sorriu, usando o máximo da sua fofura. – Que tal você comprar todas? Digo – ela juntou os dedos indicadores, fazendo charme. – Pode comprar uma, é para uma amiga nossa e estamos vendendo para ela realizar o sonho. Sombra ficaria muito feliz se você comprasse.

    Uma flecha imaginária atingiu o coração daquela Audino.

    — Se eu comprar duas, Sombra ficará feliz? – ela perguntou, certificando de que veria um sorriso daquela obra de Arceus.

    — Muito. MUITO FELIZ! – a Zorua levantou os braços, animada e agitada. – Venha, venha.

    Ela guiou a primeira cliente do dia para a tenda que logo foi atendida pela Minccino e a Snivy. Sombra logo notou sua segunda vítima, um Sawk mal-humorado que nem olhou para o lado. Mas insistência era uma característica dela.

    — Moço! – ela chamou, conseguindo roubar a atenção. – Estamos vendendo torta. Se você comprar algumas, eu vou ficar muito feliz. Você quer ver Sombra feliz? – e mais uma vez, ela usou suas artimanhas.

    O Sawk revirou os olhos.

    — E o que acontece se eu não comprar?

    Sombra encarou o cliente com um olhar amedrontador que só os Dark-type sabiam fazer. A espinha do Pokémon lutador gelou.

    — Então eu vou te morder. E vai doer muito – ela disse, com voz baixa.

    No final, ele levou pelo menos dez tortas.

      

    — Vocês todos estão presos.

    Ninguém sabia exatamente o que aconteceu. Dois Growlithes e um Stoutland impaciente foram chamados para a barraca que vendia tortas. Brianna encarou Vic.

    — O que você roubou?

    — Eu nem sai daqui, mulher – defendeu-se.

    Mirsthy se aproximou.

    — Em que posso ajudar, senhores?

    — Recebemos a denúncia de um comércio que usava mão de obra de menor e incentivavam briga entre duas pessoas.

    — Falando desse jeito, fica parecendo que somos demônios – ironizou Vic.

    Lilly logo surgiu. Desesperada, ela tinha ouvido falar da denúncia e da presença da polícia.

    — S-Senhores. S-Sinto muito. Estou vendendo tortas para arrecadar dinheiro para construção de um Café – ela explicou. – Não tive cabeça para impedir que meus hóspedes se expusessem tanto. Eu assumo toda a culpa.

    — Vai ser presa no lugar de todos? – questionou o Stoutland, sem estar muito preocupado.

    — Não pode prender ela! – Koin apareceu e interveio.

    — Pera aí, senhor policial – Vic protestou também. – Não podemos negociar. Quer uma torta? Por conta da casa.

    O Pokémon cão encarou o Victini.

    — Podem pagar uma multa – disse. – E devem fechar essa barraca.

    Lilly engoliu seco com o valor dito pelo policial. Aquilo era praticamente o dinheiro arrecadado em um dia de trabalho. Ela sorriu, sem graça e logo pagou os policiais, pedindo mais e mais desculpas. Os outros hóspedes observavam tudo em absoluto silêncio. Koin percebeu toda a tristeza da Lilligant, como se ela estivesse entregando o seu curto sonho no lixo.

    Naquela noite, ninguém contou o lucro, só o prejuízo.

    Todos se desculparam milhares de vezes e Lilly teve que acalmar todos, dizendo que estava tudo bem.

    Como se as notícias ruins já não fossem o suficiente, Wooby e A Legião voltou após alguns dias de viagem, cheio de pertences. O líder parou ao ver todos naquele clima de desânimo.

    — Meu santo Hilbert, gente – começou. – Que cara é essa?

    — Ganhamos dinheiro, perdemos dinheiro e vocês voltaram. Essa é a desgraça – respondeu Brianna, de braços cruzados.

    Lilly riu de leve e explicou a história para os Woobats. Wooby ouviu tudo com muita atenção e sorriu.

    — Na verdade, essa é a oportunidade perfeita para agradecermos. Sabemos que incomodamos com nossas cantorias, mas nos divertimos muito – sorriu o líder dA Legião. – Por isso, vamos morar em uma caverna próxima. Mas antes, queremos pagar com um dos nossos maiores tesouros.

    Alguns Woobats apareceram carregando um enorme diamante polido.

    Os olhos de todos brilharam junto com a pedra.

    — V-vocês têm certeza? – questionou Lilly.

    — Não pergunta duas vezes ou eles mudam de ideia – sussurrou Mirsthy.

    — Tenho certeza que vão ajudá-los no que precisam – sorriu Wooby, entregando o objeto.

    — Com uma dessa, acho que abro cafés por todo o mundo – riu a Lilligant. – Muito obrigada, de verdade. Eu andei pensando num nome pro café.

    Todos olharam curiosos para a proprietária da pensão. Uma chama de esperança tinha sido acesa no coração de todos. O clima de derrota tinha sido levado para fora e tudo que restava era a expectativa para o futuro.

    — Eu percebi como adoro essa mistura nossa. Eu me sinto bem com vocês. Dizem que casa é muito além daquilo que você mora e se sente bem, é onde seu coração fica e repousa – explicou, um pouco tímida com tanta atenção. – Por isso, quero que mais pessoas se sintam assim. Lógico que ninguém mora num café, mas vocês entenderam – ela riu. – Senhoras e senhores, digam boas-vindas ao CAFÉ MIX.

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