• Tuesday, June 15, 2021

     

    Lilly acordou renovada.

    Depois da noite anterior e da descarga emocional com a consulta com a nova Psicóloga/Doutora da Pensão, Mirsthy, a Minccino, ela sentia que boa parte das suas angústias e o peso do passado tinham sumido como uma brisa de outono.

    A Lilligant se espreguiçou e se levantou de sua cama, descendo as escadas com cuidado para não acordar seus hóspedes. Estava tão animada que resolvera preparar um majestoso café da manhã.

    Vestiu um delicado avental rosado e babado e começou a preparar diversos pratos com as berries favoritas dos clientes. Fez também chás e sucos, tudo com a maior dedicação e habilidade que faria qualquer um se admirar.

    O primeiro a aparecer foi Koin, o Tepig. Ele também tinha uma grande habilidade com culinária: Sempre sabia quando a comida estava pronta.

    — Bom dia, dona Lilly – sorriu o porquinho, logo se sentando em uma das cadeiras da mesa.

    — Dona, não, querido – riu a Pokémon. – Apenas Lilly. Dona me faz sentir velha. Bom dia para você. Dormiu bem?

    — Sonhei com uma salada de Occa e Chople Berry. Estava tão apetitosa que acordei babando – contou Koin, debruçado na mesa e balançando as pernas.

    — Que coincidência – sorriu a Lilligant, servindo um prato com a sonhada salada na frente do Pokémon de cabelos castanhos. – Fiz essa pensando em você, meu pequeno – ela brincou com as mechas dele enquanto ele parecia hipnotizado com o que lhe fora servido. – Occa Berry são bons para Fire-type como você, e Chople para Fighting, que nem a sua evolução.

    — Obrigado! – agradeceu o Tepig, em êxtase. -  Você é muito inteligente, Dona Lilly.

    A Lilligant riu.

    — Só Lilly, querido.

    Pouco a pouco, os demais hóspedes apareceram e se acomodaram e se servindo – mais de uma vez – dos pratos preparados pela anfitriã da casa. A Lilligant sorria e servia todos com cuidado e delicadeza, prestativa e animada. Serviu um pouco de chá para Mirsthy e sussurrou:

    — Aquela conversa de ontem foi aliviadora. Obrigada.

    — Imagina, querida – sorriu a Minccino. – Continue vindo nas sessões e você vai ver o resultado. O primeiro passo para enfrentar o medo é reconhecer eles.

    — Pode deixar – respondeu, contente.

    Brianna, como uma boa nobre, tomava seu chá com delicadeza. Sombra, sentada ao seu lado, se deliciava com um achocolatado e Vic tomava uma soda.

    — São sete da manhã e você tá tomando refrigerante? – questionou Bree, em desaprovação. – Onde arrumou isso?

    — Tenho meus segredos – gabou-se o Pokémon. – Isso daqui dá um gás logo cedo. É o néctar dos deuses.

    — Sabia que você tinha roubado de algum lugar – ironizou a Snivy.

    — Qualé, meu bem, fala como se minha única função nesse grupo fosse roubar – o Victini fez um bico.

    — É “Vossa Alteza” pra você, seu ladrãozinho – Brianna levantou o queixo que poderia encostar no teto com tanto ego.

    — Isso me parece bebida humana – analisou a Lilligant. E o grupo inteiro gelou.

    — Os humanos sabem fazer coisas boas também, dona – Vic parecia ser o único a não se importar em enfrentá-la. Era um verdadeiro delinquente e já estava acostumado a tomar chutes na bunda. – Seja lá o que você passou com os humanos, não quer dizer que todos sejam uns demônios. Não deposite seu medo na gente – o Pokémon olhou em volta e notou todos os olhares apavorados de seus colegas antes de encontrar dois olhos vermelhos furiosos.

    Brianna invocou um Vine Whip e começou a golpear o pobre Victini no chão enquanto o xingava de diversos nomes que foi preciso que Mirsthy cobrisse os ouvidos de Sombra.

    — TÁ QUERENDO MORRER?! – berrou a Snivy.

    — Morrer nas suas mãos seria uma honra, baby – brincou, de alguma forma, antes de soltar uma exclamação de dor.

    Lilly abaixou levemente a cabeça e reprimiu um sorriso sem graça. O Victini tinha razão, mas havia sido tão direto e duro que ela enxugou uma lágrima solitária que conseguiu escapar. Koin, que estava focado em seu café da manhã, notou. Se levantou e se aproximou de Vic, que se recuperava dos golpes de Brianna. O Pokémon anjo olhou para o Tepig e estendeu o braço:

    — Você veio me salvar, amigão?

    O porco usou toda sua força para acertar um chute na região intima do pobre Victini que urrou de dor antes de se encolher. A atitude fez até Brianna – por incrível que pareça – ficar chocada, mas não conseguiu controlar o riso.

    — Isso é por deixar a Lilly triste! – gritou o menino, mostrando a língua.

    — Tio Vic não vai mais poder ter filhotes – debochou Sombra, acostumada com a bagunça que era sua equipe.

    — Eu vou sentir esse chute por pelo menos quatro gerações – concluiu o Vic, derrotado no chão. 

    Mas o dia na Pensão da Lilly Lilligant estava apenas começando.

    Um grupo de aproximava da pensão com certa euforia, não pareciam ser perigosos. Pelo contrário, estavam com uma expressão tão inocente e animada que era como se o destino fosse uma espécie de paraíso. Wooby e A Legião tinham ouvido falar da recepção amigável que a Pensão tinha e acharam que seria um lugar perfeito para morarem.

    Quando chegaram, a própria Lilly foi a primeira a vê-los.

    — Oh, olá? – ela cumprimentou – ou pelo menos tentou -, surpresa com a quantidade de clientes novos. Exatamente quinze.

    — Saudações, minha nobre senhorita – Wooby tomou a frente. – Meu nome é Wooby e essa é minha equipe, conhecida como A Legião. Ficamos sabendo da sua pensão e gostaríamos de nos abrigar.

    — Em quinze? – questionou a Lilligant, como se confirmasse a informação. – E-Eu não sei se tenho quarto para todos vocês.

    — Oh, não se preocupe. Um é suficiente para nós – respondeu, sorrindo.

    — Hã... – a anfitriã ajeitou seu vestido e abriu a porta. – Fiquem à vontade.

    — VIC! PARA DE ROUBAR A COMIDA DA SOMBRA! – berrou Brianna enquanto confortava a pequena Zorua, que chorava.

    — Ela é pequena, Bree, não precisa de tanta comida – argumentou o Vic, fazendo bico. – Eu tô morrendo de fome. Éramos em cinco hóspedes, mas DE REPENTE, ESTAMOS EM VINTE POKÉMON NUMA APERTADA SALA DE JANTAR! – exclamou.

    De fato, ninguém esperava que uma quantidade absurda de Woobats se hospedassem no mesmo lugar. O grupo se divertia e conversava entre si, comendo e bebendo da quase pouca comida que havia na pensão. Lilly percebia a cada dia que não havia planejado exatamente tudo.

    Koin, o Tepig, estava ao lado da mulher, nem um pouco satisfeito em não poder repetir o prato pela quarta vez. Ela acariciou os cabelos castanhos do mais novo e riu:

    — Desculpe, Koin, amanhã vou providenciar comida suficiente para todos. 

    E não é como se todos os problemas da pensão se resolvessem com algumas toneladas de comida a mais.

    Naquela noite, tudo que os hóspedes mais queriam era uma silenciosa noite de sono. Mas estamos na Pensão da Lilliy Lilligant, nunca espere uma normalidade. O som da cantoria se fazia alto no maior quarto da pensão – aquele que primeiro fora de Brianna -, já que os Woobats pareciam trocar o dia pela noite.

    A cantoria era divertida e contava sobre as aventuras do grupo repleto de metáforas que apenas os participantes entenderiam. Batiam palmas rítmicas e não precisavam de instrumentos, já que com quinze Woobats, era possível compor uma orquestra inteira. Eu já mencionei que são QUINZE WOOBATS CANTANDO?

    Enquanto os morcegos cantavam, Brianna enfiava cada vez mais a cabeça debaixo do travesseiro, quase explodindo de raiva. Sombra cobria as orelhas e Mirsthy era a única que dormia tranquilamente.

    — Só a cabeça de vento da Mi pra dormir com essa barulheira – observou a Snivy, levantando-se, indo para o corredor. A Zorua seguiu a mais velha, interessada no fim da história.

    — Você vai matar eles, tia Brianna? – questionou a garotinha.

    — Talvez empalar eles seria uma ideia melhor – respondeu, sem paciência, encontrando Vic no corredor. – O que você tá fazendo aqui?

    — Obviamente esperando você – respondeu. – Acha que eu perderia a oportunidade de ver a minha xuxuzinha espancando quinze Woobats de uma vez?

    — Se você continuar me chamando por esses nomes idiota, eu vou espancar quinze Woobats e um Victini – retrucou Brianna, forçando um sorriso maligno.

    E assim, os três se encaminharam até o quarto e bateram levemente na porta. Obviamente tentaria uma negociação antes que a Snivy fizesse seu massacre. Wooby, o líder, abriu a porta enquanto seus companheiros continuavam a cantar.

    — Oh, boa noite, nobres companheiros – sorriu, receptivo. – Vieram se juntar a nós?

    — Na verdade, viemos pedir para que calem a boca – respondeu Bree, logo sendo agarrada pelos ombros e puxada para trás pelo Victini.

    — D-Digo – o Vic soltou uma risada forçada. – A gente só queria saber se poderiam parar ou abaixar o volume? Não conseguimos dormir.

    — Ah, meus senhores, isso é um ritual sagrado para nós, Woobats. Estamos cantando sobre nosso dia como forma de agradecer.

    — Vai demorar muito? – questionou o Victini. Era algo importante para os novos hóspedes e ele não queria arrumar confusão, talvez pudesse esperar mais alguns minutos.

    — A noite toda – respondeu de forma direta.

    Brianna se desvencilhou de Vic e se aproximou de Wooby, encarando-o.

    — É melhor vocês calarem essa cantoria agora ou eu vou ser obrigada a resolver isso de maneira não-civilizada.

    De dentro do quarto, os outros Woobats pareciam ter ouvido a conversa e aproveitaram a oportunidade de adicionarem esses eventos a sua cantoria:

     

    Um monstro surgiu na nossa toca
    Oh! Mas ele é verde como uma gosma

    O monstro na nossa toca
    É feio como um Stunfisk.

     

    — Olha, tia Bree, estão fazendo uma música para você – disse Sombra, animada, esperando que pudesse ter espaço na letra da canção.

    — Quem vocês chamaram de Stunfisk?! – berrou a Snivy.

    — QUE ABSURDO! – exclamou Vic. – Bree nem parece um Stunfisk. Com um nariz desse tamanho, ela no mínimo é um Drowzee ou um Impidimp.

     

    O orelhudo desafiou o monstro

    Ó, que orelhudo burro

    Corajoso

    Mas muito burro

     

    — ORELHUDO?! – berrou o Victini.

    — E burro – realçou a Zorua filhote. – Agora minha vez!

     

    Nova visitante na toca da Legião

    Ah! Que fofura!

    Um bebê Zorua

    Será que é tão chorão quanto parece?

     

    Sombra abriu o maior berreiro, agarrando o braço de Brianna.

    — TIA BREE, ELES ME CHAMARAM DE CHORONA!

    — Ok, seus peludos, parem com essa cantoria agora! – disse a Snivy pela última vez.

    Os Woobats se mantiveram em silêncio. Bree levantou o nariz, vitoriosa.

    — Obrigada pela compreensão. Tenham uma excelente noite – ela se virou e começou a andar, seguida de Sombra, mas nada do Victini. – Vic?

    Quando percebeu, Vic estava dentro do quarto dA Legião. Tinha roubado a atenção dos integrantes do grupo, fazendo sugestões.

    — Talvez se vocês trocassem verde como um ogro e feia como um Drowzee, acho que ficaria mais condizente.

    Brianna bateu o pé perto do amigo que a olhou. Logo, sua espinha gelou quando ele encontrou os olhos endemoniados e nem um pouco contentes da mulher. Ela cruzou os braços e olhou para A Legião.

    — Que tal cantarem sobre um Victini idiota que perdeu a vida após enfrentar a Rainha do Inferno?

    — Esse título é legal! – exclamou Wooby

     

    Ó, infortunado Victini

    Se aventurou nos encantos da Rainha do Inferno

    Mal ele sabia que ela era uma ardilosa adversária

    Descanse em paz, ó, guerreiro

     

    — DÁ PRA VOCÊS ME AJUDAREM?! – berrou o Vic.

     

    Mas eles não eram os únicos acordados.

    Completamente alheia da situação, Lilly estava na cozinha da Pensão. Sentada, ela se concentrava em um papel a sua frente, fazendo anotações, planejando como alimentar vinte bocas com pouca comida e pouco espaço. Ajeitou seus óculos de leitura, com a vista levemente cansada. Sua atenção foi desviada quando Koin, o Tepig, surgiu.

    — Oi pequeno – sorriu a Lilligant, com uma feição de cansaço.

    O garoto se aproximou e se enterrou nos braços da mais velha, como se sentisse que ela precisasse. Ela sorriu e retribuiu, com carinho.

    — Fico surpresa em como você é manhoso, mas ao mesmo tempo, sabe dar carinho – comentou, acariciando os fios do jovem.

    — Você me dá comida. Quem me dá comida, merece estar sempre sorrindo.

    Lilly riu mais.

    — Não estou triste, querido – disse a Lilligant. – Adultos tem vários problemas. Alguns maiores e mais desanimadores que outros.

    — Tá preocupada com a comida? – questionou Koin.

    — Posso te contar algo, pequeno?

    O Tepig puxou uma cadeira e sentou-se, demonstrando interesse.

    — Eu tive um treinador humano – ela começou a contar. – Ele era um treinador muito determinado. Eu era o braço direito dele, ele me comandava e eu comandava o resto do time.

    — É por isso que você gosta de comandar a gente, né? – perguntou o garoto, imaginando o rumo da história.

    — Mais ou menos – riu Lilly. – Eu gosto dessa sensação de cuidar de algo. Igual eu cuido de você – ela apertou a bochecha do menino. – Uma vez, participei ao lado de um Simisear da minha equipe em uma batalha decisiva que nos levaria para frente numa competição. Mas perdemos, não consegui proteger minha dupla.

    A Lilligant se levantou e tirou os óculos, reflexiva.

    — Meu treinador ficou frustrado e se tornou uma pessoa horrível. Ele não queria mais seguir em frente e acabou nos jogando na vala, na rua – contou, meio desanimada. – Nunca mais vi meus companheiros e peguei raiva de humanos por eles nos descartarem. Até hoje sinto a culpa por isso.

    — Mas você tentou! – argumentou Koin, balançando as pernas.

    — Eu sei, eu sei. Mas é difícil superar.

    A dona da pensão voltou-se a sentar.

    — Ver vocês brigando ou infelizes por causa de algo que está faltando na minha pensão me deixa mal. É uma falha minha – explicou, ainda que não quisesse detalhar muito. Até porque o seu ouvinte era uma inocente criança.

    Mas Koin era uma caixinha de surpresas.

    — Você faz tudo sozinha, Lilly – confessou o Tepig. – Você cozinha, arruma as camas, cuida dessa casa enorme, rega as flores, limpa as escadas, lava as louças, conversa com a gente e ainda cuida de mim. É muita coisa para uma pessoa só. Está cansada.

    A verdade é que ninguém pensaria que um especial de humor pudesse ter um clima tão sério. Nem Lilly imaginou que uma simples conversa na madrugada resultaria em uma reflexão profunda, mas tinha que admitir que o pequeno Tepig tinha razão.

    — Você tinha uma equipe antes – continuou Koin. – Hoje tem a gente. Não somos os melhores, mas podemos te ajudar. Principalmente eu.

    A Lilligant voltou a brincar com os cabelos do garoto.

    — Eu estava pensando em abrir uma lanchonete ao lado da pensão. Mas não consigo cuidar dos dois sozinha – disse Lilly, sorrindo.

    — Eu vou te ajudar! – Koin levantou a mão, animado. – Sou amante de comida e quero aprender a fazer uma tão gostosa quanto a sua!

    Mais um dia na pensão se passara. Mas dessa vez, Lilly começara a sentir que as coisas realmente iam ser diferentes daqui para frente.

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    { 2 comentários... read them below or Comment }

    1. Deve ser louco não conseguir dormir por causa de QUINZE WOOBATS e seu CORO DE IGREJA

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    2. Eu simplesmente achei intankável os Woobats cantando, foi a melhor parte do capítulo. E ELES SÃO MUITO CRIATIVOS. Imagino essa galerinha fazendo músicas nos momentos mais impróprios e sinto que vou simplesmente amar essas ocasiões. Por algum motivo, eles me lembraram os Anões dos Hobbits, o que é possível por eles serem pequenos e morarem em cavernas. Qualquer dia (tem que ser um dia que eu estiver MUITO disposta) vou fazer uma fanart de todos juntos.
      Adorei o capítulo. Me diverti bastante e estou ansiosa para ler o próximo.
      Abraços!

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