• Thursday, September 10, 2020

    Original: volatileT1MES

     

    Com a gentileza e atenção de Bruce, Hilbert e Hilda não viram grandes problemas em estender sua estadia no Day Care. O garoto dissera que seria uma oportunidade perfeita para treinar seus Pokémon para o segundo ginásio e conhecer melhor o grupo de Woobats que tinha capturado no dia anterior, a menina, por sua vez, insistiu em ajudar o senhor nos cuidados ao estabelecimento, quem sabe isso acendesse uma habilidade especial em cuidados e trouxesse por fim, o tão esperado sonho.

    Hilbert se espreguiçou e foi até a pequena cozinha de manhã, notando o café da manhã na mesa.

    — Pode comer tudo – começou Hilda, segurando uma espátula na mão e usando avental. – Fui eu quem fiz. Tem suco, torradas, geleia que o senhor Bruce comprou e bacon.

    — Você matou o Koin pra fazer bacon?! – exclamou o treinador.

    Tepig, que jazia ao lado da treinadora, encarou os dois jovens, um tanto assustado.

    — Para de falar besteira! – retrucou a menina. – Come logo, não é sempre que eu tô com bom humor para fazer uma comida tão caprichada.

    — Se tiver envenenada, eu volto pra puxar seu pé – riu o outro, sentando-se para comer, servindo-se dos ovos, o bacon e as torradas. – Onde tá o Bruce?

    — Alimentando os Pokémon.

    Antes que a conversa puder continuar normalmente, a pequena TV ligada na sala no jornal da manhã anunciou algo que despertou a curiosidade dos jovens.

    Accumula Town amanheceu em caos. O Centro Pokémon recebeu inúmeras ligações e entradas de pacientes Pokémon que foram abandonados em massa pelos seus treinadores. A polícia investiga as possíveis causas, mas os médicos e enfermeiros contaram que muitas pessoas procuraram os postos alegando estarem com uma espécie de ‘lavagem cerebral’ que os faziam sentir vontade soltar seus Pokémon para sempre. Ainda não há notícias se as cidades vizinhas como Nuvema ou Striaton sofreram as mesmas consequências – informou uma jornalista, séria. – Mais informações ao decorrer da programação da PNN, Pokémon New Network.

    Hilda e Hilbert se entreolharam, assustados.

    — Libertar os Pokémon? Assim, do nada? – começou a menina.

    — Estou com um mal pressentimento – refletiu o menino.

    — É meio estranho isso acontecer bem depois daquele discurso daquele maluco do Ghetsis.

    — Tá achando que tem algo a ver com eles? – ele olhou para a companheira.

    Talvez o discurso tenha surtido efeito – disse o pequeno Vic, que estava presente.

    — Se for isso, precisamos fazer algo – o de boné se levantou em uma pose heróica. – Não podemos deixar os Pokémon sofrer por causa desses caras.

    Hilda puxou a orelha do colega.

    — AI! AI! – exclamou.

    — Não vai fazer nada, senhor herói, somos dois jovens sem provas e isso aqui é uma situação séria, a última coisa que a polícia precisa é de gente atrapalhando as investigações. Ligaremos para Bianca ou para o Cheren depois, eles devem ter passado por lá, provavelmente sabem de algo.

    Hilbert choramingou.

    — Ok, ok, sra. Dona-da-razão, mas me solta, não tô sentindo minha orelha.

    Com cuidado, ela soltou e acariciou de leve.

    — Lembrei do dia que a gente se conheceu fazendo isso – riu.

    — Nem me lembre – ele resmungou. – Fiquei várias horas achando que minha orelha fosse cair.

    — É só não ser imprudente que eu não puxo – a morena continuou a rir.

    Bruce surgiu no ambiente, guardando um saco de ração em um canto da cozinha e limpando a roupa.

    — Oh, estão acordados? – sorriu ele. – Espero que os Pokémon lá de fora não tenham acordado vocês.

    — Aprendemos a acordar cedo desde que saímos em jornada, senhor Bruce – respondeu a menina, com um sorriso.

    — Apenas Bruce, querida. Bem, disse que queria me ajudar com o Day Care, podemos começar com os bebês.

    — JURA?! – Hilda se animou. – Ah, será uma honra!

    — Enquanto você brinca de babá eu vou treinar para o segundo ginásio – Hilbert acenou e desceu, seguido de Victini.

    — Pois saiba que eu vou me divertir mais do que você! – exclamou a menina, rindo.

    — Acabei nem perguntando como ele conseguiu esse Victini – refletiu o senhor.

    — Eles são amigos, eu diria que nasceram um para o outro. Vic não entra para batalhar.

    — Isso é incrível – admitiu o dono do local. – Devem ter muitos problemas com curiosos.

    — Hilbert mantém ele na bolsa como medida de segurança.

    — É uma boa solução. Bem, vamos lá, checar os bebês é só a primeira tarefa do dia.

    Além do prédio principal do Day Care onde Bruce morava, existia, ao lado do jardim uma construção onde os Pokémon ficavam e um terceiro onde era praticamente a “creche” para os Pokémon filhotes. Era um lugar seguro para os pequenos, com almofadas e caminhas, a temperatura estava agradável e adequada para eles. A menina, ao entrar, sentiu seus olhos brilharem.

    Além dos Pokémon bebês mais conhecidos e mais populares, algumas outras espécies de estágios iniciais dividiam o ambiente entre si, os aquáticos ficavam perto de piscinas infantis, todos interagiam curiosos uns com os outros.

    — Ah, são tão fofos – comentou Hilda com a voz baixa, evitando assustar os presentes. – Todos eles são filhotes dos Pokémon que você cuida que os treinadores trazem?

    — A maioria sim, alguns são filhotes que acabei encontrando perdidos na rota – ele se aproximou de um casal de frágeis Pidoves. – Tipo esses dois, provavelmente caíram do ninho e os pais infelizmente os deixaram para trás, a natureza obrigou-os a sobreviver, mas por sorte, terão uma chance extra aqui.

    — Ninguém explica a natureza, né?

    — Eles têm leis e tempos diferente dos humanos – sorriu o senhor. – Vamos começar alimentando-os. Esteja preparada para ver o estômago enorme que esses pequenos têm.

    A morena riu.

    — Estou pronta.

     


    Enquanto isso, Hilbert encarava suas Pokéballs, refletindo sobre seu inusitado time, uma Snivy que tinha perdido nas duas batalhas que tinha entrado, uma Minccino que mal tinha estado oficialmente em uma, e por fim, um exército de quinze Woobats, obviamente só levaria um consigo, Wooby, como tinha o nomeado. Por falta de pensar em uma estratégia sólida, achou melhor liberar seus Pokémon e com a ajuda deles, elaborar algo. Brianna e Mirsthy se assustaram ao ver os morcegos rodeando-os.

    — Ok, pessoal, hã... – o treinador pensou em como faria a apresentação entre eles. – Woobats, essas são Mirsthy e Brianna. Brianna, Mirsthy, esse aqui é o Wooby e... os amigos deles.

    A cobra de grama olhou com uma expressão de estranheza, não entendia o motivo de seu dono ter capturado tantos da mesma espécie.

    — Não são todos eles que vão nos acompanhar, só o Wooby, acredito que ele será útil para nós no desafio contra a Lenora – explicou.

    Os Pokémon então começaram a socializar, mas o grupo de Woobats só parecia ter olhos para Hilbert, eles revezavam quem ficava perto do garoto, que apesar de um pouco de repúdio, tinha-se acostumado com a figura dos morcegos com focinho de coração. Relutante, ele acariciou um, que bateu as asas, agitado e contente, como se tivesse ganhado um pote de ouro, os outros então tentavam ganhar espaço para ganhar um carinho também, o que assustou o menino de boné, que recuou.

    Vic interveio na situação.

    Ei, ei! Se acalmem! – o Victini parou na frente do grupo, estendendo as mãos num sinal de parar. – Sei que estão carentes, mas esse carinha aqui tem um pouco de medo de vocês.

    “Medo da gente?”, questionou Wooby, curioso. “Não precisa ter medo da gente, só estamos felizes”

    Então controle sua felicidade.

    — Tá falando com eles, Vic? – questionou Hilbert.

    Sim, as vezes eu até esqueço que posso falar com Pokémon também – ele riu. – Eles estão falando sobre estarem felizes.

    — Isso eu notei, estão animados até demais – riu. – Mas qual o motivo de tanta felicidade?

    “Porque fomos capturados”, respondeu o líder dos Woobats, ainda que o menino só ouvisse grunhidos.

    Vou ter que ser o tradutor entre vocês. Mas ele disse que estão felizes por terem um treinador agora. Que desejo absurdo é esse de ser “capturado”? – questionou Vic, franzindo a testa.

    “Ninguém captura Woobats, somos tipos os Zubats de Unova. Os treinadores preferem os Roggenrolas ou os Drillburs, e sempre ficamos pra trás”, Wooby respondeu, num lamento.

    Oh...

    — O quê? O que eles disseram? – questionou o treinador, curioso com as reações de seus Pokémon.

    Acho que você deveria ouvir deles – o Victini olhou para os Woobats e uma aura rosa foi transmitida dele, os morcegos notaram e fizeram o mesmo, era o conhecido Psychic.

    — O que estão fazendo? – o menino parece apreensivo.

    Está nos ouvindo, Hilbert? – questionou Wooby, voando a altura da cabeça do treinador.

    O garoto ficou boquiaberto e sem acreditar, alguns outros Pokémon do Day Care se aproximaram para observar a cena, curiosos.

    — C-Como?

    Essa é a graça de ser do tipo Psychic, a gente tem... um charme a mais – riu a bolinha de pelos voadora. – Espero não estar incomodando.

    — E-Eu nem sei o que dizer...

    S-Só queremos te dizer: Obrigado.

    — O-Obrigado? Mas eu não fiz nada.

    Você deu uma chance pra gente. Há anos a nossa espécie é sempre ignorada por treinadores que nos acham inconvenientes – começou o Pokémon. – Vivemos em cavernas dividindo espaço com Pokémon mais populares que a gente.

    — T-Tenho certeza que todos tem seu potencial – disse Hilbert, observando a expressão de desânimo nos outros da espécie.

    Nem todos pensam assim. Eles espirram aquele tal de Repel na gente para nos afastar, é por isso que tentamos chamar a atenção de qualquer jeito.

    — E essa atenção significa que vocês se jogam na cara da gente? – questionou o garoto.

    Exatamente. Não fazemos por mal, até pedimos desculpas por isso, mas só queremos uma chance.

    — Eu... – o de boné suspirou. – Olha, me desculpe por odiar tanto a sua espécie, não é bem um ódio do tipo “quero aniquilar sua espécie” – o garoto não era muito bom com explicações. – Eu só ficava irritado por causa das marcas que vocês deixam – riu.

    Vamos prometer controlar isso ­– riu Wooby. – Aliás, eu adorei o nome que você me deu. Wooby, o terceiro melhor Woobat da Wellspring Cave.

    Como assim, o terceiro melhor? Eu pensei que eu era o terceiro – comentou um dos Woobats.

    Bizarro, eu achei que fosse eu – disse outro, e todos começaram a se questionar sobre suas posições num ranking imaginário.

    — Porque não estão discutindo sobre quem é o primeiro? – sussurrou Hilbert para Vic.

    Eu sei lá, devem ser muito humildes para isso.

     


    Hilda alimentava com pequenas mamadeiras alguns Growlithes bebês, que eram bem grandinhos para sua idade e cheios de fome também, ela estava ajoelhada no chão, acariciando um enquanto outro devorava o leite que lhe fora servido. Koin permanecia ao lado da treinadora, interessado no alimento, enquanto Sombra, por ter a idade da maioria dos presentes, brincava com eles.

    — Esses daqui são comuns em Kanto, né? – questionou a jovem para Bruce, se referindo aos cãezinhos.

    — Exatamente. Geralmente os policiais os usam por lá, mas estão ficando populares aqui também. Esse trio aqui vai ser levado para Nacrene quando crescerem – sorriu o senhor.

    — São tão fofos, nem dá pra imaginar que vão virar ferozes e destemidos Arcanines – riu a menina, brincando com eles após terminar a mamadeira. – Falando nisso, senhor Bruce... – ainda ajoelhada, ela virou-se na direção do dono do Day Care. – A Sombra, a minha Zorua, eu pesquisei que ela tem a habilidade de se transformar em um Pokémon, se eu não me engano, ela se transforma em um que já viu ou da minha equipe, mas o estranho é que ela se transformou em um Arcanine há uns dias atrás. Nem eu ou Hilbert temos um, o que acha que pode ser?

    — Hmm – ele refletiu um pouco. – Você carrega ela desde que ela é um ovo?

    — Ah, não, eu ganhei ela da minha mãe.

    — Eu tenho algumas teorias, ou o lugar que foi responsável pelo nascimento dela tinha um Arcanine e ela decorou o rosto dele ou... – o homem fez uma pausa e se apoiou na parede. – O pai ou a mãe dela é um Arcanine.

    — O quê? – Hilda pareceu surpresa.

    — Zoroark e Arcanines são do mesmo grupo de reprodução.

    — Grupos de reprodução?

    — São dezesseis no total, alguns Pokémon pertencem há mais de um, e existem três grupinhos especiais, um dos que não podem se reproduzir, famosos Desconhecidos, como os Pokémon lendários, o grupo dos Pokémon sem gênero que só se reproduzem com o Ditto, e por fim, o Ditto, que tem um grupo só pra ele graças a habilidade dele se transformar em qualquer Pokémon e pode se reproduzir com qualquer grupo, menos com o primeiro que eu citei – explicou, todo paciente e especialista, apesar da idade, tinha uma boa memória, experiência e parecia sempre informado. – Inclusive, você sabia que Nidoqueen e Nidorina fazem parte do grupo Desconhecido, por algum motivo, uma Nidoqueen não faz parte do mesmo grupo que um Nidoking.

    — Espera, isso quer dizer que...? – Hilda estava perplexa.

    — Exatamente, os dois não se reproduzem – Bruce riu. – Bom, isso analisado por cientistas, estudado em alguns cativeiros, alguns biólogos observando, ninguém nunca comprovou cem por cento, então a gente diz que são de grupos diferentes. É só um bando de normas técnicas para que pessoas como eu não saiam forçando irresponsavelmente dois Pokémon a quererem ter algo. Deixa a natureza agir por conta própria.

    — Talvez sejam inférteis... – refletiu a garota. – A Nidoran fêmea evolui e se torna infértil, o que impossibilita a reprodução.

    — Já fizeram testes, mas nenhum foi levado tão longe, então eles só deixaram as duas num grupo separado e assumiram que quem cuida da linhagem são as pequenas Nidorans – contou o velho. – Mas voltando ao assunto da sua Zorua, Arcanines e Zoroark são do mesmo grupo de reprodução, o Field. Talvez sua pequena seja fruto dessa relação – ele brincou com a raposinha. - Zoroarks são raros, então é raro ter uma Zorua pura. Mestiços acabam sendo comuns.

    Por um segundo, Hilda pensou em Hilbert.

    — Então quer dizer que minha princesinha pode ser filhote de um forte e poderoso ou poderosa Arcanine? – a morena pegou Sombra no colo. – Ouviu isso, pequena?

    Zorua grunhiu, animada, mais por receber um agrado da treinadora em si do que ela tinha lhe dito. Bruce ouviu o soar da campainha do prédio principal do Day Care.

    — Oh, temos clientes – sorriu o senhor. – Vamos?

    — Ah, claro – a menina se levantou. – Sombra, Koin, se comportem, ok?

    Os dois se direcionaram até a recepção, onde havia um balcão e alguns sofás confortáveis para espera, o mais velho entrou pela porta dos funcionários que ficava atrás da peça de madeira que o separava dos clientes e viu a figura de um treinadores desesperado carregando em seu colo um Pansear que resmungava de dor.

    — Jovem, em que posso ajudá-lo? – questionou Bruce, franzindo a testa, estava acostumado a receber jovens ansiosos ou com um sorriso no rosto, mas a feição do treinador era de preocupação.

    — Ajuda meu Pansear! A gente tava na Wellpring Cave tentando capturar um Roggenrola, só que ele acabou machucando a pata quando foi dar um Scratch nele. Acho que quebrou! – contou o menino, se aproximando com o macaquinho.

    — Meu garoto, a-aqui não é um Centro Pokémon, não sei se poderei oferecer todos os cuidados possíveis ao seu Pansear.

    — POR FAVOR!

    Hilda olhou assustada para o dono do Day Care, era provavelmente a primeira vez que via um treinador tão desesperado e inseguro com seu Pokémon, estava tão acostumada com a figura determinada e impulsiva de Hilbert que as vezes esquecia que o medo era algo comum entre os jovens desafiantes. Bruce cruzou os braços e suspirou:

    — Ok, vou ver o que posso fazer. P-Pode me dar ele?

    Com cuidado, o macaco de fogo foi passado entre os colos, o senhor olhou para menina e sorriu de leve:

    — Quer me ajudar?

    — C-Claro.

    O pequeno Pansear foi levado para uma salinha de primeiros socorros, onde foi deitado em uma espécie de maca, ele olhou assustado para as duas figuras, mas parecia mais incomodado com a dor em sua pata, que aparentava um pouco de inchaço e vermelhidão. Bruce começou a pegar alguns suprimentos necessários enquanto a garota observava tudo.

    — Eu prometo que vou fazer de tudo, ok? – disse o senhor para o Pokémon.

    — Tem certeza que não é melhor levar ele para um Centro Pokémon? – questionou Hilda, receosa.

    — Não tenho. Mas minha profissão não permite que eu negue ajuda.

    — Sua... profissão? Ser dono do Day Care? – perguntou a menina de novo, inocente.

    — Antes de ser dono daqui eu era, sou um médico... E médico Pokémon – sorriu ele. – Me formei há bons anos atrás.

    — E abriu um Day Care porquê?

    Reflexivo, o senhor organizava uma gaze.

    — Talvez os hospitais sejam um pouco assustadores demais – começou, vestindo uma máscara que cobria a boca e o nariz. – Então eu queria um lugar em que eu pudesse ajudar as pessoas e Pokémon sem ter todo aquele desespero. Os acasalamentos por aqui são naturais, confortáveis. Os treinamentos são calmos, sem contar que aqui eles podem relaxar. Pode parecer um hotelzinho, mas não deixamos de supervisionar a saúde – ele olhou para sua ouvinte. – Eu sei, não faz sentido falando. É só sentindo.

    — É algo como... Servir não importando o lugar ou a pessoa? O importante é manter o paciente confortável.

    — Acho que você pegou o espírito da coisa. Pode me ajudar aqui?

    Hilda se aproximou do paciente que olhou para ela com apelo.

    — O que eu posso fazer?

    — Eu não sei como ele vai reagir quando eu começar a examinar ele, talvez possa doer, então tenta mantê-lo calmo.

    Ela assentiu e acariciou os pelos da cabeça do Pansear, Bruce então começou a analisar a pata ferida de seu paciente, mas com o simples toque foi o suficiente para que o Pokémon começasse a choramingar, apreensivo, a dor era inevitável.

    — Ei, pequeno – começou a garota, ainda nas carícias. – É normal chorar por doer, ninguém é feito de ferro – ela sorriu gentilmente. – Mas sabe, estamos aqui para te ajudar, assim nunca mais vai doer, mas para isso precisamos que você nos ajude também. Será uma troca equivalente.

    O dono do Day Care esboçou um riso leve por debaixo da máscara ao perceber que o macaco de fogo começara a se a acalmar, concentrado nas palavras da garota a sua frente, com cuidado, ele voltou a examinar a pata ferida dele, esborrifando um pouco de um antídoto para ferimentos.

    — É só um machucado leve – disse, enrolando uma faixa. – Deve sarar em alguns dias. Foi um Pansear muito corajoso.

    O Pokémon continuou a observar os dois humanos antes de se sentar e analisar sua própria pata, a dor tinha ido embora e o fez grunhir de felicidade. Bruce riu, seguido de Hilda.

    — Da água pro vinho – comentou o homem.

    A dupla então retornou para o treinador que não parava de caminhar na recepção, quase arrancando todos os fios de seu cabelo, quando notou a presença dos dois, se aproximou.

    — Pansear! Ah meu Arceus, ele está bem? – questionou, abraçando a criatura, que subiu em seu ombro, soltando outro grunhido.

    — Foi só um ferimento, a dor fazia parecer mais grave – informou o senhor. – Mas eu recomendo um check up rápido no Centro Pokémon de Striaton. É o mais perto.

    — E-eu nem sei como agradecer. E-eu te devo algo?

    — Só de continuar prestativo com o seu Pokémon, já é o maior pagamento – sorriu.

    — Muito obrigado! Muito obrigado!

    Depois de algumas palavras de despedida, o treinador saiu.

    — Isso foi incrível – comentou a morena.

    — Foi só um procedimento padrão, mas sempre é empolgante né?

    — Sim! Parece que tudo está na sua mão, eles depositam toda a sua esperança, medo, confiança e problemas em você em troca de uma cura.

    — Algumas pessoas se assustam e tremem como essa possibilidade – Bruce olhou para a garota mais nova.

    — É assustador, eu fico ansiosa só de imaginar. Mas tudo isso some quando vimos um sorriso de alívio e a sensação de dever cumprido.

    — Parece que você pegou o espírito da coisa – ele riu. – Vamos voltar com os filhotes? Espero que eles não tenham feito uma bagunça daquelas.

     


    Após longas horas de treinos, Hilbert sentiu que estava em maior sincronia com seus Pokémon, mesmo que ainda receoso, não podia contar com a mesma sorte que tivera no ginásio de Striaton, não é como se Lenora fosse precisar de alguma ajuda com um chef de cozinha maluco e ele tivesse que vestir saia de novo. Era hora de uma luta mais séria e oficial.

    Se aproximou de seus amigos e lhes ofereceu agrado, até mesmo para cada Woobat que pareciam contentes em receber o mínimo de toque do treinador.

    — Cara, eu queria levar todos vocês comigo – comentou o menino, se lamentando um pouco. – Mas acho que o Vic não ficaria muito contente em dividir o pouco espaço na bolsa com mais de dez Pokéballs – riu de leve.

    Não se preocupe, Hilbert, eu irei representar cada um do meu bando – disso Wooby. – Independentemente de onde estivermos, se precisar de nós, estaremos para você. Somos A LEGIÃO, conte conosco para o que der e vier.

    — Vocês inventaram esse nome agora, né?

    É assim tão óbvio?

    Aos sons dos risos, o fim de tarde chegou, Hilbert recolheu seus Pokémon e se aproximou do galho de árvore onde sua jaqueta jazia pendurada, quando estendeu o braço para alcançá-la, notou um ferimento em seu braço, não sangrava muito, mas estava inflamado e vermelho.

    — Eita... – comentou e olhou para Vic.

    Eu falei que não era uma boa ideia você bancar o alvo vivo para treinar – comentou o anjo, dando de ombros.

    Pensativo e não querendo preocupar sua companheira de jornada com um machucado bobo, Hilbert cobriu o braço com a bolsa, pegou sua peça de roupa pendurada e entrou no prédio do Day Care, subindo as escadas para a área onde Bruce morava e que lhes serviam de abrigo.

    — Ah, oi Hilbert – cumprimentou Hilda com um sorriso. – Conseguiu treinar?

    — C-Consegui – respondeu ele, meio ansioso e apressado. – Foi um bom treino, sinto que tô pronto para o desafio em Nacrene.

    — Mesmo? – a companheira se aproximou. – E como foi com os Woobats? Vai levar todos, ou vai ficar só com o Wooby mesmo?

    — O Wooby vai representar todos eles. Eu consegui pensar numas estratégias.

    A morena notou como o seu amigo parecia nervoso pelo movimento repetitivo das pernas.

    — Aconteceu alguma coisa? – questionou ela. – Pode me contar a verdade.

    — Não! – ele respondeu rapidamente, o tom de voz saiu um tanto alto, o que assustou sua amiga, que franziu a testa.

    — Hilbert...

    — Eu preciso tomar um banho, tô todo cansado, sujo e suado – o treinador começou a recuar em direção ao banheiro, mas sua colega foi mais rápida e agarrou seu braço ferido, tirando a bolsa da frente.

    — O que é isso? – ela questionou, um pouco surpresa. – Bert, como conseguiu isso?

    — Não é nada demais, pô.

    Ele bancou o alvo para treinar alguns movimentos – denunciou Vic, recebendo uma encarada do amigo. – O que é? Eu só quero ver o circo pegar fogo – riu o Pokémon.

    Hilbert olhou receoso para a menina, torcendo para ela não berrar ou surtar, mas encontrou um rosto preocupado dela, Hilda analisava o braço machucado do amigo como se tivesse sido arrancado.

    — O senhor Bruce deve ter um kit de primeiros socorros – ainda que com cuidado, a morena obrigou o menino a sentar em uma cadeira da cozinha. – Eu vou cuidar disso.

    O treinador franziu a testa com o cuidado da garota, estava esperando que sua companheira surtasse com a falta de atenção dele. Ele deu um sorriso leve.

    — Se levantar daí, eu arranco sua orelha – ameaçou a outra, indo em busca do kit.

    — Até quando ela tá preocupada, ela tá assustadora...

    Hilda retornou rapidamente com a pequena maletinha, em sua mente, imaginou que poderia imitar o que Bruce tinha feito mais cedo com o Pansear. Hilbert era um meio-Pokémon, ele poderia ser tratado com os mesmos medicamentos que um, certo? A ideia de se responsabilizar pela saúde de alguém era algo inédito para ela, e já que ela estava procurando se descobrir na jornada, nada melhor do que experimentar de tudo.

    Ela sentou-se em outra cadeira e retirou algumas soluções líquidas, algodão e até mesmo pomadas e faixas.

    — Não precisa de tudo isso, eu juro que só foi só um arranhão bobo.

    — Quieto! Você é minha cobaia!

    — O que é isso agora? Você virou cientista? Vai examinar as reações do meu corpo. Tu não tá querendo me intoxicar, né? – questionou o menino, intrigado e curioso.

    Hilda encarou o menino e quase caiu da cadeira quando os rostos ficaram incrivelmente próximos, seu rosto ardeu e ela percebeu que o menino estava igualmente envergonhado.

    — S-só... fica parado...assim não arde – disse ela com a voz trêmula, em um tom mais gentil e tímido.

    — O-Ok – respondeu Hilbert, virando o rosto de leve, tentando disfarçar a vergonha.

    Com o coração acelerado, a menina tentou se concentrar no que tinha visto mais cedo nos cuidados ao Pansear, começou a limpar os últimos resquícios de sangue com um algodão e uma solução para desinfetar, o treinador sentiu a ardência e tremeu o braço de leve involuntariamente, Hilda segurou a mão do amigo numa tentativa de acalmá-lo enquanto usava a outra para continuar com a limpeza. Sem notar, o menino retribuiu o gesto.

    Em questão de minutos, a garota dominou a situação, toda aquela sensação de cuidado a animava de uma maneira diferente, não sabia descrever o sentimento, mas soltou um sorriso de relance quando se aproximava do fim do curativo. O seu paciente franziu a testa e não entendeu muito bem, mas sorriu, quase como um contagio, ao ver sua amiga feliz. Quando finalizaram, ele soltou um “uau” e várias formas de agradecimento enquanto analisava seu braço, a morena ria, tímida e envergonhada, mas também estava empolgada.

    Bruce apareceu no ambiente, mas não chamou a atenção dos dois, percebeu do que se tratava, observou o curativo feito pela garota e sorriu orgulhoso. Hilda praticamente tinha o talento para a carreira médica, só faltava ela perceber.  O senhor sorriu e achou melhor deixar que ela descobrisse isso sozinha.

       

    { 6 comentários... read them below or Comment }

    1. Senti que a Hilda teve muita inspiração sua nesse início, toda empolgada para tomar conta dos Pokémon baby <3 Só faltou Bertinho dizer que eles já deviam crescer grandes e sabendo lutar (TEM QUE ACABAR COM OS POKÉMON BEBÊ!). Sombrinha descende de um Arcanine!
      Para quem esperava um capítulo tranquilo sem grandes revelações, acabei sendo surpreendido. A passagem pelo Day Care ficará marcada mesmo daqui muitos anos, quando poderemos olhar para trás e lembrar do momento onde os protagonistas ainda estavam se descobrindo e erma tão cobertos por inocência. Tudo isso representou um passo enorme para a Hilda, e você mostrou essa evolução com esmero.

      A Grande Legião de Wooby finalmente foi apresentada <3 Esses carinhas ainda farão a diferença no mundo, ó, grandes injustiçados kkkkkkkkk Cara, se o Vic puder fazer outros Pokémon se comunicarem com o Hilbert, você terá espaço para explorar uma gama de cenas inusitadas, até para não ficar repetindo o que um ou outro tem a dizer kkkk Sinto que foi um grande passo para essa conexão que ele terá de criar com os Pokémon, ainda mais tendo o N em comparação que também têm esse poder de ouvi-los.

      Esse foi um dos capítulos que mais simpatizei desses recentes :3 Eu gosto da maneira delicada como você conduz a jornada dos dois, mas principalmente da Hilda que se sentia perdida até então e vai se deparando com sua vocação e o desejo sincero de ajudar o próximo.

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      1. Yoo Canas

        Acho que esse capítulo é aqueles intervalos onde eu estou livre para trabalhar personagens, não tem nada de especial acontecendo, mas as conversas e as reflexões acabam dando uma impressão de importância. POBRES BABYS!
        Zorua filhote de Arcanine aaaaaaa
        Eu fico feliz em ter surpreendido <3 É uma jornada importante para a Hilda também, então muito coisa tem que cair sobre ela, e pensar que o Bruce é um personagem improvisado que acaba servindo como um "sensei" pra Hilda. É o primeiro contato da Hilda com a palavra medicina, imagina o impacto <3 QUeria ter tido esse pacto tempos passados rs

        Woobyzinhos e seus amigos são a nova tropa do barulho. Obrigada pelo nome <3 Apesar de na minha cabeça, Vic apenas consegue fazer essa comunicação com Pokémon psiquicos, nada me impede de usar novamente essa habilidade.

        De tanto você me puxar a orelha, eu acabei percebendo que eu preciso cuidar de vários personagens ou eles irão se perder no grupo rs E graças aos céus eu estou acertando com a Hilda <3

        Obrigada pelo comentário

        See ya

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    2. Oiii Star! Gostei nesse capítulo que a Hilda teve um certo destaque especial. Apesar de ainda muito indecisa sobre o que quer fazer no futuro, fico feliz pela personagem estar conseguindo explorar suas possibilidades. Ela se deu muito bem cuidando dos pokémons bebês e do Bertinho. Essa passagem pelo Day Care ficou muito fofa, no futuro, se eles retornarem a esse lugar poderão ver o quanto cresceram desde então.
      Pobre woobats, ngm liga pra eles. Agora me sinto mal por todos os Zubats que xinguei e ignorei nas cavernas, porque provavelmente eles sentem o mesmo T-T. Vou fazer como o Hilbert e capturar uns 20 logo pra eles se sentirem valorizados.
      Foi estranho ver a Hilda e o Hilbert como um shipp pq eu tinha me acostumado tanto a vê-los como amigos q sei lá kkkkk Esperar para ver o que você tem em mente.
      Gostei mto do capítulo, Star! Até a próxima!

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      1. Yooo Carol <3
        Obrigadinha ;-; Eu sentia que devia um pouco mais de destaque para a jornada pessoal da Hilda, apesar do capítulo ser bem um "meio de arco", eu sinto que ele é muito importante para os leitores perceberem que nada se resume as batalhas frenéticas do Hilbert.
        Com certeza trarei essas crianças de volta para o Day Care <3 Devemos muito ao Bruce. E Hilbert precisa visitar os 14 Woobats que ficaram para trás (prometo trazer os gijinkas logo rs)
        Sobre o shipp: Eu vou ser franca, quando eu comecei a escrever NPU, nada estava engatilhado para esses dois, mas eu sempre acompanho o feedback e a evolução dos personagens, acho que tudo me leva a arriscar as coisas rs Estou planejando algo especial pro final da temporada que espero ser legal
        Com personagens adolescentes, é muito comum que os nervos e sentimentos aflorem fácil, mas eu não chamaria de amor eterno, por exemplo rs
        Obrigada pelo comentário <3

        See ya

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    3. Todos os woobats são parte da legião da fofura S2

      Hilda desenvolvendo seu talento para medicina é um amor!

      Quero ver qual artimanha nosso chifrudinho vai usar desta vez para passar do ginasio ^^ Espero que o treino tenha gerado frutos da vitória.

      Até o próximo Estrela!

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      1. Yoo Anan

        MAIS UM COMENTÁRIO REPLETO DE FOFURA <3

        Hilda se descobrindo é uma jornada que até eu embarquei ashuashu

        Serase que o Hilbert vai vestir uma saia no próximo ginásio? ahsuahshua

        See ya

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