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- Capítulo 23
— Por
que está me seguindo? – questionou Aramis, caminhando pela Pinwheel Forest,
meio manco, na manhã seguinte.
Ao
seu calço, a mesma garotinha da noite anterior, seguindo aquele Virizion como
se fosse a mamãe Swanna e ela fosse um pequeno Ducklett. Parecia muito mais
animada e menos assustada, observando com curiosidade tudo e a todos.
O
Pokémon a sua frente parou-se repentinamente e a menina quase trombou contra
uma das pernas dele. Ele virou-se e a encarou, tentando parecer intimidador.
— Ok,
eu não te conheço e não tenho a mínima vontade de prolongar essa relação! - gritou, fazendo a criança recuar um
pouco. – Eu trabalho e vivo sozinho. Não preciso de ninguém no meu encalço!
Agora some daqui!
De
prontidão, ela saiu correndo e logo o Virizion retornou o seu caminho, mas algo
lhe incomodou logo em seguida que o fez virar-se novamente, irritado. Lá estava
ela, alguns metros longe, tentando procurar uma direção para seguir, parecendo
perdida e frágil naquela enorme floresta. Aramis bufou, cedendo seu lado durão.
— Menina!
– ele ganhou a atenção dela, que logo se aproximou. – Pode me
acompanhar, mas você não deve me atrapalhar! Eu não vou pensar duas antes de te
matar.
O
sorriso como resposta foi reconfortante e suas bochechas espremeram seus
inocentes olhos perolados que eram extremamente bonitos. Ela abraçou uma das
patas do Pokémon como forma de agradecimento, já que não podia falar.
— Pérola
– resmungou o Virizion, envergonhado. – Seu nome vai ser Pérola, mas isso
porque eu não quero ter que ficar de chamando de garota o tempo todo.
Pérola
sorriu novamente e Aramis não conseguia acreditar como aquela menina era uma
exceção à regra para o ódio dele contra humanos.
Hilbert
se espreguiçou. Os ferimentos e as dores da batalha contra Aramis pareciam
estar bem melhores. Ele caminhava ao lado de Hilda e Jackson pela enorme
floresta, haviam saído cedinho para compensar toda a viagem perdida no dia
anterior graças ao embate. A menina bocejou, exausta.
— Se
não fossem as barracas, acho que meu cabelo estaria horrível há uma hora
dessas. Essa floresta é bem molhada – comentou, ajeitando sua bolsa. Lucio
seguia o grupo, completamente confortável com a temperatura, a julgar pelo seu
tipo.
—
Acha que estamos muito longe? – questionou Hilbert.
— Considerando
a rota que pegamos, acredito entre hoje e amanhã de manhã. Devemos sair e
chegar na Skyarrow Bridge – informou Jackson.
— E
logo depois estaremos em Castelia – sorriu Hilda, animada. – Faz quase um mês
que estamos em jornada, acho que não mudou muita coisa por lá, mas a ansiedade
do retorno é bem maior.
—
Mora com os seus pais? – questionou o arqueólogo, curioso em conhecer cada vez
mais sobre seus novos amigos.
—
Com os meus tios. Minha mãe é dançarina e modelo em Nimbasa – contou a morena.
– Meu pai eu nunca conheci – riu, completamente acostumada com a situação.
—
Sua mãe é Havana Foley? – perguntou Jack, recebendo um sinal positivo. – Ah,
que incrível! Já vi muitas propagandas com ela. Eu podia jurar que a filha dela
seria aquelas mimadinhas que se deitam no dinheiro e na fama da mãe.
—
Minha mãe e meus tios sempre me ensinaram sobre humildade. Minha tia e minha
mãe vieram de família humilde em uma ilha muito distante chamada Ária – Hilda
pareceu extremamente orgulhosa em falar de sua família e das lições que
aprendera com ela. – Eu já fui algumas vezes lá. Meu tio herdou o resort do pai
construído na ilha e sempre passamos as férias lá.
—
Parecem ser pessoas incríveis, estou ansioso para conhecer todos – sorriu o
rapaz. – Minha família vive em Virbank. É meio distante, então eu preferi me
mudar na mesma cidade que a minha tia para conseguir fazer faculdade e
trabalhar na área. Basicamente, eu e você fomos criados pelos tios.
— Eu
adoro essas pequenas coincidências – riu a garota.
Hilbert
prestava atenção na conversa dos dois como mero espectador, era legal ver que
todos tinham bons familiares apesar das desavenças. Não tinha como reclamar da
sua família também, apesar da ausência de seu pai, havia crescido sobre os
olhos gentis de Alina e de um casal de idosos que o tratou como um neto que
nunca tiveram. Se tivesse a oportunidade de realizar um desejo, pediria que
todas as pessoas do mundo tivessem uma família feliz, independentemente de como
fossem.
Sua
atenção foi roubada por uma pessoa que estava sentada em uma pedra, tomando uma
garrafa de água. Aquele estilo de roupa com o incomparável cabelo laranja e a
mecha azul podia ser reconhecido há milhares de metros. O sangue do menino
ferveu em ver sua rival, Maggie.
—
DESSA VEZ VOCÊ NÃO ME ESCAPA! – berrou o treinador, puxando uma Pokéball do
bolso, assustando seus colegas, correndo até ela. – VOCÊ! NOS VIMOS DUAS VEZES
E NÃO TIVEMOS A OPORTUNIDADE DE BATALHAR!
—
Por que sempre o Hilbert quebra qualquer normalidade no nosso caminho? – riu
Hilda, seguindo o amigo com Jackson.
Maggie
assustou-se ao ver tantas pessoas focadas nela, quase revirou os olhos com a
figura do garoto de boné vermelho que sempre estava em seu caminho. Hilbert era
o nome dele, né?
—
Você estava com a Team Plasma, mas isso não me importa, você ignorou duas
batalhas minhas e eu não vou te deixar escapar agora!
—
Hilbert, não precisa gritar, ela está na sua frente – pediu sua companheira,
envergonhada.
A
adolescente se levantou da pedra e pediu distância.
— Eu
não estou com clima, menino. Tô desde ontem treinando, não dormi direito a
noite, então eu realmente não quero – murmurou ela, ajeitando seu casaco de lã
folgado e preto por cima da regata de mesma cor. – Além do mais, você é um
carinha muito chato.
Ajeitando
sua pochete na cintura, Maggie retomou seu caminho, ignorando o trio. Mas todo
mundo sabia quem era Hilbert. O garoto avançou e agarrou o braço de sua rival
que se assustou com tamanho empolgação.
— Te
machuquei? – ele se arrependeu de ter feito aquilo na hora, soltando o braço da
garota. – Desculpa. É que você é sempre toda evasiva, dá até medo. Até parece
que aconteceu algo com você.
A
ruiva recuou alguns passos, sem olhar pra trás. Ele tinha acertado um ponto
fraco como se parecesse de propósito.
— Eu
lembro que você estava com um rapaz da última vez que nos vimos – comentou
Hilda. – Cadê ele? Vocês brigaram? Tá tudo bem?
Maggie
recuou mais uma vez. Já estava sendo difícil superar a morte de Peter, e as
pessoas insistiam em tocar no assunto. Estava se sentindo tão sufocada que mal
percebeu que seus pés pisaram em falso em um barranco e ela escorregou, Hilbert
tentou salvá-la agarrando sua mão, mas o chão úmido e as folhas tornaram tudo
escorregadio, e os dois rolaram morro abaixo por uma altura considerável.
—
Hilbert! – gritou a menina, indo até a beirada.
—
Tomem cuidado! – respondeu o menino. – É muito escorregadio.
—
Vamos descer, Jack? – questionou a companheira para o amigo.
—
Acho melhor não, poderíamos pisar em falso e ter um impacto maior – refletiu
Jackson. – Hilbert, acha que consegue nos encontrar na estrada? A rodovia
principal.
—
Acredito que sim. Nos encontramos lá?
—
Sim. Vamos Hilda.
Hilda
assentiu e voltou a olhar pra baixo.
— Se
cuidem! – e os dois sumiram do campo de visão do treinador.
Ele
então se virou para sua nova companheira, que estava sentada no chão, tirando
algumas folhas do corpo.
—
Ouviu isso? Precisamos procurar a estrada – o menino estendeu a mão para a
rival. – Vamos lá?
Maggie
virou o rosto, em sinal de negação.
—
Quer parar de teimosia?! Tô tentando te ajudar! – gritou, não poupando
palavras.
—
Meu calcanhar... – ela falou em voz baixa.
—
Hm? O que disse? – o treinador aproximou o rosto de forma curiosa.
—
MEU CALCANHAR ESTÁ DOENDO, NÃO CONSIGO ANDAR! – berrou em resposta, acertando
uma testada contra seu rival. Ele cambaleou pra trás e acariciou o local da
pancada. – D-Desculpa.
—
Que testa dura – resmungou.
Ela
reprimiu um xingamento antes de respirar fundo.
—
Pode ir encontrar seus amigos, eu vou esperar a dor passar.
Seu
companheiro coçou os cabelos castanhos, olhando de um lado para outro.
—
Não dá mesmo para caminhar?
A
ruiva negou e quase levou um sustou a ver o menino agachar de costas para ela,
estendendo as mãos para ela.
—
Sobe aí – ofereceu, com a voz positiva. – Eu te levo.
Aquilo
parecia extremamente ofensivo para alguém como ela, estava há tanto tempo se
virando sozinha que quando tinha o suporte ou apoio de alguém, agia com
desconfiança. Mas Hilbert parecia ser um garoto bobo que só tinha a pura
intenção de acelerar as coisas, e como seu tornozelo parecia não querer aliviar
a dor, acabou cedendo e subindo no colo dele. Apesar de mais velha, ela não era
tão pesada como o menino imaginava (talvez seu lado Pokémon oferecia uma força
além da sua idade).
—
Ok, vamos lá! – Hilbert se levantou, animado. – Tá confortável aí?
—
Quanto menos você falar, menos humilhante vai ser – resmungou a ruiva, ainda
mal-humorada.
A
dupla começou a caminhar, seguindo um caminho meio incerto, em completo silêncio,
não havia assuntos e parecia que nenhum aleatório surgia para quebrar aquele
clima de tensão. Na verdade, não havia o que comentar, apesar de haver
perguntas básicas como idades ou até quantidade de insígnias, os dois pareciam bem
tímidos e tensos para aquilo. Ainda mais que para o garoto, Maggie poderia ser
a vilã, já que, por algum motivo, trabalhava para Team Plasma. Talvez ele
devesse tentar arrancar algumas informações sobre isso.
—
Então... Naquele dia... Você estava lutando ao lado dos Plasmas – começou a
falar, escolhendo as palavras. – Porquê?
— Eu
não ligo para o que eles acreditam, nem concordo ou discordo – respondeu. – Eu
só trabalho para eles porque eles pagam bem.
—
Sério? Tipo, dinheiro de verdade? – apesar de parecer cruel se vender para o
lado inimigo por dinheiro, Hilbert não pode deixar de ficar curioso.
—
Exatamente. Eles são de família rica, ou um conjunto de famílias, sei lá –
contou a rival, pensando na festa da coroação. – Com esse dinheiro, eu posso
ter uma jornada sem precisar roubar ninguém
O
garoto mostrou a língua, imaginando ser uma indireta para si mesmo, mas tentou
aproveitar o embalo da conversa. Porém, foi interrompido.
—
Não, eu não vou falar mais do que isso sobre os Plasmas. Quero manter meu
pescoço no lugar – ela riu quando o menino fez um bico de decepção.
—
Quantas insígnias você tem? – questionou, mudando de assunto, na tentativa de
manter a conversa.
—
Apenas uma. A de Striaton. Lutei contra o Cilan – respondeu, meio acanhada. –
Eu sei que tô meio devagar.
—
Contra o Cilan? Ele é incrível, né? – sorriu o treinador. – Eu o ajudei a
servir um chef famoso muito chato e metido e ganhei a insígnia.
Maggie
olhou curiosa para seu “cavalheiro”.
—
Como é que é?
Hilbert
contou suas aventuras no ginásio de Striaton e a ruiva riu quando ele confessou
o fato dele usar um uniforme feminino para tal feito. Apesar dele resmungar
como achou humilhante no começo, não pode deixar de conter o riso também, já
que finalmente tinha colocado um clima bom no local.
O
problema é que com a distração, eles tinham se desviado um pouco de seu caminho
inicial, fazendo com que a vegetação parecesse maior e confundisse ainda mais o
caminho. Hilbert parou de andar e olhou em volta.
—
Não quero ser pessimista, mas acho que estamos perdidos – concluiu ele.
—
Acho que sei o que pode nos ajudar – Maggie tirou de sua pochete uma Pokéball e
liberou a criatura de dentro dela.
Era
pequena e semelhante com um cogumelo, seu corpo branco tinha dois bracinhos e
um rostinho curioso e uma pequena boca rosa. O que mais chamava atenção era seu
enorme “chapéu” com uma estampa de Pokéball. A Pokédex de Hilbert anunciou as
informações sobre o novo Pokémon:
“Foongus,
o Pokémon Cogumelo. Ele atrai as pessoas com sua estampa de Pokéball e libera
esporos de veneno para todos que tentam o pegar. Não se sabe como surgiu esse
padrão em sua cabeça”
—
Uau – admirou o jovem.
—
Ninguém melhor que um Grass-type para conhecer a floresta – argumentou a
ruiva. – Ei, carinha. Estamos meio perdidos, será que pode nos guiar até o
final da floresta? Mais precisamente na rodovia.
Foongus
assentiu e começou a saltar na frente com pulos curtos, sendo seguido pelos
jovens que ainda estavam desconfiados no potencial da criatura, porém, ele
parecia certo de seu caminho. O menino voltou a puxar assunto.
— Um
Stunfisk e um Foongus, seu time é... curioso.
— Eu
diria exótico – riu Maggie. – As pessoas costumam menosprezar esses Pokémon por
eles não serem... populares. Mas eles são tão incríveis quanto os gigantes.
—
Você pegou um inicial no laboratório da Professora Juniper também?
— Eu
ganhei um Axew do meu pai quando eu era mais nova porque ele queria que eu
fosse a maior treinadora de dragões de Unova, assim como ele. Mas como pode
ver, meu destino era outro.
—
Seu pai treina dragões? – Hilbert parecia cada vez mais impressionado com as
coisas que ele descobria sobre sua rival.
—
Ah, eu não devia ter tocado nesse assunto – Maggie revirou os olhos. – Meu pai
é o Drayden, o líder de Opelucid City, especialista em Dragon-type.
—
Deve ser incrível ter um pai como ele – disse o jovem, pensando em seu próprio
pai e como ele poderia ser incrível se tivesse simplesmente participado mais.
— É
complicado dizer – respondeu a rival. E assim o assunto se encerrou.
Longos
minutos se passaram quando Hilbert pediu para descansar, já que suas pernas
começaram a bambear graças ao peso que carregava. Ele gentilmente agachou e
permitiu que Maggie sentasse sobre uma pedra grande enquanto ele escolheu
esticar as pernas sentando-se no solo úmido e frio. Se espreguiçou e suspirou.
—
Espero que os outros estejam bem – disse o menino.
—
Tenho quase certeza que estão melhor do que a gente – riu a outra. – Tá com
fome? Tenho algumas barras de cereal aqui.
Vic
saiu da bolsa de Hilbert, interessado. A ruiva quase berrou ao ver ele.
— Você
disse comida? Essas barras de cereais são feitas do quê? – ele voou para
perto de menina.
—
Vic, a parte de você se esconder na minha bolsa é para que você não ficasse
exposto – argumentou o amigo do Victini. – Seria legal se você colaborasse e
não aparecesse para qualquer um.
— Hilbert,
ela tem uma comida que eu nunca vi antes, eu não posso perder a oportunidade –
respondeu o Pokémon, voltando sua atenção para Maggie. – E então, me conta
mais sobre essa barra de cereal – ele notou que a menina estava em estado
de choque, super surpresa. – Erm... Hilbert, ela é muda?
—
Você a assustou, para variar – retrucou o treinador.
—
U-Um Victini... falante... – foi a primeira coisa que a adolescente disse após
o choque.
— Cara,
essas reações já estão ficando genéricas – Vic cruzou os braços. – Vic.
Victini falante. Amigo do Hilbert. Moro na bolsa dele pra evitar confusões. E
você é a Maggie e tem algo que eu estou MUITO interessado.
—
E-Eu te vi na batalha em Nacrene, mas de perto é bem mais chocante – riu
Maggie, oferecendo o alimento para Vic e Hilbert.
Após
um tempo socializando e trocando algumas palavras, o treinador terminava de
devorar outra barra de cereal quando notou que um Pokémon se aproximou dele,
tímido. Era semelhante um inseto predominantemente de cor vinho. Seu corpo
começava grande e terminava gradativamente com menor tamanho e de tom verde,
suas patinhas eram pretas e sua cabeça tinha olhos amarelados e sérios. A
Pokédex apontou que aquele era um Venipede.
—
Oh, olá – cumprimentou o treinador. – Tudo bem?
O
moreno estendeu um pedaço da barra do cereal para o inseto que devorou
contente.
—
Então você estava com fome? – riu ele. A ruiva continuava a observá-lo, sentindo-se
confortável com a presença dele.
—
Acho que tive impressão errada sobre você – confessou ela, recebendo atenção de
seu companheiro. – Eu jurava que era aqueles treinadores insuportáveis
desesperados por batalhas. Mas você tem toda uma personalidade incrível, é
amigável e completamente positivo.
— Oh
– Hilbert coçou o cabelo, encabulado e corado. – Obrigado.
— Me
lembra um pouco do Peter – a voz de Maggie tornou-se pesada e entristecida.
—
... O que houve com ele?
—
Ele...morreu semana passada – informou, com a voz ainda mais baixa e triste.
O
outro a encarou com os olhos arregalados. Não conseguiu esconder o choque e nem
a surpresa. Podia ser mentira, mas a expressão da ruiva lhe cortava o coração
pois ela parecia carregar consigo todo o peso e culpa daquela morte. O
treinador não pensou duas vezes antes de subir na pedra ao lado da adolescente
e encostar os ombros, em sinal de suporte.
—
Hilda me contou uma vez que somos como médicos. Só podemos nos ajudar se você
contar onde dói – começou ele, recebendo a atenção de todos, até mesmo do recém
chegado Venipede.
— O
que quer dizer?
— Tô
dizendo que apesar de você estar triste com o fato do seu amigo ter morrido,
tem algo mais dentro de você que te incomoda, tipo uma culpa – disse, gentil e
atencioso. – E quanto mais você reprime essa dor, mas forte ela fica e aí fica
difícil para curar. Então – ele soltou um sorriso confortante. - Põe tudo pra
fora.
Maggie
não conseguiu conter as lágrimas que vieram em seguida, ela apoiou o rosto
molhado contra o peito de Hilbert enquanto agarrava a jaqueta do menino. Seu
choro era alto, doloroso, triste e verdadeiro. Apesar de estar se oferecendo
para ajudar, o jovem não soube como reagir e só esperou que a mulher
desabafasse.
—
Eu... nunca tive uma relação boa com o meu pai – começou a desabafar, soluçando
um pouco. – Ele sempre estava focado em me tornar aquilo que ele queria que
nunca me ouvia. Eu não queria suceder o ginásio dele ou enfrentar o campeão de
Unova, eu só quero sair em jornada e me divertir, aprender e evoluir por mim
mesma – ela olhou para o outro, ainda segurando sua roupa. – Por isso eu sou
sempre desconfiada ou brava, eu me fechei por medo de outras pessoas quererem
decidir meu próprio destino. Eu fugi de casa, entrei pra Team Plasma e conheci
o Peter.
Hilbert
ofereceu um pouco de água para a adolescente. Ela agradeceu e continuou, levando
um tempo para que seu choro diminuísse, ainda que a maioria insistisse em cair.
— O
Peter era o único que conseguia arrombar a porta que eu tinha trancado pro meu
coração – confessou, olhando para a garrafinha PET vazia. – Só que eu não
conseguia retribuir todo o carinho que ele me dava. Apesar das brincadeiras
idiotas dele, eu o amava, de verdade. Mas agora ele está morto e eu nunca
consegui dizer isso a ele!
As
lágrimas retornaram novamente, seu rosto provavelmente estava acabado e
inchado, mas ela não se importou. Ninguém nunca lhe dera tanto conforto para
desabafar daquele jeito, então agarrou a oportunidade e se deixou levar pelas lamentações.
O
garoto ao seu lado continuava a confortá-la como podia, tentava dizer palavras
de apoio, mas sabia que ela só precisava soltar aquele choro entalado na
garganta. Minutos se passaram até que ela conseguisse relaxar, Hilbert então a
levou até um riacho próximo para que ela pudesse lavar o rosto.
Maggie
olhou seu reflexo no rio e riu.
—
Tudo bem? – questionou seu companheiro.
—
Aham – sorriu a mulher. – Eu só estava pensando que provavelmente Peter me
faria uma cantada numa hora dessas – ela voltou a rir e o garoto riu também.
—
Que bom que você tem memórias boas com ele – respondeu ele.
A
ruiva se levantou e virou-se para o outro.
—
Ah, seu tornozelo está melhor! – sorriu o treinador.
—
Bem melhor – a adolescente se aproximou mais. – Obrigada, Hilbert – ela
depositou um beijo leve e macio na bochecha do garoto que mal conseguiu
controlar seu rosto corado. – Obrigada por ouvir o meu coração, era tudo que eu
precisava. Vou continuar minha jornada em memória a ele.
O
treinador ajeitou o boné, escondendo o rosto vermelho e tímido, mal sabia o que
responder, o que fez sua rival rir.
—
Prometo que na próxima ver que nos vermos, vou batalhar contra você – ela
disse, recebendo atenção de novo. – Então esteja preparado.
—
Com certeza estarei – respondeu o menino, com determinação.
Hilda
e Jackson já estavam no local combinado, observando cada beira de estrada a
procura dos dois perdidos. Lucio procurava próximo dos riachos e Jack até subiu
em uma árvore para ter uma visão melhor, mas sem sinal dos dois. A garota já
começava a ficar preocupada. E se Hilbert tivesse reencontrado o Virizion e
aquela forma dele tivesse retornado? Ela acariciava as mãos que estavam suadas,
mordia o lábio de nervosismo que chegavam a machucar um pouco.
—
Ah, Hilda, olha! – apontou o arqueólogo logo a frente. – Eles chegaram.
De
dentro da mata há alguns metros, Maggie e o garoto de boné saíram. Eles
conversavam e riam em super alto astral, como dois grandes amigos.
— E
parece que estão muito bem – riu Jackson.
Hilda
sentiu seu coração acelerar ao ver a cena, ver o sorriso do Hilbert daquele
jeito com a ruiva fazia seu peito doer, podia jurar ter sentido um vazio enorme
dentro do seu corpo. Engoliu seco e achou estranho quando as lágrimas começaram
a rolar pelas suas bochechas.
Ela
abaixou a cabeça com vergonha, mas ignorou e correu em direção ao amigo, se
jogando nos braços dele, num abraço apertado.
—
Hilbert! – ela disse, como se confirmasse se era ele mesmo. – Você está aqui!
O
menino assustou-se, mas riu com a reação da amiga, acariciando o cabelo dela,
observando-a enterrar o rosto em seu peito enquanto molhava a jaqueta do jovem.
—
Estou aqui – confortou o jovem, finalmente retribuindo o abraço. – Só que você
tá molhando minha jaqueta.
—
Que se dane! – murmurou a jovem, rindo. – É o segundo dia seguido que você me
deixa preocupada. Vou puxar sua orelha!
—
Por favor, deixe minha orelha em paz! – ele implorou, recuando.
A
morena enxugou as lágrimas e soltou um sorriso meigo.
—
Vocês estão bem? – Jackson finalmente se aproximou. – Achei que teríamos que
chamar a guarda local.
—
Meu Foongus acabou ajudando no caminho – informou Maggie. – Desculpe a demora e
se atrapalhei a jornada de vocês – ela coçou as madeixas ruivas, sem graça.
— Tá
tudo bem, foi uma experiência diferente e divertida – riu Hilbert, olhando para
a rival.
—
Com certeza – sorriu a outra. – Acho que a gente se despede agora. Preciso ir
pra Nacrene, a segunda insígnia me espera.
—
Estamos indo para Castelia – comentou o rapaz. – Boa sorte, Maggie.
—
Obrigada por tudo, Hilbert – a ruiva soltou outro sorriso confortante. – Te
espero no nosso próximo encontro para uma batalha digna.
A
rival ajeitou sua pochete e seu casaco e tomou seu caminho para o sul,
desaparecendo alguns metros depois, deixando os três jovens para trás. Hilda
olhou para seu amigo e notou um sorriso diferente e o cutucou de leve.
—
Que sorriso é esse? – riu ela, totalmente infantil. O outro corou e recuou.
—
N-nada, ué.
— Ele
ganhou um beijo da Maggie e tá com essa cara de idiota desde daquela hora –
entregou Vic, devorando outra barra de cereal (que ele provavelmente tinha roubado).
—
B-Beijo?! – a menina arregalou os olhos, vermelha de raiva só de imaginar as
possibilidades. – É por isso que vocês demoraram?! – ela agarrou a orelha do
treinador.
O
Victini riu satisfeito e foi até o ombro de Jackson para observar a confusão.
—
Não é o que você tá pensando! – choramingou o outro, implorando pelo bem de sua
orelha. – Tenha piedade, sua louca!
—
Quem você tá chamando de louca?! – berrou em seu ouvido, completamente
irritada. – Seu chifrudo safado!
— Eu
gostei desse apelido – debochou Vic, rindo.
— É
sempre assim? Deveríamos interromper? – questionou Jack.
— Apenas
aprecie a discussão de dois apaixonados orgulhosos e aposte no mais forte –
comentou o Pokémon, recebendo um olhar ameaçador de Hilda e Hilbert.
— Eu
vou cortar as asas desse cara – começou a garota.
—
Deixa uma pra mim – respondeu o outro, acariciando a orelha.
— Eek!
Jackson, me salva! – o Pokémon mergulhou para trás das costas do arqueólogo
que sentiu sua espinha gelar.
—
P-Podemos conversar? – ele riu, nervoso, antes de notar algo. – Pessoal? Atrás
de vocês.
Os
dois jovens se viraram e o treinador soltou um som de reconhecimento ao ver o
mesmo Venipede que tinha se aproximado dele para comer na sua frente. O Pokémon
inseto olhava o menino com um tom de afeição, ainda que os olhos amarelos e
sérios não demonstrassem isso. Devagar com a suas patinhas, ele se aproximou e
recostou-se na perna do garoto.
—
Você me seguiu até aqui? – questionou, agachando. – Ainda está com fome?
A
criatura grunhiu.
— Tu
é um carinha muito engraçado – riu. – Quer entrar no meu time?
O
Pokémon assentiu e Hilbert riu sem graça.
— Eu
só estou sem Pokéball, mas você pode dividir o espaço na bolsa com o Vic –
sorriu o treinador, gentil.
— Mano,
eu já tô dividindo espaço com as suas tranqueiras, os mangás do Jack e você vai
colocar esse maluco junto ainda? – protestou o Victini.
—
Quem é o idiota agora? – riu Hilbert.
— Eu
vou te denunciar por maus tratos aos Pokémon – Vic cruzou os braços. – Ninguém
me respeita nesse grupo.
O
trio de jovens caiu na gargalhada antes de prepararem para voltarem a estrada
(segura, dessa vez), estavam próximos da saída e já podiam sentir o cheiro da
cidade grande. Estava na hora de voltar ao começo, do lar de Hilda e de onde
tudo começou. Castelia City os aguardava de braços abertos.
Como não ficar com o coração partido com uma capa dessas? <3
ReplyDeleteChoremos com a Maggie! PROTECT MAGGIE
DeleteEu estava ansioso para ler esse aqui e conferir um pouco mais sobre a Maggie! Foi um momento importante de se abrir com alguém e mostrar que a morte do Peter não foi apenas um incidente genérico, sempre haverá quem sofra por isso. Pô, e tem ideia melhor do que separar o time e fazer os dois terem um momento a sós? Engraçado como essa conversa fluiu bem melhor assim, a Maggie nunca conseguiria se abrir com tanta gente por perto.
ReplyDeleteTorceu o tornozelo, já sabe a regra: vai ter que carregar kkkkkkk
Achei fofo a maneira como ela e o Hilbert foram se entendendo aos poucos, começaram como rivais que parecem não carregar muitas semelhanças entre si, mas é justamente a maneira como se respeitam e demonstram empatia pelo próximo que os aproximou. A conversa todo foi muito bonita, e tenho certeza que na Segunda Temporada eles terão um entrosamento completamente diferente. Valorize seus Grunts ♥
Caraio Vic, expôs os brother na cara dura, eu não deixava KKKKKK Amo o xingamento entre eles, agora temos a Louca e o Chifrudo Safado. Eu gosto da maneira como a Pinwheel Forest trouxe alguns acontecimentos que vão deixar sua marca! Temos o Aramis e a Pérola, o fato da Hilda ter mostrado todo aquele ciuminho de primeiro amor. E obrigado pela adição do pequeno Venipede, espero que ele seja um grande integrante para o time e a Pensão! ♥
Yoo Canas
DeleteApesar do Peter não ser um personagem que a gente teve tempo de se apegar, ver que isso afeta um personagem importante faz a gente ter uma empatia a mais. É triste demais ver que a Maggie engoliu bastante esse choro até o Hilbert arrebentar a porta
Eu amo demais esse capítulo <3 Tem um fanservice e ainda tem conversas decisivas ahsuahus Acho que muito mais que rivais atrás do mesmo objetivo e tem certa disputa, eles entendem que é muito mais que isso. No final, a Maggie é uma rival mais que o Cheren, por exemplo :3
GRUNTS DA PLASMA SERÃO VALORIZADOS!
VIC É MUITO X9 SEH LOKO HAUSAHUSHUA Essa floresta foi relativamente curta, mas eu amo esse arco <3 Venipede joined the team e agora divide a mochila com o Vic pra ele largar de ser besta
Obrigada pelo comentário, Canas
See ya
Hello Star!
ReplyDeleteAcho que esse foi o capítulo que mais senti você nos personagens. Não sei se foi impressão minha, mas o fato de já te conhecer me faz pensar que há muito da Maggie em você e isso é algo muito positivo, porque de certa forma mostra com quanto carinho você construiu seus personagens, até mesmo os rivais.
Apesar de diferentes, gostei foi muito legal a forma como o Hilbert e a Maggie conseguiram se entender. Dá pra tirar uma lição também de que, muitas vezes, não sabemos nada sobre o que há no interior de alguém e por isso, não devemos fazer tantos julgamentos prévios como ambos tinham um pelo outro.
Só queria dizer que o "chifrudo safado" me fez rir alto aqui kkkkk Que xingamento sensacional vindo em boa hora. Imagino o quanto esses dois ainda vão brigar até admitirem o que sentem um pelo outro.
Por fim, a captura, eu adoro o Venipede e nem sei porque, o visual dele me agrada muito. Espero que esse garotinho seja um dos destaques da equipe do Hilbert.
O capítulo ficou ótimo Star, continuar lendo pra uma hora por tudo em dia (vai demoraaar, mas seguimos com fé). Abraços!
Yoo Carol
DeleteSorry a demora, cá estou <3
De forma direta, eu não consigo dizer quais são as caracerísticas minhas que formaram a Maggie, ela nasceu de uma brincadeira de criar um Grunt dos Plasmas que se destacasse e fosse recorrente, mas foi a boa recepção dela que fez ela se tornar uma rival do Hilbert. Fico feliz que tenha gostado.
Maggie e Hilbert é uma dupla bem random mas que se completam, eu sinto ela bem parecida com o Cheren, só que mais emotiva, o que me faz imaginar que o nosso chifrudo safado deve ter um imã especial para esse tipo de gente haushua
Vai ser um longe caminho até o Hilbert percebe algo e a Hilda querer falar
Obrigada pelo comentário <3
See ya
CHIFRUDO SAFADO KKKK
ReplyDeleteSabia que retornar a leitura desta fanfic ia alegrar mais o meu dia!
Tu é incrível AAAAAAAAA