• Capítulo 36




    Estava pra nascer em Unova uma região tão seca quanto a Route 4. O choque de temperaturas fez Hilda espirrar, embora ela achasse que fosse culpa da leve tempestade de areia que trazia consigo singelos grãos de areia que entravam em suas vias respiratórias ou ficavam grudadas no corpo. Por estarem no Outono, a tendência era ter um clima mais seco ainda.

    Aquela imensidão amarela parecida com ouro deixaria qualquer outra rota de Unova sem chances de vitória numa possível competição. A história daquele lugar, como contara um arqueólogo – colega de Jackson – que eles acabaram por encontrar ao acaso no caminho, era que o local estava sofrendo reformas para receber novos prédios, mas haviam encontrado um sítio arqueológico de antigas ruínas históricas e desde então, as obras de expansão haviam sido interrompidas. Tudo que havia sobrado eram vias asfaltadas que permitiam pelo menos as pessoas de atravessarem.

    A rota ainda possuía uma rodovia acima dela que permitia que carros e outros veículos atravessassem sem quaisquer danos. Era possível ouvir com clareza as buzinas e o barulho dos motores, mostrando que a conexão entre as duas cidades mais populosas de Unova – Castelia e Nimbasa – viviam lotadas e movimentadas.



    Caminharam alguns metros, avistando tantas pessoas uniformizadas nas áreas da construção, segurança e exploração que juravam estarem andando em círculos. Foi quando Hilda sentou-se numa pedra e bufou alto, assustando alguns Pokémon próximos.

    — Já cansou? – perguntou Hilbert.

    — Não tem como andar! A areia entra nos olhos, no nariz, gruda na roupa – reclamou, batendo com certa violência na manga de sua blusa. – Olha a Sombra, tá ficando shiny de tanta areia.

    A raposinha parou nos pés de sua dona e sacudiu-se, espalhando tanta areia que ela parecia ter aprendido a usar Sand Attack. O gesto foi imitado por Cami, a Furret de Inari, que liberou o dobro de areia.

    — Eu não quero ser chata, mas a Hilda tá certa – concordou a sacerdotisa, limpando sua saia roxa.

    — Ok, o que faremos então? – questionou Jackson. – Não é como se tivesse um jeito de parar essa tempestade.

    — No momento, eu só preciso de água pra molhar o rosto e respirar – disse Hilda.

    Hilbert mexia em sua Pokédex.

    — Oh, tem um rio naquela direção – o garoto apontou para o oeste, onde era possível ver que a estrada terminava em uma escadaria que levava para um terreno mais rebaixado.

    O tal rio não parecia muito fundo e não tinha grandes movimentações a julgar pela água limpa e calma. Havia barreiras naturais feitas de pedra que impediam que as pessoas se aventurassem muito longe, provavelmente como aviso que as coisas ficariam perigosas daquele ponto em diante, mas como o objetivo do grupo não era alcançar o coração do oceano em busca de algum tesouro precioso que algum pirata escondera, apenas aquele pequeno espaço era suficiente.

    Hilda ajoelhou-se na margem e molhou o rosto.

    — Ah, perfeito – exclamou, com um sorriso, pegando uma garrafa de água na mochila. – Sombra, vem cá, deixa eu te dar um banho.

    A Zorua se aproximou, obediente como sempre, recebendo uma enxurrada de água contra seu corpo. A raposinha saltou animada e se sacudiu, molhando quem estava próximo.

    — Podia ter avisado pelo menos – ironizou sua dona.

    Inari riu e sentou-se sobre as pernas e tirou uma escova para Pokémon da bolsa, imitando a ideia de limpar Cami.

    O grupo então decidiu que aquele lugar seria uma parada temporária, até pelo menos diminuir a intensidade da tempestade. Por sorte, perto do rio, os grãos de areia mal incomodavam. Hilbert deixou sua mochila no chão e liberou seus Pokémon. Mirsthy, a Minccino quase entrou em desespero com a areia no corpo do garoto e prontamente subiu em seu ombro para tirar quaisquer vestígios deixados pelas pedrinhas minúsculas. A Snivy Brianna encarou Mercuria, a nova integrante do time, tentando intimidá-la para mostrar quem comandava o time, mas parecia que a Vaporeon rósea não estava se importando. Mushi, o Venipede, se escondeu na sombra da pedra mais próxima enquanto seu treinador tentava socializar com ele, coisa que Wooby, o Woobat, fazia muito bem.

    — Vamos lá, carinha, eu preciso treinar contigo – argumentou o garoto. – Você não participou de nenhuma batalha.

    O inseto encarou o jovem, cedendo ao pedido. Este sorriu, o pegou no colo e saiu escadaria acima, procurando Pokémon selvagens para treinar.

    Hilda chamou pela Vaporeon de Hilbert, que logo se aproximou, acostumada com a rotina da garota em lhe passar os remédios e protetores necessários para seu vitiligo.

    — O pelo dela ficou bem lindo depois que você começou o tratamento – observou Inari.

    — Eu também achei – sorriu a outra, orgulhosa de seu feito. – Quase não ficou nenhuma cicatriz também – ela acariciou Mercuria, que manteve a mesma expressão de sempre, porém, satisfeita.

    Lucio e Koin, o Palpitoad e Pignite de Hilda se aproximaram, em busca de algum carinho.

    — Meninos, tentem socializar com a Lana também – riu a garota.

    A nova Blissey dada por sua mãe ainda parecia acanhada. Seu corpo redondo com tons de rosa e branco lhe davam um ar de auxílio e suporte a qualquer hora, pequenos detalhes encaracolados e parecidos com penas traziam graciosidade, enquanto ela focava em cuidar do ovo em sua barriga que muitos diziam dar sorte.

    — Já vi tantas dessas em Johto – contou a sacerdotisa. – Nos Centro Pokémon elas dominam o ambiente. Acredito que combinou muito com você, Hilda – riu.

    — Até parecia que minha mãe sabia que eu escolher medicina – riu Hilda, de volta.

    Vic aproveitou o tempo livre para socializar com Brianna e os outros Pokémon, notou que Cami se apossara dos cuidados do ovo que Hilbert ganhara, enquanto Winston, o Darmanitan e Bijou, a Cleffa discutiam algo que provavelmente ninguém entenderia, enquanto o Excadrill Jesse parecia ser o único, assim como o Victini, a vagar pelos grupos e ser amigável com todos.

    Jackson observou todos os outros ocupados e suspirou, entediado. Ele cruzou os braços e refletiu, olhou para o rio e uma ideia borbulhou em sua mente.

    Procurou em uma árvore próxima um galho seco de comprimento médio, caçou em sua mochila um barbante (sabe-se lá o motivo dele ter um) e roubou um grampo de cabelo de Hilda e o transformou em um anzol. Juntou os três e ergueu o novo objeto para cima, como um troféu de um videogame.

    — Eu vou pescar! – disse, em alto e bom tom. Inari e Hilda olharam para ele. – Não tem nada melhor do que sentar na beira do rio e esperar um Pokémon fisgar o anzol.

    — Eu nem sabia que você sabia pescar – comentou a sacerdotisa.

    — Eu sempre ia quando era moleque com o meu avô – contou o arqueólogo, preparando uma isca com ração para Pokémon. – Ele era bem ranzinza, mas um excelente contador de histórias – riu, nostálgico.

    — E você era bom na pescaria? – questionou Hilda.

    — Eu sabia pegar, mas morria de nojo de encostar nos Pokémon que saíam – admitiu ele, rindo, envergonhado. Inari riu também, cobrindo a boca com a mão.

    Jackson arremessou a linha na água e agachou, aguardando pacientemente que algum Pokémon fisgasse. As duas garotas observaram na expectativa, mas logo ficaram entediadas e desviaram a atenção para compartilharem comentários sobre os chaveiros de Plusle e Minun comprado no dia anterior. Era possível também ouvir os gritos agitados de Hilbert em seu treinamento.

    O arqueólogo esperou, esperou, esperou e esperou. Vic sentou-se ao seu lado.

    Cara, eu acho que vai demorar hein? – apontou o Pokémon

    — Oh, obrigado, Vic, se você não tivesse falado, eu nunca ia saber – debochou Jack. – Deve ter algo de errado – o rapaz recuou a linha e notou que seu anzol estava vazio e sua isca havia sido devorada. – AH, MAS QUE BELEZA! – disse ele, irritado.

    Eu adoro como as pessoas falam que pescaria acalma, mas ela surte o efeito contrário – riu Vic.

    Jackson suspirou, refez uma nova isca e voltou a sua longa espera. Olhou para o céu e implorou pra Arceus:

    — Por favor, Arceus, nem que se for só um Magikarp.

    Dez. Quinze. Vinte minutos e nada. O arqueólogo cogitou em desistir, torcendo para que ninguém estivesse olhando seu plano falso, mas logo mudou de ideia quando sentiu os olhares de Noctowl de suas amigas em suas costas. PORQUE ELAS ESTAVAM DE REPENTE INTERESSADAS NA PESCARIA DELE?

    Como um sinal de ajuda divina, um puxão na corda. Um Pokémon havia fisgado. Animado, ele colocou-se de pé, segurando firme para não perder a sua presa. Uma puxada com força e a criatura se revelou, não era um Magikarp, mas para alguns treinadores, chegava a ser tão broxante quanto.

    Com suas escamas esverdeadas, barbatanas afiadas e uma expressão desconfiada, porém engraçada, Basculin era um dos Pokémon menosprezados da Pokédex de Unova, não tinha evolução e era amado apenas entre os pescadores. Existiam duas versões registradas, uma com olhos e uma faixa no corpo de cor avermelhada. A capturada por Jackson era a contraparte, com os olhos estreitos, mas que contava com a cor azul.


    — UAU! UM BASCULIN! – exclamou. – E dos azuis ainda. Eu vi poucas vezes um desse.

    Animado, ele sacou uma Pokéball e atirou contra o Pokémon, que não resistiu muito para ser capturado. Olhou para a esfera e sorriu satisfeito. Inari foi a primeira a aplaudir.

    — Parabéns, Jackson-sama.

    — Muito obrigado – agradeceu.

    — HEY, VOCÊ! – uma voz feminina chamou a atenção dos quatro. Não se soube exatamente de onde ela surgiu, mas a irreconhecível garota de cabelos ruivos e mecha azul apareceu como um furacão pra cima de Jackson.

    Maggie estava eufórica, com o cabelo bagunçado e com olhos arregalados, denunciando que estivera horas sem um mísero descanso, na sua mão, o motivo de toda a agitação: uma vara de pescar, bem mais sofisticada que a de Jack conhecida como Good Rod.

    — ME DÁ ESSE BASCULIN! – ordenou, como um capitão de exército, com a voz alta, mesmo estando próxima do rapaz.

    O arqueólogo demorou a raciocinar, olhando para a Pokéball em sua mão.

    — Faz duas semanas que eu tô pescando nesse rio procurando um Basculin azul! Eu imploro, me dá ele!

    — Todo esse desespero por causa de um Basculin? – a ficha do rapaz caiu e ele começou a analisar melhor os detalhes. – Tu tá falando pra mim que essa sua vara de pesca sofisticada não conseguiu pegar um mísero Basculin?

    — ISSO NÃO IMPORTA! – exclamou a ruiva. – Só me dê sua oferta! Podemos até trocar se quiser.

    — Uma troca, é? – como um bom colecionador de figures, Jackson era um entusiasta em negócios que pudessem render algo interessante. Sorrindo, ele brincou com a esfera do recém capturado peixe. – O que você tem aí?

    Maggie revirou a bolsa.

    — OH! FINALMENTE TE ENCONTREI DE NOVO!

    Um segundo escandaloso selvagem apareceu. Hilbert desceu as escadas, agitado, com Mushi no seu encalço. Havia reconhecido a voz de sua rival e sabia que tinha negócios a tratar com ela.

    — É o nosso terceiro encontro e você ainda me deve uma batalha.

    — Agora não, moleque, tô no meio de uma negociação! – retrucou Maggie, voltando pra Jackson.

    — VOCÊ ME DEVE UM NEGÓCIO TAMBÉM! HONRE SUA PALAVRA! – o meio Pokémon bateu os pés.

    — ESSE BASCULIN É MAIS IMPORTANTE!

    Nunca na história da humanidade um Basculin foi tão importante – comentou Vic.

    O arqueólogo refletiu e mais uma ideia geniosa brotou. Ele sorriu e riu, malicioso e sabendo que tinha o controle da situação no momento. Era hora de mover as peças e se divertir um pouco (até porque se voltasse a pescar, ficaria mais entediado).

    — Eu posso até pensar na troca – começou, com um sorriso. – Mas só se você provar que é digna dele numa batalha contra o Hilbert.

    O treinador comemorou.

    — BOA JACK!

    Maggie bufou e ajeitou o cabelo e a pose, tentando recuperar o mínimo de dignidade que ainda tinha. Largou a vara de pesca, respirou fundo e pegou uma Pokéball em sua mochila.

    — Pode ser um contra um? – perguntou, se virando para o garoto. Este, assentiu com prontidão e pegou o Venipede em seu colo.

    — Vai ser uma boa para treinar esse carinha.

     

    Quando os dois se posicionaram, Maggie liberou seu Pokémon. Era uma figura humanoide com estatura baixa de cor azul, sua pele parecia dura como pedra com linhas simétricas. Sua expressão era séria e levemente cômica. Como vestimenta, que acabava por denunciar sua tipagem, ele usava um quimono de karatê. Hilbert estava posicionado em sua parte do campo improvisado, na sua frente, Mushi continuava tímido, porém, pronto.



    — Seu time é realmente excêntrico – comentou Hilda, sentada numa pedra próxima.

    — Vou levar isso como um elogio – respondeu a treinadora, procurando se concentrar na batalha a sua frente. – Estou dando uma oportunidade desses caras brilharem – por raro que fosse, a ruiva sorriu, motivada.

    Hilbert notara a evolução espiritual de sua rival. Pouco mais de dois meses atrás, eles dois haviam se conhecido, Maggie se revelou trabalhar para a Team Plasma, mesmo que fosse neutra sobre o que acontecia, perdera o primeiro amor e ainda tinha problema com o pai, o líder de ginásio, Drayden. Fora no último encontro na Pinwheel Forest que Hilbert dera um leve empurrão motivador. Aparentemente, tinha dado certo.

    — Moleque, você começa – a rival o despertou de sua divagação.

    Poison Sting! – ordenou o menino.

    Venipede liberou diversos espinhos cobertos por uma substância roxa venenosa e arremessou como flecha contra o corpo do adversário. O Sawk usou o braço para se proteger, tirando o que sobrara do golpe. O veneno atingira, mas não fizera grandes danos.

    — Ok, minha vez. Focus Energy!

    O lutador grunhiu e sentiu seus músculos esquentarem. Logo em seguida, Hilbert ordenou um Rollout, fazendo seu Pokémon se enrolar numa bola, rodando em alta velocidade em direção ao inimigo.

    ROCK SMASH! – eufórica por uma vitória, Maggie ordenou o golpe com emoção.

    O punho direito de seu Pokémon emanou um brilho e golpeou o Venipede, que quase voou para fora do campo, como uma bola de baseball. HOME RUN!

    — Mushi! – exclamou o treinador, não sabendo se ficava preocupada com a integridade de seu Pokémon ou se achava incrível a força que um Sawk tinha.

    O inseto caiu no solo, com as patas pra cima, desesperado por não conseguir virar. Seus pequenos pés pontudos sacudiam como uma tartaruga que cai com o casco para baixo. Maggie riu da cena enquanto Hilbert não sabia se podia intervir.

    — Que gracinha – debochou a rival. – Rock Smash, Sawk querido.

    O lutador concentrou outro soco impactante e correu em direção ao indefeso Venipede.

    DEFENSE CURL! – gritou o treinador de Mushi, em desespero.

    O humanoide azul estava próximo de acertar seu golpe contra o corpo do adversário, mas esse, no exato momento, enrolou-se como um tatu e suas placas de cor vinho se tornaram rígidas e brilhantes. O choque do punho do Pokémon contra o inimigo causou uma reação nos músculos do Sawk, que jurou ver estrelas de tanta dor.

    Ele berrou, choramingou e sacudiu a mão. Toda aquela pose séria se desfez em questão de minutos e se encolheu em seu próprio canto. Hilbert reprimiu uma risada:

    — ... Que gracinha – debochou, em resposta.

    — Qual é, Sawk, você já quebrou pedras mais duras! – brigou a treinadora, recebendo um olhar de piedade de seu Pokémon. – Rock Smash é literalmente QUEBRAR PEDRAS!

    O lutador grunhiu, tentando contestar, mostrando seu punho atingido. Além de inchado, a mão do pobre Sawk tinha sido toma por uma cor arroxeada. A expressão de desconforto dominou seu rosto e Maggie soube na hora o que havia acontecido.

    Poison Point – disse, temendo pela sua derrota.

    — Como é? – questionou Hilbert.

    — A habilidade do seu Venipede. Quando ele encosta em algo, há 30% de chance de o atingido ficar envenenado – explicou a ruiva, como uma verdadeira enciclopédia ambulante, provavelmente, um resultado de sua dedicação para provar sua força para seu pai. – E, por pura sorte, meu Sawk acabou de entrar nessa estatística – ironizou.

    O treinador riu.

    — Isso é incrível, Mushi – admitiu, recebendo um olhar enigmático do inseto, que conseguiu voltar com sua posição normal. – Vamos atacar com Pursuit agora.

    Apesar de se destacar naquele ambiente, Venipede sumiu nas sombras como um verdadeiro ninja, fazendo o Sawk ficar alerta. O inseto, no primeiro momento de fraqueza, golpeou o lutador pelas costas e derrubou, voltando, logo em seguida, para a posição inicial. Hilbert se impressionava com a destreza e habilidade do Pokémon, mesmo que este nunca tivesse participado de grandes batalhas.

    Maggie sentiu o sangue ferver e o tempo apertando. Ou ela derrubava o inseto logo, ou perderia seu parceiro pelo efeito do veneno. Ordenou um Karate Chop. Sawk correu e seu braço brilhou, primeiro, pisou com o pé esquerdo no chão, atordoando o adversário, depois acertou o braço que brilhava na carapaça dura dele. Venipede tentou resistir, e contra atacou quando Hilbert lhe ordenou um Rollout. Girando e girando, a colisão entre os golpes criou uma explosão e fez o cenário se encher de fumaça e areia, para infelicidade de Hilda.

    A derrota da treinadora e seu fiel lutador fora decretada assim que a poeira abaixou. Hilbert deu um pulo e abraçou seu Pokémon.

    — VOCÊ COM CERTEZA ESTARÁ NA BATALHA CONTRA A ELESA! – declarou o treinador, animado.

    A ruiva recolheu seu Pokémon e escondeu a frustação. Ajeitou a bolsa, pegou sua Good Rod e se preparou para sair. Seu orgulho era tão grande que ela era incapaz de sequer se despedir ou pedir uma revanche. Aceitou seu destino de não poder ter seu sonhado Basculin e quando virou-se nos calcanhares para rumar para longe, Jackson interviu.

    — Onde vai? – questionou, cruzando os braços.

    — Vou caçar mais iscas para tentar achar meu Basculin azul – respondeu, mal humorada.

    — Vamos trocar.

    Até mesmo Hilda, Inari, Vic e Hilbert que estava comemorando e comentando sobre a performance de Mushi, pararam para prestar atenção no que o arqueólogo acabara de falar. Maggie olhou incrédula e surpresa.

    — Você é cego ou o quê? – perguntou ela, sem parecer grossa. – Eu perdi.

    — Em que momento eu disse que vitória era obrigatória? – riu ele, com bom humor. – A batalha foi digna, além do mais, você nos fez um favor. Se essa batalha não acontecesse, ninguém iria dormir porque o Hilbert não ia parar de reclamar.

    — Mas que calúnia! – protestou Hilbert, arrancando risadas do grupo.

    — Basicamente, matamos dois Bunearys numa caixa d’água só – parafraseou o arqueólogo, sendo corrigido logo em seguida por Hilda:

    — É cajadada – informou.

    A ruiva se manteve em silêncio.

    — Se arrependeu da troca? Vai, me mostra o que tem aí.

    Maggie suspirou. A verdade é que nem ela sabia o que ofereceria para o arqueólogo, mesmo que este não parecesse muito exigente ou que seu time fosse composto por grandes figuras, até porque ele carregava uma Cleffa em sua mochila. Vasculhou sua bolsa, olhando cada uma das Pokéballs preenchidas. Seu Stunfisk, seu Amoonguss recém evoluído, um Sawk derrotado que necessitava de ajuda médica, um Throh que havia se juntado ao time com um brinde pelo anterior e um Basculin vermelho. Foi quando ela percebeu no canto uma Pokéball empoeirada e abandonada, e ela logo se lembrou o que tinha ali.

    Quando ela tirou da mochila, começou a explicar.

    — Esse Pokémon nunca foi usado, mas não é porque eu o odeio, mas sim porque que ele me prende a uma Maggie que não existe mais – ela estendeu a esfera. – Eu ganhei esse Pokémon do meu pai, e eu prometi para mim mesma que abandonaria tudo relacionado a ele até me tornar forte. Não quero que ele fique parado, então sei que com essa troca, estarei dando um lar para ele. O nome dele é Reginn.

    Jackson observou o objeto, impressionado com o discurso da mais nova. Deu um leve sorriso e aceitou, entregando a esfera do Basculin azul, ansioso pela surpresa de que tipo de Pokémon receberia com a troca.

    — Eu fico feliz que você esteja pensando com cuidado no seu time. Se eu não tivesse torcendo por Hilbert, eu apostaria todas minhas fichas em você – brincou Jack.

    — Eu agradeço o apoio – riu ela.

     

    Maggie se despediu do time uma hora depois, deixando o grupo montando as barracas e sacos de dormir para a noite que logo chegaria. Eles se posicionaram próximo da área do rio. Jackson analisava a Pokéball que ganhara, imaginando que tipo de Pokémon tinha recebido. Inari se aproximou e sentou-se ao seu lado.

    — Que tipo de Pokémon será? – questionou, curiosa.

    — Quer descobrir agora? – sorriu, como se estivesse esperando alguém aparecer para abrirem um presente de aniversário juntos. Quando a sacerdotisa assentiu, ele abriu a esfera que guardava o grande segredo o revelou.

    Axew era um dragão de Unova bípede, sua coloração dominante era de um cinza esverdeado e sua pele parecia ser resistente como escamas. Uma espécie de chifre erguia-se para trás da sua cabeça e na boca, uma espécie de osso transversal era segurado. Seus olhos eram vermelhos e estavam curiosos em finalmente respirar ar livre. Não parecia sentir a ausência de Maggie, provando que ela e o dragãozinho não tiveram muitos contatos.



    — NEM FERRANDO! – exclamou, assustando o Pokémon e a sacerdotisa. – Nunca que um Basculin valeria um Axew – o arqueólogo sorriu e segurou a nova aquisição. – E aí, carinha?

    O novo Pokémon grunhiu, se animando. Inari riu, observando o rapaz. Ele o devolveu para o solo, deixando que Cleffa saísse da mochila para socializar com o novo amigo.

    — Bijou, esse é o Reginn. Reginn, essa é a Bijou.

    Axew gelou ao ver o Pokémon bebê. A tipagem da pequena estrela rosa era Fairy-type, um tipo que deixava qualquer dragão de escamas em pé. Bijou grunhiu e correu com seus curtos braços abertos para abraçar o novo colega, mas Reginn recuou com desespero, fugindo da Cleffa com um Charmander foge da chuva. A bebê não chorou, pelo contrário, achou se tratar de uma brincadeira e começou a perseguir o pobre coitado.

    Os dois humanos riram e Jackson olhou para o pôr do sol.

    — Oh, vai anoitecer – observou, se levantando. – Precisamos de lenha pra uma fogueira – ele se virou para Inari, que ainda estava no chão: - Preparada para a sua primeira noite ao ar livre?

    Aquela pergunta fez a ruiva encolher os ombros, apreensiva. Escondeu o medo com um sorriso.

    — ... Vou ficar.

     

    Mas ela não ficou.

    A noite chegou e Inari estava quase arrancando toda as unhas que se não parasse, logo sobraria para os dedos. Dormir ao ar livre era um evento tão bobo para treinadores, mas estávamos falando de uma sacerdotisa que crescera com a segurança de um templo a sua volta. Era um passo de cada vez, porém ela estava sentindo que sua passada não seria suficiente.

    — Hey, Hilda – a ruiva chamou.

    — Hm? - a menina olhou, arrumando seu saco de dormir e de Hilbert. A noite na Route 4 era seca e o céu estava limpo. Como não havia árvores, a imensidão azul exibia o máximo do seu sublime salpicando pontos brancos na sua tela.

    — Você não tem medo de dormir fora de casa? - questionou a sacerdotisa, um pouco envergonhada.

    — Medo? - Hilda refletiu. - Acho que estou acostumada, mas quando eu tenho medo, eu chego mais perto do Hilbert - riu a garota, envergonhada em admitir aquilo. - Ele quase não sente já que tem sono pesado.

    — Oh, então esse é o seu segredo? - Inari piscou algumas vezes e se levantou. - Obrigada, Hilda.

    A ruiva correu com uma ideia em mente. Se dirigiu para o rio próximo, lá, Hilbert e Vic recolhiam algumas pedras e galhos secos para fazerem uma fogueira, enquanto Jackson tentava pescar algum novo Basculin, na expectativa de pelo menos ter um jantar que não fosse comida processada. Os três conversavam que nem notaram a chegada da companheira.

    — Jackson-sama - chamou Inari, com a voz mais doce possível.

    O arqueólogo olhou e franziu a testa.

    — O que foi? - questionou.

    — Eu quero dormir com você essa noite - a mulher falou numa convicção que chegava a assustar.

    Jackson corou tanto que sua reação foi puxar a vara de pesca para cima, levantando-se subitamente.

    — H-HÃ?! - exclamou.

    — E precisa ser pertinho de mim!

    A visão do arqueólogo ficou turva e seu corpo começou a agir sozinho. Ele gaguejava e sacudia a mão enquanto segurava seu objeto de pescaria, tentando formar frases que não faziam o mínimo sentido. Era como se Inari tivesse jogado um Confuse Ray no campo e tivesse fugido. Ninguém conseguiu impedir quando o anzol enroscou em uma das asas de Vic e ele foi arremessado para cima, em uma velocidade questionável.

    Hilbert usou a mão para criar sombra nos olhos para conseguir observar onde o Victini pararia.

    — Equipe Rocket decolando na velocidade da luz – parafraseou, lembrando de um anime que assistira na casa de Hilda. 

    Quando a fogueira estava próxima de cessar seu fogo, apenas a pouca luz que restava era o suficiente para o grupo acampado. Hilda e Hilbert dormiam juntos, como de costume, seus Pokémon se acumulavam dentro da barraca junto de Vic, que as vezes brigava por espaço com Brianna. Enquanto isso Jackson encarava Inari de braços e pernas cruzadas, de frente para ela.  

    — E-Eu não podia imaginar que você estava sendo literal - murmurou o arqueólogo, corado.

    — Não me culpe se você tem uma mente corrompida - ironizou a sacerdotisa.

    — Só me explica o porquê disso de repente - questionou o homem, meio impaciente. – Digo, você tem a Cami. O que é um humano perto de uma criatura peluda e fofa – argumentou, usando o polegar para mostrar a Furret que dormia envolta do ovo de Hilbert.

    Inari encolheu os ombros.

    — Estou com medo...

    — Medo?

    — É a minha primeira noite fora de uma casa, dormindo ao ar livre - a ruiva juntou os dedos, brincando com eles com a graça que só ela sabia fazer. - Estou com medo do que pode acontecer. Achei que estivesse preparada, mas a verdade é que eu tô quase surtando com a ideia de acordar no meio da noite com um Ariados nas minhas costas

    — Nem tem Ariados em Unova, Inari-senpai – contou. Depois, ele bateu as mãos, como se tivesse compreendido. - Ok, então minha função é dormir do seu lado? - perguntou Jack, garantindo de confirmar sua missão dessa vez.

    Inari assentiu.

    Jackson suspirou e deitou-se primeiro, se cobrindo. O pequeno colchão de ar cabia um casal tranquilamente, mas o arqueólogo manteve uma distância segura. A ruiva deitou-se em seguida, de frente para o homem e o silêncio reinou.

    ...

    ....

    ......

    — DÁ PRA VOCÊ FALAR ALGUMA COISA?! - o rapaz não aguentou muito tempo antes de se sentar de costas para a mulher, tentando manter o seu corpo o menos estranho possível. - ESSE SILÊNCIO É PERTUBARDOR.

    — GOMEN! - desculpou-se Inari, em sua própria língua, envergonhada. – Me sinto segura perto de você.

    Jack espiou acima do ombro, com as bochechas ruborizadas. A ruiva cobriu o rosto.

    — É que... você é grande. Seus ombros são largos, suas costas parecem uma muralha. Se eu andar atrás de você, é como se ninguém pudesse me alcançar para fazer mal. Você tem experiência ao ar livre, é compreensivo e gentil – confessou, sentindo as orelhas esquentarem. - E a sua mão...

    O arqueólogo olhou para a própria mão, confuso. Parecia uma mão normal.

    — O que tem a minha mão?

    — É quentinha e calorosa, como se estivesse pronta para segurar alguém que tropeça e quase cai - sussurrou Inari, com um tom tão doce que fez o coração de Jack dar um salto. - Pode me emprestar seu dedinho?

    — Vai cortar ele? - o homem arqueou a sobrancelha, tentando fazer humor para disfarçar o nervosismo.

    — B-baka - xingou a sacerdotisa.

    Jackson e apoiou a mão perto da amiga. Suas gélidas mãos alcançaram o seu dedo mindinho e ela o segurou com delicadeza. Com a mão livre, o homem cobriu a região das bochechas.

    — Assim eu me sinto mais segura - sorriu Inari.

    — Porra... - resmungou Jack. - Você é muito estranha.

    — Eu odeio pesadelos. É horrível acordar sozinha depois de um - confessou a ruiva. - Se eu tiver um pesadelo, terei seu dedinho para aliviar todo medo - riu ela, tímida.

    O arqueólogo sorriu francamente, recuou sua mão a usou para entrelaçar os dedos com a mulher deitada. Ela corou e olhou para os olhos verdes do homem que transmitiam uma paz e sensualidade.

    — Não precisa implorar pelo meu dedo mindinho, você tem a minha mão.

    Naquela noite, Inari não teve pesadelos e Jackson acabou por dormir sentado.

        

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  • Capítulo 35



    E com isso, Íris é nomeada e oficializada como a nova Campeã da Liga de Unova. A menina, que tem catorze anos, é a mais nova a assumir a cadeira de mais alto calão da Elite 4 – explicou o repórter através da enorme TV do apartamento dos Foley. – Voltaremos em breve com mais notícias, enquanto isso, confira as notícias das Olímpiadas Pokéathlon, diretamente de Johto.

    Quando a figura de uma moça com uma camisa polo com a logo do canal jornalístico apareceu em um fundo que parecia um ginásio olímpico, Hilda desligou a TV.

    — HEY! EU IA ASSISTIR! – exclamou Jackson, sentado no sofá próximo, ao lado de Inari.

    — Eu também! – resmungou Hilbert, sentado no chão, com Vic em seu colo.

    — Vocês nem acompanham esse tipo coisa – disse a garota, brincando com o controle. – Duvido que saibam algum esporte.

    — Eu jogava basquete na escola! – contou Hilbert. – Mas isso não importa, e se, de repente, a gente quer conhecer? – argumentou o garoto no chão. – Vai que no futuro, nos tornamos atletas renomados dessa modalidade e ficarmos famosos?

    — Eu lutava boxe – informou Jackson, reforçando o argumento. – Dá esse controle!

    — Que tipo de otakus são vocês que praticam esporte? – brincou a morena, olhando depois para seu amigo no chão. - Nesse caso, se você virar um atleta dessa modalidade, você vai se inscrever como Pokémon ou como treinador? – ironizou Hilda.

    —  HAHA, HILDA! COMO VOCÊ É HILÁRIA! – berrou o meio-Pokémon, escandaloso. – Já pensou em ingressar no stand-up?

    Aparentemente, nem mesmo com o começo de uma nova temporada se iniciando, as coisas tinham mudado. Quase um mês e meio depois do aniversário de 15 anos de Hilda, o grupo aproveitava um pouco da hospedagem na casa da família da Foley para recuperarem as energias.

    Era começo de Outono, então a temperatura começava a entrar em queda por toda a extensa região de Unova. Inari era a recém chegada do grupo e estava tentando associar todas as coisas novas, desde a mudança de cultura até a sinergia do grupo, deixando para Jackson lhe contar algumas histórias. Mas Hillda já tinha outra ideia na cabeça.

    A morena se levantou, entregando o controle da TV na mão de Hilbert, que recebeu aquilo com os olhos brilhando.

    — Eu vou sair com a Inari agora, tentem não destruir a casa – ordenou Hilda.

    — Sim, mãe – brincou Hilbert.

    — Aonde vão? – perguntou Jackson, curioso, vendo Inari se levantar enquanto arrumava a blusa de lã branca com gola alta por dentro de uma saia roseada que ela trouxera como uma opção extra de vestimenta.  

    — Umas amigas da época de escola imploraram pra sair comigo, faz muito tempo desde que me formei. Aí convidei Inari para apresentar um pouco de Castelia para ela – sorriu a morena, pegando a mão da sacerdotisa, toda amigável. – Será um passeio de mulheres.

    — Se eu colocar uma peruca e uma saia, eu posso ir junto? – questionou o arqueólogo, demonstrando certo interesse quando ouviu.

    — Sossega aí – brincou Hilda.

    Inari riu e se despediu dos que ficaram, saindo do apartamento junto da garota de Unova. Vic olhou para Hilbert, animado.

    Ow, mano, liga essa TV, tu tá com o controle. Hilda te deu a coroa.

    — Vai querer assistir o quê, Jack? – perguntou o treinador para o arqueólogo.

    — Bota umas coisas aleatórias no Youtube – sugeriu o rapaz.

     

    As ruas de Castelia assustavam Inari, mesmo que ela morasse na segunda maior cidade de Johto, nada se comparava ao centro movimentado daquela floresta de pedra (de onde saia tanta gente?). Mas Hilda parecia acostumada. A garota Unoviana exibia todos os lugares de interesse dos turistas e as dezenas – para não dizer centenas – redes de fast food que exalam cheiro de comida processada que deixava Inari com o estômago revirado. O ápice foi quando lhe foi apresentado algumas variações da famosa comida Johtoniana adaptadas ao gosto Unoviano, resultando nos olhares de choque que Inari depositava na amiga, que só conseguia rir.

    Após um pequeno turismo culinário onde Hilda lhe contou sobre como Casteliacones uniram ela e Hilbert, as duas finalmente se encontraram com outras três amigas de Hilda. Com personalidade e nomes esquecíveis, eram típicas adolescentes padronizadas que poderiam ter sido facilmente arrancadas de uma série juvenil de um canal de streaming clichê sobre intrigas escolares e romances proibidos, mas Hilda jurava que ela eram suportáveis.

    O lugar escolhido para o fatídico encontro foi um incrível e caríssimo salão de beleza, onde, de acordo com elas, era o lugar perfeito para fofocas e para colocar assuntos em dia. O ambiente era lotado de espelhos, porcelanatos brilhantes e vários instrumentos que Inari soube reconhecer alguns, ainda que seu corte de cabelo e cuidados com a pele fossem feitos em seu próprio templo graças ao estilo Johtoniano em apreciar coisas da natureza.

    O trio de amigas de Hilda apostaram num tratamento completo. A garota de Castelia preferiu apenas cortar o cabelo, e Inari – para não ficar desconexa – topou ficar com a manicure.

    — Oh, meu bem, você rói as unhas? – questionou a responsável pela sacerdotisa. – Vou passar uma cor bem bonita para você ficar com dó de roer na próxima vez.

    A ruiva assentiu, escondendo o fato de que aquela tática fora utilizada pelo menos cinquenta vezes, mas resolveu aproveitar o pequeno mimo.

    — Vocês viram a Bianca na festa da Hilda? – uma das jovens com cabelos loiros do grupo puxou o assunto, dando início as fofocas. – Ela estava com o Cheren, né? Será que estão namorando?

    — A Bianca sempre teve uma quedinha por ele. Lembra da época que ela disse que ia se matar de estudar pra ficar com as mesmas notas que ele torcendo para que ele a notasse? – relembrou outra que usava um enorme brinco de Skitty, rindo. – Ela desistiu na primeira semana.

    — A Hilda deve saber de algo – a terceira, que usava óculos, olhou para a morena, que se focava no movimento do cabelereiro com a tesoura. Ao notar os três olhares para ela, virou-se levemente:

    — Hã? A Bianca? – ela refletiu. – Não sei dizer, eu não cheguei a perguntar, mas acredito que eles estejam passando uma temporada juntos, Cheren voltou para Nuvema para consertar a Pokédex.

    — Bom, se não temos nenhuma confirmação, podemos partir para o próximo assunto – sorriu a de óculos, como se ensaiasse por semanas para chegar naquele assunto. – Hilda e seu namorado misterioso.

    — O quê? Eu? Namorando? – Hilda riu de nervoso e ajeitou uma mecha do cabelo.

    — Para de se fazer de louca – a que usava brincos interviu. – Vimos com clareza aquele beijo! Eu beijei o suficiente pra saber que aquilo não era qualquer coisa.

    A Foley corou. Sua memória, que já estava superando aquela ação espontânea na sua festa de 15 anos, lhe trouxe com clareza a sensação daquele maldito beijo. Jurou até sentir novamente o gosto doce. Ninguém mais tinha comentado sobre aquilo, nem mesmo Vic, Inari ou Jackson ousavam perguntar. Mas também, o que se tinha para comentar? Era só um beijo, qualquer adolescente fazia aquilo.

    — Ah, gente, só foi um beijo – riu a jovem, envergonhada. – Fazia parte da apresentação.

    O trio se encarou e até mesmo a sacerdotisa custou a acreditar naquela história.

    — Parando pra pensar, ele era meio baixinho, né? – refletiu a loira, fazendo Hilda se assustar.

    Adolescentes eram figuras estranhas de um modo geral. Não se sabia se era influência da sociedade e das pessoas de sua idade ou influência da mídia, mas mínimos detalhes tornavam uma pessoa perfeita ou imperfeita. Hilda não estava alheia desse tipo de coisa, desde que conhecera Hilbert, nunca tinha parado para pensar em sua aparência, e nem mesmo na sua própria altura.

    Começou a corar de vergonha cada vez que lembrava como em certas situações, aquela diferença de altura poderia ser incomodante. Uma das amigas notou:

    — Oh, Hilda, não falamos por mal – ela riu, quebrando qualquer verdade da frase anterior. – É que é estranho, imagina como seria se ele fosse te pegar no colo, todo romântico, com aquele tamanho? Digo, vocês tentaram reproduzir a Bela e a Fera, né? Colocaram dois chifres na cabeça do menino, mas ele nem tinha a estatura da Fera. Usaram aquelas palminhas elevadas pra disfarçar?

    Hilda também lembrou o fato de Hilbert ter exibido seus chifres amarelados naquela noite. Sabia como aquele detalhe incomodava o garoto e estava feliz por ele estar ganhando confiança aos poucos, mas tinha esquecido completamente que depois da festa, viriam os comentários. Todavia, ficou aliviada em perceber que as pessoas julgavam aquilo como parte de alguma fantasia. Mas não podia deixar de demonstrar que a altura lhe deixara com uma pulga atrás da orelha.

    Inari observava de longe, perdida em seus próprios pensamentos.

    — Ei, você é de Johto mesmo? – a amiga de óculos de Hilda se virou para a sacerdotisa. Qual era dessa mania delas tentarem se socializar com todo mundo?

    — Ah, sou sim – respondeu, sendo gentil.

    — Tem muito homem gostoso lá? – perguntou a outra, assustando a jovem com o linguajar. Essa provavelmente levaria uma bengalada de sua avó.

    — H-hã... Eu... Não sei... – constrangida, Inari cobriu um pouco do rosto.

    — Gostou mais dos daqui, né? – riu, com certo deboche. – Aliás, falando em homem gostoso. Lembram daquele que vimos na festa? – questionou, virando-se para as amigas. - Descobri o Instagram dele, é sobrinho da Lenora, acredita? Ele é arqueólogo.

    — Jackson-sama? – disse Inari, despertando a curiosidade das três, mais uma vez.

    — Hã?! Vocês se conhecem?

    — Eu o conheci recentemente – contou a ruiva. – Mas Hilda viaja a mais tempo com ele.

    — Nem ferrando! E a Hilda nem conta nada pra gente? – a amiga loira caçou em sua bolsa um post-it fluorescente e uma caneta que tinha cheiro de morango, começando a escrever algo para logo após, entregar o papel para a sacerdotisa. – Passa meu número pra ele? Por favor, ajudem uma amiga necessitada.

    — Amiga, ele tem 20 anos – alertou a de brincos, com uma risada maliciosa, de quem também não se importava muito com esse “ato proibido”.

    — E daí? Eu amo homens maduros – riu a primeira, com a mesma sinergia.

    Inari encarou o papel, sem saber exatamente o que dizer.

    Depois de toda aquela leva de assuntos fúteis que envolviam a aparência dos outros, alguém finalmente decidiu tocar em um tópico que realmente era importante (e pelo bem dessa narrativa). A garota que usava óculos, que no momento, estava com apetrechos cilíndricos presos por todo seu cabelo, abaixou o celular da frente do rosto e questionou:

    — Hilda, você disse que tá em jornada. Tá pegando insígnia?

    — Ah, não, não – respondeu a garota. – Estou apenas conhecendo a região. Tá sendo uma experiência empolgante.

    — Você vai prestar alguma prova? Meu pai insistiu pra eu tentar algo na área empresarial. Ele só quer que eu trabalhe pra ele, isso sim.

    — Prova? Ah, o exame nacional é ano que vem, né? – perguntou Hilda.

    Sair por Unova não era apenas uma desculpa para “turistar” pela região, a jornada de Hilbert com a garota de Castelia era uma missão nobre de encontrar um sonho para a menina que nunca tivera um. No meio do caminho, algumas novas rotas e objetivos se abriram, mas a missão inicial de Hilda fora cumprida: Ela tinha achado seu tão esperado sonho, e era incrível pensar em como a motivação dele fora tão simples.

    — Acho que vou precisar de um tempo para estudar e alguns livros, mas quero tentar medicina – sorriu a morena, convicta.

    — É a sua cara ter escolhido um curso com tanto status – respondeu a colega loira, que estava com uma touca térmica. – Imagina só, Dra. Foley como capa das melhores revistas da área – ela gesticulou com as mãos.

    É claro que ela não era boba. A regra parecia ser bem clara para a maioria das pessoas: Se você nasceu de uma família com alto poder aquisitivo, seu futuro seria com cursos que combinassem com o poderio de sua família: Medicina, Direito, Engenharia, Arquitetura ou até mesmo herdando uma empresa. A resposta mais correta, mas também a mais difícil de acreditar (já que fora usada tantas vezes), seria que Hilda escolhera a profissão com o intuito de ajudar o próximo.

    — É uma profissão incrível, mas todas elas são dignas – argumentou Hilda. – Espero que eu possa ajudar as pessoas, não importa quem seja.

    — Em Johto, a profissão mais nobre é a de professor – contou Inari, sentada em uma poltrona próxima. – Até mesmo o Imperador se curva quando encontra um.

    — Gente, parem de agir como boas samaritanas – ironizou a loira. – No final, todo mundo só liga pro salário e pro status que ser médico traz. Vou poder me gabar de ter uma amiga médica no futuro – riu ela junto com as outras duas de seu trio. – Se escolher parte de cirurgia plástica, saiba que vou querer consultas de graça.

    No final do dia, Hilda saiu com a notícia de quem seu primeiro amor era baixinho e suas amigas só apoiavam a decisão dela se tornar médica pelo puro status. Pelo menos, ela ganhara um novo corte de cabelo: uma franja frontal que anunciava uma nova temporada na sua vida. Além de conseguir comprar um par de chaveiros de Minun e Plusle, dois Pokemon de Hoenn, para combinar com Inari, deixando a sacerdotisa com o pequeno azul e ela, com o vermelho. Sucesso.

    Ela e Inari caminhavam pelas calçadas largas da agitada Castelia sem saber dizer se o tal “dia das meninas” tinha sido tão agradável assim (talvez tivesse sido mais divertido assistir Pokéathlon na TV). A sacerdotisa arrancava as lasquinhas do recém passado esmalte, provando que sua promessa com a manicure não era tão concreta assim. Ela fazia isso quando estava ansiosa.

    — Achei que esse esmalte duraria pelo menos 24 horas, Ina – brincou Hilda, observando.

    — Eu não consigo, é só eu ficar ansiosa que o primeiro a sentir os efeitos são minhas unhas – riu a ruiva, abaixando as mãos.

    — Ansiosa? Por causa delas? – questionou a outra, curiosa. – Ah, não liga para elas não. Dinheiro sempre sobe a cabeça das pessoas.

    — Eu nem sabia que o Jackson-sama fazia tanto sucesso – enfim, Inari tocou no assunto que a incomodava.

    Hilda refletiu.

    — Eu não diria é um sucesso estrondoso como se ele fosse um modelo – gesticulou com as mãos. – O Jackson é um rapaz bonito que acaba chamando a atenção, mas eu tenho quase certeza que se envolve com ele sai correndo por não saber que tipo de encrenca está se metendo. Isso é bom, já que ele foge do padrão.

    A sacerdotisa riu.

    — Eu realmente não sei se isso foi um elogio ou foi um argumento muito cruel

    — Olha, mas se esse papel te incomoda, pode jogar fora – sugeriu Hilda, com a expressão da mais pura maldade. – A gente finge que perdeu.

    — Oh, eu não seria capaz – disse Inari, um tanto desesperada, demonstrando a incapacidade dela de fazer mal até a um Joltik inocente. – Eu vou entregar. Só estava me perguntando mesmo.

    Com a sua cópia da chave do apartamento pendurada em milhares de outros chaveiros, a Foley adentrou o ambiente com a amiga e notaram que a TV estava ligada e a luz da sala acesa, indicando que a tarde de Jackson e Hilbert havia se resumido nos olhos fixados na enorme tela de 55 polegadas. Hilda depositou a chave num local especifico para tal e saiu do hall de entrada.

    — MAS O QUE DIABOS TÁ ACONTECENDO? – Inari se assustou com o berro da amiga, enquanto tirava seu calçado. – Vocês estão chorando?!

    Quando a sacerdotisa correu para conferir, notaram rolos de papel higiênico pelo chão e muitos pedaços amassados e encharcados. Hilbert era o mais próximo do eletrônico, virando o rosto para ver a amiga, que ainda tentava entender que espécie de romance ou drama eles tinham assistido.

    Os olhos do treinador estavam avermelhados e sua expressão era igual a de um bebê que perdera sua chupeta no meio da noite. Jackson estava na poltrona, assoando o nariz, escondendo-se de vergonha, igualmente choroso.

    — Hilda! – disse Hilbert, por fim. – Você precisa ver, achamos a história mais emocionante do mundo!

    Usando o controle, ele acessou um dos vídeos no Youtube que logo carregou. Hilda ficou boquiaberta quando a melodia infantil começou a tocar e uma moça loira de cabelos curtos, voz doce e roupa colorida começou a cantar:

    Cinco Duckletts foram passear, além das montanhas para brincar...”

    — HILBERT, ISSO É UMA MÚSICA INFANTIL! – berrou a Foley, incrédula.

    — PRESTA ATENÇÃO NA LETRA! – argumentou o treinador, demonstrando toda a seriedade que nunca tivera em 13 anos. – OLHA COMO ESSA MAMÃE SWANNA ENCONTRA SEUS FILHOTES PERDIDOS!

    Vic estava no sofá e repreendeu uma risada, Inari cobriu a boca, também segurando o riso. Hilda arregalou os olhos e ficou boquiaberta, tentando pensar em que momento da sua vida havia errado e Arceus havia lhe punido com um meio Pokémon ladrão, que agora chorava por músicas infantis.

    — HILBERT. É. UMA. FODENDO. MÚSICA. INFANTIL! – a menina disse devagar, torcendo para que pelo menos uma das palavras entrasse no cérebro de Cherubi dele. Mas sua tática fora em vão:

    — VOCÊ NÃO ENTENDERIA! – choramingou Hilbert, virando-se para o arqueólogo. – Não é mesmo, Jack?

    Jackson apenas respondeu com um resmungo que claramente era uma choramingada. Bijou, a Cleffa, encarava o treinador, preocupada.

    — JACK, VOCÊ TEM 20 ANOS! – gritou a morena.

    — MAS AINDA DÓI! – respondeu o rapaz, com a voz embargada.

    Hilda bufou e olhou para Inari, vendo sua esperança de ter pelo menos um maduro naquele grupo ir por água abaixo. A sacerdotisa encarava a TV com uma leve lágrima.

    — VOCÊ TAMBÉM?!

    — Eu nunca tinha ouvido uma história tão linda na minha vida – admitiu a ruiva, demonstrando todo seu lado de signo de Kingler.

    Hilda olhou pra cima, negociando uma punição menor com Arceus.

     

     — Oh, Hilda, você cortou o cabelo? – apontou Jackson. – Ficou maneiro essa franja.

    Já era noite quando o grupo concordou em pedir pizzas para aproveitarem a última noite em Castelia antes de botarem o pé na estrada novamente. Ben, Maisy e Oliver aproveitaram a noite para jantarem fora, então o apartamento era todo deles. Sentados em travesseiros no chão da sala e largados como se não houvesse amanhã, o quinteto jogava conversa fora.

    — Oh, valeu – sorriu a Foley, agradecida por finalmente terem notado. – O outono chegou, achei que seria uma boa mudar a aparência – ela ajeitou a franja.

    — E pensar que estávamos em Fevereiro quando nos conhecemos – refletiu o arqueólogo, tirando uma azeitona de uma fatia de pizza, antes de devorá-la. – Estamos no meio de Abril já.

    — Em Johto, há uma hora dessas, as flores das sakuras já devem ter desabrochado – disse Inari, pegando as azeitonas ignoradas por Jack e comendo-as. – É meio estranho não poder participar desse momento depois de 20 anos morando no mesmo lugar.

    — Eu não tô nem um pouco com saudades de Johto e da sua avó – ironizou Hilbert.

    Inari riu, se ajeitando sobre o travesseiro.

    — Estou empolgada em finalmente poder dizer que vou sair em uma jornada – contou a sacerdotisa, ansiosa.

    — Acho que você vai assustar no começo – comentou Jackson, sincero. – Mas nada que você não consiga se acostumar.

    — Me assustar?

    — É que a gente vai dormir muitas vezes ao ar livre – contou o arqueólogo. – E tu tem que ficar de olho meio aberto pra não ser atacada por algum ladrão.

    Irmão, já falei que eu folgo a noite – defendeu-se Vic, aproveitando para experimentar novas comidas.

    — D-Dá muito medo dormir ao ar livre? – a Johtoniana parecia uma criança curiosa. Ela não conseguia deixar de esconder a apreensão.

    Eu ficaria com medo dos roncos do Hilbert.

    — Isso é verdade! – pronunciou-se Hilda. – A gente não foi atacado por aí até hoje por causa dos roncos do Hilbert.

    — Eu não sei se isso é bom ou ruim, mas eu exijo um pedido de desculpas e um obrigado – protestou Hilbert.

    Inari se manteve reflexiva, até que Jackson notou a preocupação excessiva dela.

    — Ei – ele disse, de maneira informal. – Não precisa ficar tão nervosa assim, se sentir medo, você pode segurar minha mão.

    A ruiva olhou para o arqueólogo e suas orelhas ruborizaram, o rapaz percebeu o que tinha acabado de dizer e não conseguiu esconder a vergonha, olhando para o lado e encontrando o olhar malicioso de Vic e Hilda, enquanto Hilbert era lento demais para assimilar essas coisas.

    — O QUE VOCÊS ESTÃO OLHANDO?! – berrou.

    A gente deveria sair para deixar os dois Pidoves a sós? – debochou o Victini.

    Jack arremessou um travesseiro, que acertou o Pokémon em cheio. Hilda riu, e dessa vez, até mesmo Hilbert se interessou, dando gargalhadas.

    Da próxima vez, arremessem uma Pokéball, deve ser menos doloroso.

    O grupo riu. Jackson então, notou que algo escapara do bolso da saia do quimono adaptado de Inari, um pequeno papel colorido de tom chamativo.

    — O que é isso? – perguntou, alcançando o objeto e entregando-a para sua dona.

    — Oh! – a exclamou de recordação da sacerdotisa foi instantânea. – Isso aqui é para você – estendeu o post-it em direção ao arqueólogo, que arqueou a sobrancelha.

    — Para mim? O que é?

    — Uma das amigas de Hilda disse que queria te conhecer – explicou. – Ela ficou louca quando dissemos que éramos conhecidas suas. Aí ela passou o número dela.

    A cara que Jackson fez após essa preciosa informação não era possível de se resumir em palavras. Inari jurou sentir seu coração palpitar ao ver o sorriso galante estampado no rosto negro e brilhando o rapaz. Logo após, ele soltou uma risada, exibindo-se:

    — Vocês ouviram? Alguém quer me conhecer, me deram até o número e eu nem precisei pedir.

    Hilbert olhava o arqueólogo, cheio de curiosidade. Hilda apenas fitava-o com um olhar entediado.

    — Os dias de glória finalmente chegaram, meus nobres colegas – ele alcançou seu celular e registrou o número. – Um rostinho bonito sempre é reconhecido uma hora ou outra.

    Cantarolando sobre uma vitória que nem fazia sentindo, a voz de Jackson aos poucos um tom sombrio e desanimado conforme olhava para o celular, checando o aplicativo de mensagens.

    — Você disse que era amiga de Hilda? – questionou, virando seu rosto para Inari.

    — Sim.

    — Hilda, só pela curiosidade, quantos anos tem essa sua amiga? – perguntou para a morena.

    — Quinze anos – riu Hilda.

    O barulho digital do contato sendo excluído apitou tão rápido quanto a frase da Hilda. Jack disfarçou e riu nervoso.

    — Vocês podiam ter me avisado antes, né? Não quero problemas com a polícia não – ele continuou a rir. – Sem contar que eu prefiro mulheres da minha faixa etária, não é mesmo, Inari-senpai?

    A sacerdotisa corou.

    — Hã, é, eu acho – quando se deu conta, ela fuzilou o arqueólogo com o olhar. – QUEM VOCÊ CHAMOU DE “SENPAI”?

    — VOCÊ É MAIS VELHA DO QUE EU! – retrucou Jack.

    — POR QUATRO MÍSEROS MESES! – Inari conseguia ser fofa até mesmo quando estava tão brava quanto um Zangoose raivoso.

    — Ok, ok, desculpa – riu o outro, acalmando a mulher tocando os ombros dela. – Já passou. Já sei, vou dar esse número pro Hilbert.

    Foi a vez de Hilda encarar o amigo que sentiu a espinha gelar. Aquela sim sabia dar medo quando queria.

    — Talvez não... – disse, com a voz retraída.

    — Uai, porque não? – protestou o treinador. – Como ela é?

    — Hã... Loira.

    Hilbert coçou o queixo, sonhando alto, imaginando a figura, com certeza ele estava pensando que ela seria parecida com a sua amada Bianca.

    — Eu aceito o número! – disse, convicto.

    — VOCÊ NEM TEM CELULAR! – argumentou Hilda, com os músculos tensos e irritados.

    — Ih, pode crer. HILDA, COMPRA UM PRA MIM!

    — VOCÊ ESQUECEU QUE TÁ ME DEVENDO TRÊS MIL POKÉDOLARES?!

    — PERA AÍ! ESQUECEU QUE A GENTE TÁ NUM ACORDO? EU TE AJUDO COM O SEU SONHO E VOCÊ BANCA A JORNADA! – o treinador se alterou e levantou-se.

    Hilda imitou o gesto.

    — EU NÃO LEMBRO QUE ARRUMAR UMA NAMORADA PRA VOCÊ FOSSE PARTE DO ACORDO! ELA NEM GOSTARIA DE UM PINTOR DE RODA PÉ QUE NEM VOCÊ!

    A veia do pescoço de Hilbert saltou de raiva.

    — DO QUE VOCÊ ME CHAMOU?!

    — VOCÊ TÁ SURDO?! SEU ANÃO!

    Os dois continuavam a se encarar e pareciam inimigos. Jackson, Inari e Vic começaram a analisar e realmente perceberam: Hilbert era o menor do grupo (com exceção de Vic, é óbvio), mas não se esperava menos, já que o menino media incríveis UM METRO E SESSENTA CENTÍMETROS. Era bem visível quando Hilda, ao seu lado, alcançava a marca de um metro e setenta.

    — Eu não estou surdo, é que não dá escutar uma giganta que nem você falando daí de cima!

    — COMO É QUE É?! – foi a vez de Hilda se enfezar. – ISSO LÁ É JEITO DE SER FALAR COM UMA DAMA?!

    — DAMA?! – o treinador riu, com escárnio. – Tu pisou no meu pé umas dez vezes com essa lancha que você tem na dança do seu aniversário!

    A garota bufou e agarrou os chifres expostos do garoto.

    — DEVOLVE MEU PRIMEIRO BEIJO, SEU CORNO! – berrou ela, puxando as pontas amareladas do amigo.

    — DEVOLVE VOCÊ! E LARGA O MEU CHIFRE!

    Vic, Inari e Jackson se entreolharam e deram de ombros, acostumados com as “discussões” entre os dois, chegava a ser até um gás para a equipe. Despreocupado com o vencedor, Jack levantou a mão:

    — Seguinte, antes de partirmos – começou, roubando a atenção de todos. – Hilda, tem certeza que não sente mais nenhum fragmento da Light Stone aqui em Castelia?

    A garota abaixou levemente a cabeça e refletiu, negando.

    — Depois daquela semana que passamos procurando em cada canto, acho que conseguimos coletar todas – ela pegou a sua bolsa de viagem e retirou um singelo pote de vidro de lá e exibiu diversos fragmentos soltos. – Tivemos sorte que a maioria estava com gente que nem sabia o que era.

    Foi molezinha roubar do pessoal – disse Vic, se gabando. – Mas eu admito que não foi muito legal procurar no lixo.

    Atualmente, o objetivo principal do grupo, além de ajudar Hilbert a reunir as insígnias, era reunir os fragmentos da Light Stone, que acidentalmente havia sido destruída em um confronto com a Team Plasma. A Light Stone era uma esfera branca que guardava o poderoso dragão da verdade, Reshiram. Hilda descobriu que seu objetivo era zelar pelo dragão quando Clara, a Princesa Branca e antiga protetora do Pokémon lendário, lhe contou que a garota era sua reencarnação. E como destino dado é destino cumprido, a jovem de Castelia, que havia saído de seu conforto para uma simples missão, agora lutava para que os fragmentos não caíssem em mãos erradas e toda Unova entrasse em colapso. Era questão de obrigação, já que a Team Plasma já tinha em sua posse, a contraparte da esfera, a Dark Stone, que guardava o dragão dos ideais: Zekrom.

    — Se não temos mais nada aqui, acho que já podemos continuar – observou Jackson. – Iremos para o norte de Castelia, onde tem uma saída para a Route 4. É a rota que nos leva para Nimbasa e a quarta insígnia de Hilbert.

    — Lar da minha mãe também – contou Hilda, reflexiva. – Vai ser uma longa estadia, mas sinto calafrios só de imaginar passar por toda aquela areia da Route 4.

    — Tá brincando? – o arqueólogo se exaltou. – Aquele lugar é um sítio arqueológico gigante pronto para ser explorado. Espero encontrar alguns achados interessantes.

    — De toda forma, estejam prontos, ainda temos Unova inteira para desvendar.

     

    No outro dia, o grupo tentou não acordar tarde, visto que poderiam ir longe sem precisarem correr. Depois do café da manhã, eles se focaram em organizar as roupas e mochilas. Hilda abandonara o coletinho preto e adotara um moletom cropped róseo, ainda estava com os shorts jeans, mas optara em usar uma meia calça preta quentinha por baixo, finalizando com os coturnos de sempre.

    Nas suas costas, usaria uma mochila também rosa. Tivera que abandonar sua bolsa transversal já que agora, levaria alguns livros pesados para estudar durante sua viagem, apesar de ter encontrado seu sonho, ela ainda precisava estudar para realiza-lo.

    Hilbert arrumou suas cinco Pokéballs em sua bolsa rotineira e tirou pó de sua porta insígnia, satisfeito pelas três que estavam organizadas lá dentro não serem falsas. Ajeitou sua bagagem no corpo e pegou o ovo que ganhara da vó de Inari, Yukiko, conferindo a integridade da casca e analisando se ele dava algum sinal de que iria chocar. Sem sucesso, ele suspirou, ansioso.

    Jackson não tinha muitas coisas, além do essencial como os outros, ele levava parte da sua coleção de mangás, alguns alimentos industrializados para serem preparados de forma instantânea, e, é claro, a pequena Bijou, sua Cleffa. A bolotinha rosa grunhiu animada quando o seu dono lhe deu um pequeno biscoito em forma de estrela.

    Inari era talvez, a mais tranquila em relação a carga, sua pequena mochila com detalhes fofos carregava o básico e a Pokéball de sua Furret. Cami caminhava em volta do sofá, com sua enorme cauda peluda sendo perseguida por Sombra, a Zorua de Hilda.

    — Ok, todos prontos? – questionou Hilda.

    Se despediram da família Foley sem muitas cerimônias e colocaram o pé na estrada, em direção a Route 4, onde novas aventuras os esperavam. Os 5 Duckletts saíram para passear, mas não seria preciso a mamãe Swanna para procura-los. 


       


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