• Thursday, March 4, 2021

     


    Brianna acordou com o som de marteladas. Marteladas altas e fortes vindo do quarto ao lado. Sentou-se, resmungando alguns palavrões leves antes de finalmente se levantar e ir checar o que estava acontecendo, apenas por curiosidade. A barulheira vinha do seu antigo quarto, o mesmo em que o teto sofrera um acidente e cedera graças a chuva, ao entrar, a Snivy notou que um pequeno Pokémon humanoide cinza conhecido como Timburr consertava o local como um exímio marceneiro e construtor.

    Observando tudo, estava Lilly, com as mãos na cintura, curiosa com o serviço.

    — A madeira estava velha? – ela questionou para o trabalhador.

    — Um pouco, madame – ele disse, com um sotaque simples e carregado. – Acho que já estava meio úmida e a chuva ajudou para que caísse tudo.

    — Bom dia, senhorita Lilly – cumprimentou Brianna, se aproximando após passar uns minutos olhando o trabalho do Timburr.

    — Oh, bom dia, Brianna. Dormiu bem? Desculpe acordar vocês com barulho – riu ela.

    — Ah, não se preocupe. É bom ver que vão arrumar esse quarto. Ele é bem grande e dá pra receber uma família quase – riu Bree, com bom humor.

    — É bom que esteja animada. Hoje vai ser um dia agitado – disse a Lilligant, ansiosa. – Convoquei Pokémon curandeiros para algumas entrevistas e em breve teremos um para cuidar dos possíveis acidentes – ela informou, orgulhosa.

    — Isso é muito bom – celebrou Brianna, intrigada com o trabalho de Timburr. – Ei, esse buraco leva até o sótão né? – questionou para o trabalhador.

    — Exatamente, madame. Algum problema?

    — Acho que podemos ver aquela Darumaka que vive rindo da gente! – empolgou-se a Snivy, subindo na escada de mão. – Com licença, querido – curiosa, a Pokémon de grama colocou a cabeça para dentro do buraco que ainda restava no teto e começou a olhar em volta.

    Como um clássico sótão do tipo japonês, o teto era visível e o “chão” do local era feito de tatame, seria um lugar agradável de viver se não fosse a escuridão e a poeira. Bree olhou em volta, curiosa, o tempo ali começava a dar a sensação de filme de terror.

    — Darumaka? C-Cadê você? – questionou ela, começando a ficar apreensiva.

    O silêncio foi quebrado por passos pequenos rápidos que despertaram a atenção da Snivy, seus olhos procuraram em todo canto, mas ela sentiu uma respiração pesada em seu pescoço. Com tensão, ela começou a virar-se em direção da sensação e se deparou com um rosto iluminado assustadoramente por uma chama de fogo produzida pela própria Darumaka, fazendo com que seus olhos e sorriso desse medo a qualquer um.

    Pálida, Brianna desceu rapidamente, com os olhos arregalados, ela encarou o Timburr.

    — Fecha essa porcaria e NUNCA MAIS ABRA NOVAMENTE!


    A fila se estendia por vários metros, Pokémon de todas as espécies, tipos e tamanhos aguardavam ansiosamente para serem entrevistados por Lilly, em busca da tão sonhada vaga de curandeiro da pensão. A dona do local estava surpresa, não imaginava que seria algo tão concorrido.

    Um por um, os Pokémon foram atendidos, alguns ficaram nervosos demais e mal conseguiram falar, enquanto outros eram realmente habilidosos e impressionavam a Lilligant, que parecia extremamente dividida em várias opções, mas aquele era só o começo.

    Vic e Brianna estavam sentados próximo a uma janela da sala de estar, no andar térreo, observando o “evento do dia”.

    — É bem legal a dona Lilly pensar na composição do time dela – comentou o Victini, se espreguiçando.

    — Hm? – resmungou a Snivy, sem muita disposição.

    — O time dela, pensa só, é como uma guilda. Tem a líder, que é ela, e agora ela vai ter o curandeiro, agora só vai faltar o arqueiro, o tanque, o espadachim e... – ele foi interrompido.

    — Você andou jogando PokéRPG né? – questionou a amiga, com um sorriso leve.

    — O Hilbert tentou ensinar a Hilda, mas nem ele sabe jogar direito – o outro deu de ombros, rindo. – Um dia eu te ensino.

    — E que classe eu seria? – a moça questionou, um tanto curiosa com o rumo que a conversa levaria.

    Vic refletiu por longos minutos até responder.

    — Um Viking – o rapaz percebeu que sua companheira fez uma expressão confusa, então completou: - É que eles são conhecidos pela agressividade.

    Quando terminou a frase, ele ligeiramente se arrependeu quando sentiu a encarada da outra e sua espinha gelar.

    — Eu só não vou gritar ou te bater porque eu não quero comprovar essa sua teoria – a mulher cruzou os braços. – E só para constar, eu acho que você combinaria com a classe dos ladrões, por motivos óbvios.

    Vic se aproximou de Brianna, sorrindo charmoso e instigante.

    — É porque eu roubei seu coração, minha colega? – disse.

    A Snivy empurrou o rosto do amigo para longe gentilmente, rindo um tanto corada.

    — Sai fora – ela virou a cabeça, olhando novamente para fora e para enorme fila, e algo despertou sua curiosidade. - Aquela é a Mirsthy?

    — Hm? – o Victini copiou o ato da colega e olhou para a mesma direção. – Vish, é ela mesmo, o que ela tá fazendo na fila?

    — Certeza que ela deve estar lá sem sabe o motivo dessa fila – a Snivy revirou os olhos, se levantando. – Eu vou até lá.

    — E se a gente ficar vendo até onde ela vai para depois rir da frustração dela? – sugeriu o jovem.

    — Você é um péssimo Pokémon – rindo, a inicial de grama se dirigiu para fora, atravessando a longa fila e chegando até a amiga. – Ei, Mirsthy.

    — Bree! – cumprimentou a Minccino, contente em ver a colega. – Não te vejo desde o café da manhã. Sabe me falar se a Lilly já demonstrou interesse em alguém? Não quero perder minha chance.

    — Mi, você sabe do que é essa fila? – questionou a de cabelo verde, com as mãos na cintura.

    — Claro que sei, é pra entrevista para a vaga de curandeiro da pensão – respondeu a outra, naturalmente.

    — E desde quando você é curandeira? – Brianna franziu a testa.

    — Ora, desde sempre – alegou, com convicção.

    — Mirsthy, você pode ser tudo, menos médica.

    — Que cruel! Olha aqui, eu sou um tipo de médica diferente do convencional. Eu não curo os machucados externos, eu curo os daqui da sua cabecinha – ela cutucou levemente a testa da outra com o indicador.

    — Lá vai ela de novo... – resmungou. – Mi, sacudir seu rabo na cabeça das pessoas não será o suficiente pra cuidar de uma ferida mais grave.

    — Não, não, não. Eu falo de dentro da sua cabeça – sorriu. – Você me conta seus problemas, o que te incomoda, seus medos e eu te dou conselhos e assim a sua mente se ilumina – na imaginação de Mirsthy, tudo aquilo era tão impressionante que com certeza impressionaria Lilly.

    — Não tem como isso dar certo. Só acredito vendo – murmurou Brianna, revirando os olhos.


    — Anuncio para vocês a contratação da nossa nova curandeira da Pensão da Lilly Lilligant: Mirsthy, a Minccino – anunciou Lilly, na sala de jantar, naquela mesma noite, com orgulho e satisfação.

    — Não acredito! – exclamou Bree, surpresa e incrédula.

    — Bem-vinda, minha querida – aplaudiu levemente a dona da pensão, sorrindo. – Espero que possa ajudar a todos por aqui. Gostaria de dizer algumas palavras?

    A Minccino caminhou até o centro do cômodo e sorriu.

    — Eu estou sem palavras, senhora Lilly. É uma honra ter a oportunidade de poder ajudar nessa instituição tão nobre e maravilhosa. Eu serei mais de que uma curandeira para vocês, irei ajudá-los com problemas que estejam incomodando a cabecinha de vocês – ela começou com a voz gentil, orgulhosa de si própria. – É só me procurar e conversaremos, então eu te ajudarei da melhor maneira possível.

    — Como ela convenceu a Lilly? – resmungou Brianna, sentada e encostada no sofá, ainda sem digerir a história.

    — Ah, Bree, acho que deveríamos confiar nas habilidades da Mi – disse Vic, rindo da amiga. – Pense pelo lado positivo, teremos prioridade no atendimento.

    — Sim, seremos o primeiro a morrer – a Snivy fingiu uma risada e notou que Mirsthy se aproximou depois de seu discurso e sentou ao seu lado, satisfeita.

    — E então, fui bem no discurso? – ela questionou.

    — Você sempre boa em falar, Mi – riu o Victini. – Confio em você, hein?

    — O que você falou para a dona Lilly, Mirsthy? – questionou a de cabelo verde, de imediato. – Não usou seu Baby Doll-Eyes para convencê-la, né?

    — É claro que não – respondeu, na defensiva. – Eu só expliquei pra ela a minha proposta e ela achou muito interessante, só isso.

    A Pokémon de grama foi retrucar, mas a Minccino levantou o indicador, interrompendo-a.

    — Se serve de consolo, não vamos mais pagar nossas diárias pela pensão.

    — Essa é minha garota! – exclamou Vic, animado, fazendo um cumprimento conhecido como high five com a mamífera cinza.

    — Estou ansiosa para começar as consultas amanhã – sorriu Mirsthy, exalando ansiedade.

     

    No outro dia, mais uma fila enorme se formava, dessa vez, era dos próprios membros da pensão que tinham um objetivo em comum: ser atendido pela doce e nova curandeira, a doutora Mirsthy, como ela se denominava. Brianna encarava aquela fila com certa negatividade, em sua cabeça, tudo aquilo era besteira e seria um completo desastre, mas não quis intervir.

    O primeiro da fila era o velho Grimaud, que comentara lembrar de pessoas que “vendiam” conselhos na sua época. Talvez as consultas da Minccino fosse algo que descendia daquilo, e aquilo despertara muita atenção nele.

    — Pode entrar o primeiro da fila! – anunciou a voz da mamífera de dentro de seu consultório improvisado.

    O velho Joltik entrou então, tomando um assento que lhe fora oferecido.

    — Bom dia, senhor Grimaud – sorriu Mirsthy, cordial.

    — Bom dia, mocinha – respondeu o senhor. – Parabéns pela vaga.

    — Ah, muito obrigada. Em que posso ajuda-lo hoje?

    — Ok, acho que você pode me ajudar em algo superimportante – ele se ajeitou em sua cadeira. – Os tempos mudaram, e como pode ver, estou velho para entrar em combate, mas ainda sou sábio o suficiente para aprender estratégias e informá-las ao meu mestre, o senhor Athos. Agora me diga, jovem conselheira, quais são as melhores estratégias de guerra utilizadas hoje em dia?

    A de cabelo cinza encarou o homem a sua frente, perplexa. Piscou algumas vezes para tentar digerir o que ouvira.

    — G-Guerra? Desculpa, eu não entendi – a moça tentou assimilar as coisas, não era bem esse tipo de problema que ela esperava ouvir.

    — Não é bem uma guerra, mas o senhor Athos e eu sempre corremos grandes perigos, e tínhamos estratégias para tal. Sempre procurávamos um conselheiro real que nos vendia informações sobre os grupos que queríamos atacar – Grimaud continuou a gesticular intensamente. – Nunca mais vi alguém fazendo isso até você aparecer.

    — Espera, o quê? Não! Não! – ela sacudiu as mãos. – Não sou uma conselheira real, não é bem esse tipo de conselho que eu dou. Você me conta um problema que incomoda seu coração ou sua cabeça e eu te ajudo da melhor forma. Eu devo ter explicado isso mais de uma vez – riu, sem graça.

    — Oh, então você cuida de problemas pessoais, tipo... internos? – o Joltik refletiu por uns segundo e abaixou a cabeça envergonhado. – Que descuido meu, sinto muito, mocinha – ele riu de leve.

    Mirsthy suspirou, tentou pensar em algo, mesmo que não fosse aquele tipo de orientação que estava pensando em dar, não queria ver seu primeiro paciente sair de mãos abanando.

    — Olha, se te serve de consolo, um bom “ataque” pode ser feito na base do diálogo. Ele é a chave de tudo – sorriu, contente em ver que aquilo tinha saído levemente poético.

    — Diálogo? – Joltik refletiu e se levantou. – Muito obrigada, jovem conselheira, tenho certeza que o senhor Athos ficará agradecido com o seu conselho.

    — A-Ah – a Minccino riu de leve, acanhada. – Fico feliz.

    Grimaud tomou a direção da porta, mas antes de sair se virou e questionou:

    — Essa estratégia de diálogo funciona com as mulheres também?

    — Principalmente com as mulheres – sorriu. – É melhor que assustá-las pulando nelas – riu.

    A próxima vití... paciente foi a pequena Sombra, o que surpreendeu a doutora. Não conseguia imaginar como uma criatura tão nova teria problemas, imaginou então que seriam perguntas relacionadas ao seu crescimento ou poderes. Coisas que toda criança perguntaria.

    A Zorua sentou-se na cadeira e colocou em cima da mesa de madeira um pacote de biscoitos recheados.

    — M-me trouxe um presente? – Mirsthy franziu a testa.

    — Não! – disse a outra, agitada. – Você disse que ajudava com problemas dos outros né? Então... Essa coisa é um problema mim.

    A mais velha sorriu e percebeu que estava diante de problema realmente sério. O biscoito provavelmente representava a fome intensa da raposinha e esta queria emagrecer. Era hora de agir:

    — Oh, querida. Entendo que se preocupe com a sua saúde, mas você é muito novinha pra ficar obcecada com dietas. Deixe tudo agir no seu tempo e aproveite sua infância devorando muitos biscoitos recheados – o sorriso da mulher ia de orelha a orelha, o peito estava estufado de orgulho.

    Foi quando Sombra retrucou:

    — Tia Mirsthy, porque você tá falando coisa estranha? Eu quero que você abra esse pacote pra mim. Roubei da bolsa da Hilda, mas não consegui abrir ainda.

    No final, era só um problema de criança mesmo.
     

    Dentre tanto outros atendimentos mais sérios, Koin questionou sobre ser mais que um Pokémon fofo e mimado, Vic confessou que as vezes roubava apenas por diversão e vício e admitiu que se envergonhava um pouco disso. Até mesmo Brianna, que antes estava relutante, quase entrou aos prantos tentando explicar seu receio de sua família tê-la esquecido e de que nunca mais a viessem busca-la.

    Foi quando a última paciente entrou. Lilly, acanhada e falando consigo mesma, ensaiava algum diálogo imaginário. Mirsthy terminava de arrumar sua mesa quando a viu.

    — Oh, senhora Lilly. Tudo bem? Devo dizer que o primeiro dia foi um sucesso – sorriu. – Apesar de alguns imprevistos, foi tudo uma maravilha.

    — E-Eu... quero uma consulta – confessou a Lilligant, acariciando as mãos, nervosa.

    — Uma consulta? – a Minccino pareceu surpresa, mas convidou sua inesperada paciente para se sentar.

    A outra obedeceu, demonstrando que estava buscando coragem de algum lugar para revelar algum segredo obscuro e polêmico, como se o que ela dissesse, pudesse mudar todo o rumo de um mundo inteiro.

    — Senhora Lilly, você não é obrigada a me contar nada. Eu estou aqui para ajudar como puder, mas só quando a pessoa está disposta ou estiver em muito perigo.

    — É sobre minha relação com humanos... – revelou por fim, a dona da pensão.

    — Oh – Mirsthy esboçou um certo sorriso confortante. – É um passo importante. Quer me contar o que aconteceu?

    — Eu tinha um treinador...

    Naquela noite, choveu novamente. Tanto do lado de fora, quanto do lado de dentro, Lilly desabou em lágrimas ao contar sobre seu passado, a doutora estava tensa pelo peso daquelas palavras, mas também se sentia grata por receber a confiança de uma pessoa tão importante.

    A boa notícia é que o serviço do Timburr se provara de excelência e o teto se manteve firme.


    { 2 comentários... read them below or Comment }

    1. Oiii Star. Finalmente sou a primeira a comentar em algum capítulo.
      Eu nem percebi o capítulo correndo, pra falar a verdade, de tão entretida que estava. Achei muito inteligente e original o fato da primeira médica da pensão na verdade ser uma psicóloga. E isso é realmente útil se consideramos o fato de que só o fato de conviver com esses treinadores malucos já faria todo mundo surtar.
      Vic e Brianna estão cada vez mais se consolidando com casal. Ela nem nega mais hahaha. No fim, todos, ou quase todos os monstrinhos curtiram a ideia kkk tenho certeza que a própria Brianna será uma frequentadora assídua do consultório.
      PELO AMOR DE DEUS MULHER Q SEGREDO É ESSE, TEM CRIANÇA CHORANDO, TEM VELHO CAINDO, TEM GRÁVIDA VOMITANDO TA TODO MUNDO TRISTE TODO MUNDO DEPRESSIVO PRECISAMOS SABER O SEGREDO DA DONA DA PENSÃO.

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      1. Yooo Carol

        A NEW RECORD

        Vamos ser sincero que uma médica não seria útil, já que o maior perigo que se enfrenta na pensão é não ficar louco ahsuauhsahus
        Vic e Brianna é aquele casal que precisa de pelo menos 100 empurrões pra ele se tocarem ahsuahusahus
        Bree louquinha da silva vai fazer cartão fidelidade

        PELO AMOR DE DEUS, EU AMO DEIXAR TODO MUNDO DESESPERADO COM OS SEGREDOSH AUSHUASHUAHUS

        Obrigada pelo comentário

        See ya

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