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- Capítulo 28
Quando
um gélido e impetuoso vento gelado adentrou o quarto através de uma fresta do
shoji e atingiu o corpo adormecido naquele quarto, sua primeira reação foi se
encolher e cobrir-se por inteira, ainda que as pontas dos seus pés acabassem
descobertas.
Uma
pequena criatura peluda e esguia se aproximou devagar, caminhando em suas
curtas patas e lambeu levemente os dedos expostos da mulher antes dela rir
graciosamente e finalmente despertar. Se desfez do seu grosso cobertor e
sentou-se em seu macio futon usado como cama, coçando os bagunçados cabelos
ruivos alaranjados e soltando um leve bocejo, acariciou o Pokémon que a
despertara, uma criatura conhecida como Furret.
Levantou-se
e caminhou vagarosamente até as finas portas de papel de correr e as abriu. A
paisagem de inverno no quintal nos fundos do templo em que morava tinha tons frios,
mas não deixava de ser refrescante aos olhos com plantas típicas da região, um
pequeno lago que descongelava em ritmo lento, mesmo assim, já era possível ver
Magikarps e Goldeens e, como um clássico, uma pequena ponte de madeira com
corrimões vermelhos com formas de uma arquitetura antiga completava o cenário.
Após
um leve contato com a natureza, Inari se dirigiu a sua higiene matinal, sempre
focada em manter uma pele limpa e os cabelos bem penteados em um delicado rabo
de cavalo preso com uma fita púrpura. Fitou a si mesma com os olhos verdes
esmeralda e apreciou o resultado.
Caminhou
pelos corredores de madeira usando meias quentinhas até chegar a outra sala
semelhante ao seu quarto, só que com a presença de uma mesa baixa rodeada de
almofadas, era a sala de jantar. Lá, disposto de forma milimetricamente
organizado estava um cheiroso filet de Magikarp grelhada, Gohan, o tradicional
nori, misoshiru quentinho e – seu favorito - , o Nattô, uma soja fermentada com
um cheiro extremamente forte.
Sentou-se
sobre as pernas com a postura ereta, segurou delicadamente seu ohashi, juntou
as mãos agradecendo a comida e começou a comer.
—
Mais uma manhã normal, que vai se tornar um dia normal e se transformar numa
vida normal – comentou ela.
Mas
aquilo não parecia deixar ela feliz.
Mais
de um dia foi necessário para que o barco atracasse em Olivine. A cidade
litorânea, conhecida pelo seu belo farol dava as boas-vindas aos novos
visitantes. Por sorte, o fim do inverno estava chegando, mas ainda era possível
sentir o vento gelado castigando os corpos dos desprotegidos, coisa que Hilda,
Hilbert e Jackson não sofriam. Os meninos usavam as roupas de sempre, mas a
garota tinha adotado um estilo mais moderno com meias calças, os shorts
convencionais e um moletom rosa cropped. Quentinha e na moda.
No
mesmo dia do embate contra Burgh, o trio embarcou às pressas para Johto com um
pequeno investimento de Ben. O objetivo? Localizar o templo da família Kurosawa.
De acordo com Chansol, que era parente distante da família, eles se localizavam
em Ecruteak City. Com essas informações em mãos, só bastava que eles se
transportassem até lá. Mas a grande questão era: Como se
localizar em uma região nova com uma língua diferente?
— Não é possível que eles não tenham placas em inglês – comentou Hilda,
parada na porta de saída do porto.
— Quem precisa de placas quando se tem um fluente da língua bem na frente
de vocês? -gabou-se Jackson. O jovem parecia estar extremamente empolgado em
conhecer a região pela primeira vez. – Passei anos da minha vida assistindo
animes para esse momento!
— Jack, por favor, aqui não tem legenda – debochou a menina. – Vamos
procurar por placas ou panfletos e-
O arqueólogo se aproximou da primeira pessoa que encontrou na rua,
ignorando completamente o que a amiga tinha sugerido.
— Ohayou. Watashi wa Jackson desu! – apresentou-se, como se
treinasse a vida toda para fazer isso.
A pessoa, uma senhora, olhou para o jovem e estranhou tanta informalidade,
mesmo assim, ela retribuiu com “olá” e aguardou para que o outro continuasse.
— Ih, rapaz. E agora? – refletiu Jack, olhando para os amigos. – O que eu
falo?
— Pergunta pra ela como podemos ir para Ecruteak – disse Hilda.
— Hã... – o mais velho pensou. – Watashi quero iku para
Ecruteak.
A senhora olhou meio espantada e sem entender, com toda a gentileza de um
morador da região, ela se desculpou e foi embora sem muitos rodeios.
— Espera! – Jackson tentou impedir, mas era tarde demais.
— Boa, Jack, seu japonês é pior que o meu francês – debochou Hilda,
cruzando os braços.
— Pelo menos algum de nós tá tentando ajudar! – retrucou o mais velho.
— Pessoal! – Hilbert se aproximou com um papel em mãos. – No porto estavam dando
um mapa da região – ele exibiu para os seus amigos. – E o melhor é que tem umas
coisas escritas na nossa língua.
— Uau, Hilbert! – sorriu a menina. – Quando conseguiu isso?
— Assim que a gente desceu – confessou, recendo um olhar irritado de
Jackson.
— E você nos avisa depois que eu passei aquela vergonha? – questionou.
— Passou vergonha porque quis.
A boa notícia é que existia duas formas de se deslocar entre cidades, uma
era da forma convencional com ônibus, e a outra era através de um trem
extremamente rápido conhecido como shinkansen, que apesar do preço alto,
foi escolhido pelos jovens devido a pressa em chegar outra cidade antes do
anoitecer.
A viagem ocorreu tranquilamente até eles chegarem em Ecruteak.
A cidade tinha um ar mais clássico e tradicional que a cidade anterior, a
julgar pelos diversos templos e casas com um enorme telhado que fazia parte da
arquitetura Johtoniana. O local recebia também muitos treinadores que faziam
sua parada para enfrentar o líder do local. Era muito comum ver mulheres
andando elegantemente em seus quimonos enquanto faziam tarefas do dia a dia,
homens com roupas sociais correndo para o trabalho e algumas crianças com seus
uniformes voltando para casa.
— Cara, isso é um sonho – comentou Jackson. – É exatamente como assistir um
anime.
— Acho que o lado otaku de alguém despertou – brincou Hilda.
— Eu só tô aproveitando a vibe do lugar, não contem pra ninguém – riu, sem
graça. – Aliás, estamos indo para um templo. Será que teremos sacerdotisas
jovens e bonitas?
— Jackson, dá pra ter um pouco do foco? – brincou a garota. – Precisamos
saber tudo sobre as esferas e o que vai acontecer quando juntarmos todos os
fragmentos.
— Dizem também que essa família tinha um certo poder que era capaz de
manter Reshiram e Zekrom presos – complementou. – Me pergunto se eles são uma
família de sobrenaturais cheios de fantasmas e Pokémon psíquicos.
— Você tem uma imaginação muito fértil.
Por incrível que pareça, não foi muito difícil encontrar o templo da
família Kurosawa, parecido com a maioria dos outros templos, ele tinha um
tamanho considerável, como se abrigasse muitas pessoas por lá. O torii, um arco
vermelho de arquitetura icônica, foi o que os recepcionou logo de cara, eles
caminharam por um caminho de pedras, observando cada detalhe em volta, havia
uma pequena casinha na esquerda onde aparentemente servia como um pequeno
comércio que vendia coisas relacionadas à religião local. No prédio principal,
no final da longa passarela de pedras, encontrava-se uma senhora de idade
avançada de estatura baixa que tirava a neve dos corrimões junto de sua bengala.
O trio se aproximou para obter informações, mas tinha um pequeno problema:
a língua.
— Ok – começou Hilda. – Como vamos nos comunicar?
— Vamos tentar a sorte – Jackson se aproximou. – Com licença? Você consegue
me entender?
A idosa olhou o rapaz dos pés à cabeça como se analisasse a figura. Ele
apoiou um dos pés no degrau da varanda na tentativa de se comunicar melhor, mas
a velha nada respondeu. Sua única reação foi encarar aquela atitude e continuar
em um silêncio constrangedor. Hilda e Hilbert estavam logo atrás e se
entreolharam.
Jack perdeu um pouco da paciência.
— Não é possível que ninguém fale inglês nessa região! – reclamou,
levantando os braços para o alto como quem pede uma súplica.
E a súplica foi atendida.
— Posso ajudar? – a voz feminina e gentil veio de trás deles. Os dois mais
novos foram os primeiros a olharem, logo depois, Jackson, que não escondeu a
admiração em ver a nova figura.
A ruiva de aproximadamente vinte anos e rabo de cavalo usava um kimono
branco e vermelho, como um uniforme da casa, em suas delicadas mãos, ela
segurava uma vassoura. Seu olhar pairava entre a dupla de jovens e por fim, no
arqueólogo, que parecia imobilizado. Ajeitando a franja, um pouco tímida, ela
tornou a perguntar:
— Precisam de algo?
Hilda, vendo que ninguém iria responder, tomou a conversa:
— Este é o templo da família Kurosawa? Eles moram aqui ainda?
A mulher assentiu, e se curvou levemente:
— Meu nome é Inari Kurosawa – sorriu. – Já devem conhecer minha avó – ela
indicou para a senhora.
— Mais ou menos – riu a morena, sem graça. – Acho que ela não nos entendeu.
— Todos da família têm inglês como segunda língua – informou Inari,
curiosa. – Obaa-sama, porque não está falando com nossos visitantes?
— O pé dele – disse baixinho a velha. – Ele tá pisando sem tirar os
calçados – ele encarou Jackson, mal-humorada.
— Oh – a ruiva se aproximou. – S-Senhor, pode tirar seus calçados antes de
entrar? É uma tradição.
Jack, ainda meio desnorteado, notou a jovem e recuou um pouco,
completamente encantado com tamanha beleza. Inari riu, meio envergonhada
também.
— São novos na cidade? Talvez devessem entrar, assim conversaremos melhor –
ofereceu. – Só peço que tirem os sapatos ou a obaa-sama vai ser um
treco.
— Somos de Unova – informou Hilda, tirando seus coturnos. – Eu sou Hilda,
essa é o Hilbert e aquele com cara de idiota é o Jackson.
— É um prazer. Por favor, a casa é de vocês.
Guiados pelas duas moradoras pelos longos corredores do templo, eles foram
parar em uma sala que dava visão para o jardim do local, Hilda admirou e
invejou aquela visão, por crescer em cidade grande, o máximo que tinha da visão
de sua janela era mais e mais prédios, e de vez quando, dava pra ver o que os
vizinhos da frente estavam fazendo, mas nada se comparava com aquela majestade
da natureza.
A avó de Inari, que logo se apresentou como Yukiko, indicou para que os
novos visitantes se acomodassem nas pequenas almofadas no chão. Hilbert
estranhou não haver cadeiras, mas logo se sentou de pernas cruzadas, ato
copiado por seus amigos. A mais velha do ambiente se sentou sobre os
calcanhares, com certo costume, se virou para neta e pediu:
— Traga-nos chá.
Inari se curvou gentilmente e saiu um pouco animada. Seria um dia diferente,
finalmente?
— Em que posso ajudar vocês? – questionou Yukiko. – Vieram de tão longe só
para conhecer nosso templo?
— Na verdade, viemos em busca de informações e ajuda – respondeu Hilda.
— Ajuda?
— Pra resumir, é sobre a Light Stone e a Dark Stone – contou Jackson. –
Soubemos que a família Kurosawa há milhares de anos atrás foi responsável pelos
cuidados dessas esferas em nome do próprio rei.
— Não fale desses objetos aqui – a senhora tomou um semblante sério. – Meus
ancestrais vieram para essa região justamente para nos livrarmos dessa praga.
— P-Praga? – a garota parecia confusa.
— A família Kurosawa nunca teve paz desde que nos entregaram às duas
esferas. Nos exploraram só porque tínhamos habilidades psíquicas que eram
capazes de manter aqueles dois dragões presos – explicou Yukiko, com certo
rancor. – Meus ancestrais sofriam diariamente com pessoas que tentavam se
apossar das esferas. Eles eram perseguidos, agredidos e intimados.
— N-não parece nada com o que Junsei Kurosawa contava em seus livros e
ilustrações – argumentou Jackson.
— Junsei era um maluco. Acreditava em destinos e achava que a vida era uma
poesia – disse, como se a pronúncia daquele nome fosse algo proibido.
— E todos nós não somos destinados a algo? – perguntou Hilda, ainda que
esperasse que sua pergunta gerasse apenas uma reflexão, mas a senhora parecia
ter tudo na ponta da língua:
— Somos destinados a morrer apenas, minha jovem, o que você faz nesse
processo é decisão sua.
Hilda apenas abaixou a cabeça e refletiu.
— Olha, não precisa se “envolver” diretamente nisso – Jackson continuou. –
Só precisamos de informações, aconteceu algo que se não controlado, pode acabar
com Unova – ele olhou para a menina em seu lado que apenas lhe entregou um
frasco com três fragmentos da Light Stone. – Esse é nosso problema – ele
mostrou para a senhora. – Isso são fragmentos da Light Stone, ela foi destruída
dias atrás, mas os fragmentos dela ainda existem. Estamos correndo atrás desses
pedaços antes que outras pessoas façam.
Yukiko olhava perplexa para aquele objeto.
— E o que querem fazer com essa esfera?
— Evitar que pessoas erradas coloquem as mãos nela – respondeu Jack.
— Quem me garante que vocês não são as pessoas erradas?
Hilbert encarou a senhora.
— E porque você está tão preocupada? – questionou o treinador. – Até
minutos atrás nem queria saber dela.
A senhora agarrou sua bengala e acertou um leve golpe na cabeça do garoto.
— Ei! – praguejou ele, acariciando o local do impacto.
— Não fale assim com os mais velhos, menino – bronqueou. – Não estou
preocupada, só estou fazendo vocês refletirem. São vocês que estão desesperados
atrás de informações.
— Existe uma equipe em Unova que conseguiu a contraparte, a Dark Stone.
Agora, com os fragmentos espalhados pela região, nós temos medo deles
conseguirem juntá-los antes da gente e fazerem uma catástrofe.
Nesse momento, Inari surgiu, carregando consigo uma bandeja com delicadas
xícaras rústicas de cerâmica com um cheiro levemente amargo do chá verde, ela
ajoelhou-se do lado da avó e serviu os convidados, mas logo os fragmentos da
Light Stone lhe chamaram a atenção.
— Que peças lindas... – disse. – Elas têm um brilho diferente. É como se
pegassem fogo.
— Você enxerga isso também? – questionou Hilda, surpresa. – Digo, todo
mundo enxerga, né?
Quando Hilbert, Jackson e Yukiko negaram, a menina olhou surpresa para a
ruiva.
— Na verdade, desde que ela se partiu, ela só parece pedaços de qualquer
coisa – riu o treinador. – Deveria brilhar?
Jackson, que parecia mais atento, passou a olhar fixamente para Inari,
sabia que tinha algo nela que sua avó tentava esconder. Mal se deu conta quando
foi atingido pela mesma bengala.
— Pare de olhar para ela desse jeito!
— Você falou de poderes psíquicos – ignorando o golpe, o arqueólogo
virou-se para Yukiko. – Eles ainda continuam na família?
O silêncio tomou conta do ambiente. Os piados dos Pidgeys nas árvores traziam
mais angústia naqueles segundos intermináveis, Jack continuava a encarar a
senhora e ela não parecia se importar. Inari parecia preocupada e levemente
confusa enquanto Hilda e Hilbert mal respiravam com medo de provocar uma tensão
maior.
— Essa garota ainda carrega os poderes psíquicos dos Kurosawa, com
certeza – Clara disse na cabeça de Hilda. – Mas acredito que nem ela
saiba disso ou do que estamos falando.
— Inari, você conhece algo sobre a Light Stone? – questionou.
— L-Light Stone? – a ruiva pareceu curiosa, mas sua avó não estava disposta
a prolongar a conversa, muito menos que sua neta soubesse.
— Ok, já chega – ela ordenou, com certa superioridade, coisa de se
impressionar vindo de uma senhora de estatura baixa. – Já disse que esse tipo
de assunto não nos interessa.
Yukiko tomou um pouco de ar.
— Sinto muito por não ajudar vocês – disse, com sinceridade, e logo depois,
mudou seu tom para algo mais convidativo: - Mas convido que fiquem. Temos
muitos quartos e em breve teremos um festival.
— Festival? – Hilbert questionou curioso.
— Em homenagem a Ho-Oh, o guardião dos céus, da vida e da esperança –
informou Inari, se levantando. – Dia 23 de Fevereiro, depois de amanhã. Teremos
fogos e barraquinhas com comidas típicas – sorriu. – Espero que possam ficar
para aproveitar.
— E esse ano vai ser mais especial, já que Inari será a dançarina da noite
– a mais velha olhou para a garota em pé, que ficou completamente tímida.
— Dança? – questionou Hilda.
— É para demonstrar nossa devoção – explicou Yukiko. – Inari está treinando
há meses. – Espero que possam ficar.
Jackson foi o primeiro a olhar para os amigos como um filho que pede
autorização da mãe. A viagem não estava sendo exatamente como queriam, mas acho
que não teriam problemas se ficassem um pouco para aproveitarem as maravilhas
da região de Johto. Hilda riu e acenou positivamente.
— Vai ser uma honra – sorriu o arqueólogo.
— Ah, ótimo! – Inari retribuiu o sorriso. – Podem me acompanhar? Vou
leva-los para o quarto de hóspedes.
O trio se levantou. A ruiva acenou para que eles a seguissem e foi na
frente, mas ela não esperava tropeçar no vão da porta e cair de cara no chão.
Talvez seja um bom momento para dizer que uma das características marcantes de
Inari é ser desastrada. Preocupados, os outros se aproximaram e Jack ajudou a
garota a levantar.
— Tudo bem?
— Eu esqueci que fico no mundo de Cresselia quando tô animada – riu ela,
completamente acostumada. – Não se preocupe, isso acontece com frequência.
Venham, venham – ela voltou a seguir seu caminho acompanhada dos visitantes.
Yukiko suspirou, degustando de seu chá.
Inari abriu mais uma porta de correr e exibiu o quarto de hóspedes.
— Não estranhem a falta de camas – disse ela, indo até um armário de cor
bege. – Dormimos em futons que ficam guardados nos armários. De noite, é só
tirar e estender no chão – explicou. – Inclusive, podem guardar suas coisas
aqui. Se não trouxeram pijamas, podem usar os quimonos.
— Uau – disse Hilda após a explicação. – É como se sempre estivessem
prontos para visitas.
— Gosto quando tem pessoas diferentes aqui – contou a ruiva. – Não sei
exatamente para o que vieram procurar, mas ficarei feliz se ficarem – toda
acolhedora, ela se curvou. – Por favor, fiquem à vontade – e assim, ela saiu.
Jackson mal disfarçou um suspiro bobo.
— Ela é incrível – confessou.
— Achei estranho ela não conhecer sobre as esferas – comentou Hilda. – Não
é algo que a família esqueceu com o tempo, é como se não contassem pra ela
mesmo.
— O que acham sobre ela enxergar a mesma coisa que a Hilda enxerga na Light
Stone? – questionou Hilbert, abrindo a bolsa e deixando que Vic saísse.
— Clara disse que talvez ela carregue consigo os poderes dos Kurosawa –
comentou a garota. – A grande questão é: O que faremos? A senhora Yukiko não
quer nos ajudar ou nem falar sobre assunto.
— Por enquanto, o máximo que podemos fazer é esperar e ficar atento a
possíveis informações – Jackson ajeitou sua mochila no armário. – Podíamos dar
uma volta na cidade para investigar.
— Com investigar você quer dizer conhecer todas às lojas da cidade? –
questionou Hilda.
— Interprete como quiser – ele deu de ombros, rindo.
Inari carregava uma segunda bandeja em direção a outro quarto que ficava
mais afastados do resto da casa. A pessoa que pretendia servir tinha uma dieta
mais restrita e um gosto mais refinado então a garota carregava com todo o
cuidado possível. Ao seu lado, Furret a seguia como um Pokémon fiel e dedicado,
evitando que sua dona tropeçasse em qualquer lugar e estragasse tudo.
— Chegou a ver os novos hóspedes, Cami? – questionou para sua Pokémon, um
pouco mais animada que o usual. – Eles vieram lá de Unova. Deve ser uma região
incrível, adoraria visitar um dia.
A criatura peluda grunhiu em resposta.
— Vovó pareceu não gostar muito deles – comentou. – Estavam falando sobre
aqueles objetos estranhos que a Hilda carregava num frasquinho. Fiquei curiosa
para saber o que era.
Mas antes que prosseguisse na sua conversa, ela parou na porta da sala de
seu destino, ajoelhando em frente a ela, deixando a bandeja no chão. Com a voz
mansa, ela chamou pela pessoa lá dentro:
— Vovô?
A sombra vista pelas paredes de papel mostrava uma pessoa de estrutura
raquítica que estava sentada sobre os calcanhares, esta, ao ouvir o chamado,
acenou levemente para que a mais nova entrasse. A moça se levantou novamente,
agarrou a bandeja e abriu a porta.
— Trouxe seu almoço – disse, com um sorriso.
O homem parecia um verdadeiro monge com seu robe, feição pacífica e careca.
Passava dias e dias meditando, mas estava sempre disposto a conversar.
— Meu almoço não foi a única coisa que você me trouxe – disse, como se
lesse a mente da mais nova. – Trouxe dúvidas também.
Inari assumiu a mesma pose de seu avô.
— O que é uma Light Stone? – ela perguntou sem grandes rodeios. – Um grupo
de turistas veio se hospedar aqui e eles estavam conversando com a vovó sobre
isso. Ela parecia brava.
O mais velho olhou para sua neta, franzindo a testa.
— Light Stone? Há quanto tempo não ouço sobre isso – disse ele, cercado de
mistérios.
— O senhor conhece? – ela questionou, meio esperançosa.
— Eu conheço – ele assentiu. – Mas acho que eu teria problemas com a sua
avó se te contasse.
— Sinto que ela sempre esconde as coisas de mim – confessou a ruiva. – Isso
desde que o papai e a mamãe morreram naquele acidente. Então, todos os dias são
os mesmos, como se eu não pudesse mudar.
— Sabe que ela não faz isso por mal. Ela só está te protegendo – confortou
o avô.
— Eu sei, eu sei – Inari suspirou. – Mas eu só queria, pelo menos uma vez,
seguir minha própria voz interior sem medo.
— E o que essa voz interior diz?
— Viva seus sonhos.
— Saberá o momento certo de ouvir ela – confortou o mais velho. – E quando
esse dia chegar, você vai saber e nenhum medo vai te prender. Você só precisa
ter paciência.
— Só sei que ela falou um pouco mais alta quando aqueles três visitantes
chegaram lá de Unova – disse, sorrindo com a sensação de conforto. – Acha que
eles podem significar algo?
— Todos somos ligados pelo akai ito. O fio pode ser longo e cheio de
nós, mas ele nunca se quebra. Talvez no final do seu fio, você encontre uma
grande surpresa.
— Você acha que meus pais ficariam contentes com as minhas decisões?
Perder os pais com apenas dez anos ainda deixava uma sensação estranha em
Inari. Era como se eles realmente nunca tivessem partido, mas permanecido por
perto, assistindo-a crescer. Eles não podiam falar com ela e ela não tinha como
pedir conselhos. Como saber que estava tomando as decisões certas? Devia ser
por isso que a garota se focava em manter uma rotina única. Mas até quando?
— E o que isso importa? – questionou o mais velho. – Você vive para agradar
quem? Sua avó? Eu? Os seus pais? Inari, você tem vinte anos. Não se trata da
gente, se trata de você.
— Meu maior medo é sair e no primeiro degrau, tropeçar. Seria muito
provável – ela riu, acariciando Cami.
— Se cair, levante. Mas se estiver acompanhada das pessoas certas, são elas
que vão te levantar.
— Obrigada, vovô – sorriu, delicada. – Mas agora coma seu almoço antes que
esfrie.
Eram quase seis da tarde quando Hilda, Hilbert e Jackson alcançaram o
Templo Kurosawa depois de um longo dia de turismo em Ecruteak. Estavam cansados
e famintos, e é claro, lotado das coisas. Inari, que estava varrendo a varanda
da porta da frente notou a chegada de seus hóspedes e sorriu ao vê-los animados,
ainda que pareciam estar discutindo.
— VOCÊ TORROU MEU DINHEIRO COM MÁQUINA DE VENDA, HILBERT?! – questionou a
garota de boné rosa.
— HILDA, TINHA SORVETE! – o garoto retrucou, em êxtase.
— É que em Unova não existe sorvete, né? – ironizou.
— NÃO NESSE TIPO DE MÁQUINA – ele riu.
A moradora sorriu e cumprimentou-os com uma leve curvada típica.
— Vejo que aproveitaram o melhor de Johto essa tarde – sorriu ela.
— Ah, é tudo incrível – Hilda retribuiu o sorriso, mudando o humor. –
Fiquei apaixonada pela lojinha de lembranças. Comprei algumas para minha
família e uma pelúcia de um Teddiursa para o meu primo – riu, mostrando suas
sacolas.
— São minhas favoritas também – riu Inari e logo se virou para Jackson. –
Você parece ter se divertido mais. Olha esse tanto de sacolas.
— A-ah – o arqueólogo riu, tímido. – Comprei algumas action figures.
— A maioria ele nem conhece – brincou a morena.
— Mas é uma boa oportunidade de conhecer o anime com um item na coleção. É
tipo um incentivo – riu Jack. – E também, estavam baratas.
— Posso ver algumas? Sempre via nas vitrines das lojas, mas nunca assisti
nada além de Sailor Lunatone – contou a ruiva.
Jackson, mais do que depressa, abriu as sacolas para que a moça pudesse ver
melhor.
— Uau, são tantas – ela riu, pegando uma das caixas. – Oh! – ela fez uma
expressão de surpresa e seu rosto assumiu um rubor intenso.
— O quê? – o arqueólogo estranhou a reação e pôs-se ao lado dela para
descobrir, sentiu sua pele esquentar quando viu que Inari pegara uma figure de
uma personagem vestida de coelha com seus exuberantes seios de fora. – A-Ah!
E-Eu... posso explicar.
Yukiko apareceu com sua bengala e percebeu a cena. Olhou para o objeto
erótico nas mãos de sua neta a acertou um golpe em Jackson, em reprovação.
— HENTAI! – gritou ela.
— AI! – Jack exclamou de dor.
— Venha, Inari, é melhor você ficar longe desse... esquisito – ela segurou
um dos braços da neta, puxando-a para dentro.
— N-não se esqueçam de apareceram para o jantar. Hoje teremos Nabemono. Vão
adorar – convidou a mais nova, logo depois, seguindo a mais velha.
Jackson segurava sua figure cabisbaixo e derrotado.
— Boa, Romeu, queimou seu filme com a família – debochou Hilda.
— Obrigado pelo apoio, Hilda – ironizou o mais velho, encarando-a enquanto
a mesma ria.
Nabemono era um prático clássico no inverno Johtoniano. Sua junção de palavras significava literalmente coisas na panela, já que não exigia um preparo tão complexo. Legumes, cogumelo, raízes e carnes eram colocados em uma panela de barro quente junto a um molho e esta, ainda quente, era posta sobre a mesa para degustação. Apesar de simples, o Nabemono se destaca pelo seu fator social, já que o intuito dele é juntar as pessoas na mesa para que compartilhem da comida.
O trio de Unova se aproximou da sala de jantar quando o cheiro praticamente
dominou a casa. Inari e Yukiko aguardavam os convidados que logo se sentaram.
Hilbert foi o primeiro a lamber os beiços, esfomeado, estendeu uma das mãos
para pegar, mas levou uma bengalada da mais velha.
— Ai, ai, vovó – choramingou o menino, acariciando sua mão.
— Agradeça a refeição antes, seu afobado – respondeu, logo em seguida,
juntou as mãos e fechou os olhos.
Inari repetiu o movimento, e os outros, em respeito, fizeram o mesmo. As
duas moradoras da casa disseram “itadakimasu” em coro, que significava
“eu recebo humildemente”. Logo em seguida, buscaram seus ohashi em cima da mesa
e começaram a comer. O trio sem entreolhou, confuso, não fazendo a menor ideia
de como usar um ohashi.
— Estão sem fome? – questionou a ruiva.
— N-Não é isso – riu Jackson, sem graça. – É que não sabemos usar esses
talheres.
— Oh – riu ela, meiga. De joelhos, ele se aproximou do arqueólogo e tomou
as mãos para posicionar corretamente os palitos de madeira. – Agora você faz
esse movimento.
Inari olhou para Jack, sorrindo. Ainda estava surpresa, já que não tinha
notado como as mãos do outro eram grandes e fortes, isso a deixou um pouco
tímida.
— ... Entendeu? – ela disse, quase sem voz.
— E-Entendi – o outro parecia levemente tímido também.
Hilda riu quando sentiu alguém cutucar seu ombro. Ela se virou e deu de
cara com um Hilbert de expressão bizarra com os dois palitos, um enfiado em
cada buraco de seu nariz.
— Olha, Hilda, sou um Walrein – disse ele, orgulhoso do seu ato.
A garota do seu lado não conseguiu conter a raiva e depositou um tapa nele.
— PORQUE VOCÊ AGE COMO UM SELVAGEM, HEIN?!
— Eu só tava tentando te fazer rir – choramingou o menino, no chão.
O resto dos presentes riram. Até mesmo Yukiko soltou uma leve risada, ela
olhou para a neta e notou a expressão animada da garota enquanto Jackson lhe
contava sobre algumas das histórias que Hilda e Hilbert tinham passado.
Inari ria e a sua voz interior gritava cada vez mais.
Esse capítulo tem tudo para se competir entre os melhores dessa temporada <3 Sério, todo o seu carinho foi transmitido para as palavras, desde a introdução da Inari que vem sendo planejada há um tempão até o cuidado em falar sobre a cultura, a culinária e aquelas reações autênticas que sabemos que faríamos se estivesse num Japão de verdade kkkkkk Johto é uma região maravilhosa, e por ter sido a que embarquei mais recentemente nos jogos muita coisa ainda está fresca na minha mente. Eu gosto desse clima de interior, como se o povo da cidade grande viesse tirar umas férias e ninguém entende o que eles dizem kkkk
ReplyDeleteO Jackson teve um belo destaque, ele já está de olho na sacerdotisa! Posso confirmar que a reação das figures é autêntica, quando você estiver com sua Figure Rara de Colecionador Bunny Version vai surgir um infeliz das sombras e perguntar: "Olá, gostaria de fazer uma matéria para o nosso site para todo mundo dar risada do seu hobby? kkkkkkkkkk" Ninguém nem pode mais colecionar em paz...
É engraçado encarar o capítulo pelos olhos da Inari, como se ela fosse a protagonista em busca das decisões certas para sua vida. Você sempre sabe dividir muito bem o espaço entre os seus personagens, Star :3
E claro, tudo isso ainda dentro do seu contexto sobre a Light e a Dark Stone, até porque ninguém está aí só para passear! Mas já que eles estão lá, não poderia faltar um festivalzinho para fechar a estadia com chave de ouro, irei aguardá-lo ansiosamente kkkkkk Que o akai ito nunca separe esse grupinho e nem te falte motivação para levá-los o mais longe que puder! Meus parabéns por esse capítulo tão cheio de charme e amor, porque tudo que você faz é sempre com o coração <3
Yooo Canas
DeleteEU FIQUEI ANOS PLANEJANDO A ENTRADA DA INARI E GRAÇAS A ARCEUS ELA CHEGOU! E QUE FELICIDADE VER QUE VOCÊ GOSTOU! Eu amo Johto, depois de Sinnoh, é minha região favorita, todo esse ar oriental e japonês é tudo que eu mais quis escrever kkkk Então foi uma puta experiência. Pena que estamos no inverno :')
EU MORRO DE MEDO DOS PERSONAGENS ORIGINAIS NÃO TEREM O MESMO DESTAQUE QUE OS DA PRÓPRIA FRANQUIA! Mas aparentemente, o Jackson está seguindo um bom caminho com a fórmula Canas que estou usando hausahushuauh Se o Canas aprovou a figure, então Deus está contente ahusahushua
Eu acho que esse ponto de vista da Inari combina muito com esse clima, falar sobre as inseguranças dela e tals, no final, eu acabei compartilhando algo sobre mim mesmo e isso é refrescante kkkkkk
EU ADORO ESSES COMEÇOS DE ARCOS PQ DÁ UM AR DE CAPÍTULO 1 DE ALGO PQ VC TA APRESENTANDO TUDO ahusahushuahus E OBVIAMENTE EU PRECISARIA DE UM FESTIVAL!
Que o akai ito nunca separe seus comentários de mim aqui em NPU <3
Obrigada pelo comentário Canas
See ya
Eae Star
ReplyDeleteE eles partiram pra Johto no mesmo dia. Ser rico é outro nível.
E o primeiro desafio é a linhagem. Como assim não tem legendas no Japão? Jackson fez o que sabe.
E nossa última (?) protagonista aparece. Olha, mesmo com o tanto de spoiler que eu peguei eu não sabia desses supostos poderes da Inari. Temos que ver mais dela pra ter certeza do que eles fazem.
Talvez por ser um capítulo mais voltado pra isso, mas eu gostei bastante dos diálogos.
Agora é ver se eles vão aprontar algo antes de voltarem pra Unova.
É isto, até o próximo capítulo, Star!
Yooo Alefu
DeleteAs vantagens de ter personagens ricos é isso, os maluco viaja quando quer haushuashu
CADÊ AS LEGENDAS? Eu vou ficar muito chateada com o Leucro se ele não providenciar legendas para meus personagens em Johto. Jack fez o que todo otaku faria: Passou vergonha hausahushuahus
INARI IS HERE <3 A minha protegidinha! Tadinho do Alefu, tomou tanto spoiler, mas consigo surpreender ele ainda, graças a Deus haushasuhahu
Esse foi um capítulo começo de arco, então é normal ter muitos diálogos, tirei um tempo para apresentar uma personagem e a relação do grupo com ela.
Obrigado pelo comentário, Alefin <3
See ya
Finalmente conhecendo a Inari! E só vou dizer uma coisa: que personagem mais fofa AAAAAAAAAA ADOREI
ReplyDeleteAmei o ambiente ''japonês'' que tu botou nesse capitulo. Gostei bastante do cuidado todo dado a explicar as coisinhas, o que foi otimo para leitores que não estão muito familiarizados com cultura japonesa, tipo eu kkk
Continue assim Star que vai longe!
Finalmente a Inari apareceu! Será que agora dá pra dizer que a jornada começou? Senti um cuidado muito especial da sua parte na escrita do capítulo, com respeito à ambientação e a cultura dos personagens. Isso além de mostrar respeito pelo que escreve nos deixa mais imersos na leitura.
ReplyDeleteA Inari é muito fofa e acho que dentre os protagonistas é a que senti que você colocou mais de si mesma. A inocência da pobre, tem até poder especial e a véia escondendo as coisas da coitada.
Pobre Jack, já de olho de sacerdotisa, mas tem que estar ciente de que vai levar bengalada no cocoruto o resto da vida.
Eu ri com o Hilbert no final, bem corta clima. Hilda não entende o humor inocente do nosso pobre corno.
Abraços, Star! Até a próxima.