• Sunday, May 1, 2022



    O Café Mix era o lugar mais confortável e familiar do mundo. Não mais que a própria pensão, é claro.

    O cheirinho dos ingredientes naturais sendo misturados e transformados em receitas novas prontas para serem vendidas e degustadas por todo tipo de Pokémon que passasse por ali. A decoração era delicada, limpa e clara e tudo era tão organizadinho bem como Lilly imaginou. Algum tempo de trabalho foi necessário para que tudo ficasse pronto para funcionar.

    — Rápido, rápido, tia Bree, tio Vic! – gritou Sombra, correndo em direção ao novo café.

    — É a quarta vez essa semana... – resmungou Vic.

    — Onde cabe tanto açúcar nessa menina? – questionou Brianna, segurando a coleira do Victini.

    O Pokémon anjo sorriu de canto de boca e passou o braço em volta do ombro da companheira:

    — Será que rola dessa vez um pedaço de bolo pra mim? – perguntou.

    Mas a Snivy nada respondeu, o que deixou o outro preocupado.

    — E-ei! – ele chamou.

    O olhar de Brianna estava focado para a pequena ponte que servia de entrada para a pensão. De longe, era possível ver que chegava. Três Pokémon, um Darmanitan que logo foi recepcionado por Mirsthy, uma pequena Cleffa que não saia do calço do grandalhão, e por fim, o que chamava a atenção da inicial de grama, um Excadrill.

    Vic seguiu o olhar da companheira e viu todo o charme do Pokémon que tinha um estilo cowboy. Ele mostrou a língua e deu de ombros.

    — Gente nova só – disse. – Vamos lá? A Sombra tá esperando a gente e-

    Ignorando o parceiro, Brianna foi em direção aos novos hóspedes, em especial ao Excadrill, arrastando o Victini junto com a coleira.

    Quando chegou, mal sabia como agir. Parecia uma adolescente boba que tinha encontrado seu príncipe encantado disfarçado de justiceiro do Oeste. Estava com cara de idiota quando o Excadrill finalmente notou a presença dos dois.

    Howdy, girl! – cumprimentou o homem.

    — O-Oi – Bree acenou de leve, com uma voz mansa nunca ouvida antes. – M-Meu nome é Brianna.

    — Pode me chamar de Jesse, madame – sorriu o Pokémon, fazendo a mulher corar. – E seu namorado?

    — Meu nome é Vi-

    O Victini não teve tempo de terminar antes de levar uma cotovelada no estômago. A Snivy riu de nervoso.

    — N-Não, não é meu namorado. Ele é meu animal de estimação – a risada era tão forçada pra ser fofa que soava como um fantasma assombrando as pessoas.

    — Um outro Pokémon como animal de estimação? – sorriu o Excadrill, ajeitando seu chapéu. – Gosto de mulheres... dominadoras.

    Brianna corou e colocou suas mãos no peito, jurando que o coração sairia de dentro dele.

    — Esse não é um adjetivo pra você fazer essa cara – ironizou o Victini, com as mãos no bolso.

    — É melhor do que você me chamando de selvagem! – disse, em tom baixo, a Snivy, irritada.

    — Jesse! – acenou a Cleffa que tinha chegado junto a ele e ao Darmanitan. – Você não vai entrar?

    — Estou indo! – disse Jesse, acenando de volta. – Estou indo conhecer a pensão. Foi um prazer falar com vocês.

    — EU POSSO TE ACOMPANHAR! – berrou Brianna, envergonhando-se logo em seguida pelo tom de voz. – Digo... – a cobra juntou as mãos, tímida. – Se você quiser.

    O Excadrill estendeu um dos braços com garras mecânicas acopladas para a donzela e sorriu.

    — Será uma honra – disse. Aquilo soou como um sonho para a jovem Snivy que dizia ser de uma família real, um verdadeiro cavalheiro no meio de tantos selvagens. Jesse parecia um príncipe, ainda que sua aparência bagunçada quebrasse um pouco da imagem.

    A mulher segurou o braço forte dele e acenou com a cabeça, positivamente. E assim, ambos entraram, deixando um Victini abandonado em sua coleira. Sombra se aproximou do Pokémon e segurou a barra da jaqueta dela.

    — Tio Vic, a tia Bree não vai comer com a gente? – perguntou a pequena Zorua.

    — Não, Sombra, não vai – respondeu ele, com uma expressão séria e com certo desânimo. – O problema é que ela tinha o dinheiro. Será que o Koin mata a gente se roubarmos bolo?

     

    Koin estava orgulhoso. Além de ter evoluído como forte e rechonchudo Pignite, tinha assumido o controle da cozinha do Café Mix graças as aulas de Lilly, agora, era um excelente cozinheiro e confeiteiro.

    Concentrado em seus serviços e afazeres, mal notou quando a própria dona do local chegou, provavelmente para fazer uma checagem diária.

    — Uau – exclamou a Lilligant. – Esse lugar está brilhando.

    — Hein? – Koin se assustou com a voz repentina e bateu a cabeça na bancada ao se levantar rapidamente. – Oh, olá dona Lilly – sorriu o porco.

    — Foi uma pancada e tanto – a Pokémon flor cruzou os braços e sorriu. – Obrigada por tanta dedicação.

    — Obrigada por me deixar abraçar o sonho da senhora também – sorriu o Pignite, segurando uma caixa cheia de pratos, sorrindo com seus dentes brancos e seus braços fortes.

    Lilly se acanhou um pouco, admirada com a pequena tatuagem de seu rosto no braço do jovem.

    — Já falei pra me chamar de dona ou de senhora. Não estamos com idades tão distantes assim – riu ela, ajeitando seu avental. – Bizarro como os Pokémon crescem rápidos.

    — Alguns nunca mudam – riu Koin.

    A atenção dos dois voltou-se para o balcão de atendimento, onde Sombra se apoiava para tentar alcançar um dos pedaços de bolo expostos na pequena estufa rosada.

    — O que tá fazendo, pequena? – questionou Lilly, se aproximando com Koin.

    — Tô tentando roubar um pedaço de bolo – confessou a jovem infratora.

    A quarta figura que apareceu na cena parecia irritada. Era Vic, que estava envergonhado.

    — Porra, Sombra, roubar é forte demais! – repreendeu. – O certo é “pegar emprestado sem previsão de devolução”.

    — Mas essa frase é muito difícil de decorar tio Vic! – argumentou a Zorua. – Não é a mesma coisa que dizer “Em um ninho de mafagafos haviam sete mafagafinhos, que amafagar mais mafagafinho, bom amagafanhador será”!

    Os outros três encararam confusos para o trava-língua citado pela garota e muitas perguntas surgiram na sua cabeça, mas a mais intrigante era: O que diabos era um mafagafo?

    — De toda forma, vou fingir que vocês não vão tentar roubar nosso café – riu a Lilligant, nervosa. – Onde está Brianna?

    — Tá sendo guia turístico de um mané que chegou na Pensão – respondeu Vic, revoltado.

    — Oh, vi que tivemos três novos check-ins – sorriu Lilly, animada e orgulhosa. – Foi um convite de Mirsthy. Mas você não parece tão animado, são ciúmes?

    — Quê?! Ciúmes?! – as orelhas do Victini esquentaram. – Nunca! Nunca, nunca, nunca!

    — Podia jurar que vocês eram um casal. Um casal com fetiches estranhos, mas um belo casal – riu a Liligant.

    — Casal? – Vic ficou desconcertado. – Claro que não. A gente se suporta, no máximo.

    — Tio Vic tá apaixonado pela tia Bree? – questionou Sombra, fazendo o Victini explodir.

    — Você nem sabe o que é amor! – gritou o Pokémon anjo.

    — Eu amo o tio Vic e a tia Bree! – respondeu a Zorua, animada. – Koin, você ama a Lilly?

    A Lilligant corou dessa vez e o Pignite fez uma expressão surpresa, mas com a resposta na ponta da língua.

    — É claro que amo – sorriu o cozinheiro. – Quem não ama? Ela é uma inspiração pra todo mundo e devemos muito a ela.

    — Eu já tô perdido em que tipo de amor estamos falando – ironizou Vic.

    — É só seguir o fluxo – disse Lilly, um tanto decepcionada.

     

    Nos dias que se seguiram, Vic resumia sua doce rotina em observar sua dona, digo, Brianna acompanhando o novo hóspede da pensão para cima e para baixo, conversando sobre assuntos que o Victini não tinha a mínima vontade em ouvir.

    Estava encostado em um troco de uma árvore aproveitando a brisa e a sombra quando Mirsthy apareceu para lhe fazer companhia.

    — Como pode fazer essa cara com um clima tão bom? – questionou a Minccino, se espreguiçando.

    — Só estou entediado – respondeu o rapaz, com braços apoiados atrás da cabeça.

    — No final das contas, você gostava de andar numa coleira com ela pra cima e pra baixo – debochou a mulher, fazendo o Victini corar, envergonhado.

    — Heh, se quer saber, estou feliz que não estou sendo mais humilhado pela brutamente gosmenta – Vic levantou o nariz e jogou o queixo pra frente, tentando parecer orgulhoso.

    — É por isso que você ainda não tirou essa coleira do pescoço? – questionou a amiga, rindo quando o Pokémon ao seu lado ficou sem jeito ao perder a pose.

    Ele levou a mão até o pescoço, tentando esconder o objeto em vão.

    — Eu só esqueci de tirar...

    — Você deveria deixar seu orgulho um pouco de lado e ser mais sincero. Acredite, homens bonitões com esse jeito mal acabado e sério são só uma fase. As mulheres adoram os estranhos – apontou Mirsthy.

    — Se você tá tentando me motivar, por favor, pare – ironizou o outro.

    — De toda forma, logo as coisas vão voltar ao normal.

     

    Mais alguns dias se passaram, Brianna resolveu aproveitar o pôr-do-sol para levar Jesse a uma pequena colina próxima para admirarem o restinho de tarde que logo chegaria ao fim. Ambos se sentaram na grama rasteira que fazia um pouco de cócegas, o Excadrill tirou seu chapéu e apoiou seu braço sobre o joelho levantado, enquanto Brianna sentou-se sobre os calcanhares, como uma verdadeira dama.

    — De tirar o fôlego, né? – comentou a Snivy sobre a paisagem, respirando fundo.

    — Com certeza. Combina com você – sorriu Jesse. – Obrigado por me ajudar na adaptação, madame.

    — Não precisa me agradecer. Foi muito divertido passar esses dias com você – respondeu Bree, um pouco acanhada.

    — Mas eu tenho certeza que aquele seu amigo Victini ficou bem incomodado com isso. Tá tudo bem mesmo?

    — O quê? O Vic? – a Snivy riu, exagerada. – Aquele cabeça de vento não liga pra nada, deve estar ocupado roubando alguma coisa.

    — Você é muito dura com as pessoas – riu o Excadrill. – Parece sempre brava ou desconfiada.

    — Isso é um problema? – questionou, preocupada.

    — Para mim,não – respondeu, entre risos. – Mas é porque eu ainda não devo ter conhecido sua verdadeira fúria. Você deveria sorrir mais igual sorriu todos esses dias.

    — Eu não faço por mal – disse Brianna. – É só um jeito meu, acaba saindo sem querer. Piora quando eu tô perto daquele Victini folgado. Mas eu prometo melhorar, ser mais feminina.

    — H-hã? Não, por mim você não tem que fazer nada – explicou o Excadrill. – Você só muda se sente que quer mudar, o importante é você se sentir bem. Você já é incrível.

    Brianna sentiu seu coração derreter com tantos elogios. Apaixonada era uma palavra muito forte para quem acabara, mas com certeza poderia passar muito tempo ouvindo aquele homem.

    — Eu adoraria ver o pôr-do-sol com você todo dia – confessou a Snivy.

    — Seria incrível – confessou Jesse. – Porra, Darryl adoraria ver uma paisagem dessas.

    — D-Darryl? – perguntou a cobra de grama, ao seu lado, curiosa.

    — Meu namorado – contou o Excadrill, fazendo a Snivy arregalar os olhos.

    — E-Eu não sabia que você... tinha namorado – a Pokémon riu de nervoso. – Digo... Isso é incrível.

    — Não parece muito feliz com a informação – brincou Jesse, mostrando a língua. – Oh, você... – o Pokémon toupeira encaixou algumas peças. – Ow, girl, desculpa. Eu não queria causar essa impressão, nem era minha intenção.

    — V-Você não precisa se desculpar – riu Brianna. – Digo, quem se precipitou demais fui eu. Talvez eu tenha sido emocionada demais, como dizem.

    Já estava imaginando Vic rindo e debochando da cara dela por quase se apaixonar por um cara que conheceu há poucos dias. Era tão ridículo quando ela parava pra pensar que se sentia num drama adolescente escrito por uma menina de quinze anos com problemas no amor.

     — Eu vou entender se não quiser mais ficar comigo – disse Jesse, ainda que um pouco deprimido.

    — O quê? N-Não, claro que não – disse a Snivy, surpresa. – Isso não afeta em nada no nosso relacionamento. Foi só um mal entendido da minha parte, mas eu estou super feliz de você se sentir à vontade aqui e querer trazer pessoas especiais para você.

    O Excadrill riu e colocou o chapéu de volta, observando o último raio de sol sumir no horizonte.

    — O cara ou a mina que tiver a sorte de ter você ao lado será muito feliz – sorriu o Pokémon, com sinceridade.

    Brianna sorriu de volta.

     


    Talvez a Snivy tenha perdido hora quando finalmente resolvera voltar para a pensão. Jesse tinha lhe pedido licença para se retirar minutos depois daquela conversa, mas ela quis ficar mais um pouco para refletir.

    Caminhou por uma pequena floresta em direção de seu objetivo, nem se preocupando se alguém observava ela. Até que ele resolvesse se manifestar, não tão graciosamente como planejara, até porque acabou escorregando de um dos galhos e caiu de cara no chão.

    Bree se assustou, mas quando notou ser Vic, apenas pisou por cima do corpo do Pokémon e continuou seu caminho.

    — Obrigado pela ajuda – murmurou o Victini, se levantando e alcançando a companheira.

    — O que você quer? – questionou a Snivy, tentando manter um ego que não existia.

    — Eu só estava andando por aí. Onde está seu namorado? – provocou Vic.

    — Meu “namorado” tem um namorado – Brianna levantou o nariz, vermelha. – Agora você pode rir, mas seja rápido porque estou de bom humor.

    O Victini fez silêncio e engoliu seco, ficou encarando a amiga por alguns minutos, reprimindo o lábio enquanto disfarçava a expressão rabugenta. Expressão essa que incomodou a serpente de grama.

    — Fala alguma coisa! – gritou Bree, sendo surpreendida com o Victini agarrando seu braço e prendendo seu corpo magro contra uma árvore. Isso a fez corar, mas deixando-a extremamente irritada. – QUE MERDA É ESSA, VIC?!

    A resposta veio com um beijo quente contra os lábios dela. Obviamente quente por causa da tipagem do Pokémon, mas carregado de um sentimento confuso. Vic recuou, ruborizado, evitou contato visual pois sabia que as pupilas da companheira estariam em chamas.

    — S-Seu Lillipup de estimação não quer perder sua dona – disse, baixinho, estendendo a corda da coleira para a mulher. – N-Não precisa dizer que ama outro homem, pois eu estou bem aqui.

    Brianna segurou a guia da coleira que Vic usava, envergonhada. Suspirou, mas antes de abrir a boca para responder, Victini cortou o clima:

    — Aliás, bem idiota da sua parte querer se confessar pra um cara que acabou de conhecer.

    Bree encarou o Pokémon.

    — E vê se prende esse cabelo, tá parecendo um Carnivine! – provocou o anjo, mais uma vez. Não estava pronto para resolver aquele assunto, todos os sentimentos eram muito confusos.

    — Você não passa de um Lillipup inútil né? – resmungou a Snivy, quase rosnando. – NÃO VOU TE PERDOAR POR ME BEIJAR COM ESSA BOCA IMUNDA, SEU VICTINI MALDITO!

    O Vine Whip estralou e a perseguição rolou a noite toda. Victini, apesar dos golpes, estava animado ao retornar os velhos tempos.

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