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- Capítulo 26
Vic
guiava Oliver pelas ruas de Castelia, despreocupado com os olhares das pessoas,
mesmo numa cidade grande como aquela, nenhuma pessoa realmente olhava para o
lado para prestar atenção. O menino caminhava convencido após seu encontro com
Yasmin, que foi buscada pelos seus pais minutos antes.
—
Você viu como ela sorriu? – disse para o Pokémon na sua frente. – Eu acertei
demais no presente.
— Você
quase fez xixi nas calças, isso sim, garoto – Victini se virou para o
jovem. – “Esse presente é pra mim?”, “Não!” – debochou a criatura,
imitando as vozes.
—
Aquilo foi um pequeno imprevisto. Eu fui incrível – Oliver colocou as mãos na
cintura, presunçoso.
— Pois
saiba que eu mereço crédito pelo seu ato, já que parte do seu charme veio desse
meu lindo rostinho naquela estátua – não querendo perder uma guerra de
egos, Vic parou e imitou o gesto de seu adversário, observando-o.
—
Você é literalmente igual a todos os Victinis – retrucou. – O talento foi meu.
— Se
eu nem existisse, você nunca teria conquistado a garota.
—
Posso provar que sou mais incrível que você.
— Com
uma corrida até sua casa?
—
Quem perder, paga Casteliacones para o outro.
— Fechado!
Hilbert
corria na frente dos amigos, tentando não perder o carro de vista. Lá dentro, o
homem não parecia muito preocupado com a perseguição, estava mais atento e
imerso com os afazeres de seu celular do que com o mundo externo.
O
treinador desacelerou um pouco o passo, cansado. Hilda e Jackson o alcançaram,
correndo em um ritmo mais lento.
—
Por que isso parece quando fugimos da polícia naquela vez? – questionou a
garota.
—
Fugir da polícia por causa de Casteliacones é menos ridículo do que perseguir
um carro por causa de uma lasca de pedra – retrucou o menino de boné, rindo
ofegante.
—
Falando desse jeito, parece que estamos envolvidos com tráfico – brincou Jack,
rindo.
Após
perseguirem o veículo por várias quadras e atravessarem perigosamente algumas
ruas, o alívio ao ver o carro finalmente parar foi automático. Hilda colocou as
mãos no joelho, recuperando o ar.
—
Está tão quente que eu tenho certeza que vou virar um Fire-type –
comentou, ofegante.
— Eu
descobri que sou mais sedentário do que pensava – comentou o arqueólogo,
enxugando o suor na testa.
Do
táxi, enfim, desceu o alvo da operação. Agora era mais fácil de vê-lo. Seus
traços orientais denunciavam sua origem, provavelmente de Johto, sua pele era
clara e lisa como de uma boneca, o que denunciava sua vaidade em usar muitos
produtos para a pele. Seus cabelos castanhos quase pretos eram lisos e bem
penteados com um corte moderno. Suas roupas demonstravam que ele era atento a
moda, mas que precisava manter uma postura mais séria, então preferia roupas
escuras. Por fim, após checar algumas notificações em seu celular, ele entrou
em um dos prédios.
—
Atrás dele! – berrou Hilbert, recuperando o fôlego rapidamente (algum
privilégio de ser meio Pokémon) e voltando a correr.
Nem
pararam pra perceber em qual era o tipo de construção que estavam adentrando,
mas o cheiro de mel surgiu em suas narinas que eles se questionaram qual
produto de limpeza teria um cheiro tão bom. Depois da sensação do olfato, a
visão os privilegiou diversas pinturas protegidas por quadros, e estátuas
expostas em longos corredores com iluminação clara e extremamente brilhante, os
pilares de uma arquitetura antiga dava a aparência de clássico e bancos
estofados permitiam que visitantes pudessem se sentar e admirar com conforto.
Estavam em um museu de arte.
—
Oh, o Museu de Arte de Unova – comentou Hilda, que já frequentara o local
antes. – Nem reconheci quando entramos.
—
Ele pode ter ido para qualquer lugar, vamos nos separar e procurar por pistas –
disse o treinador, atento. – Jackson na direita, Hilda na esquerda e eu no
meio.
— Você
ainda assistindo muito Houndoom-Doo em casa – ironizou a garota.
O
trio se separou.
Hilda
caminhava pelo corredor prestando atenção em alguns quadros, curiosa como o
mesmo mundo era visto de forma diferente por diversos olhos de artistas de
várias épocas. Quadros que contavam indiretamente a história de Unova com
acontecimentos marcantes e pessoas importantes. Um dos que mais chamou a sua
atenção foi uma pintura de Clara, a Princesa Branca. Era diferente da pintura
da biblioteca de Striaton e mais parecida com a figura de seus sonhos.
O
artista era muito bom, já que conseguia transmitir a seriedade e a intensidade
do olhar da monarca com perfeição que até deixou a garota intimidada. A pose
ereta sentada em um trono de ouro refletia toda a realeza que um dia governara
a terra de Unova com orgulho.
—
Sempre me chamaram de carrancuda por causa do meu jeito de governar – comentou
Clara, surgindo depois de muito tempo. – Mas muita gente me achava mais
atraente e bonita por causa disso – ela suspirou, como se quisesse desabafar. –
Um bando de mentirosos.
— Bom
te ouvir de volta – Hilda comentou baixinho. – Achamos um fragmento e estamos à
procura de outro agora.
— Eu
sei – disse, meio convencida. – Eu sempre estou aqui, só não tenho paciência
pra ficar falando.
—
Poderia nos ajudar a encontrar.
— Eu
ajudo, se você consegue sentir a presença dos fragmentos é por minha causa.
—
Sempre bom falar com você – ironizou a menina.
Clara
suspirou.
—
Desculpa, eu não sou boa pra lidar com pessoas. E não é por mal – continuou a
princesa. – Vocês são sortudos de viver numa época onde é fácil mostrar a
verdade.
— As
pessoas ainda mentem muito, Clara – refletiu a jovem. – Elas usam o que
chamamos de internet para se esconderem atrás de fotos editadas e atacarem
outras pessoas.
—
Ainda assim, vocês conseguem desmascarar em poucos minutos. Na minha época, uma
mentira podia ser levada por anos, e isso destrói a sua vida – e suspirou. – É
por isso que eu sigo fielmente o princípio da verdade, não quero pessoas
iludidas.
—
Fala como se já tivesse sido iludida por algo ou alguém.
A
princesa permaneceu alguns minutos em silêncio.
—
Você lê mentes?
—
Bom, você vive dentro de mim, eu logo acabaria adivinhando – riu a menina.
— É
uma história de um triângulo amoroso. Eu, meu irmão e um homem – começou Clara.
– Esse homem, um lorde, era o amor da minha vida. Como um conto de fadas, eu
queria o meu felizes para sempre num casamento. Mas ele sempre pareceu distante,
como se nunca tivesse satisfeito, mas para mim, aquilo era só uma insegurança
boba – ela riu, pela primeira vez.
Hilda
se questionou como conseguiam achar Clara uma pessoa tão séria. Chegava a ser
fofo o modo como ela contava sobre sua história de amor.
— E
o que aconteceu?
—
Uma semana antes de nosso casamento, ele simplesmente sumiu e foi dado como
morto.
—
Quando foi que essa história ficou tão trágica? – questionou, assustada.
—
Acho que dois anos se passaram e eu me casei com outra pessoa. Dias depois,
como se surgisse dos mortos, o meu amado retorna e com uma confissão que me
deixou furiosa. Eric e ele tinham forjado tudo aquilo com a desculpa de que
queriam ficar juntos. O meu primeiro amor foi o primeiro amor do meu irmão.
—
Isso parece uma novela – comentou Hilda, ainda sem saber como opinar. A voz de
Clara tinha assumido um tom mais sério e ela não parecia lamentar.
—
Depois desse dia, eu percebi que a verdade sempre deve ser dita, e tornei isso
minha bandeira.
—
Transformou seu conflito amoroso com o seu irmão em uma bandeira política? – a
jovem franziu a testa.
—
Você não entenderia, garota, são outros tempos! – enfezou-se a princesa. – Não
era tão fácil...
—
Olha, eu entendo que não foi legal da parte do seu irmão roubar o seu futuro
marido – começou Hilda. – Eu até compreendo que ele devia ter te confessado a
real e vocês se ajeitassem sem muitos teatros. Mas não acho que tornar tudo tão
extremo seja o correto.
Clara
suspirou. Não se sabia se era de decepção ou de alívio.
—
Você é tão nova pra entender...
—
Obrigada por me contar mais sobre você. Isso foi incrível – consolou a garota,
com sinceridade. – De verdade, mas a gente realmente precisa procurar aquele
fragmento, e eu tô morrendo de medo de alguém aparecer e me taxar de louca.
— Eu
não iria te defender, já aviso – riu a princesa.
—
Ah, muito obrigada pela amizade – ironizou a outra, retomando seu caminho pelo
longo corredor.
Hilbert
se sentia um verdadeiro detetive, olhando em cada canto possível, ainda que o
que procurasse não fosse exatamente algo que poderia se esconder facilmente em
qualquer espaço, ainda assim, não queria perder a diversão do momento. Notou a
presença de uma figura curiosa em um dos corredores vazios. Um palhaço.
Completamente uniformizado com as roupas típicas da profissão, largas e
coloridas. Ele não esquecera nenhum detalhe, isso incluía a clássica peruca e a
exagerada maquiagem, ele notou Hilbert também e arqueou dramaticamente as
sobrancelhas.
—
Oh, olá – o treinador se aproximou, estranhando um pouco a presença do rapaz,
talvez ele estivesse em busca de alguma inspiração. – Pode me ajudar? Tô
procurando um homem de blusa preta, ele usava um brinco e uma das orelhas,
cabelos escuros.
Mas
não houve resposta, o palhaço só inclinou a cabeça levemente para o lado, se
fingindo de desentendido.
—
Ué, você é surdo? – questionou o garoto. Em inocência, ele tentou mudar a forma
de se comunicar, falando mais alto. – VOCÊ VIU UM HOMEM DE BLUSA PRETA? COM
BRINCO!
O
palhaço cobriu as orelhas, incomodado com o barulho alto. Hilbert tentava
decifrar qual era a daquela figura misteriosa, mas percebeu que não conseguiria
arrancar nada daquele sujeito e resolveu seguir seu caminho. Porém, apesar dos
desentendimentos, o palhaço bloqueou seu caminho, como se pedisse para o garoto
ficar.
—
Cara, qual é a sua, hein? – o treinador começou a perder a paciência, mas logo
notou que o artista tentava se comunicar com ele através de mímicas, fazendo
gestos exagerados como se tentasse contar algo para o treinador. Como um
verdadeiro artista profissional, seus movimentos pareciam dizer palavras como
“mel”, “Combee” e “parede”, essa última palavra, sendo praticamente desenhada
no ar com os braços e mãos. O jeito que ele encenou era tão real que o homem
tratava aquela parede imaginária como sólida.
Hilbert
continuava a observar tudo completamente confuso. Apesar de ter entendido, não
conseguia achar conexão entre tudo. Tentou contornar a situação se despedindo
do rapaz, pois estava perdendo seu tempo e se desviando do seu objetivo
inicial.
—
M-moço, eu preciso ir – disse o garoto, acenando de leve. – O-Obrigado pela
ajuda.
Mas
o mímico parecia insistir em contar sua história para o garoto, inclusive lhe
alertando de sua parede imaginária. O treinador acenou de leve, estava perdendo
a paciência, a gota d’água foi quando o palhaço lhe agarrou o braço.
—
Cara! Já disse que não tenho tempo pra isso! – ele se desvencilhou com certa
brutalidade do artista e resolveu correr, mas deu de cara com algo.
Naquela
hora, Hilbert aprendeu o poder que a parede imaginária de um mímico tem.
“Convidado” a ficar, ele se atentou a história do rapaz.
Jackson
parecia estar com um pouco mais de sorte que seus colegas, não passara cinco
minutos quando encontrou seu alvo de procura. O jovem adulto estava prestes a
entrar em uma sala que advertia ser do Staff, o que indicava que provavelmente
não estava apenas para uma simples visita para admirar obras. Seria ele apenas
um simples funcionário ou algum gerente?
Quando
ele girou a maçaneta, o arqueólogo correu para impedir, chamando mais atenção
do que deveria, e isso o deixou um pouco envergonhado.
—
Espera! – ele correu em direção ao de brinco. – Senhor, p-posso falar com você?
O
rapaz parou, um pouco assustado e olhou para o jovem. Antes que pudesse
responder, Jack continuou a falar, reconhecendo a figura que perseguiam.
—
Chansol? – começou. – Chansol Park? – ele pareceu admirado.
—
Por favor, use apenas Park – respondeu o rapaz, incomodado com tanta
intimidade, como se fosse cultural que seu nome fosse apenas dito por pessoas
extremamente próximas.
—
Sinto muito – o de cabelos escuros corrigiu sua postura. – É que, nos
encontramos algumas vezes antes. Meu nome é Jackson Petrie, sou sobrinho da
líder de ginásio de Nacrene, Lenora. Fomos aos mesmos eventos, mas não tive a
oportunidade de conversar com você.
—
Oh, entendo – respondeu Chansol, observando o garoto. – De toda forma, como
posso te ajudar?
— É
sobre o brinco que está usando – explicou Jackson. – No caso, o pingente dele.
Nesse
momento, Hilda apareceu, apesar de sua sensibilidade perante a presença dos
fragmentos da Light Stone ainda ser inconsistente, ela estava começando a
aprender como identifica-la com mais precisão. Viu Jack e seu alvo conversando
e logo se aproximou correndo para ajudar.
—
Que bom que achou ele, Jack – disse a garota, observando aquele minúsculo
fragmento. Como algo tão pequeno podia dar tanto trabalho?
—
Desculpe, não estou entendo o que está acontecendo – disse o de blusa preta. –
Qual o problema com o pingente do meu brinco?
—
Antes de tudo – o arqueólogo tomou a palavra. – Hilda, esse é Chansol Park, ele
é o diretor do Museu de Arte de Castelia City.
— Oh
– admirou-se a garota. Já tinha ouvido falar sobre, mas em sua mente, sempre
achou se tratar de uma pessoa mais velha. – É um prazer. Não queremos
incomodar, é só que... – ela precisou refletir um pouco antes de explicar. –
Precisamos do pingente no seu brinco.
Recuando,
Park cobriu seu objeto precioso, receoso em achar que se tratava de um assalto.
Voltou a colocar a mão na maçaneta, pronto para correr, mas Jackson foi o
primeiro a notar.
—
Espere! Não nos entenda mal, é que esse pingente é algo do nosso interesse,
podemos negociar – disse, com calma.
— Eu
realmente preciso ir – intimidado, Chansol abriu a porta do Staff, mas dessa
vez, Hilbert finalmente apareceu. Completamente desinformado da situação, não
perdeu tempo em fazer alarde.
—
PEGA ELE! ELE VAI FUGIR! – berrou o treinador, correndo em direção do rapaz.
—
HILBERT, PARA! – Hilda foi a primeira a reagir, agarrando o garoto pela gola da
blusa e fazendo-o parar de forma abrupta. – Dá pra colaborar?!
A
gritaria pareceu chamar a atenção dentro da sala, logo, um homem trajado com
uniforme de segurança surgiu do ambiente, com uma expressão impaciente.
— Em
que posso ajudar, senhor Park? – questionou ele para o diretor. – Essas
crianças estão te incomodando?
— Apenas
me assustando – respondeu.
—
Devo tirar eles daqui?
—
Não! Pera aí! – Jackson estendeu a mão, pedindo uma chance para falar. – Como
conseguiu esse pingente no seu brinco, senhor?
— Se
queriam saber isso, podiam ter me perguntado antes – suspirou o homem, um pouco
mais confiante. – Mas infelizmente, não sei se vão conseguir adquirir um. Eu
ganhei do meu marido, e ele disse ser uma peça única.
—
Marido? Tá querendo dizer...? – o arqueólogo não conseguiu completar sua frase
quando mais uma pessoa saiu da sala do Staff, dessa vez, alguém que realmente
chamava a atenção.
Alto
e esguio, o homem que apareceu andava com naipe de artista, e não era por
menos, suas roupas denunciavam um estilo alternativo, seus cabelos volumosos
castanhos claros trajavam com uma pele clara e olhos verdes. Um cachecol
estiloso de cor rosa enfeitava seu pescoço, uma camisa em gola V bem decotada preenchia
o torso, nas pernas, uma calça listrada com tons de verde, rosa e preto, e por
fim, um par de mule masculino completava o estilo do homem. Estavam de frente
daquele que era o objetivo de Hilbert naquela cidade.
—
Burgh – apresentou-se, por fim, mesmo que a maioria dos presentes já sabia. –
Líder de Ginásio de Castelia City e, perdoem a modéstia, um excelente artista e
pintor.
—
Uau! – o treinador não conteve sua admiração. – Que sorte! Meu nome é Hilbert e
eu estou em busca da minha terceira insígnia! – anunciou, como de costume.
— Um
treinador? – sorriu o líder, com as mãos na cintura. – Mas tenho certeza que a
gritaria não foi exatamente por isso.
Hilda
deu um passo à frente.
—
P-pedimos desculpas – disse. – É que... Temos perguntas sobre o pingente do
brinco do seu marido.
Burgh
olhou para Chansol. Era notável que o rapaz era mais novo que o líder.
Arqueando as sobrancelhas, ele observou seu marido dar de ombros, como se
também não estivesse entendendo nada. Cruzou os braços, analisou as três
figuras e indicou com o cabeça para que o seguissem.
—
Vamos para minha sala – disse, tomando a frente.
A
sala de Burgh tinha multifunções. Ela conseguia compartilhar tudo que o líder
era. Em um conceito aberto e pé direito alto, as paredes pareciam enormes
folhas de sulfite prontas para serem pintadas e rabiscadas. Coisa que o artista
parecia ter começado a fazer, já que na direita, as ilustrações de diversos Pokémon
do tipo inseto preenchiam os olhos dos visitantes com tamanho talento. No chão
de madeira brilhante, linhas indicavam o campo de batalha e ao redor de tudo, armários
de madeira maciça com todos os materiais possíveis de pintura estavam
organizados, ainda que alguns potes de tinta que tinham um cheiro marcante,
estivessem abertos próximos a um cavalete onde provavelmente Burgh estava
trabalhando em um novo projeto de pintura.
—
Caraca, esse lugar é enorme! – comentou Hilbert, olhando para todos os detalhes
como uma criança em um parque de diversão. – Foi você que fez tudo isso? –
questionou, apontando para a parede pintada.
— É
um projeto trabalhoso que comecei – respondeu o homem, parando ao lado do
garoto. – Estou indo aos poucos. Basicamente quero tentar retratar todos os
Pokémon do tipo Inseto que eu já vi pessoalmente e um dia lotar essa parede
experiências.
— Por
que os insetos? – questionou novamente o menino, ainda curioso.
—
Todos os insetos são pequenos artistas – Burgh procurou em sua mente algo
poético para responder. – Assim como na pintura, tudo é um aglomerado de
pequenos detalhes que formam algo maior. Os fios de seda de uma Spinarak
tecendo sua enorme teia com linhas e formatos geométricos, os buracos deixados
nas folhas por Sewaddle, a forma como um Caterpie molda seu casulo para virar
um Metapod, e como esse se abre lentamente para se tornar uma bela Butterfree –
o líder continuou a sorrir, deixando os outros reflexivos.
—
Isso foi... inspirador – comentou Hilbert por fim. Apesar de tantas
desvantagens em questões competitivas, tinha que admitir que aquela tipagem
podia dar dor de cabeça nas mãos certas. Pensou também se Mushi, seu recém capturado
Venipede, seria um desses poderosos Pokémon.
—
Mas vamos parar de falar de mim – continuou, voltando-se para Hilda e Jackson
também. – Agora quero entender a história da gritaria e qual é o interesse no
brinco de Chansol.
— Provavelmente
já deve ter ouvido falar da Light Stone e da Dark Stone, certo? – questionou o
arqueólogo.
—
Chegou os boatos de que as existências das duas tinham sido comprovadas –
respondeu o líder, pensativo. – O que tem elas?
— A
Dark foi roubada por uma equipe conhecida como Team Plasma. Já a Light Stone
veio parar em minhas mãos.
Jack
foi íntegro e sério com suas explicações, relatou como encontrou tal objeto, os
motivos dele manter em segredo, o encontro com Hilbert e Hilda, o roubo, o
resgate e por fim, a destruição. A garota contou também sobre sua habilidade de
sentir a presença dos fragmentos e toda sua relação com a Princesa Branca.
Durante a explicação, o líder de Castelia e o diretor do museu trocaram vários
olhares, desconfiados.
— E
assim chegamos no dia de hoje – disse Hilda. – O pingente no seu brinco é um
fragmento da Light Stone.
— E
estamos extremamente curiosos em saber como conseguiu esse fragmento –
completou Jackson. – Chansol – ele pigarreou. – Digo... O senhor Park disse que
deu a ele de presente. Isso foi comprado?
— E
também queremos o fragmento! – complementou Hilbert, determinado.
Burgh
ergueu as mãos, pedindo um tempo para raciocinar tantos pedidos.
— É
muita informação... Inacreditável – comentou. – Não sei se consigo processar. Podemos
fingir que vocês estão brincando com isso?
—
Mas é verdade! – exclamou Hilda, desesperada.
Jack
colocou a mão sobre o ombro da amiga.
—
Fica calma, Hilda. Eles estão no direito de não acreditar. Desespero não vai ajudar
em nada – acalmou o arqueólogo. – Sobre o pingente? Como conseguiu ele?
— Eu
comprei de uma artesã há uns dias atrás em Driftveil – respondeu. – Ela me
disse que era só uma pedra de positividade. Já que Chansol é bem conectado à
essas coisas, achei que seria um bom presente.
—
E-Ela tinha mais desses pra vender?
—
Era uma peça única que ela vendeu por um preço bem alto – continuou a
responder, fazendo uma certa careta ao se lembrar do preço.
—
Então a gente compra de você! – ofereceu Hilbert.
Os
outros quatro olharam incrédulos para o treinador.
—
Vamos? – questionou Jack, confuso.
— No
caso, a Hilda vai – o menino colocou as mãos nas costas da amiga. – É só dar o
seu valor e ela paga tudinho.
—
Que história é essa, Hilbert Autevielle? – a garota encarou o outro ao seu
lado, com certa raiva. – Tô com cara de banco?
—
Sim – respondeu, direto. – Ah, qual é, você tem dinheiro.
— Eu
teria mais se alguém não tivesse torrado minha grana em Accumula!
—
... Você não tem mais?
— É
claro que não!
—
Aff. Ninguém mandou gastar tudo feito uma louca.
A
paciência da garota estourou e ela agarrou as duas orelhas do menino.
— EU
VOU TE VENDER PARA O CIRCO E USAR O DINHEIRO QUE GANHAR PRA COMPRAR ESSE
BRINCO! – berrou. – SE BEM QUE NÃO PAGARIAM MAIS DE DOIS POKÉDÓLARES POR VOCÊ!
Aos
prantos, o pobre jovem respondeu:
— Se
você vender o Vic junto talvez consiga uns quatro – choramingou. – Por favor,
tenha piedade das minhas orelhas!
—
Isso vai dar namoro ainda – debochou Jackson, com as mãos no quadril.
Hilda
encarou o arqueólogo e ele jurou ver uma aura demoníaca saindo do corpo da
garota pronta para dominar a sua alma.
—
Isso, Hilda, puxa a orelha dele também! – exclamou Hilbert, se livrando da
amiga.
—
Pera aí! Foi só uma brincadeira! – o jovem recuou drasticamente que mal teve
tempo de impedir a colisão das suas costas com umas das estantes que
comportavam alguns livros que acabaram caindo, fazendo um barulho estrondoso
que ecoou pela enorme sala. – Ah, meu Arceus, desculpa.
—
Ok, ok, ok! – Burgh se aproximou e encerrou a discussão. – Chega! – ele elevou
a voz, quase tendo um ataque em ver a bagunça. Extremamente organizado e
perfeccionista com suas coisas, ver algo fora do lugar era quase com um tapa em
sua cara. – Se querem brincar, brigar ou sei lá o quê, façam isso fora do meu
ginásio – ele usou seu indicador para apontar em direção a saída, como um gesto
de expulsão.
—
Senhor Burgh, por favor, nos dê mais uma chance – implorou Hilda. – É
importante para a gente esse objeto.
— Eu
não vou tolerar nem mais cinco minutos de histórias mirabolantes – bronqueou o
mais velho. – Não terão o brinco! Por favor, saiam!
A
garota abaixou a cabeça. Jackson se aproximou dela e a convenceu com um toque
leve nas costas a saírem. Hilbert observou a expressão triste da amiga em
absoluto silêncio, sentiu certa pena e até mesmo indignação em vê-la daquele
jeito, mas seguiu sem maiores alardes. Os três atravessaram a porta principal
que levava ao museu e desapareceram corredores afora.
O
líder de ginásio recolhia alguns livros quando Chansol se aproximou.
— Eu
já te contei sobre Junsei Kurosawa, né? – questionou para o marido.
— É
impossível não conhecer ele, Chansol – respondeu o outro, guardando os objetos
de volta em seus lugares. – As ilustrações dele estão em todos os lugares.
Principalmente nos livros de fantasia.
— Ele
fazia parte de uma família que há muito tempo atrás saíram de Unova para
morarem em Johto – continuou o diretor, como se não se importasse muito com a
resposta ríspida do outro. – Coincidentemente, os Kurosawa e os Park são
parentes distantes, então eu ouvi muitas histórias sobre as duas esferas. Eu
posso ser meio intuitivo e acreditar em besteiras, Burgh, mas de uma certeza eu
tenho: Dark e Light Stone nunca foram apenas ilustrações ou história de um
novelista.
—
Vai entregar o seu brinco e se deixar levar na história de crianças? –
questionou Burgh.
—
Acho que a atmosfera séria de Castelia está fazendo mal para o seu espírito de
artista – riu Chansol. – Não vou entregar de mão beijada, mas também não
desacredito.
Antes
que a conversa continuasse, Hilbert voltou correndo, levemente ofegante. Ele
encarou o líder do tipo inseto e apontou com o indicador para ele.
— Eu
não quero nem saber se você acredita na gente ou não – começou o treinador. –
Mas você deixou a Hilda triste e eu vou conseguir esse brinco queiram vocês ou
não!
— O
que vai fazer? Roubar da gente?
— Se
fosse Casteliacones, talvez – refletiu, colocando a mão no queixo. Logo, ele
sacudiu a cabeça e voltou a falar: - Mas não! Eu tenho uma proposta. Teremos
uma batalha de ginásio, se eu ganhar, você me dá a insígnia e o fragmento da
Light Stone.
— E
se eu ganhar?
O
treinador parou por alguns minutos para refletir. O que tinha para oferecer?
Pensou na coisa mais preciosa que tinha para ele naquele momento.
—
Minhas insígnias. Se você ganhar, eu te dou as duas insígnias que tenho – o
garoto exibiu a case onde suas conquistas em Striaton e Nacrene estavam
depositadas.
Burgh
analisou a proposta inocente daquele treinador e sorriu, sem deboche.
—
Amanhã de manhã?
—
Combinado!
—
VOCÊ O QUÊ?! – exclamou Hilda, no caminho de casa.
— Minhas
insígnias. Foi a primeira coisa que consegui pensar pra oferecer – explicou
Hilbert. – Mas olha, pelo menos ele aceitou nos dar o brinco e a minha insígnia
se eu ganhar.
A
garota, que caminhava ao lado dele, encarou o menino com certa desconfiança.
— E
você já tem uma estratégia de batalha pronta?
—
Nenhuma.
Ela
retirou o celular de seu bolso do short e começou a pesquisar algo.
— O
que tá fazendo? – questionou o amigo, curioso.
—
Pesquisando quanto custa uma passagem pra Striaton. Parece que vamos ter que
colocar saia em você de novo e pegar insígnias do zero.
Hilbert
fez bico.
—
Que falta de confiança é essa, Hilda?!
—
COMO VOCÊ ME APOSTA DUAS COISAS QUE FORAM DÍFICEIS DE CONSEGUIR E IMPORTANTES
PARA VOCÊ POR CAUSA DE UM BRINCO?!
—
PORQUE AQUILO É IMPORTANTE PRA VOCÊ! – berrou o garoto de volta, encarando a
outra de perto.
Ela,
por sua vez, fez silêncio. E corou. Sentiu-se envergonhada por duvidar do
amigo, mas também feliz em ver tamanha dedicação. Lotada de timidez, ela apenas
segurou a manga da jaqueta azul do garoto e disse, baixinho:
—
Obrigada.
Jackson,
que andava logo atrás dos dois, observava a cena.
—
Acho que tô segurando vela – murmurou.
Enquanto
isso, Vic e Oliver pareciam estar com problemas alheios.
O
Pokémon vitória se deliciava de um Casteliacone ao lado de uma caixa cheia
deles enquanto encarava com certo deboche o garoto sentado na poltrona próxima.
— Que
cara é essa, Oliver, querido? – perguntou o Pokémon, em provocação.
—
Cara, eu não sei onde eu tava com a cabeça quando topei apostar uma corrida com
um Pokémon que VOA! – respondeu o menino. – Acabei com toda a minha mesada.
— Se
você admitir que eu sou incrível, eu até divido eles com você.
No
auge de inocência com seus oito anos, Oliver sorriu e se aproximou da criatura,
faminto por um sorvete.
—
Você é o melhor, Vic! – exclamou.
O
Victini começou a gargalhar, mas sentiu pena do garoto.
— Não
precisa de tudo isso, cara – o Pokémon pegou uma das sobremesas geladas e
deu para seu amigo humano. – Obrigado pelos Casteliacones, dá até um alivio
comer eles sem ter que roubar.
—
Pra falar a verdade – começou o menino, comendo. – A gente comprou muito, não?
— Nunca
é demais.
— É
que eu não sei se dá pra esconder no congelador, e fora de lá, isso daqui vai
derreter tudo.
— E
quem disse que vai sobrar? Estamos em dois, é só comer tudo.
— Tá
falando sério? – os olhos de Oliver brilharam, era um sonho de infância.
— Tu
tá recebendo a autorização de um adulto aqui para acabar com tudo isso! –
brincou Vic.
—
OBA! – comemorou o garoto. – Obrigado, tio Vic, você é o melhor! Nunca que
papai e mamãe deixariam eu comer tanto sorvete assim.
O Victini riu com certo medo, coçou o nariz de leve e deu de ombros. Depois, só soltou com voz baixa enquanto alcançava outro Casteliacone.
— Não
repitam isso em casa, crianças.
Hey, hey, cá estou! Retomando o ritmo e pronto para conferir a batalha pela terceira insígnias do Bertinho. Oliver, seu pequeno galãzinho kkkk Já está tomando mais iniciativa do que eu!
ReplyDeleteEu adoro Castelia porque é onde tudo começou, traz aquela nostalgia de quando você ainda estava planejando tudo e parecia insegura de dar conta ou não de uma fanfic de Pokémon. Veja só onde você chegou! É uma cidade grande com um pouquinho de tudo que faz a Hilda se sentir em casa. Sempre adorei museus, e achei uma escolhe interessante de ambiente para iniciar a conversa com a Clara que vai aos pouquinhos nos dando mais informações sobre o seu passado e o que ocasionou toda essa guerra. Não posso nem contrariá-la, quem não ficaria louco com um caso de família que nem esse? kkkkkkkk
Eu nunca tive muito apreço pelo Burgh, mas adorei o jeito que você o trabalhou, essa visão de que todos insetos são como pequenos artistas é muito verdadeira, a natureza está cheia dessas pequenas maravilhas. Ele consegue manter seu jeito autêntico e ser um pouco nariz empinado sem parecer um líder 100% gentil e disposto, está na hora do Hilbert ter um desafio maior para suas batalhas.
Hilbert e Hilda brigando na frente de todo mundo me dá forças para viver kkkkkk E no fim das contas quem se ferra é sempre aquele que está no meio. Não se preocupe Jackson, logo mais você terá seu parzinho para não ficar de fora haheae
GO GO OLIVER, NÃO PARE ATÉ TODOS OS CASTELIACONES ACABAREM!
Yoo Canas
DeleteA terceira insígnia chegou. Parece que foi ontem que todas eram falsificadas haushuashua
Castelia é uma cidade incrível, dá vontade de fazer uma fic só explorando dentro dessa cidade enorme <3 Tento ao máximo extrair coisas delas, mesmo que o foco seja a região como um todo :3
A CONVERSA DA CLARA E DA HILDA NO MUSEU É UMA DAS MINHAS CENAS FAVORITAS! Eu quero apresentar os lados para que os leitores escolham seu favorito (ainda que as pessoas tendem a apoiar o protagonista)
Artistas são maravilhosos, mas são pessoas estranhas e as vezes insuportáveis. Eu queria trazer um Burgh mais cansado da vida pq eu queria mostrar que todo mundo quer acreditar nos personagens principais hausahushua
Jackson entrou num campo de batalha que ele não pediu ahsuahshu PROTECT JACKSON AHSUAHUSAHU
GO GO, VAMOS TOMAR SORVETE!
Obrigada pelo comentário, Canas <3
See ya
Opa tu-bom?
ReplyDeleteCerto, então o brinco do cara realmente se desenrolou num arco próprio. Achei que ele tinha aparecido apenas para fazer a piada no final do cap passado. Inclusive, eles falaram em quantas partes a esfera se dividiu? Por que se eu tô imaginando o tamnaho do brinco direito deve ter mais de cem por aí...
NPU vai acabar e a Hilda vai continuar na pedra, essa vida não é fácil. Sai das drogas, Hilda. Sim, eu roubei sua piada, Jackson.
Okay, a interação do Victini com o Oliver foi surpreendente divertida. Apesar de eu não gostar tantos deles, a interação realmente me pegou.
Não, Clara, você não pode começar uma guerra por que seu irmão pegou seu namorado... Na verdade é um pouco justificável, sø um pouco. Mas agora sério, será que um dia veremos o ponto de vista do irmão dela nessa história. Curisoso pra ver ele defendo o "Ideal" nas suas ações, apesar de eu já conseguir traçar uma tênue linha de raciocínio.
Oh, o líder de ginásio de quem eu tanto ouvi falar mal. Olha, por enquanto tá de buenas, vamos ver o que ele apronta. Eu pessoalmente não acreditaria nessa história toda, mas esses caras vivem em um mundo com monstros com poderes especiais, mas sei lá, nós conseguimos fazer muita coisa com tecnologia de verdade, mas temos um limite para acreditar no que ela pode fazer atualmente.
E como já dizia o Rodrigo Faro: "Vai dar namoro"
É isto, Star, te vejo na próxima!
Salve Alefin <3
DeleteNunca duvide do poder das bijouterias huashuashuhu Vai que é pedra preciosa que um bando de adolescente estão procurando. Sobre os fragmentos : Não há um tamanho padrão, algumas podem ser maiores que as outras, e não tem exatamente em quantas partes se dividiram, mas algumas os protagonistas encontram em off screen, assim como Inuyasha costuma fazer. Talvez fique meio sem rumo procurar, mas o roteiro sempre vai fazer tudo se unir haushuashua
Fiquem longe das drogas e pedras brancas, crianças haushuahus
EU ADORO ESSE PENSAMENTO DO PESSOAL PERCEBENDO QUE NÃO TEM UM LADO CORRETO! Pq a gente tá ouvindo aqui a Clara, e claramente dá pra ver que não foi justificável, me pergunto o que acontecerá quando ouvirmos o que o irmão dela tem a dizer.
O odiado Burgh, eu acho que o pessoal se irritou por ele ser uma pessoa bem rigida, acho que ele é o unico pé no chão, MESMO SENDO A PORRA DE UM ARTISTA HAUSHUASHUAHUS
VAI DAR NAMORO!
Obrigada pelo comentário, Alefu
See ya
HILBERT......... TANTO ESFORÇO POR UM BRINCO???
ReplyDeleteOi oi Star. Estou retornando a leitura de capítulos. Gostei bastante de como vc trabalhou a personalidade do Burgh. Ele foi simpático na medida do possível e eu consigo entender o lado dele. Poxa, ceder um presente que você comprou com tanto carinho para alguém que você ama deve ser difícil, ainda mais para uma história que para qualquer um que ouvisse não teria nem pé ne cabeça.
ReplyDeleteO irmão da clara é o maior talarico da Neo Aliança e eu tenho provas. E ela bem escorpiana, digo, vingativa, criou uma guerra. Por um lado, eu entendo a raiva dela, por outro, é uma guerra né? Será que vale a pena perder a vida das pessoas em busca do que você acredita ser a verdade? E se você parar pra pensar, a verdade de uma pessoa pode não ser a mesma da outra.
Eu amei a Hilda dizendo q ia vender o Hilbert para um circo, dei uma risada sincera aqui kkkkkkkk
Até a próxima! O capítulo ficou ótimo!