• Capítulo 16

     

    Original: luoqin

    Quando Hilbert e Hilda atravessaram o limite da Route 3 e entraram em Nacrene City naquela manhã, não conseguiram segurar o encanto e nem de ficarem boquiabertos.

    Considerada a capital da arte, a cidade, que tinha uma dimensão parecida com a de Striaton, se destacava pelas artes do estilo grafite nas laterais dos prédios, estes, não era casas convencionais, e sim, armazéns antigos que se tornaram uma marca cultural e histórica de Nacrene, fazendo com que moradores mantivessem a arquitetura, apenas adaptando para que se tornassem casas. Falando em história, a antiga linha de trem abandonada deixava a impressão das milhares de viagens e pessoas que haviam passado pelo local no passado.

    Não só isso, Nacrene era palco do maior museu da região de Unova, com seus artefatos e tesouros históricos em exposição, prontos para receber visitantes em busca de conhecimento. No mesmo local, Lenora, a líder e dona do local, comandava seu ginásio, especializada em Normal-type. E era esse lugar que interessava Hilbert no momento.

    Após a estadia no dia anterior no Day Care, o treinador tivera tempo para treinar e se preparar para uma batalha de ginásio oficial e séria. Brianna, Mirsthy e o recém-chegado Wooby estavam prontos para o que viesse.

    — Tá nervoso? – questionou Hilda para o amigo, enquanto pegava informações sobre em qual direção seguir em direção ao ginásio. – Sua primeira batalha de verdade – riu ela.

    — Nervoso? Nem um pouco – disse ele, ainda que o movimento ansioso de suas mãos denunciasse o contrário. – Você não quer dar uma volta, não? Sei lá, conhecer a cidade?

    — Hm? – a menina refletiu. – Acho que tô com vontade de te ver batalhando mais do que qualquer outra coisa.

    — Você tem certeza? – voltou a questionar o garoto, entrelaçando o braço da menina com o dele. – Talvez você queira dar uma volta – ele apontou para um cartaz pregado em um poste de energia. – Olha, eles têm um café temático! Scratch Café, talvez devêssemos ir lá antes e-

    — Tá com medo, não tá? – a pergunta que interrompeu Hilbert o fez abaixar a cabeça de vergonha.

    — Apavorado.

    — Hilbert, você tá preparado, passou o dia de ontem treinando – confortou a menina, desvencilhando os braços e pegando a mão do companheiro. – Cadê o menino que fazia tudo sem pensar? Precisamos dele agora para dar a cara `s tapa e entrar naquele museu e desafiar a líder de lá.

    O menino soltou um sorriso animado e confiante.

    — Tem razão! Vamos fazer as coisas no estilo Hilbert. Vamos lá!

    Agitado, ele correu em direção ao ginásio, seguido de sua amiga, que ria com a mudança de humor repentina.

    A estrutura externa do ambiente possuía um arco estilo romano em sua entrada, as paredes indicavam dois andares com vitrais simples que traziam luz para o interno, colunas decoravam partes específicas e o telhado era de um tom de verde escuro.

    “An Archeologist with backbone” – leu Hilda na placa do local. – Que título interessante. Parece que você terá problemas – riu.

    A dupla entrou no local, sentindo a majestade do ambiente atravessarem suas almas, e novamente, não puderam conter o fato de ficarem impressionados.

    Um carpete azul decorava o caminho pelo qual os visitantes deveriam caminhar sobre, a iluminação não era tão forte, mas clara o suficiente para se ver por onde cada coisa estavam, coisas essas que variavam desde de fósseis de criaturas pré-históricas, artefatos de um mundo muito antigo até mesmo um esqueleto de um Dragonite, um legendário dragão de Kanto, estava exposto.

    Sob as boas-vindas da recepcionista, os dois começaram a caminhar por entre os corredores, observando curiosos todos aqueles objetos, tentando decifrar toda a história por trás deles.

    — Eu adorava ir nas excursões escolares para museus, mas isso daqui é coisa de outro mundo – comentou Hilda.

    — Eu ia também, mas sempre me perdia e acabava chorando pra algum funcionário – confessou o menino, rindo de leve, recebendo uma risada gentil da amiga como resposta.

    Um pouco distraídos com os objetos em exposição, a dupla acabou por esquecer um pouco do motivo que os trouxeram até ali.

     

    O rapaz bocejou pela terceira vez em menos de dez minutos, coçou os curtos e bagunçados fios de cabelo negros como a noite, estava entediado de ficar ali. Como sua tia conseguia? O escritório de Lenora era o reflexo de tudo que ela conquistara, diplomas expostos nas paredes, troféus da comunidade cientifica e arqueológica decoravam as prateleiras de madeira claramente nobre, tudo era limpo, sério e organizado. Jackson se levantou da cadeira de couro vermelho e caminhou até um dos troféus em forma de um Omanyte e o pegou com cuidado.

    — É uma honra que eu, Jackson Petrie, receba um prêmio tão importante para a comunidade. Agradeço a confiança de todos os meus colegas – ele ensaiou um discurso de um prêmio imaginário e logo devolveu o objeto para o seu lugar. – É, seria legal ganhar um prêmio.

    Ainda entediado, ele caminhou pela sala novamente e olhou para a tela do computador que jazia na mesa central, navegou por algumas abas do sistema, sem muito interesse até chegar nas câmeras de segurança e notar dois jovens passeando pelo museu, completamente interessados nos objetos expostos.

    — Um treinador e uma treinadora? – sorriu ele e refletiu por alguns segundos. – Hmm, ser um líder de ginásio não deve ser tão ruim assim.

    Jackson subiu as escadas da saída do escritório de sua tia e surgiu na biblioteca grande e majestosa que ficava nos fundos do museu, se dirigiu para a parte da frente do local e entrou por fim, onde os garotos se encontravam e ajeitou a camisa social que apesar da peça, não tinha nem um ar de formal. Uma escada enorme e decorada com carpete vermelho separava ele de seu alvo, sorriu majestoso e anunciou em voz alta:

    — Vejo que temos treinadores novos por aqui!

    Hilda e Hilbert olharam curiosos para a figura nova, mas franziram a testa, não reconhecendo ele. O moreno desceu os degraus rapidamente e se aproximou todo receptivo, mas com certo ar de superioridade que ele não tinha.

    — Bom dia, meus jovens, não pude deixar de notar suas vestimentas e o ar impressionado de vocês. Primeira vez aqui?

    — Ah, sim senhor – respondeu a menina, sorrindo de leve. – É um lugar incrível exatamente como dizem – ela completou, sincera.

    — Jackson Petrie – apresentou-se. – E acredito que vocês vieram para conseguir a insígnia – sorriu ele, todo interessado.

    — É isso aí! – exclamou o treinador, tomando a frente. – Meu nome é Hilbert e eu vim desafiar a Lenora, líder desse ginásio.

    — Vejo que anda meio desinformado – informou Jackson. – Lenora não está disponível, mas ela me deixou como seu substituto, visto que a mesma confia muito em mim.

    A dupla pareceu curiosa e olharam inocentes para o jovem de 20 anos que apesar da camisa social e calça jeans, não tinha aura de um líder de ginásio autêntico, muito menos um que pudesse substituir Lenora, que de acordo com a placa no lado de fora, era uma arqueóloga firme e determinada.

    — Então, o que me dizem? Podemos fazer uma batalha agora – ele sorriu novamente, esperançoso.

    Passos leves, mas determinados de uma quarta pessoa foram ouvidos se aproximando, os três olharam em direção dela e se depararam com a figura majestosa de Lenora, com seus cabelos verdes volumosos presos por uma faixa, a pele escura contrastava com seus lindos olhos de mesmo tom de sua mechas, usava uma camisa branca com um pequeno detalhe de laço no pescoço e nas partes inferiores, uma calça boca de sino verde água escura e uma sapatilha mule de um tom salmão. Ela encarou Jackson.

    — Jack, eu pedi para que você ficasse responsável em avisar todos os treinadores que eu estava viajando e que as batalhas teriam que ser remarcadas – ela começou, com a mão na cintura. – Não para desafiá-los no meu lugar.

    O rapaz suspirou.

    — Desculpa, tia. Eu só queria me divertir um pouco.

    A negra olhou para Hilda e Hilbert.

    — Peço perdão por eles. Você veio me desafiar, rapazinho? – questionou, analisando seu oponente.

    — Isso aí, meu nome é Hilbert e eu vim batalhar pela sua insígnia – apesar de um pouco confuso, o treinador não se deixou abalar, estava admirado em conhecer a líder de Nacrene.

    — Gostei da sua determinação – ela sorriu. – Mas tenho péssimas notícias. Acabei de chegar de viagem e preciso me inteirar de tudo que está acontecendo aqui, então sem desafios por hoje.

    Hilbert suspirou, desanimado.

    — Mas amanhã pode voltar que eu estarei pronta para uma batalha daquelas – concluiu. – E como pedido de desculpas, acho que não seria uma má ideia se o Jackson levasse vocês para conhecerem a cidade, não é, meu querido?

    Jackson bufou e cruzou os braços.

    — Tudo bem, tudo bem – ele pegou o celular em seu bolso e checou a hora. – Acho que dá tempo de tomar um café da manhã no Scratch Café, eu levo vocês lá – deu de ombros. Não era os planos dele, mas pelo menos sairia do tédio que era ficar naquele escritório. – Como foi em Driftveil, tia Lenora? – questionou o rapaz para a mulher mais velha, olhando para a mesma.

    — Foi conturbada, mas falamos sobre isso depois. Vão se divertir – a líder brincou com os cabelos de seu sobrinho e se dirigiu para os fundos do museu.

     

    Cheio de perguntas sobre o que tinham acabado de presenciar, a dupla de companheiros resolvera seguir o curioso Jackson, que apesar da postura adulta e séria, parece ser uma figura bem descontraída. Ele caminhava na frente nas movimentadas ruas de Nacrene como um exímio morador da cidade, não se preocupando muito se Hilbert e Hilda estavam ficando para trás ou não. Depois de longos minutos de uma viagem de ônibus, eles desembarcaram em um ponto próximo a um estabelecimento que chamava a atenção pelo letreiro e a figura gentil de um Purrloin estampada em uma madeira. A estrutura era a mesma da maioria das casas, um galpão reformado pintado de um vermelho escuro quase vinho com telhados verdes onde repousavam exaustores que giravam uniformemente.

    — AH! Um café temático! – Hilda não pode esconder a empolgação, mesmo tendo visto no cartaz mais cedo, pessoalmente a experiência era muito melhor. – É aqueles cheios de Purrloins?

    — Mais ou menos, tem uns três que ficam roçando na sua perna quando você tá tomando café. O mais legal daqui são as belas moças que usam uniformes fofos com tiaras de orelhas e gargantilhas com sininho – novamente, era meio difícil acreditar que Jack era um rapaz de vinte anos e parente de uma líder de ginásio tão séria.

    Grimaud não pode conter a empolgação ao ouvir sobre mulheres, mas Vic o repreendeu, querendo evitar confusão.

    O trio entrou no famoso Scratch Café, uma franquia fundada por dois irmãos que estava presente em todas as regiões, desde Kanto até Galar, até as mais afastadas Decolore. O interior tinha um estilo clean, com paredes brancas e chão de madeira, possuía dois níveis que eram separados por duas escadas, o inferior era composto por mesas espalhadas pelo local com toalhas brancas bem organizadas, enquanto o superior ficava a cozinha e um balcão onde alguns solitários clientes sentavam para tomar seus cafés. Não estava tão movimentado, mas a agitação das garçonetes – que usavam uniformes inspirados em Purrloin – indicava que em breve a paz acabaria.

    Jackson guiou os mais novos para uma mesa de quatro lugares, eles mal tiveram tempo de puxar assunto com o mais velho quando uma garçonete se aproximou prontamente, toda atenciosa e sorriu:

    — Bem-vindos ao Scratch Café – começou. – Em que posso serví-los hoje?

    — Hã, vamos querer ver o cardápio antes – respondeu Hilda, pegando um dos menus disposto na mesa. - É nossa primeira vez aqui – sorriu ela.

    — Sendo assim, vou sugerir para vocês o Brownie e o Milkshake de Mago Berry – a garçonete mostrou no cardápio para os dois novatos, que assentiram com a cabeça, confirmando o pedido. – Ok então, dois de cada – ela se virou para o moreno – E você, Jack? – a moça sorriu, conhecendo a figura, que parecia frequentar bastante o local.

    — Ah, minha querida, o de sempre – ele sorriu elegantemente.

    — Um frapuccino de Pecha Berry e um cheesecake de Cheri Berry saindo – anotando na comanda, a mulher deixou a mesa em direção a cozinha.

    — Como era o nome dela mesmo? – questionou Jackson para si mesmo, dando de ombros.

    — Hã... Senhor Petrie? – Hilda chamou a atenção do mais velho. Tanto ela quanto Hilbert estavam cheio de dúvidas sobre quem era o rapaz.

    — Por favor, não me chame de senhor, não sou tão velho assim – ele olhou para a dupla.

    — Desculpe. É que... porque você mentiu?

    Jack pigarreou com uma pergunta tão direta.

    — Eu só queria brincar, ok? Estava chato ficar cuidando do escritório da minha tia, não é como se uma caneta fosse sair do lugar e destruir o universo – o negro ironizou. – Mas deve ser legal ser um líder de ginásio – ele refletiu, como se conversasse consigo mesmo.

    — É o seu sonho? – Hilbert questionou, interessado.

    — Sonho? Nhá – ele agitou as mãos negativamente. – Eu só queria saber a sensação de agir como um. Curiosidade. Nunca pensaram em ser tipo QUALQUER COISA? Sem nessa bajulação de “eu vou ser isso e ponto final”?

    Os dois companheiros se entreolharam.

    — Nunca pensei por esse lado – respondeu o menino. – Eu gosto de ser treinador.

    — Eu ainda não sei o que dizer, eu nem sei do que eu gosto exatamente. Por isso eu saí junto com o Hilbert.

    — Uma jornada de autoconhecimento? Que profundo – Jackson balançou com a cabeça, compreensivo. – Vocês são namorados?

    — CLARO QUE NÃO! – Hilda bateu as mãos na mesa no mesmo instante, corada, assuntado os presentes. – D-Digo... – ela se recompôs. – Somos apenas amigos.

    — Ok, ok – o moreno riu. – Começamos um pouco perdidos. Vocês sabem meu nome, mas eu ainda não sei os seus.

    — Hilbert Autevielle – informou subitamente o treinador.

    — Sou Hilda Foley – sorriu a menina. – Deve ser incrível ser o sobrinho da Lenora. Ouvi que ela é uma excelente líder de ginásio.

    — Ela dá dor de cabeça para alguns despreparados. Mas os treinadores já manjaram de capturar Timburr, Throh ou Sawk na rota perto da Pinwheel Forest e acabar rapidinho com ela – contou Jackson, despertando a atenção de Hilbert, que logo começou a pesquisar em sua Pokédex. – E sobre ser sobrinha dela, é legal sim, mas dela eu só puxei a paixão pela arqueologia.

    — Então você vive naqueles sítios de escavação? – questionou a garota, notando a aproximação da garçonete que tinha atendido eles.

    — Mais ou menos – o negro notou também e interrompeu a conversa enquanto ela servia o trio com seus respectivos pedidos.

    — Tenham um bom apetite – disse a mulher.

    — Muito obrigada, hã... – Jack pensou um pouco. – Mary?

    — É Stella – a funcionária bufou, decepcionada e irritada. – Vocês são todos iguais – ela saiu com o nariz empinado.

    — Sou péssimo com nomes – o rapaz suspirou. – Mas voltando ao assunto. Eu adoraria que minha profissão fosse só isso, mas tem toda aquele lance de responsabilidade envolvendo os itens que você acha. Principalmente se o objeto é raro.

    O jovem olhou para a dupla, que pareciam não entender os problemas envolvendo a profissão dele.

    — Resumidamente, mesmo a profissão dos seus sonhos tem seus lados ruins – explicou ele com um bom humor. – Mas eu vou mudar isso.

    Jackson não queria perder a oportunidade de se exibir para os outros.

    — Olha – ele se aproximou mais, insinuando que o assunto era extremamente confidencial. – Tem um objeto que eu achei na minha última escavação que estou estudando e se tudo der certo, vou finalmente fazer meu nome aparecer em destaque nas revistas, jornais e artigos científicos.

    — Que tipo de objeto? – questionou Hilbert, curioso.

    — É uma esfera branca, não é muito grande, mas também não dá pra carregar numa bolsa sem chamar a atenção. Pode parecer bobo, mas ela emanava uma energia estranha, e era quente, como se tivesse pegado fogo recentemente – explicou ele. – É algo que vocês têm que ver para ficarem impressionados.

     — E o que acontece se você descobre o que é essa esfera? – perguntou a menina.

    — Além de ficar famoso, posso finalmente sair da sombra de outros arqueólogos famosos e ganhar um destaque merecido – Jackson se convencia de sua situação, e seu ego só inflava mais conforme via que seus ouvintes estavam realmente impressionados.

    Apesar de toda confidencialidade, as paredes possuíam ouvidos.

    De uma mesa não muito longe, Maggie ouvia toda a conversa. Usando roupas comuns, uma calça jeans azul e uma blusa preta confortável, a garota tomava um lanche da manhã já que estava hospedada por perto e tivera a sorte de ouvir algo tão importante e que com certeza seria de interesse para a Team Plasma. Mais que rapidamente, mas se levantar alardes, ela pagou sua conta e saiu do estabelecimento, em direção ao QG instalado ali perto da cidade.

    Jack, animado, convenceu Hilda e Hilbert o acompanharem até sua casa para que pudesse mostrar o dito cujo objeto que traria glória para si, e por sorte, o local não era muito longe. Ele morava em um dos poucos tipos de prédios diferente dos galpões, era um apartamento no segundo andar que era perfeito para um solteiro jovem adulto. A decoração era normal, chamava a atenção a quantidade de livros sobre a área em que o dono fazia parte. Na sala que contava com um sofá e uma TV, dois Pokémon despertaram o interesse logo de cara das duas crianças.

    A primeira tinha um pouco mais de um metro e remetia a um primata pela forma de andar, a cabeça era seu corpo, todo vermelho, ele tinha uma expressão brava, porém divertida, com enormes sobrancelhas que lembravam labaredas de fogo e um sorriso que mostrava dentes pontiagudos. Hilbert conferiu em sua Pokédex, e aquele era um Darmanitan, do tipo Fire.

    A segunda, porém, não conseguiu ser identificada pelo objeto, o que revelava que ela não pertencia a região de Unova. Bem menor que o primeiro Pokémon, a fofa criatura rosa clara parecia uma espécie de estrela gorda com curtos bracinhos e um rabo enrolado, a julgar pelos olhos inocentes e a forma que o grandalhão cuidava dela, ela parecia ser um bebê. Jack revelou ser uma Cleffa, um Pokémon do tipo Fairy, original de Kanto e Johto.


    O arqueólogo pegou a criatura menor no colo e ajeitou com cuidado em seus braços, atencioso.

    — Oi, Bijou – ele brincou com ela. – O Winston cuidou bem de você hoje?

    Cleffa grunhiu positivamente e Jackson acariciou o Darmanitan.

    — Bom trabalho, big boy – ele olhou para os dois jovens. – Hoje temos visitas, ok? Então seja receptivo – entregou a Pokémon de volta para ele e acenou para que os outros o seguisse, e assim fizeram.

    Ignorando completamente a bagunça, o mais velho se dirigiu até uma escrivaninha lotada de papéis e coisas para escritório e por fim, repousada sobre uma almofada macia, a famigerada esfera branca que foi apresentada na cafeteria.

    Ela brilhava com a luz do sol, sinal de que fora bem cuidada, parecia ser maciça e o mais impressionante era ver que pequenas chamas laranjas saindo dela, e mais ainda, não queimavam nada. Hilda olhou admirada para o objeto, bem mais que Hilbert, algo atraia a garota para aquela bola curiosa, tanto que num gesto involuntário, se aproximou para tocar nela e logo sua visão se tornou turva e ela enxergou algo que com certeza não esqueceria tão fácil.

    A figura de uma espécie de dragão encarava ela, bípede, seu corpo era esbelto, composto por pelos. A cabeça era pequena e era decorada pelo que parecia ser cabelos que brincavam com o vento, ainda que não houvesse nenhum ali, suas patas superiores eram asas com pequenas garras nas pontas. As pernas eram fortes e intimidadoras, principalmente pelas unhas afiadas, no rabo, uma espécie de motor estranho. A morena encarou os olhos azuis da criatura que não parecia surpresa em vê-la, mas a menina sentiu suas pernas tremerem quando o Pokémon se rodeou por chamas, soltando um grunhindo ensurdecedor.

    — HILDA! – seu amigo a despertou quase que num susto, segurando seu braço. Ela olhou para Hilbert, os olhos anis dela estavam arregalados indicando medo.

    — Menina, não faz mais isso de novo, não – alertou Jackson, ainda incrédulo com a reação da menina ao tocar o objeto. – S-suas mãos não queimaram? Eu tive que pedir pro meu Darmanitan carregar isso pra mim de tão quente.

    — Eu vi... Eu vi uma criatura. Um Pokémon! – ela começou a assimilar a figura que tinha visto, tentando procurar em sua memória de onde já tinha visto aquela criatura. – Reshiram... – a palavra, que quase saiu como um sussurro, trouxe um clima tenso para o pequeno quarto.

    — Espera. O quê? – Jack correu até sua sala e voltou com um livro em mãos, folheando-o. – Não pode ser verdade – em uma página específica, ele mostrou para Hilda a figura do dragão. – É esse?

    A garota segurou o livro e assentiu.

    — É exatamente esse. Eu lembro de ler esse livro uma vez. Verdade Branca e Ideal Negro – comentou ela, tão atônita quanto o negro.

    — Esse é um livro popular porque conta a história de Unova usando da fantasia dos dragões lendários – explicou. – Mas você ouviu, é uma FANTASIA. Tirando alguns acontecimentos, a história com Reshiram e Zekrom é lenda!

    — E-eu sei, mas eu juro que vi aquela criatura, o Reshiram – exclamou Hilda, olhando para Hilbert na esperança de que o amigo acreditasse nela.

    — C-Calma... Acredito em você – confortou o treinador, meio confuso. – Eu só... Não sei do que vocês estão falando, na verdade – o menino riu. – Eu já ouvi sobre a história desse livro, mas nunca o li, no máximo, vi ela adaptada numa HQ.

    — Putz, pode crer! – extravasou o moreno, nostálgico. – Eu lia esse. Comprava junto com As Aventuras do Dragão Guerreiro.

    Por um segundo, os dois jovens pareceram esquecer o assunto anterior.

    — Ah, eu nunca li esse! Era muito caro! Mas eu adorava ver aquele Garchomp na capa – riu Hilbert, animado.

    — Ok, queridos, eu aprecio o momento infância de vocês, mas eu sinto que não tô sendo levada a séria aqui – interrompeu Hilda, batendo o pé de leve. – Eu vi um Pokémon que era pra ser de mentira, mas ele parecia ser muito real pra mim.

    — Basicamente, Hilbert, conta-se que Unova foi criada quando povos em guerra se uniram liderados por irmãos gêmeos e assim, a região prosperou – começou Jackson, sentando-se em sua cama. – Acontece que os irmãos tinham crenças diferentes, a Princesa Branca, como era conhecida, acreditava que se devia seguir a Verdade, enquanto o Príncipe Negro dizia que devia-se seguir o Ideal. E assim, os dois irmãos que se uniram pela paz um dia, trouxeram guerras e caos por toda a Unova – o rapaz suspirou, recuperando o fôlego depois de terminar.

    — E onde entra o dragão que a Hilda viu?

    — No livro é contado que dois dragões acompanhavam cada um dos irmãos. Reshiram acompanhavam a Princesa, e Zekrom, o Príncipe. Antigamente, eles eram um só, mas as intrigas fizeram com que os dois se separassem, nascendo assim, da casca vazia, Kyurem – continuou. – Mas isso era só metáfora para tornar o livro mais impactante e trazer mais vendas, tanto que muitos ilustradores fizeram desenhos de como deveriam ser os tais dragões, mas sem nenhuma prova, eles só ficaram como... lenda popular – refletiu o moreno, olhando para a garota a sua frente. – Mas o fato de a Hilda ter visto o Reshiram deve significar que esse objeto pode provar... a existência desse conto.

    O silêncio tomou o local novamente, dessa vez, os três começaram a pensar no peso que era provar para o mundo que as histórias nos livros eram na verdade reais. O que fazer agora?

    Abruptamente, a pacificidade foi interrompida por um longo e sonoro ronco na barriga de Hilbert, que sorriu sem graça.

    — Hilbert, você acabou de comer! – exclamou Hilda, desviando totalmente de toda a tensão.

    — Foi mal! Aquele negócio de chocolate não encheu minha barriga.

    E você nem dividiu comigo! – Vic saiu da bolsa do amigo e entrou na discussão, irritado.

    — EITA, PORRA! UM VICTINI! – gritou Jack, surpreso.

    E aí, mano – cumprimentou o Pokémon. – Seguinte, você nunca me viu e eu nunca te vi, ok? Agora arranja um daqueles doces que vocês comeram naquele lugar que eu tô morrendo de fome.

    — Cara, como eu fiquei focado em falar de coisas sérias? – riu o moreno. – Vocês são cheios de surpresas e isso é muito melhor que um bando de livros velhos. Acho que achei uma mina de ouro.

    Hilda, o cara vai vender a gente!

    — É uma metáfora, Vic – riu a menina. – Significa que ele gostou da gente.

    — Exato, até porque a Hilda não valeria muita grana – disse Hilbert, levando um puxão de orelha logo em seguida da amiga.

    — COMO É QUE É?!

    — Ai, ai! – resmungou o outro.

    Jack não conseguia conter a risada.

    — Acho que esse dia só ficará mais perfeito com pizza.

    EU TOPO!

    E o grupo riu como talvez nunca tivessem rido antes na vida. Eram pequenos momentos que com certeza ficaram guardados nas memórias daquela jornada, um momento sem as reponsabilidades do dia a dia. Um momento que marcaria apenas o começo de uma grande amizade.

        

    10 comentários

  • Notas da Autora (Capítulo 16)


    Olá! 

    Finalmente chegamos ao capítulo 16 e FINALMENTE, um novo protagonista surge! 
    Sim, se você achou que Hilbert, Hilda e Vic iriam passar o resto de suas jornadas sendo apenas três, sinto-lhe informar que agora são quatro rs 
    Espero que deem as boas-vindas ao menino Jackson Petrie que é meu primeiro personagem original que é um protagonista! 
    Eu adoro imaginar funções das pessoas em um grupo, mas também adoro imaginar o motivo dessas pessoas se unirem. Assistir animes como Inuyasha e ler livros como Matéria me fazer perceber que você cria uma empatia com todos os protagonistas quando eles se completam, e meu maior medo é não conseguir conectar laços. Mas novamente meus próprios bebês fizeram as coisas sozinhos, e tudo se encaixou perfeitamente. 

    De Jackson para Light Stone. 
    Sim, a contraparte da Dark Stone brotou na história mais cedo do que todo mundo imaginava. 
    E finalmente Hilda vai tendo alguma "utilidade", já que descobrimos que ela tem uma forte ligação com o dragão Reshiram. 
    Veremos que os próximos capítulos aguardam. 

    Um beijo e um abraço
    StarChan
     

    0 comentários

  • Os 10 anos de Unova!

     

    Original: gonzarez1938


    POKÉMON BLACK & WHITE
    10 ANOS

    Em 18 de Setembro de 2010, lá na terra do sol nascente, a quinta geração era oficialmente lançada, pronta para ser um divisor de águas entre os saudosistas das primeiras gerações e os entusiastas da nova geração de monstrinho. 
    A dupla de jogos foi lançada para o resto do mundo em menos de um ano depois com o mesmo e foi um sucesso. Em termos de vendas, foram QUINZE MILHÕES de cópias, tendo notas e scores altos nos principais sites de jogos. 
    Era o nascimento de Unova. 

    A HISTÓRIA
    Capas oficiais

    (OLHA OS SPOILERS!)

    O que é um RPG sem a sua história? 
    É inegável que os acontecimentos que rondam Hilda ou Hilbert (nosso personagem) são um dos mais marcantes em toda franquia Pokémon, e tudo isso se deve aos seus vilões. 
    Como todo jogo de Pokémon, você é um simples treinador na cidade inicial pronto para iniciar sua jornada e ansioso para escolher seu inicial, e seguindo a premissa de Hoenn, você tem dois marcantes rivais para te acompanhar na sua escolha, Cheren, um garoto estudioso e a atrapalhada Bianca. Juntos, vocês escolhem um dentre três monstrinhos elementares e assim, iniciam sua jornada após as dicas da gentil Professora Juniper. 
    Correndo atrás das suas insígnias, você se depara com a misteriosa e curiosa Team Plasma e seus membros, aqui, apesar de serem os vilões, o grupo carrega princípios que se assemelham a um discurso ambiental misturado com um "desarmamentista" que fizeram muitos jogadores se questionarem.
    LIBERTEM SEUS POKÉMON!
    É o que defende Ghetsis, o líder dos Plasmas, em um discurso em Accumula, jurando que os humanos são apenas obstáculos nas vidas das criaturas e que o melhor é libertá-los. Lógico que muitos acham a ideia um absurdo, mas esse discurso acaba atingindo algumas pessoas e cabe a nós, como sempre, impedir que isso se concretize. 
    Entre conquistas de insígnias e muitas batalhas, chegamos finalmente a Elite 4, e quando nos encontramos com nosso campeão, Alder, descobrimos que N, um misterioso jovem que se alega o rei dos Plasma e que se diz amigos dos Pokémon capaz de ouvi-los, surge e summona um enorme castelo que é afixado ao prédio da Elite 4 e cabe a você salvar o dia novamente. Lá, você luta contra N que está usando um dos dragões lendários mascotes dos jogos, e derrotando ele e Ghetsis, você traz a paz para Unova novamente e felizes para sempre :) 

    (FIM DOS SPOILERS)


    UNOVA É TÃO AMADA ASSIM?

    Uma das maiores polêmicas envolvendo a região se deve justamente a sua Pokédex e ao design de seus monstrinhos. 
    Estamos falando de uma região que vive num oito ou oitenta, que sai de criaturas como poderosos dragões e crocodilos com designs surpreendentes e poderosos, criaturas extremamente fofas  e iniciais interessantes e vai para sacos de lixos, peixes genéricos,  sorvetes e flocos de neve, engrenagens e criaturas que ninguém entende direito (vide Stunfisk).

    Stunfisk deveria ser sinônimo de ofensa


    De toda forma, existem mil razões pra elogiar os Pokémon da Unova Dex assim como existe mil razões para criticá-la.  Mas como gosto é pessoal, cabe a cada um decidir quais criaturas irão fazer parte do seu time. 

    Do outro lado da moeda (ou da balança), temos um peso enorme (na verdade, mais de um), que merecem ser citados para exaltar a grandiosidade de Unova. 

    • MÚSICAS
    Antes de tudo, pegue seu Furret e VAMOS ANDAR! 
    É difícil falar de apenas uma música tema dentro dos jogos da quinta geração, então eu vou tentar resumir isso em apenas um vídeo:


    Seja de Accumula, de Driftveil, os temas de batalha ou os temas de rota, é inegável que a sensação de empolgação ou até as vezes calma que os jogos nos traz, com seus altos de baixos, é praticamente impossível de esquecer. 
    E VAMOS COMBINAR UMA COISA? O TEMA DO QUARTO DO N DÁ MUITO MEDO!


    • PERSONAGENS
    Seja sincero comigo: Se eu te pedir UM personagem que você ame em Unova, VOCÊ VAI CONSEGUIR CITAR APENAS UM? 
    E com certeza, a maioria de vocês vai citar o personagem supremo, praticamente um símbolo: Natural Harmonia Gropius, aka, N. É incrível como um quase vilão conquistou tantas pessoas, Unova poderia ter um jogo com o rosto do rapaz de cabelos verdes estampado na capa. 
    Além dele, temos os dois protagonistas (que tem um dos melhores designs de treinadores da franquia), Cheren, Bianca, todos os líderes, a elite dos quatro, os campeões, a jovem Iris, a Professora Juniper e treinadores aleatórios marcantes.


    • O JOGO EM SI
    Cara, você já viu como os sprites da quinta geração são extremamente bonitos e bem animados (principalmente em BW2)? Estamos falando de como a Game Freak soube aproveitar todo o desempenho do DS para trazer a nós um jogo tão bonito que nem os gráficos 3D das novas gerações conseguem um desempenho tão bom. Tudo no jogo é bonito de se ver, desde as simples casas, as rotas e a mudança nas câmeras para se ver mais do cenário. Quem não se impressionou com o jogo de perspectiva na Skyarrow Bridge? E as mudanças na enorme Castelia?


    Tudo é extremamente limpo, a HUB é maravilhosa e você raramente não sente a emoção de uma batalha grande, já que a combinação da música com o campo de batalha te bota dentro da pele do treinador e você entra em desespero ao imaginar que está com algum status já que até a animação de seu Pokémon dormindo, ou paralisado, ou envenenado muda. É tanta tecnologia pra 2010 que eu fico abismada! 

    STARCHAN E UNOVA

    Eu preciso confessar algo para vocês. 
    Unova NÃO é minha região favorita.
    Não é novidade que Sinnoh é minha queridinha, mas eu devo dizer que Pokémon Black and White foram os primeiros jogos que eu acompanhei o lançamento. Aquela coisa né? Você decora os nomes em japonês das cidades e já começa planejar qual inicial vai pegar.
    Eu admito que amo Unova por ser uma região 2D, para mim, é um dos mais bonitos visualmente, perdendo apenas para HGSS.
    Por ser uma região na qual eu acompanhei de início a fim, é claro que meu instinto de fanfiqueira me incentivou a trazer uma fanfic à tona muito antes de revelarem os nomes em inglês. E como é costume das minhas fanfics, elas nunca terminaram rs 
    Navegando no site de fanfics, Nyah, acabei encontrando em minhas histórias excluídas, a minha primeira em Unova, e vou compartilhar com vocês alguns trechinhos. 

    Ew! Self insert!

    Protótipo da Brianna

    "Demais..."

    Atualmente, como autora de NPU, fico feliz em ter mais maturidade em explorar a região. E eu espero trazer uma história tão empolgante quanto a dos jogos, já que eu to carregando o peso de uma região super completa e complexa. 
    É uma pena o anime não ter sido tão épico e marcante como o de Sinnoh foi para mim, mas apesar dos pesares, Unova consegue carregar um grande título mesmo com tantos defeitos e boomers em seu caminho. 

    VIDA LONGA PARA UNOVA <3 

    10 CURIOSIDADES DE POKÉMON BW

    • Foi a primeira região com uma Professora mulher. Aurea Juniper, ou Professor Juniper, assim como seus parceiros de profissão, é um nome de uma árvore/planta.
    • A região foi a primeira a ser inspirada em um país fora do Japão. Unova foi extremamente inspirada nos Estados Unidos da América, mais precisamente na região metropolitana de New York e também na agitada Las Vegas.
    • Unova tem o maior número de habitantes de toda a franquia, com um total de 949 pessoas. É também a região com o maior número de líderes de ginásio, 14 no total. Nimbasa é a maior com número de habitantes, 239 no total.
    • Não sei se vocês já repararam, mas é o primeiro jogo que eles invertem os mascotes. Reshiram, o dragão branco, está na capa de Pokémon Black, enquanto Zekrom, o dragão preto, está na capa de Pokémon White. Também foi o primeiro e único jogo da franquia principal com o número 2 em sua continuação.
    • No Japão, Pokémon Black vendeu mais que Pokémon White.
    • Foi a primeira região a introduzir estações do ano nos jogos. 
    • No anime, seguindo os passos de Kanto, Ash faz sua jornada ao lado de dois líderes de ginásio, Cilan, de Striaton e Íris, de Opelucid. 
    • O nome Unova pode vir da junção das palavras em espanhol uno (um) e nova (nova). Enquanto alguns acreditam que na verdade é uma referência a pronúncia de United States of(v) America. 
    • Em Japonês, Unova se chama Isshu, que significa "uma variedade". De acordo com o diretor, é para expressas que apesar da região ser diversificada em raças e espécies, todos são iguais quando vistos de longe. 
    • O Tao Trio, trio de lendários representado por Reshiram, Zekrom e Kyurem são baseados, respectivamente, em Yang, Ying e Wuji (ausência dos dois anteriores).

    UM LONGO FUTURO PELA FRENTE... 

    Logicamente, com o sucesso de Pokémon Black and White, a Nintendo resolveu trazer uma continuação direta com Black and White 2, contando acontecimentos de dois anos depois dos primeiros jogos, e é claro, são tão incríveis quanto seus antecessores, mas isso é conversa para outra hora. 
    A verdade é que Unova, apesar de seus altos e baixos, merece toda a exaltação e reconhecimento por ser um divisor de água. Agora, pegue seu DS, coloque seu cartucho e vá se aventurar na gigantesca região.  

    FELIZ ANIVERSÁRIO, UNOVA <3

    0 comentários

  • Capítulo 15

    Original: volatileT1MES

     

    Com a gentileza e atenção de Bruce, Hilbert e Hilda não viram grandes problemas em estender sua estadia no Day Care. O garoto dissera que seria uma oportunidade perfeita para treinar seus Pokémon para o segundo ginásio e conhecer melhor o grupo de Woobats que tinha capturado no dia anterior, a menina, por sua vez, insistiu em ajudar o senhor nos cuidados ao estabelecimento, quem sabe isso acendesse uma habilidade especial em cuidados e trouxesse por fim, o tão esperado sonho.

    Hilbert se espreguiçou e foi até a pequena cozinha de manhã, notando o café da manhã na mesa.

    — Pode comer tudo – começou Hilda, segurando uma espátula na mão e usando avental. – Fui eu quem fiz. Tem suco, torradas, geleia que o senhor Bruce comprou e bacon.

    — Você matou o Koin pra fazer bacon?! – exclamou o treinador.

    Tepig, que jazia ao lado da treinadora, encarou os dois jovens, um tanto assustado.

    — Para de falar besteira! – retrucou a menina. – Come logo, não é sempre que eu tô com bom humor para fazer uma comida tão caprichada.

    — Se tiver envenenada, eu volto pra puxar seu pé – riu o outro, sentando-se para comer, servindo-se dos ovos, o bacon e as torradas. – Onde tá o Bruce?

    — Alimentando os Pokémon.

    Antes que a conversa puder continuar normalmente, a pequena TV ligada na sala no jornal da manhã anunciou algo que despertou a curiosidade dos jovens.

    Accumula Town amanheceu em caos. O Centro Pokémon recebeu inúmeras ligações e entradas de pacientes Pokémon que foram abandonados em massa pelos seus treinadores. A polícia investiga as possíveis causas, mas os médicos e enfermeiros contaram que muitas pessoas procuraram os postos alegando estarem com uma espécie de ‘lavagem cerebral’ que os faziam sentir vontade soltar seus Pokémon para sempre. Ainda não há notícias se as cidades vizinhas como Nuvema ou Striaton sofreram as mesmas consequências – informou uma jornalista, séria. – Mais informações ao decorrer da programação da PNN, Pokémon New Network.

    Hilda e Hilbert se entreolharam, assustados.

    — Libertar os Pokémon? Assim, do nada? – começou a menina.

    — Estou com um mal pressentimento – refletiu o menino.

    — É meio estranho isso acontecer bem depois daquele discurso daquele maluco do Ghetsis.

    — Tá achando que tem algo a ver com eles? – ele olhou para a companheira.

    Talvez o discurso tenha surtido efeito – disse o pequeno Vic, que estava presente.

    — Se for isso, precisamos fazer algo – o de boné se levantou em uma pose heróica. – Não podemos deixar os Pokémon sofrer por causa desses caras.

    Hilda puxou a orelha do colega.

    — AI! AI! – exclamou.

    — Não vai fazer nada, senhor herói, somos dois jovens sem provas e isso aqui é uma situação séria, a última coisa que a polícia precisa é de gente atrapalhando as investigações. Ligaremos para Bianca ou para o Cheren depois, eles devem ter passado por lá, provavelmente sabem de algo.

    Hilbert choramingou.

    — Ok, ok, sra. Dona-da-razão, mas me solta, não tô sentindo minha orelha.

    Com cuidado, ela soltou e acariciou de leve.

    — Lembrei do dia que a gente se conheceu fazendo isso – riu.

    — Nem me lembre – ele resmungou. – Fiquei várias horas achando que minha orelha fosse cair.

    — É só não ser imprudente que eu não puxo – a morena continuou a rir.

    Bruce surgiu no ambiente, guardando um saco de ração em um canto da cozinha e limpando a roupa.

    — Oh, estão acordados? – sorriu ele. – Espero que os Pokémon lá de fora não tenham acordado vocês.

    — Aprendemos a acordar cedo desde que saímos em jornada, senhor Bruce – respondeu a menina, com um sorriso.

    — Apenas Bruce, querida. Bem, disse que queria me ajudar com o Day Care, podemos começar com os bebês.

    — JURA?! – Hilda se animou. – Ah, será uma honra!

    — Enquanto você brinca de babá eu vou treinar para o segundo ginásio – Hilbert acenou e desceu, seguido de Victini.

    — Pois saiba que eu vou me divertir mais do que você! – exclamou a menina, rindo.

    — Acabei nem perguntando como ele conseguiu esse Victini – refletiu o senhor.

    — Eles são amigos, eu diria que nasceram um para o outro. Vic não entra para batalhar.

    — Isso é incrível – admitiu o dono do local. – Devem ter muitos problemas com curiosos.

    — Hilbert mantém ele na bolsa como medida de segurança.

    — É uma boa solução. Bem, vamos lá, checar os bebês é só a primeira tarefa do dia.

    Além do prédio principal do Day Care onde Bruce morava, existia, ao lado do jardim uma construção onde os Pokémon ficavam e um terceiro onde era praticamente a “creche” para os Pokémon filhotes. Era um lugar seguro para os pequenos, com almofadas e caminhas, a temperatura estava agradável e adequada para eles. A menina, ao entrar, sentiu seus olhos brilharem.

    Além dos Pokémon bebês mais conhecidos e mais populares, algumas outras espécies de estágios iniciais dividiam o ambiente entre si, os aquáticos ficavam perto de piscinas infantis, todos interagiam curiosos uns com os outros.

    — Ah, são tão fofos – comentou Hilda com a voz baixa, evitando assustar os presentes. – Todos eles são filhotes dos Pokémon que você cuida que os treinadores trazem?

    — A maioria sim, alguns são filhotes que acabei encontrando perdidos na rota – ele se aproximou de um casal de frágeis Pidoves. – Tipo esses dois, provavelmente caíram do ninho e os pais infelizmente os deixaram para trás, a natureza obrigou-os a sobreviver, mas por sorte, terão uma chance extra aqui.

    — Ninguém explica a natureza, né?

    — Eles têm leis e tempos diferente dos humanos – sorriu o senhor. – Vamos começar alimentando-os. Esteja preparada para ver o estômago enorme que esses pequenos têm.

    A morena riu.

    — Estou pronta.

     


    Enquanto isso, Hilbert encarava suas Pokéballs, refletindo sobre seu inusitado time, uma Snivy que tinha perdido nas duas batalhas que tinha entrado, uma Minccino que mal tinha estado oficialmente em uma, e por fim, um exército de quinze Woobats, obviamente só levaria um consigo, Wooby, como tinha o nomeado. Por falta de pensar em uma estratégia sólida, achou melhor liberar seus Pokémon e com a ajuda deles, elaborar algo. Brianna e Mirsthy se assustaram ao ver os morcegos rodeando-os.

    — Ok, pessoal, hã... – o treinador pensou em como faria a apresentação entre eles. – Woobats, essas são Mirsthy e Brianna. Brianna, Mirsthy, esse aqui é o Wooby e... os amigos deles.

    A cobra de grama olhou com uma expressão de estranheza, não entendia o motivo de seu dono ter capturado tantos da mesma espécie.

    — Não são todos eles que vão nos acompanhar, só o Wooby, acredito que ele será útil para nós no desafio contra a Lenora – explicou.

    Os Pokémon então começaram a socializar, mas o grupo de Woobats só parecia ter olhos para Hilbert, eles revezavam quem ficava perto do garoto, que apesar de um pouco de repúdio, tinha-se acostumado com a figura dos morcegos com focinho de coração. Relutante, ele acariciou um, que bateu as asas, agitado e contente, como se tivesse ganhado um pote de ouro, os outros então tentavam ganhar espaço para ganhar um carinho também, o que assustou o menino de boné, que recuou.

    Vic interveio na situação.

    Ei, ei! Se acalmem! – o Victini parou na frente do grupo, estendendo as mãos num sinal de parar. – Sei que estão carentes, mas esse carinha aqui tem um pouco de medo de vocês.

    “Medo da gente?”, questionou Wooby, curioso. “Não precisa ter medo da gente, só estamos felizes”

    Então controle sua felicidade.

    — Tá falando com eles, Vic? – questionou Hilbert.

    Sim, as vezes eu até esqueço que posso falar com Pokémon também – ele riu. – Eles estão falando sobre estarem felizes.

    — Isso eu notei, estão animados até demais – riu. – Mas qual o motivo de tanta felicidade?

    “Porque fomos capturados”, respondeu o líder dos Woobats, ainda que o menino só ouvisse grunhidos.

    Vou ter que ser o tradutor entre vocês. Mas ele disse que estão felizes por terem um treinador agora. Que desejo absurdo é esse de ser “capturado”? – questionou Vic, franzindo a testa.

    “Ninguém captura Woobats, somos tipos os Zubats de Unova. Os treinadores preferem os Roggenrolas ou os Drillburs, e sempre ficamos pra trás”, Wooby respondeu, num lamento.

    Oh...

    — O quê? O que eles disseram? – questionou o treinador, curioso com as reações de seus Pokémon.

    Acho que você deveria ouvir deles – o Victini olhou para os Woobats e uma aura rosa foi transmitida dele, os morcegos notaram e fizeram o mesmo, era o conhecido Psychic.

    — O que estão fazendo? – o menino parece apreensivo.

    Está nos ouvindo, Hilbert? – questionou Wooby, voando a altura da cabeça do treinador.

    O garoto ficou boquiaberto e sem acreditar, alguns outros Pokémon do Day Care se aproximaram para observar a cena, curiosos.

    — C-Como?

    Essa é a graça de ser do tipo Psychic, a gente tem... um charme a mais – riu a bolinha de pelos voadora. – Espero não estar incomodando.

    — E-Eu nem sei o que dizer...

    S-Só queremos te dizer: Obrigado.

    — O-Obrigado? Mas eu não fiz nada.

    Você deu uma chance pra gente. Há anos a nossa espécie é sempre ignorada por treinadores que nos acham inconvenientes – começou o Pokémon. – Vivemos em cavernas dividindo espaço com Pokémon mais populares que a gente.

    — T-Tenho certeza que todos tem seu potencial – disse Hilbert, observando a expressão de desânimo nos outros da espécie.

    Nem todos pensam assim. Eles espirram aquele tal de Repel na gente para nos afastar, é por isso que tentamos chamar a atenção de qualquer jeito.

    — E essa atenção significa que vocês se jogam na cara da gente? – questionou o garoto.

    Exatamente. Não fazemos por mal, até pedimos desculpas por isso, mas só queremos uma chance.

    — Eu... – o de boné suspirou. – Olha, me desculpe por odiar tanto a sua espécie, não é bem um ódio do tipo “quero aniquilar sua espécie” – o garoto não era muito bom com explicações. – Eu só ficava irritado por causa das marcas que vocês deixam – riu.

    Vamos prometer controlar isso ­– riu Wooby. – Aliás, eu adorei o nome que você me deu. Wooby, o terceiro melhor Woobat da Wellspring Cave.

    Como assim, o terceiro melhor? Eu pensei que eu era o terceiro – comentou um dos Woobats.

    Bizarro, eu achei que fosse eu – disse outro, e todos começaram a se questionar sobre suas posições num ranking imaginário.

    — Porque não estão discutindo sobre quem é o primeiro? – sussurrou Hilbert para Vic.

    Eu sei lá, devem ser muito humildes para isso.

     


    Hilda alimentava com pequenas mamadeiras alguns Growlithes bebês, que eram bem grandinhos para sua idade e cheios de fome também, ela estava ajoelhada no chão, acariciando um enquanto outro devorava o leite que lhe fora servido. Koin permanecia ao lado da treinadora, interessado no alimento, enquanto Sombra, por ter a idade da maioria dos presentes, brincava com eles.

    — Esses daqui são comuns em Kanto, né? – questionou a jovem para Bruce, se referindo aos cãezinhos.

    — Exatamente. Geralmente os policiais os usam por lá, mas estão ficando populares aqui também. Esse trio aqui vai ser levado para Nacrene quando crescerem – sorriu o senhor.

    — São tão fofos, nem dá pra imaginar que vão virar ferozes e destemidos Arcanines – riu a menina, brincando com eles após terminar a mamadeira. – Falando nisso, senhor Bruce... – ainda ajoelhada, ela virou-se na direção do dono do Day Care. – A Sombra, a minha Zorua, eu pesquisei que ela tem a habilidade de se transformar em um Pokémon, se eu não me engano, ela se transforma em um que já viu ou da minha equipe, mas o estranho é que ela se transformou em um Arcanine há uns dias atrás. Nem eu ou Hilbert temos um, o que acha que pode ser?

    — Hmm – ele refletiu um pouco. – Você carrega ela desde que ela é um ovo?

    — Ah, não, eu ganhei ela da minha mãe.

    — Eu tenho algumas teorias, ou o lugar que foi responsável pelo nascimento dela tinha um Arcanine e ela decorou o rosto dele ou... – o homem fez uma pausa e se apoiou na parede. – O pai ou a mãe dela é um Arcanine.

    — O quê? – Hilda pareceu surpresa.

    — Zoroark e Arcanines são do mesmo grupo de reprodução.

    — Grupos de reprodução?

    — São dezesseis no total, alguns Pokémon pertencem há mais de um, e existem três grupinhos especiais, um dos que não podem se reproduzir, famosos Desconhecidos, como os Pokémon lendários, o grupo dos Pokémon sem gênero que só se reproduzem com o Ditto, e por fim, o Ditto, que tem um grupo só pra ele graças a habilidade dele se transformar em qualquer Pokémon e pode se reproduzir com qualquer grupo, menos com o primeiro que eu citei – explicou, todo paciente e especialista, apesar da idade, tinha uma boa memória, experiência e parecia sempre informado. – Inclusive, você sabia que Nidoqueen e Nidorina fazem parte do grupo Desconhecido, por algum motivo, uma Nidoqueen não faz parte do mesmo grupo que um Nidoking.

    — Espera, isso quer dizer que...? – Hilda estava perplexa.

    — Exatamente, os dois não se reproduzem – Bruce riu. – Bom, isso analisado por cientistas, estudado em alguns cativeiros, alguns biólogos observando, ninguém nunca comprovou cem por cento, então a gente diz que são de grupos diferentes. É só um bando de normas técnicas para que pessoas como eu não saiam forçando irresponsavelmente dois Pokémon a quererem ter algo. Deixa a natureza agir por conta própria.

    — Talvez sejam inférteis... – refletiu a garota. – A Nidoran fêmea evolui e se torna infértil, o que impossibilita a reprodução.

    — Já fizeram testes, mas nenhum foi levado tão longe, então eles só deixaram as duas num grupo separado e assumiram que quem cuida da linhagem são as pequenas Nidorans – contou o velho. – Mas voltando ao assunto da sua Zorua, Arcanines e Zoroark são do mesmo grupo de reprodução, o Field. Talvez sua pequena seja fruto dessa relação – ele brincou com a raposinha. - Zoroarks são raros, então é raro ter uma Zorua pura. Mestiços acabam sendo comuns.

    Por um segundo, Hilda pensou em Hilbert.

    — Então quer dizer que minha princesinha pode ser filhote de um forte e poderoso ou poderosa Arcanine? – a morena pegou Sombra no colo. – Ouviu isso, pequena?

    Zorua grunhiu, animada, mais por receber um agrado da treinadora em si do que ela tinha lhe dito. Bruce ouviu o soar da campainha do prédio principal do Day Care.

    — Oh, temos clientes – sorriu o senhor. – Vamos?

    — Ah, claro – a menina se levantou. – Sombra, Koin, se comportem, ok?

    Os dois se direcionaram até a recepção, onde havia um balcão e alguns sofás confortáveis para espera, o mais velho entrou pela porta dos funcionários que ficava atrás da peça de madeira que o separava dos clientes e viu a figura de um treinadores desesperado carregando em seu colo um Pansear que resmungava de dor.

    — Jovem, em que posso ajudá-lo? – questionou Bruce, franzindo a testa, estava acostumado a receber jovens ansiosos ou com um sorriso no rosto, mas a feição do treinador era de preocupação.

    — Ajuda meu Pansear! A gente tava na Wellpring Cave tentando capturar um Roggenrola, só que ele acabou machucando a pata quando foi dar um Scratch nele. Acho que quebrou! – contou o menino, se aproximando com o macaquinho.

    — Meu garoto, a-aqui não é um Centro Pokémon, não sei se poderei oferecer todos os cuidados possíveis ao seu Pansear.

    — POR FAVOR!

    Hilda olhou assustada para o dono do Day Care, era provavelmente a primeira vez que via um treinador tão desesperado e inseguro com seu Pokémon, estava tão acostumada com a figura determinada e impulsiva de Hilbert que as vezes esquecia que o medo era algo comum entre os jovens desafiantes. Bruce cruzou os braços e suspirou:

    — Ok, vou ver o que posso fazer. P-Pode me dar ele?

    Com cuidado, o macaco de fogo foi passado entre os colos, o senhor olhou para menina e sorriu de leve:

    — Quer me ajudar?

    — C-Claro.

    O pequeno Pansear foi levado para uma salinha de primeiros socorros, onde foi deitado em uma espécie de maca, ele olhou assustado para as duas figuras, mas parecia mais incomodado com a dor em sua pata, que aparentava um pouco de inchaço e vermelhidão. Bruce começou a pegar alguns suprimentos necessários enquanto a garota observava tudo.

    — Eu prometo que vou fazer de tudo, ok? – disse o senhor para o Pokémon.

    — Tem certeza que não é melhor levar ele para um Centro Pokémon? – questionou Hilda, receosa.

    — Não tenho. Mas minha profissão não permite que eu negue ajuda.

    — Sua... profissão? Ser dono do Day Care? – perguntou a menina de novo, inocente.

    — Antes de ser dono daqui eu era, sou um médico... E médico Pokémon – sorriu ele. – Me formei há bons anos atrás.

    — E abriu um Day Care porquê?

    Reflexivo, o senhor organizava uma gaze.

    — Talvez os hospitais sejam um pouco assustadores demais – começou, vestindo uma máscara que cobria a boca e o nariz. – Então eu queria um lugar em que eu pudesse ajudar as pessoas e Pokémon sem ter todo aquele desespero. Os acasalamentos por aqui são naturais, confortáveis. Os treinamentos são calmos, sem contar que aqui eles podem relaxar. Pode parecer um hotelzinho, mas não deixamos de supervisionar a saúde – ele olhou para sua ouvinte. – Eu sei, não faz sentido falando. É só sentindo.

    — É algo como... Servir não importando o lugar ou a pessoa? O importante é manter o paciente confortável.

    — Acho que você pegou o espírito da coisa. Pode me ajudar aqui?

    Hilda se aproximou do paciente que olhou para ela com apelo.

    — O que eu posso fazer?

    — Eu não sei como ele vai reagir quando eu começar a examinar ele, talvez possa doer, então tenta mantê-lo calmo.

    Ela assentiu e acariciou os pelos da cabeça do Pansear, Bruce então começou a analisar a pata ferida de seu paciente, mas com o simples toque foi o suficiente para que o Pokémon começasse a choramingar, apreensivo, a dor era inevitável.

    — Ei, pequeno – começou a garota, ainda nas carícias. – É normal chorar por doer, ninguém é feito de ferro – ela sorriu gentilmente. – Mas sabe, estamos aqui para te ajudar, assim nunca mais vai doer, mas para isso precisamos que você nos ajude também. Será uma troca equivalente.

    O dono do Day Care esboçou um riso leve por debaixo da máscara ao perceber que o macaco de fogo começara a se a acalmar, concentrado nas palavras da garota a sua frente, com cuidado, ele voltou a examinar a pata ferida dele, esborrifando um pouco de um antídoto para ferimentos.

    — É só um machucado leve – disse, enrolando uma faixa. – Deve sarar em alguns dias. Foi um Pansear muito corajoso.

    O Pokémon continuou a observar os dois humanos antes de se sentar e analisar sua própria pata, a dor tinha ido embora e o fez grunhir de felicidade. Bruce riu, seguido de Hilda.

    — Da água pro vinho – comentou o homem.

    A dupla então retornou para o treinador que não parava de caminhar na recepção, quase arrancando todos os fios de seu cabelo, quando notou a presença dos dois, se aproximou.

    — Pansear! Ah meu Arceus, ele está bem? – questionou, abraçando a criatura, que subiu em seu ombro, soltando outro grunhido.

    — Foi só um ferimento, a dor fazia parecer mais grave – informou o senhor. – Mas eu recomendo um check up rápido no Centro Pokémon de Striaton. É o mais perto.

    — E-eu nem sei como agradecer. E-eu te devo algo?

    — Só de continuar prestativo com o seu Pokémon, já é o maior pagamento – sorriu.

    — Muito obrigado! Muito obrigado!

    Depois de algumas palavras de despedida, o treinador saiu.

    — Isso foi incrível – comentou a morena.

    — Foi só um procedimento padrão, mas sempre é empolgante né?

    — Sim! Parece que tudo está na sua mão, eles depositam toda a sua esperança, medo, confiança e problemas em você em troca de uma cura.

    — Algumas pessoas se assustam e tremem como essa possibilidade – Bruce olhou para a garota mais nova.

    — É assustador, eu fico ansiosa só de imaginar. Mas tudo isso some quando vimos um sorriso de alívio e a sensação de dever cumprido.

    — Parece que você pegou o espírito da coisa – ele riu. – Vamos voltar com os filhotes? Espero que eles não tenham feito uma bagunça daquelas.

     


    Após longas horas de treinos, Hilbert sentiu que estava em maior sincronia com seus Pokémon, mesmo que ainda receoso, não podia contar com a mesma sorte que tivera no ginásio de Striaton, não é como se Lenora fosse precisar de alguma ajuda com um chef de cozinha maluco e ele tivesse que vestir saia de novo. Era hora de uma luta mais séria e oficial.

    Se aproximou de seus amigos e lhes ofereceu agrado, até mesmo para cada Woobat que pareciam contentes em receber o mínimo de toque do treinador.

    — Cara, eu queria levar todos vocês comigo – comentou o menino, se lamentando um pouco. – Mas acho que o Vic não ficaria muito contente em dividir o pouco espaço na bolsa com mais de dez Pokéballs – riu de leve.

    Não se preocupe, Hilbert, eu irei representar cada um do meu bando – disso Wooby. – Independentemente de onde estivermos, se precisar de nós, estaremos para você. Somos A LEGIÃO, conte conosco para o que der e vier.

    — Vocês inventaram esse nome agora, né?

    É assim tão óbvio?

    Aos sons dos risos, o fim de tarde chegou, Hilbert recolheu seus Pokémon e se aproximou do galho de árvore onde sua jaqueta jazia pendurada, quando estendeu o braço para alcançá-la, notou um ferimento em seu braço, não sangrava muito, mas estava inflamado e vermelho.

    — Eita... – comentou e olhou para Vic.

    Eu falei que não era uma boa ideia você bancar o alvo vivo para treinar – comentou o anjo, dando de ombros.

    Pensativo e não querendo preocupar sua companheira de jornada com um machucado bobo, Hilbert cobriu o braço com a bolsa, pegou sua peça de roupa pendurada e entrou no prédio do Day Care, subindo as escadas para a área onde Bruce morava e que lhes serviam de abrigo.

    — Ah, oi Hilbert – cumprimentou Hilda com um sorriso. – Conseguiu treinar?

    — C-Consegui – respondeu ele, meio ansioso e apressado. – Foi um bom treino, sinto que tô pronto para o desafio em Nacrene.

    — Mesmo? – a companheira se aproximou. – E como foi com os Woobats? Vai levar todos, ou vai ficar só com o Wooby mesmo?

    — O Wooby vai representar todos eles. Eu consegui pensar numas estratégias.

    A morena notou como o seu amigo parecia nervoso pelo movimento repetitivo das pernas.

    — Aconteceu alguma coisa? – questionou ela. – Pode me contar a verdade.

    — Não! – ele respondeu rapidamente, o tom de voz saiu um tanto alto, o que assustou sua amiga, que franziu a testa.

    — Hilbert...

    — Eu preciso tomar um banho, tô todo cansado, sujo e suado – o treinador começou a recuar em direção ao banheiro, mas sua colega foi mais rápida e agarrou seu braço ferido, tirando a bolsa da frente.

    — O que é isso? – ela questionou, um pouco surpresa. – Bert, como conseguiu isso?

    — Não é nada demais, pô.

    Ele bancou o alvo para treinar alguns movimentos – denunciou Vic, recebendo uma encarada do amigo. – O que é? Eu só quero ver o circo pegar fogo – riu o Pokémon.

    Hilbert olhou receoso para a menina, torcendo para ela não berrar ou surtar, mas encontrou um rosto preocupado dela, Hilda analisava o braço machucado do amigo como se tivesse sido arrancado.

    — O senhor Bruce deve ter um kit de primeiros socorros – ainda que com cuidado, a morena obrigou o menino a sentar em uma cadeira da cozinha. – Eu vou cuidar disso.

    O treinador franziu a testa com o cuidado da garota, estava esperando que sua companheira surtasse com a falta de atenção dele. Ele deu um sorriso leve.

    — Se levantar daí, eu arranco sua orelha – ameaçou a outra, indo em busca do kit.

    — Até quando ela tá preocupada, ela tá assustadora...

    Hilda retornou rapidamente com a pequena maletinha, em sua mente, imaginou que poderia imitar o que Bruce tinha feito mais cedo com o Pansear. Hilbert era um meio-Pokémon, ele poderia ser tratado com os mesmos medicamentos que um, certo? A ideia de se responsabilizar pela saúde de alguém era algo inédito para ela, e já que ela estava procurando se descobrir na jornada, nada melhor do que experimentar de tudo.

    Ela sentou-se em outra cadeira e retirou algumas soluções líquidas, algodão e até mesmo pomadas e faixas.

    — Não precisa de tudo isso, eu juro que só foi só um arranhão bobo.

    — Quieto! Você é minha cobaia!

    — O que é isso agora? Você virou cientista? Vai examinar as reações do meu corpo. Tu não tá querendo me intoxicar, né? – questionou o menino, intrigado e curioso.

    Hilda encarou o menino e quase caiu da cadeira quando os rostos ficaram incrivelmente próximos, seu rosto ardeu e ela percebeu que o menino estava igualmente envergonhado.

    — S-só... fica parado...assim não arde – disse ela com a voz trêmula, em um tom mais gentil e tímido.

    — O-Ok – respondeu Hilbert, virando o rosto de leve, tentando disfarçar a vergonha.

    Com o coração acelerado, a menina tentou se concentrar no que tinha visto mais cedo nos cuidados ao Pansear, começou a limpar os últimos resquícios de sangue com um algodão e uma solução para desinfetar, o treinador sentiu a ardência e tremeu o braço de leve involuntariamente, Hilda segurou a mão do amigo numa tentativa de acalmá-lo enquanto usava a outra para continuar com a limpeza. Sem notar, o menino retribuiu o gesto.

    Em questão de minutos, a garota dominou a situação, toda aquela sensação de cuidado a animava de uma maneira diferente, não sabia descrever o sentimento, mas soltou um sorriso de relance quando se aproximava do fim do curativo. O seu paciente franziu a testa e não entendeu muito bem, mas sorriu, quase como um contagio, ao ver sua amiga feliz. Quando finalizaram, ele soltou um “uau” e várias formas de agradecimento enquanto analisava seu braço, a morena ria, tímida e envergonhada, mas também estava empolgada.

    Bruce apareceu no ambiente, mas não chamou a atenção dos dois, percebeu do que se tratava, observou o curativo feito pela garota e sorriu orgulhoso. Hilda praticamente tinha o talento para a carreira médica, só faltava ela perceber.  O senhor sorriu e achou melhor deixar que ela descobrisse isso sozinha.

       

    6 comentários

  • Copyright © - Nisekoi - All Right Reserved

    Neo Pokémon Unova Powered by Blogger - Designed by Johanes Djogan