• Thursday, March 25, 2021



    O barulho do trânsito, pessoas falando e se aglomerando, a fumaça, os enormes prédios e toda aquela sensação de se sentir pequeno e inexistente. Hilda quase deu um grito de alegria quando eles pisaram em Castelia City, sua terra natal. Após pegarem um táxi em Skyarrow Bridge, eles chegaram na grande metrópole ao pôr do sol, então as luzes dos postes e dos prédios começavam a acender, indicando o início da vida noturna.

    Os carros já pegavam seus caminhos de casa ou para algum restaurante ou bar. Os mais jovens e alternativos começavam a se encontrar nas esquinas para fazerem suas tradições noturnas, enquanto os trabalhados das construções civis guardavam seus equipamentos prontos para descansarem.

    O trio não pensou muito antes de se dirigirem para o Centro Pokémon para recuperarem seus Pokémon, comprar as Pokéball para Lucio, o Palpitoad e Mushi, o novo Venipede de Hilbert, e logo em seguida, partirem para o prédio em que a família de Hilda vivia. Eles não haviam avisado de sua chegada, então se prepararam para dar-lhes uma grata surpresa. Quando a garota entrou no elevador, sentiu um frio na barriga.

    — Ah, que emoção. Espero que eles estejam em casa – sorriu ela, conversando com os amigos.

    — Será que a tia Maisy já tá preparando o jantar? – refletiu Hilbert. – Nunca mais esqueci o gosto daquela comida.

    — Tenho quase certeza que sim – riu a jovem.

    — Vocês estão me deixando ansioso também – Jackson entrou na conversa, observando todo o luxo daquele lugar.

    Ao chegarem no andar destino, Hilda correu até o apartamento 17 e tocou a campainha, tentando conter a empolgação. Como deveria agir? Diria um “Surpresa!”? Abraçaria a pessoa? Ou só daria um ‘oi’ rotineiro? Eram tantas possibilidades que ela só parou de pensar quando ouviu passos pesados e largos caminharem até a porta. Provavelmente seria seu tio Ben que atenderia a porta.

    A maçaneta girou e a luz do apartamento inundou o corredor. A garota sorriu:

    — Surpre-

    Sua fala foi interrompida quando a figura que a recebeu não era ninguém que ela conhecia. Estava no apartamento certo? O homem franziu a testa e aparentava ter meia idade a julgar pelos traços fortes em seu rosto. Os cabelos eram enrolados e secos, porém bem penteados e castanhos, suas grossas sobrancelhas davam um ar de seriedade para ele. Seu físico não era dos melhores, porém, suas roupas sociais que variavam em preto e branco disfarçavam um pouco do sobrepeso. Ele demorou um tempo até reconhecer a figura da garota a sua frente.

    — Oh – sorriu, com os dentes brancos. – Havana, acho que é para você.

    Hilda quase gelou ao ouvir aquele nome. Da cozinha, a mulher de quarenta anos surgiu, elegante e sexy como sempre, apesar de estar com um vestido simples e pantufas. Seus cabelos louros estavam penteados para trás segurados por uma tiara preta. Seu lindo sorriso preencheu seu rosto iluminado pelas esmeraldas verdes em seus olhos.

    — Ah, meu Arceus – a mais velha abraçou sua filha como se fizesse anos que não visse ela.

    — Mamãe! – Hilda exclamou de volta, retribuindo aquele abraço como se fosse o último.

    — Minha nossa, como você está linda! – a mãe analisou sua criança como se analisasse um pedaço de ouro. – Como você está? Entre, entre. Está quase na hora do jantar, estou preparando algo com a sua tia – a mulher a guiou para dentro antes do homem que atendera a porta chamar sua atenção.

    — Hã? Havana, ela não está sozinha – disse, virando-se para Hilbert e Jackson que permaneciam imóveis e completamente tímidos com a situação.

    — Hm? – a loira virou-se. – Oh, você trouxe amigos! – ela sorriu. – Venham vocês dois, entrem, entrem – animada com a casa cheia e o retorno de Hilda, não tardou em correr até a cozinha: - Maisy! A Hilda está de volta! E ela trouxe amigos. Aumente o número de pratos na mesa!

    A tia da garota quase assustou ao ver que sua casa se enchia cada vez mais, mas adorava pequenas festas. Ela sorriu e abraçou sua sobrinha:

    — Bem-vinda de volta, querida – animou Maisy. A conversa não demorou muito tempo para ganhar forma. Hilda já sentiu o clima da casa novamente e as três começaram a jogar diversos assuntos fora, extremamente agitadas.

    Enquanto isso, o homem anterior ofereceu passagem para que os dois companheiros da garota entrassem, recepcionando-os com um sorriso grosso.

    — São bem animadas – comentou ele, fechando a porta.

    — Pois é – respondeu o treinador, deixando sua bolsa no sofá.

    Jack então olhou novamente para o mais velho e o reconheceu.

    — Senhor Clay? – ele sorriu. – Há quanto tempo. Sou eu, Jackson, o sobrinho de Lenora.

    — Meu Arceus, menino. Como você cresceu! – Clay cumprimentou o rapaz várias vezes com apertos de mão. – Encontrei sua tia esses dias, ela me falou que você se formou. Meus parabéns.

    — Muito obrigado, senhor. Me inspiro muito no seu trabalho – Jackson riu, um tanto envergonhado.

    — Ah, eu sou um Stoutland velho, quero ver as novas gerações revolucionando a área – o riso era extremamente alto, mas motivador. – Mas por favor, fiquem à vontade. Logo a conversa vai terminar e elas vão vir pra recepcionar vocês direito. 

    Logo, todos os presentes foram devidamente recebidos. Hilda apresentou Jackson para sua família e Hilbert para sua mãe, que achou curiosa a figura do menino que incentivara sua filha a sair em jornada por Unova. Prestativos, os meninos ajudaram com a preparação do jantar e a arrumar a mesa. A garota ainda tinha dúvidas do motivo da presença de um líder de ginásio em sua casa.

    — E o tio Ben e o Oliver? – questionou a morena quando finalmente se deu conta. Com a casa cheia, era quase difícil notar que não estava presente. Maisy tirou o Magikarp assado do forno.

    — Oliver começou a fazer aulas de escoteiro, seu tio foi buscar ele – informou a mulher. – Depois que você saiu em jornada, ele disse que queria fazer alguma coisa legal, nas palavras dele – disse, rindo. – Aí Ben sugeriu dele entrar nos escoteiros e é claro que eu concordei. Sou da cidade grande, mas quero que Oliver tenha mais contato com a natureza assim como eu tive.

    — Ah, que incrível – sorriu a jovem.

    — Na verdade, a Maisy tá querendo encaminhar o filho dela pelos mesmos passos que ela. Lá no futuro, ela vai voltar para Ária e fará de Oliver um salva-vidas – riu Havana. – E assim ele vai seguir seus passos e passar isso de geração em geração.

    — Droga, você descobriu meus planos – respondeu a irmã, rindo.

    A atenção foi desviada quando Ben, usando suas rotineiras roupas sociais e o pequeno Oliver, usando um uniforme de escoteiro entraram no ambiente. O homem assustou-se ao ver tanta gente e sua casa e riu, enquanto seu filho quase gritou ao ver sua prima.

    — Prima Hilda! Hilbert! – ele correu para perto dos jovens. – Vocês voltaram!

    — Oi Oliver, oi tio Ben – sorriu a morena. – Há quanto tempo, hein?

    — Como foi? Hilbert, você pegou todas as insígnias já?! – o mais novo parecia extremamente animado e agitado.

    — Oliver, antes de você lotar os coitados de perguntas, vai tomar um banho que o jantar está quase pronto – ordenou a mãe do pequeno escoteiro.

    — Sim, mamãe! – e ele correu, tirando algumas risadas dos presentes.

    A mesa daquele apartamento nunca tinha visto tanta gente junta prontas para devorar um delicioso jantar com Magikarp e Ducklett assados, saladas e massas. Vinho para os adultos e sucos para os mais novos. Hilda disfarçava um olhar ou outro para Clay, ele parecia extremamente sociável com Havana, que sempre servia algo para ele. Fazia muito tempo que a menina não via sua mãe sorrir daquele jeito, era um sorriso diferente com quem estava com a família e amigos, o mesmo tipo de sorriso que ela dava ao ver Hilbert.

    Entre assuntos que iam de coisas banais até a quantidade de Pokémon que Hilbert e Hilda tinham pegado ou como foram as conquistas das insígnias, o jantar se estendeu até a sala, onde Havana e Clay ajudavam com a louça e os outros aproveitavam o desjejum nos sofás confortáveis. Oliver se admirava com os novos companheiros de equipe dos jovens recém-chegados.

    — Quando acha que devemos contar? – questionou Clay, tentando ser discreto.

    — Eu não sei, achei que ela demoraria mais – respondeu a loira. – Mas não se preocupe, vai dar tudo certo.

    — Sabe que eu não quero parecer invasivo. Respeitarei o tempo e espaço que precisarem – disse o líder de ginásio, recebendo um sorriso de sua companheira.

    — Você é um anjo.

    A dupla então se dirigiu até a sala, onde Hilda se virou para eles para puxar conversa.

    — Está há muito tempo na cidade, mamãe? Veio visitar a tia Maisy ou tem algum evento por aqui? – perguntou a menina, interessada.

    — Ah, que bom que tocou no assunto! – Havana juntou as mãos, animada, sentando ao lado da filha, grudadinha. – Estou aqui para planejar sua festa de quinze anos!

    Hilbert e Jackson tiveram suas atenções roubadas por aquela informação extremamente valiosa. Hilda encolheu suas pernas e escondeu um pouco do rosto, bem envergonhada. Não era um problema, mas ela não estava acostumada a compartilhar informações pessoais. Muito menos ser o centro da atenção daquele jeito.

    — Mas não vai dar tempo... E eu estou em jornada – respondeu a menina, tentando procurar justificativas.

    — Sempre dá tempo, estou planejando tudo há tanto tempo – riu a mãe. – Além do mais, tenho certeza que seus amigos podem esperar um pouquinho. Certo, meninos? – ela deu uma leve piscada. – Estão mais do que convidados.

    — Bem, se envolve comida, acho que não tem problema – riu o treinador de boné. – Quando é o aniversário?

    — Dia 10 de Março – informou a loira.

    — Daqui algumas semanas – observou Maisy.

    — E se eu não tivesse chegado hoje? E se já tivesse passado por aqui? – Hilda parecia nervosa. Era sempre assim, festas a deixavam ansiosa, principalmente as de aniversário, ela nunca sabia como agir nessas datas. Sua única função era receber presentes, agradecer e ficar com cara de boba na hora dos “parabéns”.

    — Eu provavelmente te caçaria em cada canto de Unova para te achar – riu Havana, abraçando-a. – Não se preocupe, meu amor, vai ser um dia incrível.

    Apesar de um pouco desconfortável, ela não pode deixar de achar interessante a ideia e ficar ansiosa, resolveu então, puxar mais a corda para o assunto.

    — E o que já planejou?

    — Senta que lá vem história – riu Maisy, servindo uma xícara de café para o marido, que riu igualmente.

    — Ok, vamos lá – Havana refletiu um pouco. – Primeiramente, eu aluguei o salão Diamante Auria da rua R. e preparei um buffet para 300 convidados.

    — Trezentos convidados? De onde tirou tanta gente? – a mais nova olhou assustada para a matriarca.

    — Convidei seus amigos de escola, principalmente Cheren e Bianca. Parentes do seu tio Ben, pessoas da mídia, seus avós. Posso te jurar que você já teve contato com todos, nem que se for por vista – informou a mais velha, ajeitando os longos cabelos de sua filha. – Mas enfim, vou ligar para o coreógrafo, para o estilista e marcar cabeleireiro. Tenho certeza que a Leila vai adorar atender a gente. Posso marcar pra você também, Maisy?

    — Você me puxaria mesmo se eu não quisesse – riu a irmã.

    — A senhorita sempre fugiu desse tipo do coisa – retrucou a Foley mais velha. – Se não fosse por mim, seus cabelos e pele seria uma bagunça e você nunca teria se casado com o filho do dono do Paradise Resort.

    — Pois saiba que eu conquistei esse cabeça oca aqui com meu próprio mérito – riu a de cabelos negros, mostrando a língua.

    — Por que do nada as ofensas vieram contra mim? – contestou Benjamin.

    — Acostume-se – Hilbert olhou para o homem. – Se vocês o quanto de vocês a Hilda me xingou nessa jornada, estariam pasmos.

    Hilda levantou-se e pôs-se em pé em frente ao menino, quase soltando labaredas do corpo de tanta irritação.

    — Conta pra eles nas encrencas que você me metia.

    O garoto recuou assustado.

    — Alguém pode proteger minha orelha, por favor?

     

    A conversa sobre o futuro evento acontecia na sala com muita empolgação e grandes planos. Clay aproveitou uma deixa para ir até a varanda tomar um ar, debruçou-se no parapeito e passou a observar os carros nas ruas com suas luzes amareladas, vermelhas e brancas piscando ou simplesmente iluminando o asfalto. Apesar de viver em cidade grande também, a magnitude e o gigantismo de Castelia assustava até mesmo alguém como ele que provavelmente já tinha visto muita coisa.

    Ele cogitou em acender um cigarro ou um charuto que carregava no bolso, mas desde que conhecera Havana, fazia de tudo para evitar esse vício. Até porque ele realmente queria evitar deixar uma Foley furiosa. Bocejou antes de ouvir a porta da varanda abrir-se e Jackson repousar ao seu lado, imitando o mais velho.

    — É meio difícil ficar no meio daquela família, eles têm um mundo tão incrível que você se sente ofuscado as vezes – riu o jovem. – Não sei como Hilbert está aguentando.

    — Todos eles tiveram uma grande história juntos, então você tem que conhecer eles aos poucos para entender o que passa na cabeça de todos – comentou o líder de ginásio. – Mas não deixam de ser pessoas humildes e gentis. Aprecio isso demais.

    — Você e Havana Foley estão namorando, né? – questionou Jack, sorrindo ao perceber que tinha acertado.

    — Estamos sim. Nós dois temos vidas diferentes, mas no final do dia a gente se completa. Tivemos problemas amorosos e agora estamos reaprendendo aos poucos.

    — Minha tia comentou quando voltou de Driftveil – confessou o arqueólogo. – Ela disse: “Nunca vi aquele velho com um sorriso tão grande no rosto ao falar da famosa Havana Foley”.

    — Lenora adora ser a primeira a saber das fofocas – riu o líder. – Mas pode não contar para Hilda? É a primeira vez que a vejo pessoalmente. Estamos planejando como dar a notícia.

    — Não se preocupe, minha boca é um túmulo.

    — Havana disse que ela fica com os tios em Castelia por causa da rotina agitada como modelo e dançarina, então esse reencontro é realmente importante para as duas. Elas precisam de um momento mãe e filha.

    — Sabe que as pessoas sempre me falavam que o senhor era um sem coração ignorante que só focava no dinheiro? – disse Jackson. – É incrível como as pessoas julgam as outras pela aparência, né?

    — Eu espero que isso tenha sido um elogio. Mas já ouvi muito disso também – riu Clay. – Principalmente da minha ex-esposa. Só que ela abusava mais dos xingamentos. Pelo menos o divórcio foi amigável.

    — Fico feliz que esteja bem.

    — Estamos falando de mim, mas e você, Jackson Petrie? – o especialista em Ground-type se virou para o mais novo, interessado. – Se formou em museologia, exerce funções de curandeiro e arqueólogo, praticamente tinha um emprego garantido no Museu de Nacrene. O que o levou a largar tudo isso para seguir em jornada com dois jovens que estão em uma caça a insígnias? Surgiu o interesse de conhecer a área?

    — Foi um acaso do destino – respondeu o outro, sem graça. – Mas tem relação com a Light Stone.

    — Espera, encontraram a Light Stone também? – o interesse de Clay aumento ainda mais. – Sua tia deve lhe ter contado sobre o roubo da Dark Stone.

    — Sim, ela contou. E os Plasmas também tentaram nos levar a Light Stone – contou o mais jovem. – O problema é que quando tentamos resgatar ela, infelizmente, ela foi destruída.

    — Destruída? – o mais velho conteve uma exclamação maior.

    — Achávamos que ela tinha desaparecido por completo – continuou Jack. – Mas a Hilda encontrou um fragmento dela. E antes de ontem encontramos um segundo fragmento.

    — Vocês vão procurar todos os fragmentos? – questionou o líder, meio cético. – Demoraria anos.

    — Aí que entra a grande jogada – o arqueólogo olhou para dentro, como se preparasse para contar um grande segredo. – A Hilda sente a presença dos fragmentos e nos indica com certa precisão onde eles estão.

    Clay massageou as têmporas com os indicadores e dedos médios com certa pressão, tentando assimilar tudo.

    — Eu acho que quanto mais velho eu fico, mais cético eu me torno – murmurou ele. – Mas eu realmente não tenho como... contrariar vocês. Depois do que aconteceu na Twist Mountain, eu realmente estou acreditando em muita coisa nova.

    — Não se culpe tanto, senhor Clay – Jackson suspirou. – Foi assustador pra gente no começo também. A Hilda quase surtou. Mas se tem algo que a gente aprendeu sobre povos antigos nas escavações é a habilidade da resiliência.

    — Se adaptar as mudanças – completou o líder, assentindo. Ele voltou a olhar o movimento das ruas, era incrível como ainda havia tantos carros. – Bem, de toda forma, como irão “juntar” essas peças? É possível fazer isso?

    — Ainda não sabemos, estamos em Castelia para o desafio de Hilbert no ginásio do Burgh e ao mesmo tempo, viemos perguntar para eles sobre a família Kurosawa – contou o negro, suspirando. – Eles são a chave para a junção dos fragmentos.

    — Sabe que estão depositando esperanças em uma família que sumiu de Unova há muito tempo né? – apontou Clay. – Eles viviam na região onde hoje é Icirrus City. E Icirrus é uma das cidades mais antigas de Unova.

    — Já ouvi falar algo do tipo, mas é minha responsabilidade agora – Jackson sorriu. – Vou até o fim do mundo para cumprir minha missão.

    — Admiro sua força de vontade – sorriu o mais velho. – De qualquer forma, contem comigo para ajudar na coleta dos fragmentos. Vivo metido em escavações e guardarei todos os fragmentos que encontrar.

    — Agradeço de coração, senhor Clay – agradeceu o outro. – Agradecemos também se não... espalhar essa informação com qualquer um. A Team Plasma está atrás desses fragmentos à essa altura.

    — Não se preocupem. Minha boca é um túmulo – riu Clay.



    Oliver acabara por dormir no sofá, isso era sinal que já era tarde da noite. Maisy já começara a ajeitar colchões no quarto de seu filho para Jackson e Hilbert enquanto Ben levava seu garotinho para a cama. Havana terminava de falar com Hilda quando se levantou e olhou para Clay, acenando de leve com a cabeça, como se conversassem.

    — Eu preciso ir, meu amor – a loira beijou a testa da mais nova. – O senhor Clay vai me dar uma carona até o meu prédio.

    A morena, estranha e insegura, segurou o braço da mãe, meio envergonhada em fazer isso.

    — Você não pode ficar? – questionou, com a voz baixa. – Faz tanto tempo que a gente não se vê...

    Com certeza estava parecendo infantil e extremamente ciumenta. Não queria agir assim, mas sua insegurança parecia ter surgido de repente e aquilo estava a matando por dentro. Seus amigos provavelmente a encaravam confusos, quase não reconheciam aquela Hilda.

    Mas Havana parecia reconhecer sua filha mesmo que ela estivesse com o melhor disfarce do mundo. Com um sorriso meio, ela depositou outro beijo na testa.

    — Claro que posso, mas você vai ter que dividir sua cama comigo – riu a loira, recebendo outra risada como resposta da menor.

    — Tem espaço pra nós duas – ela respondeu.

    Hilda foi para seu quarto que continuava completamente organizado desde que deixara a casa e sentiu um pouco de nostalgia ao entrar. Sua matriarca se despediu do “amigo” e logo em seguida apareceu. Era o momento mãe e filha que as duas almejavam por anos.

    A luz do abajur era a única coisa acesa naquele ambiente, os outros cômodos estavam incrivelmente silenciosos, sinal de que a maioria dos moradores e hóspedes já dormia confortavelmente. No quarto da garota, mãe e filha estavam confortavelmente sentadas em travesseiros macios sobre o chão enquanto a mais velha penteava e fazia tranças no cabelo da mais nova. As duas usavam pijamas extremamente parecidos.

    — Seu cabelo cresceu bastante – observou Havana.

    — Ele tá meio estranho desde que passei pela Pinwheel Forest, acho que precisa de hidratação.

    — Sei do produto perfeito para isso – sorriu ela, continuando. – Que bom que você tá conhecendo melhor o mundo, Hilda. Me mataria te ver virando uma garota da cidade grande que só sabe olhar pro próprio umbigo.

    Hilda riu e se espreguiçou.

    — Está incomodada com a festa? – a mãe perguntou.

    A outra negou de leve.

    — Mesmo que eu tenha mudado um pouco, eu ainda adoro a ideia de usar um vestido bonito e dançar uma valsa – confessou, um pouca mais confortável.

    — Falando em valsa, precisamos falar sobre seu príncipe. Tem algum em mente?

    — ... O Hilbert – Hilda quase escondeu o rosto, parecia que até falar o nome do menino a deixar envergonhada e sentia muita raiva disso.

    — O menino que invadiu seu quarto? – riu a mais velha. – Parece que ele mudou bastante o rumo da sua vida.

    — M-Mais ou menos. Todo o caminho até agora foi super divertido. Eu adoro ver aquele jeito animador e motivado também, mesmo ele sendo um irresponsável as vezes – ela continuava a confessar, rindo de vez em quando. – Hoje de manhã, ele acabou se perdendo na floresta com uma... garota que a gente conheceu no caminho. Quando nos reencontramos, ele estava conversando animado com e ela e eu fiquei sabendo que eles se... beijaram – a voz dela abaixou o tom e ela pareceu triste. – Aquilo me deixou triste por dentro, mas por fora eu só conseguia gritar e brigar com ele. E-Estou assustada, eu nunca fui assim

    Havana confortou sua filha em seus braços com carinho e compreensão. Como mãe, estava há muitos anos se preparando para essa conversa.

    — Você estava com ciúmes – disse a loira. – Talvez você esteja se apaixonando pelo Hilbert. Por isso seu coração bate rápido, seu estômago parece que tá cheio de Butterfrees, você fica corada só de pensar no nome dele e sente ciúmes quando outra pessoa se aproxima dele.

    — O-o que eu devo fazer?

    — Nada além de aproveitar esse sentimento – sorriu a mais velha. – É um sentimento único do primeiro amor. Pode ser rápido ou pode te acompanhar por muito tempo. Cabe a você controla-lo para que não acabe estragando sua relação com o rapaz.

    — Meu amor é destrutivo então? – Hilda queria ter certeza de que todas as suas dúvidas e inseguranças fossem sanadas, ainda que estivesse claro na sua cabeça que estava começando a cultivar sentimentos por Hilbert, não queria se precipitar e estragar tudo. Prezava pela amizade que cultivara nessas semanas.

    — Depende de como você externa ele – Havana parecia uma especialista falando. – Se você o proibir de fazer coisas ou agir de forma estranha com ele porque acha que isso é o certo, então você vai colocar tudo por água abaixo. Mas se você respeita o espaço dele e ele o seu, e você transformar esse amor em mais carinho e dedicação, tenho certeza que mesmo se ele não retribuir da mesma forma, irá ser extremamente fiel e dedicado a você.

    — Eu deveria me confessar? – a menina refletiu.

    — Eu acho que no momento, você deveria se conhecer mais antes de depositar muitos sentimentos em outra pessoa – riu a mãe. – Não se preocupe, no momento certo, você saberá como agir. Você é uma Foley, nós sempre sabemos como nos virar.

    Hilda riu e bocejou. As duas então organizaram a bagunça deixada no chão e deitaram juntinhas na cama. A menina se lembrava de dormir grudadinha na mãe quando mais nova, era uma sensação de conforto e proteção que nem todos os cobertores, travesseiros, espiadas no armário e embaixo da cama a procura de monstros e a luz do corredor acesa poderiam oferecer. Havana ajeitou o cobertor rosa bebê, pronta para finalmente dormir.

    — Boa noite, meu amor – disse a mais velha com a voz baixa.

    — Mãe...

    — Hm?

    — Aproveitando que estamos... falando sobre mim – ela desviou um pouco os olhos azuis, evitando contato visual, como se tivesse medo. – Você nunca me falou quem é o meu verdadeiro pai...

    O silêncio tomou conta do quarto. A matriarca havia se preparado para todo tipo de conversa, desde perguntas infantis como “Por que o céu é azul?”, até para as perguntas sobre as dúvidas de Hilda na escolinha, a primeira menstruação, o primeiro amor, até mesmo para futuras perguntas que viriam naturalmente. Mas aquela maldita pergunta nunca a deixava confortável. Ela não sabia o que responder, sua única alternativa era sempre mentir. Que desculpas daria a uma menina de quase 15 anos que já estava sabendo quase tudo sobre a vida?

    — ... Ainda é cedo para dizer – ela respondeu, decepcionada por repetir uma desculpa usada milhares de vezes.

    — É sempre assim – sussurrou a filha, igualmente decepcionada. – Eu só queria ter o direito de saber. Quem ele foi? Ele morreu? O que ele fazia? Por que eu nunca o conheci? Ele me odiava? Ele te bateu?

    — Hilda, no momento certo...

    — Eu só queria saber. Do nada você aparece com um cara novo e se dá super bem com ele e eu nem posso saber se ele é bom ou não porque eu nunca soube quem era o meu pai biológico.

    Menina esperta. Foi o que pensou Havana. A loira então abraçou a menina e se manteve em silêncio, sinal de que toda aquela conversa deveria se encerrar. Hilda estava se afobando e queria conhecer tudo do dia da noite. Mas ambas sabiam que as respostas vinham com o tempo.

    A menina suspirou, cansada e finalmente pegou no sono.


    { 7 comentários... read them below or Comment }

    1. Castelia, a Grande Metrópole de Unova! Arrisco dizer que a última estadia da temporada nessas cidades são sempre as mais marcantes da fic, então espero muito desse final. Você planejou esse reencontro por tanto tempo que não pude deixar de me emocionar, a Havana dando as caras, a entrada do Clay e os preparativos para a festa, é ótimo ver todo mundo reunido pela primeirvez! Eu adorei a forma como você foi conduzindo tudo, e isso só me faz sentir mais a saudade das reuniões de família.

      Eu não me desapontei com o Clay! Todo o background dele já ser divorciado, a forma como o acusavam de só se preocupar com trabalho e o dinheiro. E aí vem aquela surpresa de bater os olhos em alguém e ficar meio desconfiado se rola ou não alguma coisa kkkk E eu gosto da maneira como nem sempre é aquilo que a gente espera, conhecemos pessoas novas que mudam tudo, que casalzão da porra kkkk E mesmo assim, vc ainda soube mesclar bem com toda a conversa sobre a busca deles pelos fragmentos e o fato do Clay ser um escavador também. Parece que NPU chegou para me fazer gostar de todos os líderes que antes eu não dava muito valor!

      A referência de Matéria aaaaa ♥ E que momento precioso da Hilda com a mãe conversando, eu gosto da forma como vc lida com aquele ciúminho e fato dela temer que esteja sendo ruim para o Hilbert, mas sem parecer que o está sufocando. São momentos como esse que lidam com sentimentos tão puros que me faz sentir falta das fanfics. Eu amo esse cotidiano, muitas vezes sem grandes pretensões, mas que nos fazem embarcar em uma viagem no tempo para dias mais simples.

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      1. Yoo Canas

        De volta a onde tudo começou :3 É muito bom ter esses locais de checkpoint, tentei ao máximo colocar nos lugares para dar essa sensação de acolhimento, tanto que raramente a gente viu eles dormirem por aí ahsuahusa

        É muito bom como esses líderes de ginásio estão surpreendendo kkk Eu juro que eu mesma me desafiei a trabalhar com eles mesmo eu não sendo apaixonadas por eles, eu queria aproveitar o que a região podia me oferecer. E chega num ponto que você quer trabalhar fora da sua zona de conforto.
        Eu nunca tive um momento assim na minha vida, mas eu sempre tento imaginar as reações, e quando vc conhece seu personagem, sabe como ele reage. Mas eu amo de paixão Havana e Clay.

        MATÉRIA, ALWAYS MATÉRIA <3 Essa conversinha é muitooooo preciosa, apesar da Havana ser bem liberal, ela se preocupa com a sua filha :3 E é muito legal que mesmos distantes, a Hilda sabe que pode contar com os conselhos da dona Havana
        Foi bom escrever esse capítulos, ele ia ser curto, mas quanto eu vi, ele dominou um capítulo só pra ele ahsuhau

        Obrigada pelo comentário

        See ya

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    2. Oi, Star

      Finalmente voltando a comentar.
      Bem, eles voltaram para o ponto de início. o Hilbert tinha 8 insígnias na ultima vez e agora sø tem 2. Menino Hilbert tá regredindo, coitado.

      Gostei que mesmo que o momento seja bem mais impotante para a Hilda e um pouco pro Hilbert, vc fez um diálogo muito bom do Jackson com o Clay.

      Festa de quinze anos, não esperava por esse plot. Pelo visto vamos ficar pela cidade por algum tempo.
      Hilda querendo saber quem é seu pai. Eu também, mas tô achando que no final não vai ser alguém "importante". Veremos.

      E é isso, até o próximo capítulo!

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      1. Yoo Alefu

        Bem-vindo de volta <3
        Essa matemática ta estranha haushuah SOU DE HUMANAS, ALEFU, have mercy ahsuahushu

        Obrigada, Alefu! Eu adorei demaaaais esse dialogo com o Jack e o Clay, fico feliz demais por vc ter gostado <3

        É a coisa mais inusitada numa fic de Pokémon haushuashua TE JURO QUE VAI DAR BOM!

        Obrigada pelo comentário

        See ya

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    3. Oi oi Star, eu sempre acabo demorando e esquecendo parte do que eu ia comentar, mas vamos nessa.
      Apesar desse capítulo não ter tido muita ação, gostei da maneira como você desenrolou o capítulo, principalmente a introdução do Clay à história e a relação dele com o Jackson.
      Mas acho que todo mundo que leu o capítulo vai concordar comigo que a parte mais legal foi a conversa da Havana com a filha. Foi um momento muito simples que a gente geralmente não dá valor em colocar, mas tenho certeza que foi extremamente importante para a personagem, afinal, ela é só uma menina de 14 anos. Gostei muito do conselho da Havana principalmente porque ela cumpriu não só o papel de mãe, como o de amiga, conversando com a Hilda como igual ao invés de reprimir os sentimentos da garota. Foi uma cena linda de se ver.
      Acho que é isso. Desculpa pelo comentário curto. Logo apareço nos próximos caps. Abraços!

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      1. Yoo Carol

        Desculpe a demora <3
        Eu tenho uma insegurança ao mesmo tempo que amo esses capítulos pq diálogos são minha paixão como escritora. É sempre uma alegria ver que os leitores se sentem bem com esse tipo de capítulo
        Amo o Clay nesse capítulo <3
        A Havana explicando sobre amor pra filha é tudo que a gente precisava pra acariciar nosso lado sem afetividade parental hausahushuashu CHOREMOS.
        A Hilda é adolescente a Havana deve se sentir mal por nunca estar perto, mas é lindo ver que mesmo distante, as duas se dão tão bem <3

        Obrigada pelo comentário Carol

        See ya

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    4. Capítulos simples com slice of life bem gostosinho para mim estão sempre entre os melhores. Dialogo entre a Hilda e a mãe me emocionou bastante de tão real que ele foi.

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