• Thursday, April 8, 2021

     

    Hilbert só acordou quando o sol começou a incomodar. Adorava dormir em ambientes confortáveis e frescos, e a julgar pelo luxo do estilo de vida da família de Hilda, não era de impressionar ao ver que o até o quarto de Oliver tinha ar-condicionado, naquele verão era tudo que ele precisa que nem se importou em acordar meio tarde. Sentou-se no colchão e se espreguiçou, depois, começou a olhar em volta, notando o pequeno Oliver em sua cama escrevendo em um caderno enquanto Jackson estava no colchão ao lado, focado em seu celular.

    O menino se limitou em dar bom dia a todos presentes no quarto e se levantar, caminhando até a porta para alcançar o banheiro, quando abriu o objeto de madeira e adentrou o corredor, quase soltou um berro ao ver tanta gente na sala da casa. Três dessas pessoas eram Maisy, Havana e Hilda, que estavam paradas em cima de pequenos palanques macios enquanto outras pessoas faziam a medidas de seus corpos. A mãe da garota analisava a pilha de tecidos trazidos pelos costureiros e estilista, querendo escolher a dedo o melhor e o perfeito.

    Hilbert olhou para Ben que estava na bancada da cozinha, tomando uma xícara de café enquanto observava as mulheres, completamente acostumado. Ele olhou para o garoto e riu, falando baixo:

    — Quer café? – ao receber uma resposta negativa, ele continuou: - Vai ser um longo dia, eu me manteria abrigado ou fugiria – riu.

    — Obrigado pela dica – o treinador voltou para o quarto, um pouco assustado.

    — Bem-vindo ao clube – riu Oliver ao ver o garoto entrar.

    — Cara, o que tá acontecendo? A gente precisa salvar a Hilda – disse o de cabelos castanhos.

    — Acredite, tá tudo bem com ela – riu Jackson, bocejando. – Vamos evitar aparecer por lá ou seremos os próximos.

    Hilbert desviou sua atenção para o garoto em sua cama, mais precisamente para o caderno em que ele escrevia loucamente, parecia ser uma espécie de carta endereçada por uma garota chamada Yasmin.

    — Sabia que é feio ficar bisbilhotando a carta dos outros? – disse Oliver, ao notar a presença do mais velho.

    — Como uma criança tem uma letra tão bonita? – comentou, inocente.

    A criança pigarreou, com vergonha.

    — Eu sei que parece letra de menina.

    — Letra de menina? Tá brincando? Eu achei uma letra muito maneira, estou com inveja! – ainda curioso, ele perguntou: - Quem é Yasmin?

    — Uma... garota – respondeu o outro, tímido.

    — Obrigado, Sherlock Holmes – ironizou Hilbert.

    Dá um tempo pro menino, Hilbert – disse Vic, brincando com Angel, a Lillipup. – Ele só tá apaixonado.

    — NÃO TÔ NÃO!

    — É o que um apaixonado diria – apontou Jackson.

    — Ela é da minha turma de escoteiro – explicou Oliver, envergonhado, visto que não teria outra alternativa, já que estava preso no quarto com eles. – Ela é divertida e inteligente. Ela tá há mais tempo que eu, então me ajudou bastante.

    — Oh, então você quer retribuir isso através de uma cartinha? – questionou o arqueólogo.

    — Também – ele encolheu os ombros, trazendo um pesar na voz. – É que eu fiquei sabendo que ela vai se mudar para uma região chamada Decolore, que é muito longe daqui – e abaixou a cabeça.

    Hilbert e Jackson se entreolharam, comovidos com a sinceridade e paixão daquela pequena criança que estava passando pelo primeiro amor da infância.

    — Você conseguiu escrever alguma coisa? – o arqueólogo se aproximou. – Seja sincero e escreva tudo que você gosta nela e de como você vai sentir falta.

    — Mas isso é o suficiente? – o menino olhou para os dois mais velhos como se procurasse conselho dos sábios.

    — Acho que tudo que vem do coração é mais do que suficiente – refletiu o treinador de boné vermelho. – Você pode fazer algo que fique com ela para que ela sempre se lembre de você.

    — Tipo o quê?

    — Alguma coisa importante que ela nunca vai esquecer.

    A porta do quarto se abriu e Benjamin colocou metade do corpo para dentro.

    — Ei, vocês três. Acho que vai ser muito chato se ficarmos enfiados dentro de casa – riu o homem. – Vamos deixar as meninas se divertirem sozinhas e vamos dar uma volta. Castelia sempre tem alguma coisa nova pra fazer.

    — Eu topo se o Vic não roubar Casteliacones – debochou Hilbert.

    Haha! Você é uma piada, Hilbert.

     

    Andar pelas ruas da metrópole Castelia City dentro de um carro dava uma sensação diferente, tudo parecia mais rápido e frenético (se é que isso era possível). Ben não escolhera um destino específico, queria apenas aproveitar o dia com os novos visitantes, então levou eles para conhecer enormes shopping, livrarias, lojas de jogos até resolverem dar uma parada para degustarem de um bom e tradicional fast food.

    Sentados em uma mesa da praça de alimentação, Hilbert não conseguia acostumar seus olhos com o tanto de informações, luzes e pessoas circulando. Por ser do interior, estava acostumado a processar uma coisa de cada vez. O lanche que pediria viera com tantas parafernálias e produtos embalados que ele mal sabia por onde começar, Jackson até achou engraçado, já que assim como Ben e Oliver, estava acostumado com aquele ritmo que mal levantava a cabeça para perceber melhor sua volta. Talvez fosse um mal de gente da “capital”.

    O mais novo do grupo comia seu lanche com pouca animação já que a carta, Yasmin e como dar um bom presente de despedida ainda lhe perturbavam a cabeça. Até que seu pai notou tamanha angústia.

    — Oliver, esse é seu lanche favorito, você costuma devorar ele tão rápido.

    — D-Desculpe, papai – o garoto suspirou. – Estou com pouca fome.

    — Você tá doente? – o mais velho colocou a mão na testa do menino ao seu lado, preocupado. – Sua mãe me mata se eu te levar doente pra casa – ele riu, pra descontrair.

    — Tô bem.

    — Conta pro seu pai, Oliver – incentivou Hilbert. – Ele provavelmente te dará uma super ideia. É o que os pais e mães fazem.

    — Pode me contar qualquer coisa, garotão – sorriu Ben. – Se eu não souber como responder, tenho certeza que Maisy saberá – riu.

    Oliver contou toda a história que dissera mais cedo para os outros jovens, dando alguns detalhes a mais de como a garota era extremamente descontraída e despreocupada sobre colocar mãos na lama ou se sujar, assim como uma exímia escoteira deveria ser. Também contou que ele tinha o mesmo nome do irmão mais velha dela e como isso a fizera rir.

    Então, contou sobre a mudança repentina e como ele queria dar algo para ela, uma carta e algum objeto que a fizesse lembrar sempre dele. O sabor do primeiro amor da infância era tão doce quanto o millshake que Oliver bebia.

    — Já pensou em fazer uma coisa artesanal? Você sempre gostou de massinhas de modelar – sugeriu Ben. – Biscuit é mais resistente, você pode modelar um Pokémon que ela goste ou algum bem fofo ou bonito.

    — Tipo uma action figure? – questionou o filho, bem curioso.

    — Isso aí – sorriu o mais velho. – Só que como você vai fazer a mão, é mais especial já que será de coração e fruto da sua dedicação. Um presente que você e olhe e sinta vontade de ter também, esse com certeza é o melhor tipo que você pode dar.

    Depois de toda aquela filosofia inspiradora, os três tiveram uma lâmpada acesa em suas mentes.

     


    Enquanto isso, o apartamento da família Foley parecia uma festa das cores com centenas e mais centenas de tipos de tecidos que Hilda mal sabia o nome da maioria. Invejava muito sua mãe por ela falar com convicção qual era o melhor e qual era o pior, qual combinavam melhor com a estação, com a cor de pele, o tipo de corpo e milhares de outros requisitos que nem os próprios estilistas pareciam acompanhar a tal animação de Havana. A garota sorria ao ver tanta empolgação.

    — Ok, filha, deixa eu ver esse tom de tecido em você – a loira se aproximou, envolvendo-a com o enorme pano preto, até que sua atenção se desviou para a mancha avermelhada no pescoço da mais nova, efeito do dia retrasado onde um infeliz incidente com Hilbert deixara sequelas. A mãe quase deu um pulo. – Minha santa Primarina! Hilda, o que é isso no seu pescoço? Você se machucou? Alguém te machucou?!

    A garota, por instinto, colocou a mão contra a pequena mancha, nervosa. Não queria se dar ao trabalho de contar o que aconteceu apesar de confiar na mãe e na tia, porém, existiam pessoas no ambiente que mal conhecia. Não se tratava só dela, se tratava de Hilbert também.

    — Eu acho que minha passagem pela Pinwheel Forest deixou meu pescoço sensível pela umidade – era uma péssima desculpa, mas torceu para que sua matriarca acreditasse. Tentou completar a história: - Mas eu juro que tá tudo bem. Digo, nem dói ou coça. Eu prometo que se piorar, eu irei avisar vocês. Estarei nas próximas semanas por aqui então não tenho como mentir, né?

    Havana suspirou e colocou as mãos na cintura. Sua filha já não era mais uma criança indefesa, se machucaria e levantaria novamente quantas vezes preciso, e estava feliz por ter ensinado ela como estar pronta para essas situações. Não estava em posição de cobrar nada da filha, já que estava “escondendo” seu relacionamento com Clay, provavelmente, assim como ela, a filha também encontraria o tempo certo para contar a verdade.       Resolveu mudar de assunto para evitar ainda mais tensão.

    — Então faremos um vestido com gola alta, só por prevenção – riu a mulher. – O que acha?

    Hilda assentiu.

    — Acho uma excelente ideia.

    Entre outras conversas de como seria a cor, o modelo e o comprimento do vestido das três, o assunto voltou para um tópico da noite passada.

    — Filha, precisa avisar Hilbert sobre sua escolha – disse Havana.

    — Hilbert vai ser o príncipe dela? – questionou Maisy, interessada. – Acho uma excelente escolha.

    — E-eu vou avisar assim que ele chegar – Hilda se sentou no sofá, nervosa só de pensar. Hilbert poderia muito bem recusar e deixa-la de mãos atadas.

    — Aliás, onde Ben levou eles? – questionou a mãe de Oliver. – Já fazem algumas horinhas.

    — Maisy como sempre, sendo a maior mãe coruja que eu conheço – riu a loira.

    A porta do apartamento se abriu e Oliver foi o primeiro a entrar com uma sacola em mãos, correndo direto para seu quarto mais animado do que nunca, sua mãe franziu a testa, observando a empolgação do menino. Logo depois Hilbert e Jackson, juntamente com Ben, que fechou a porta, apareceram.

    — O que aconteceu com o Oliver? – questionou a esposa para seu marido.

    — Ele teve uma ideia de presente para a amiguinha – sorriu o homem, pendurando seu casaco e se aproximando. – Você vai escolher um vestido azul, né?

    Maisy o observou e deu um sorriso leve.

    — No mesmo tom da primeira festa que fomos juntos? Com certeza – ela depositou um leve beijo no homem, que retribuiu com o mesmo carinho.

    Hilda levantou-se do sofá e timidamente se aproximou do treinador de boné vermelho, completamente nervosa. Ensaiando algumas falas para si mesma, parou estática e recebeu logo em seguida a atenção dele.

    — O-Oi Hilda – cumprimentou o amigo, meio confuso com a expressão da garota.

    — E-eu preciso... falar com você – a voz dela saiu incrivelmente falha.

    — Pode falar – sorriu o menino.

    — É que-

    — Hilbert! Jackson! – Oliver surgiu de seu quarto. – Venham me ajudar, por favor!

    — Ah, ok! – confirmou Hilbert, determinado. Ele colocou a mão no ombro da amiga e sorriu. – A gente se fala depois, Hilda. Vem Jack.

    A dupla de jovens se dirigiu até o quarto do mais novo da casa e Hilda quase gelou e travou de tanta vergonha. Acumulara tanta coragem que fora desperdiçada em questão de segundos. Ela olhou frustrada para Havana que soltou um sorriso reconfortante como se dissesse “vai ficar tudo bem”.

    No dormitório de Oliver, ele se sentou em sua escrivaninha de atividades escolares e depositou todas as massinhas que tinha comprado na mesa e as encarou. Dezenas de cores prontas para serem utilizadas, ansiando para serem esculpidas e formarem o objeto mais incrível do mundo. Hilbert e Jack observavam o garoto, esperando instruções para o plano.

    — O que vamos esculpir? – questionou o treinador, por fim.

    O silêncio predominou e os dois mais velhos se entreolharam, sem saber o que fazer, foi quando o mais novo virou-se para eles, com uma feição de desespero, quase chorando.

    — O que vamos esculpir? – perguntou, como se não tivesse ouvido a questão anterior.

    — V-Você não tem ideia? Que Pokémon ela gosta? – suportou Jackson, tentando manter a calma do garoto.

    — E-eu nunca cheguei a perguntar – a criança colocou as mãos na cabeça, prestes a surtar.

    — Faz um Pokémon famoso então – sugeriu Hilbert. – Algum que todo mundo goste. Que seja popular, fofo e incrível.

    Vic pigarreou e pousou na mesa, completamente convencido, colocou as mãos sobre o quadril e sorriu.

    Por sorte, vocês têm um Pokémon que é muito popular, fofo, incrível – ele sorriu. – E modéstia à parte, todo mundo gosta de um Victini.

    Os três humanos observaram aquela criatura. Hilbert foi o primeiro a tirar uma Pokéball da bolsa e deu de ombros.

    — Na verdade, eu ia sugerir que usássemos a Mirsthy como modelo – disse o jovem. Jackson, por sua vez, pegou sua Cleffa no colo.

    — E eu iria sugerir a Bijou – confessou o arqueólogo, sorrindo sem graça.

    Ninguém me respeita nesse grupo – resmungou o Victini.

    No final das contas, o Pokémon mítico fora escolhido como modelo para virar uma delicada escultura feita completamente a mão. Infelizmente, habilidades manuais não era um dos fortes de Oliver, apesar de sua escrita ser impecável, por isso, a fabricação daquele simples objeto tomou muito tempo dos três humanos e do Pokémon que estava sentindo seus músculos travarem após tanto tempo parado com a sua pose deveras engraçada.

    O mais novo do grupo recuou para admirar sua obra e, contrariando as escritas antigas, ele não estava nem um pouco satisfeito, suspirou e abaixou a cabeça. Jackson encarou Hilbert, os dois mais velhos tentaram pensar numa forma de animar a criança.

    — Eu diria que está... – o treinador de boné buscou a palavra certa. – Original.

    — Original é foda – debochou o arqueólogo. – Com certeza ela vai gostar, Oliver.

    Vic se espreguiçou e se aproximou para analisar, já que ninguém era melhor que ele para analisar uma cópia sua. Repousou no ombro do garoto de cabelos castanhos e encarou aquela... escultura.

    Meu amigo... – começou o Victini. – Eu não sabia que existia uma forma de Galar minha. Parabéns, nota 0 – debochou o Pokémon, sem qualquer filtro.

    Hilbert agarrou a criatura mítica pelas orelhas laranjas, irritado.

    — Se você não vai falar nada útil, então não abre a droga da boca!

    Enfermeira Joy, corre aqui! – exclamou Vic, assustado.

    Maisy entrou no quarto com a leveza de uma donzela, sorrindo gentilmente ao ver o filho e os amigos de sua sobrinha, ela se aproximou.

    — Foi direto pro quarto e nem me deu oi, bobinho? – a matriarca beijou o mais novo na bochecha. – Como foi o passeio com o papai? – questionou ela, antes de notar a escultura sobre a mesa. – Oh, o que é isso?

    — A-ah! Não é nada! – Oliver se desesperou, tentando esconder o objeto com seus braços e mãos.

    — É um Victini? – a mãe ignorou, rindo com a timidez do filho. – Está tão lindo. É um presente?

    O menino encolheu-se tanto que parecia que iria desaparecer se fosse possível, assentiu levemente, evitando prolongar a conversa. A mais velha sorriu e manteve o tom gentil.

    — Seja para quem for, espero que goste – sorriu. – Mas agora é a hora do jantar e você ainda não tomou banho.

    — Mãããe! Não precisa falar isso na frente dos meus amigos! – protestou Oliver, completamente vermelho como um pelo de Darumaka.

    Se preocupa não, dona tia-da-Hilda, faz uns cinco dias que o Hilbert não sabe o que é um banho – debochou o Victini.

    — Essas orelhinhas devem valer uma boa grana – o treinador olhou com um olhar sarcástico para o companheiro Pokémon.

    Gente, é sério, chama a Enfermeira Joy – Vic tremeu-se todo.

     

    A madrugada de Castelia era a mesma de sempre: iluminada e barulhenta. Os carros no asfalto pareciam querer disputar ruídos sonoros contra os bares e baladas lotadas de pessoas, ansiosas por um pouco de diversão noturna. Apesar de tanto barulho, no apartamento da família Foley, um silêncio reinava que era possível ouvir as respirações fundas dos moradores e o funcionamento automático dos eletrodomésticos. Na sala, Hilbert era o único despertado, usando de uma pequena luminária que Ben usufruía para ler um jornal ou um livro, para iluminar a pequena figure de biscuit modelada por Oliver, tentando adicionar alguns detalhes, evitando mudar a forma original, já que o garoto realmente tinha dado seu melhor e merecia destaque, mas como amigo, ele sentia que podia dar essa força.

    Mal notou quando Hilda apareceu com seu baby-doll delicado de cor rosa. A menina percebeu a presença do companheiro na sala e instintivamente ajeitou suas mechas castanhas em um rabo de cavalo alto e ajeitou suas madeixas laterais em frente a um espelho no corredor. Começou a achar ridículo aquilo, passara dias dormindo e acordando com Hilbert nas rotas com os cabelos bagunçados e completamente não apresentável, como de repente estava tão preocupada em como iria aparecer para seu amigo?

    Se aproximou na ponta dos pés e colocou os braços atrás das costas, tímida.

    — Caiu da cama? – questionou ela, se odiando por perguntar algo tão idiota.

    Hilbert olhou para trás, surpreso por ter mais alguém acordado. A leve luz do abajur deixava o rosto do garoto iluminado, o que fez Hilda corar, mas decidiu prosseguir com a conversa.

    — Eu vim tomar água, não imaginava que teria alguém acordado há essa hora também. Tá tudo bem? – perguntou, sentando-se no sofá ao lado dele.

    — Tá sim – ele exibiu a pequena figure do Victini para a amiga. – Oliver que fez, estou dando uma melhorada.

    — Quantas habilidades secretas você tem? – riu a garota, apoiando os cotovelos nos joelhos e a cabeça nas mãos, observando a pequena obra de arte.

    — Eu gostava de massinha de modelar, acabava sendo a única brincadeira que eu podia fazer sozinho – contou ele, meio envergonhado.

    — Sinto muito...

    O silêncio cobriu o ambiente, Hilbert depositou o objeto em uma mesa de canto próxima e suspirou, era o máximo que podia fazer por Oliver e esperava que ele tivesse sucesso em seus planos. Bocejou levemente e manteve seu olhar fixo no chão, parecendo sério.

    Hilda ajeitou a postura e fez barulhos com a boca na tentativa de se entreter, até que sentiu que aquela era a oportunidade perfeita para fazer seu convite.

    — Hilbert... – ela começou, ainda que achasse inútil chamar a única pessoa naquele ambiente. – Eu preciso te fazer um convite. Digo, não é pra ser tão formal assim, mas é algo importante... para mim – suas mãos começaram a suar. – Mas eu acho que você vai se divertir também. É pra minha festa de 15 anos, sempre tem a dança principal e essas coisas – ela riu, completamente nervosa. – É claro que eu não danço sozinha, eu preciso de alguém pra me guiar. Não que eu não saiba dançar! Você já me viu até cantando, mas é que eu preciso de alguém pra me acompanhar – estava começando achar aquele discurso tedioso. Just ask, Hilda. ­– Eu queria saber se você não quer ser meu prín-

    O corpo de Hilbert pesou contra o braço e ombro da garota ao lado que gelou e corou imediatamente, não estava esperando aquele tipo de resposta. Mas ela nem terminara a pergunta, qual seria o significado daquele gesto? Ao olhar para o lado, se deparou com o rosto sereno e sonolento do amigo, que dormia de forma pacífica e cansada, com uma expressão de dever cumprido. Hilda suspirou, frustrada.

    — Boa noite – disse ela, em tom baixo.


     

    Oliver nunca se sentira tão nervoso na vida. Mas não é como se ele tivesse muita idade para sentir muitos anseios, mesmo assim, sentia que seu coração iria sair pela garganta. Cogitou fugir, mas Jackson, Hilbert e Hilda, que estavam escondidos atrás de uma moita daquele parque, pareciam dar uma pressão psicológica que travava o menino. A garota havia sido informada sobre o plano do primo algumas horas antes e resolveu acompanhar de perto, empolgada.

    Finalmente, Yasmin apareceu usando um delicado vestido branco que contrastava com os cabelos negros penteados em uma delicada trança, ela se aproximou do amigo quando o viu, ajeitando a mochila em suas costas.

    — Oi, Oliver – ela cumprimentou, com um sorriso meigo. – Tudo bem?

    — Y-Yasmin. O-olá – o garoto respondeu, nervoso, segurando o embrulho em suas mãos. – E-estou bem. Você?

    — Estou bem também.

    E assim o silêncio se fez.

    Na moita, o grupo observava um pouco impaciente.

    Me admira como a conversa é tão profunda – comentou Vic.

    — Ele só está nervoso – retrucou Hilda.

    — O que a gente faz se ele sair correndo? – questionou Jackson.

    — A gente ri, ué – respondeu Hilbert.

    — Que falta de confiança vocês dois! – bronqueou a menina, voltando a atenção para o primo. – Força, Oliver.

    Yasmin balançou o corpo, ainda meio confusa com o silêncio. Na verdade, estava mais curiosa com o pequeno embrulho nas mãos de Oliver do que outra coisa.

    — O que é isso? – questionou, apontando.

    — O-oh – o menino olhou para o objeto, como se tentasse recordar. – É um presente.

    — Sério – a garotinha sorriu, animada, se aproximando. – É pra mim?

    Oliver recuou rapidamente, tímido com a reação da outra.

    — N-não!

    Yasmin parou, desfazendo o sorriso.

    — Oh, entendo – ela recuou, um tanto desanimada.

    Oliver quase entrou em desespero achando que tinha jogado tudo no lixo com aquilo. Então estendeu o embrulho, nervoso.

    — É-é pra você!

    — Mas você disse que não era pra mim – a outra tombou a cabeça para o lado de leve, estranhando.

    — Eu menti.

    — Por que?

    — Vai aceitar o presente ou não?

    Yasmin pegou o presente, rindo de modo fofo.

    — Obrigada – com cuidado, a criança desembrulhou e seu olhos claros brilharam quando viu a escultura do Victini perfeitamente esculpida. – Uau! Um Victini! – ela sorriu, animada.

    — Você gostou?

    — Eu adorei!

    Oliver se sentiu aliviado e confiante, se aproximou e começou a explicar:

    — Eu mesmo fiz com biscuit, eu tive ajuda, mas fiz quase tudo.

    — Você fez? – sua companheira parecia impressionada. – Uau, Oliver, você é muito criativo!

    Hilda e seus companheiros sorriram com a inocência daquelas crianças, apreciaram o momento e sentiram um aconchego no coração. O primo da garota olhou de relance para os três e recebeu um aceno positivo. Confiante, ele encheu o peito.

    — Eu gosto de você, Yasmin – apesar da confiança, o menino sentiu o rosto queimar e as pernas tremente.

    Hilda cobriu a boca surpresa, admirada com tamanha coragem. Invejara o primo por ser mais direto do que ela em seus sentimentos, olhou de relance para Hilbert, meio envergonhada. O treinador não parecia ter a mesma reação de sua companheira, na verdade, ele parecia indiferente, porém, feliz pelo jovem. Já Jackson, observava Hilda com uma expressão de “eu sei exatamente o que você tá pensando”, o que fez a menina se encolher de timidez.

    Yasmin olhou para Oliver, coradinha e assentiu. Naquela idade, tudo sobre o sentimento amor era confuso e novo, não havia juras de amor eterno ou toques físicos, era só um sentimento puro e honesto que fazia eles quererem ficarem próximos. E uma repentina mudança era tudo que partia o coração daqueles dois.

    — Eu não queria me mudar. Gosto de Unova e de ficar perto de você – confessou a garota.

    — Mas você precisa. Seus pais provavelmente sabem que lá é um lugar legal. Um dia a gente volta a se ver – disse Oliver, com um sorriso. Nem parecia o mesmo Oliver de minutos atrás.

    — Promete?

    — É claro. E esse Victini é nossa promessa.

    Yasmin sorriu, abraçando o presente.

    Hilda segurou o choro na garganta, emocionada, olhou de relance para Hilbert. Era hora de criar coragem também. Jackson percebeu o clima e se afastou um pouco, querendo manter a privacidade dos dois. Com um toque gentil no ombro do amigo, ela começou:

    — Hilbert.

    O treinador olhou para ela e estranhou as orelhas vermelhas.

    — Esse é meu nome – riu de leve.

    — P-Posso conversar com você?

    — Já está, na verdade – foi a vez do companheiro a começar a ficar nervoso.

    — É-é sério! – ela movimentou as mãos, agitada.

    — Não vai querer cobrar pelos $3000 que eu gastei em Accumula Town, né?

    — O quê?! Claro que não, seu idiota! – exclamou a outra, chamando a atenção até de Yasmin e Oliver.

    — Jackson, o que tá acontecendo com ela? – recuou Hilbert, com medo.

    — Isso é problema pra você, Hilbert – riu o arqueólogo.

    Hilda se aproximou dele, segurando as mãos do amigo, demonstrando um pouco mais de confiança e coragem. Hilbert também não conseguiu conter a timidez ao sentir aquela proximidade, daquele jeito, sua amiga parecia um anjo de tão delicada.

    — V-vai me ouvir agora sem gracinhas? – questionou a jovem.

    O de boné assentiu, olhando fixo para os olhos azuis dela.

    — Ok, Hilbert – ela respirou fundo, mas o nervosismo voltou a tomar conta de seu corpo que a fez gaguejar. – E-eu... Eu... Eu...

    — Você...? – o companheiro tentou incentivar.

    Antes que o convite saísse por sua boca, a sensação e o barulho de chamas dominaram seu corpo. Um fragmento estava próximo.

    — Estou sentindo a presença de um fragmento da Light Stone – confessou, ainda que não fosse exatamente aquele o plano inicial.

    — O quê? Onde? – Jackson entrou na conversa, olhando em volta.

    Hilda se concentrou e fixou seu olhar para a saída do parque, onde um jovem rapaz caminhava rua abaixo, concentrado em seu celular. Em sua orelha esquerda, um brinco enfeitava seu rosto. Como pingente, uma lasca da pedra de Reshiram.

    — No brinco daquele rapaz! – apontou a morena.

    — E ele está indo embora – indicou Hilbert, ao ver que o homem parou sua caminhada para adentrar um táxi.

    — Então vamos atrás dele! – exclamou Jackson, correndo, sendo seguido por Hilbert e Hilda. A garota olhou para trás, se direcionando ao Victini:

    — Vic, leva o Oliver e a Yasmin pra casa! A gente volta logo!

    É o quê?!

    Mas antes que ele pudesse protestar, o trio já tinha sumido parque afora atrás daquele objeto importante e valioso.

        



    { 7 comentários... read them below or Comment }

    1. Meu maior medo é acordar e encontrar um monte de mulher na sala perguntando se eu quero provar uma pilha de roupas KKKKKKK Isso é tão prévia de aniversário ou casamento!

      OLIVER MERECE SER PROTEGIDO! Que capítulo adorável, o Vic foi a estrela! O bicho é de uma ousadia tão grande que ele nem tá na Pokédex da região direito, botaram ele como o Número 0 pq até esqueceram que ele existia kkkkkkk Eu achei muito real essa ideia de montar um boneco, e quando chega a hora de por a mão na massa é um desastre kkkkkk Nesses momentos sempre surgem os pais, irmãos mais velhos ou alguém para dar uma consertada e salvar o dia, por isso amei a cena do Hilbert à noitinha fazendo isso e a forma como ele diz que brincar de modelar coisas com barro era a única brincadeira que ele tinha.
      Oliver e Yasmin é de uma pureza tão fofa, eu espero que o Grovy tenha a chance de explorar isso em Decolore também. Pode levar alguns anos na vida real, mas não se esqueçam deles!

      Você fez um belo gancho ali no final, acho que esse pedido da Hilda ainda vai se estender por um tempinho e gerar aquela tensão kkk Eu gosto desse preparo que você está dando para a festa, os 15 anos é a data mais aguardada pelos jovens. Essa festa vai ser inesquecível ♥

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      1. Yoo Canas

        CARA, A MELHOR PARTE DE UMA FESTA É FICAR PLANEJANDO ROUPA HAUSHUASHU PQ É SEMPRE UMA BRIGA, A GENTE QUER SER PERFEITA E CRIA ALTAS EXPECTATIVAS

        Eu me inspirei muito em um capítulo de Inuyasha, era pra ser um fillerzinho, mas ele tem tanta coisinha importante que me faz amar cada coisinha dele. SAUDADES DE MONTAR BISCUIT E SAIR UMA AURIA DE PERNA CURTA HAUSHUAHUS
        Oliver e Yasmin é o casal mirim mais fofo da Neo <3 Espero que o Grovy goste dela :3

        Eu adoro esse quase pedido da Hilda pq É MUITO COISA DE STAR DEMORAR PRA CRIAR CORAGEM HSUAHSUAHU

        Obrigada pelo comentário

        See ya

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    2. Oiii Star

      Foi um capítulo mais filler, mas olhe, uma protagonista que tem família, e uma família grande ainda. Pelo visto isso é muito raro no universo da Neo.
      Certo, para o capítulo. Os caras foram espionar a crianzinha, tão sem nada para fazer. E parabéns pro Oliver, ele tem muito mais coragem que muitas pessoas por aí cof cof cof eu.

      "Hilbert, hilbert!"
      "Hilbert desu"
      THIS A MOTHERFUNCKING KONSUBA REFERENCE?!

      O universo decidiu que Hilda viveria um dia em uma comedia romântica, a menina nunca consegue falar, coitada.
      O cara fez um brinco com a pedra, style. Espero que ele só não arranquem da orelha do coitada. A Hilda tem que pelo menos abrir a carteira para compensar o cara.

      Bem, é isso, até a próxima!

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      1. Yooo Alefu

        Famílias são eventos raros na Neo, Hilda tem um pouco de sorte. Burguesinha privilegiada elah ahsuahushu
        É passatempo de adolescente zoar criança. E O OLIVER TEM MAIS DETERMINAÇÃO QUE MUITO JOVEM POR AÍ HAUSAHUSHUAHU

        EU NÃO FAÇO IDEIA DO QUE É KONSUBA, MAS PROSSIGAH UASHAUH

        De stalker de crianças para assaltantes de brincos, que dia maravilhoso em NPU hausuahsuh

        Obrigada Alefu

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    3. Oi oi Star. Achei o capítulo muito fofo, principalmente a cena do Hilbert consertando o boneco do Oliver na madrugada. QUEM DIRIA QUE O CORNO TERIA HABILIDADES ARTÍSTICAS.
      Toda essa inocência do Oliver com relação ao primeiro amor nos faz recordar daqueles tempos longínquos onde também fomos apaixonados por alguém e a simples ideia de mandar uma cartinha ou dar um presente simples era simplesmente aterrorizante. Espero que o Grovy consiga de alguma forma fazer essas kids no futuro, ou pelo menos que haja alguma menção a eles nesse grande universo da Neo.
      Pobre Hilda, aposto que ainda vai sofrer poucas e boas para convidar o corno para ser seu príncipe. Vamos lá, Hildinha! Eu acredito em você!

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    4. Yoo Carol

      Sorry a demora
      Eu acho esse capítulo um belo de um descanso. Adoro capítulos onde os irmãozinhos ou irmãzinhas dos protagonistas tem um destaque pra fazerem coisas fofas. Sem contar que é uma bela oportunidade pra desenvolver os personagens
      Eu amo o Oliver e toda sua inocência, faz o amor parecer fácil enquanto Hilbert e Hilda complicam tudo
      Grovy, contamos com vc para o reencontro entre Yasmin e Oliver e queremos um final feliz <3

      Obrigada pelo comentário

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    5. PORRA COITADO DO VIC
      Querendo ser o modelo e sendo desrespeitado com uma cópia barata de fraca qualidade
      CHEGA ATÉ MIM VIC, faça pose e deixa eu desenhar vc roubando casteliacones seu lindão na sua forma mais pura

      PORRA HILDA CONVIDA O CORNO LOGO

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