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- Capítulo 38
Jackson era o primeiro do grupo a estar acordado naquela manhã. Não que
ele tivesse conseguido pregar os olhos depois de dormir de mãos dadas com
Inari, suas orelhas ainda queimavam e ele estremeceu várias vezes ao imaginar
Yukiko lhe atacando por tal ato. De toda forma, ele estava muito ocupado
jogando para pensar nisso.
No celular, o jogo Pokémon Unite era seu favorito, já que seu personagem
e nome falso feminino ‘Jackie’ atraía diversos jogadores masculinos que faziam
de tudo por um pouco de atenção. Como resultado, ele tinha diversos cosméticos
do jogo sem precisar gastar um centavo sequer. Talvez ele iria para o mundo de
Giratina, mas não se importava.
Inari bocejou e acordou, sentando-se em seu saco de dormir, não se
preocupando com seu cabelo bagunçado, estava mais focada em compreender o
contexto em que estava. Lembrou-se da noite anterior e Jack notou seu rosto
ruborizado enquanto ela tirava um pouco de areia do corpo.
— Bom dia, Inari – cumprimentou o arqueólogo, assustando a sacerdotisa.
— A-Ah, bom dia, Jackson-sama – disse, ajeitando o cabelo no rabo de
cavalo.
— E então, como foi a primeira noite dormindo ao ar livre? É um marco
importante – disse o rapaz, guardando seu celular.
— Foi melhor do que eu imaginei – Inari sorriu. – Obrigada por me ajudar
com isso, foi muito importante pra mim.
Jackson coçou os cabelos negros, procurando esconder sua timidez,
assentiu como resposta e procurou algum jeito de continuar a conversar sem
gaguejar ou perder o clima. Mas não foi preciso, por um grito de Hilbert
despertou metade da Route 4 como uma sirene de escola.
Os dois mais velhos se colocaram alerta e até mesmo os Pokémon se
prepararam para contra-atacar qualquer ameaça. Até mesmo Hilda, que dormia
junto a ele, deu um pulo.
— EU NÃO SINTO MEU BRAÇO! – berrou o treinador, segurando seu braço
direito com o esquerdo enquanto o sacudia.
— Mas que diabos, Hilbert! – gritou a morena. – Seu braço só está
formigando! – ela coçou os olhos, um tanto irritada por não ter uma manhã
sequer de paz. – Alguma coisa deve ter apoiado nele e cortou sua circulação,
logo ele volta ao normal.
— SIM, A “COISA” É A CAIXA D’ÁGUA QUE VOCÊ CHAMA DE CABEÇA! – praguejou
Hilbert. – SE EU PERDER O MEU BRAÇO, EU VOU TE PERSEGUIR ATÉ O DISTORTION
WORLD!
O garoto se arrependeu logo em seguida ao ser atingido por um dos livros
de Hilda.
— EU VOU FAZER VOCÊ PERDER O BRAÇO E A CABEÇA, SEU FILHOTE DE COBALION
REBAIXADO!
— Bom dia, meus nobres amigos. Graças a Arceus, iniciamos o dia com
paz no coração e no mais absoluto silêncio – ironizou Vic, levantando voo.
– SÓ QUE NÃO! JÁ QUE ESSES NÃO CONSEGUEM AGIR COMO DOIS CIVILIZADOS!
Inari sussurrou para Jackson:
— Tá tudo bem como eles?
— Quer começar a apostar em quem inicia a briga? – questionou Jack,
acostumado com o clima.
Apesar de uma rotineira manhã conturbada, o grupo teve tempo e
estabilidade para apreciarem um bom café da manhã com frutas, lanches prontos e
suco. Hilda chegou a reclamar sobre sentir falta dos cafés da manhã fartos que
cobriam a mesa preparados por sua tia e tio, mas não negou que estava com
saudade da ansiedade que comer ao livre lhe causava.
Com exceção do próprio Vic, Cami, Sombra e Bijou, os outros Pokémon foram
devolvidos em suas Pokéball. Com um conselho de Jack, Hilbert preferiu manter a
esfera de Brianna no bolso de sua calça, como uma forma de praticidade caso um
evento inesperado acontecesse e fosse necessário uma ação rápida.
Por fim, com todas as coisas arrumadas, era hora de pôr o pé na estrada.
A tempestade de areia - se é que se podia chamar assim -, havia dado uma trégua
e a caminhada se prolongou sem grandes incômodos, enquanto Hilda e Hilbert
discutiam por motivos triviais, Jackson parecia se empolgar com o ambiente,
contando tudo sobre sua profissão para Inari, que ouvia de bom grado.
— Essas construções são antigas, pela arquitetura, devem ser de mais ou
menos 450 anos atrás – explicou o rapaz, apontando para moradias amareladas que
quase se camuflavam com a areia. Era possível ver os efeitos do tempo com os
tijolos desgastados e a os traços de destruição. Alguns Pokémon usavam como
moradia, enquanto se escondiam dos humanos que insistiam em explorar.
— São bem diferentes – observou Inari, sabendo que não teria muito que
acrescentar na conversa, mas ter um ouvinte parecia tudo que ele precisa. –
Você já explorou aqui?
— Na verdade, foi aqui que eu achei a Light Stone.
Nesse momento, até mesmo Hilda e Hilbert, que não tinham parado de
discutir e Vic, que tentava conter os dois, olharam para o arqueólogo, tão
surpresos e interessados quanto a sacerdotisa na informação valiosa do amigo.
— Sério? Digo, onde foi exatamente? – questionou o treinador, parando
junto da companheira. – Tipo, você escavou, escavou, escavou e achou?
— Adoro sua visão sobre minha profissão – riu Jack. – Não é beeeem assim
– explicou. – Geralmente a gente recebe informações sobre o lugar. Eu estava
numa equipe na época, então a gente foi selecionado para uma área especifica e
ficamos por lá, explorando, cavando e analisando o que é interessante. Bom,
isso é só um resumo.
— E você sabe onde encontrou a Light Stone mais ou menos? – questionou
Hilda.
— É difícil uma localização exata – refletiu Jackson, com a mão no
queixo. – Ela ficava naquela direção – apontou para o noroeste, onde, para além
de uma estrada asfaltada, restos de construções, um enorme deserto e dezenas de
dunas de areia se misturavam em uma paisagem seca e quente. – Mas como sempre
tem tempestades de areia, o lugar perde e se muda.
Hilda pensou, olhando para a direção indicada. Procurou ouvir para dentro
de si a existência de alguma chama crepitando, mas ela estava mais silenciosa
que Clara. Foi Inari que despertou a garota de seus devaneios com a pergunta
que ela precisava ouvir:
— Acha que você vai sentir algo forte se estiver perto do local em que
foi encontrada a Light Stone?
— E-Eu não sei. Não estou ouvindo nada – respondeu. – Clara também está
quieta, mas admito que estou curiosa com a possibilidade de que os fragmentos
possam procurar seu local de origem – contou. Os outros quatro assentiram.
O grupo correu pela estrada asfaltada até onde fosse possível, até que
perceberam que, para o desespero de Hilda, teriam que adentrar as areias secas e
se arriscarem a não caírem nas movediças. Jackson segurou Bijou em seu colo,
garantido que ela não cairia caso seu pé vacilasse. Sombra assumira sua forma
de Arcanine para dar apoio ao grupo que se aproximaram e seguraram os pelos do
enorme cachorro. Vic voava um pouco mais alto para verificar algum sinal de
pista. A Furret de Inari, Cami, por fim, seguia sua mestra com agilidade
enquanto protegia o ovo de Hilbert.
— Sente alguma coisa, Hilda? – questionou Hilbert, notando que a
tempestade aos poucos se intensificava. O que pensaria os outros ao verem um
grupo de jovens aventurando fora dos limites para procurarem sabem-se lá o quê?
— Por enquanto, nada! Inari, acha que consegue sentir algo também? Lembro
que você tinha uma conexão com os fragmentos – questionou a menina, olhando
para trás. A sacerdotisa negou:
— Eu apenas sinto quanto estão próximas, mas são em ocasiões raras.
Andaram e andaram. Os Pokémon selvagens observavam, até cogitavam em
atacar por serem presas fáceis, mas o tamanho da Zorua disfarçada do cão de
Kanto realmente intimidava-os. Os minutos pareciam horas no mais absoluto
silêncio, a tempestade aumentava cada vez mais, começando a ser difícil
enxergar um palmo na frente do rosto.
— DE QUEM FOI ESSA IDEIA ABSURDA?! – praguejou Hilbert.
— Eu não me lembro de as tempestades desse lado serem tão fortes! –
gritou Jack.
— Hilda, nenhum sinal? – questionou Inari, mantendo a calma.
— Estou me esforçando – respondeu Hilda, nervosa.
Jackson prestava atenção na conversa que nem percebeu quando seu pé
falhou e ele quase caiu. Certificou-se de segurar a Cleffa contra seu peito
antes que ela caísse, a bebê choramingou assustada, logo depois, o arqueólogo
recompôs o equilibro.
— Tá tudo bem, pequena, tá tudo bem – confortou o rapaz antes de
reclamar: - Já chega! Vamos voltar antes que isso nos mate!
Hilda olhou para o horizonte, em busca de alguma última esperança. A
menina virou-se e negou com a cabeça, dando por encerrada aquela maluca e
espontânea atitude. Deram meia volta e com passos lentos começaram a retornar.
“Volte para mim, Autevielle”, aquela súbita voz fez Hilbert virar
a cabeça tão rápido que assustou Jackson, que estava logo atrás.
— O que foi? – questionou o rapaz.
— Vocês ouviram? Alguém falou meu sobrenome – disse, com a voz trêmula e
a pele pálida.
— Como é? – perguntou Hilda, confusa. – N-não, eu não ouvi nada. Tem
certeza que vo-
Dessa vez, foi a vez da garota ter a atenção desviada para trás. O som da
chama crepitava tão forte que a morena teve a sensação de seu corpo arder junto,
colocando a mão em seu pescoço como se fosse sufocar.
— Vocês dois parem com essa brincadeira! – berrou Vic, sentindo um
arrepio na espinha. – EU ODEIO FILMES DE TERROR!
— Estou sentindo a presença dos fragmentos – revelou Hilda. – E é tão
forte que tá meio deixando louca.
Hilbert não esperou a conversar terminar. Como se estivesse hipnotizado,
ele começou a caminhar em direção da voz que ouvira, não importando com a
tempestade que começava a intensificar. Hilda esticou a mão, sem se soltar de
Sombra, que usava o máximo da sua força como Arcanine para se manter presa ao
chão junto dos outros.
— HILBERT! – berrou a garota. – NÃO DEVEMOS NOS SEPARAR!
O treinador apenas ignorou. Ele nem ao menos se importava com seus pés
afundando na areia movediça.
— SEU IDIOTA! – gritou Hilda, desesperada, agindo com imprudência ao se
desvincular de Sombra e correndo em direção ao colega.
E como uma boa serva de sua mestra, Sombra não pensou duas vezes antes de
acompanhar a garota, deixando Jackson e Inari desamparados para trás. Vic
tentou chamar a atenção do Pokémon, mas foi em vão.
Inari recuou e se agachou para evitar que a tempestade a levasse. Já era
impossível enxergar uns aos outros, mas Jackson trouxe a sacerdotisa para
perto, agarrando-a pela cintura, e para ajudar com o suporte, ele liberou
Jesse, o Excadrill, que era o único a não se incomodar com o ambiente. O
Pokémon escavador cravou suas garras na areia, ficando estável no chão,
enquanto o arqueólogo, abraçado com a ruiva, se seguraram nele, Cami segurava a
saia de sua mestra.
Ninguém soube dizer quando a areia engoliu todos. Os corpos não seriam
achados tão facilmente e o grupo viraria apenas história.
A cabeça de Hilda parecia que iria explodir de tanta dor. Estava deitada
em um chão lamacento e feito de pedras escura. Ou era o ambiente que estava
escuro? Levantou a cabeça e sentou-se no chão para logo em seguida levantar-se,
tentando assimilar onde estava, o que sabia era que os fragmentos da Light
Stone estavam mais próximos do que nunca.
Sua vista estava levemente embaçada, mas despertou quando um pingo de
água pingou em seu nariz. Chuvas eram raras na Route 4, mas ela tinha certeza de
que estavam no mesmo lugar? Seu olhar vasculhou o ambiente e ela fixou na única
coisa presente. Uma enorme construção erguia-se no horizonte como um monumento
histórico.
E de história, aquele lugar parecia ter muito. Uma mansão de estilo
Johtoniano possuía vários andares, mas não parecia estar habitada há anos
graças a aparência acabada e os arbustos e gramíneas crescendo por entre as
rachaduras da parede e as pedras da entrada. Entrada essa que era guiada por
lanternas de pedra e algumas velas que mantinham acesas, como um funeral.
Original: thefriz08 |
O ambiente estava escuro, mas não parecia ser noite, enquanto as árvores
ajudavam com o clima fúnebre e de terror. Sombra, apesar da sua tipagem, se
intimidou com o local, em sua forma de Zorua, ela se escondeu entre as pernas
de sua tutora. Hilda notou então que estava sozinha, ou pelo menos achou que
estava.
— Hilbert? Inari?
Jackson? Vic? – chamou
a morena, entrando em desespero.
— Manor of Twins – as primeiras palavras de Clara, depois de um
bom tempo em silêncio fizeram Hilda pular de susto. – O que é isso, garota?
— O que é isso? Você ficou tanto tempo quieta que eu já tinha esquecido
de você – respondeu ela, com a mão no peito. – Sabe onde estamos?
— Estamos no último lar da Light Stone – respondeu a princesa, com
a voz pesada. – Reshiram me contou sobre esse lugar.
— Isso aqui é a Route 4? Não tem areia, nem ao menos está de dia.
— Vocês provavelmente foram engolidos pela tempestade e transportados
para cá – explicou Clara. – Mas foque no que é mais importante, não está
sentindo a presença da Light Stone?
— A-Agora que falou – disse Hilda, voltando sua atenção para dentro de
si. As chamas crepitavam e passeavam por seus canais auditivos, como se ela
usasse fones de ouvido, seu corpo queimava. – Está forte. O problema é que... –
ela arrepiou-se. – A sensação vem de lá dentro, e eu não achei Hilbert e os
outros.
— Tenho certeza de que os outros estão bem, deveríamos entrar e
procurar. Com sorte, poderemos encontrar fragmentos.
— Entrar ali? – perguntou Hilda, apavorada.
— Você não tem outra saída, tem? – questionou ela, irônica.
Sem uma resposta concreta, a garota deu lentos passos em direção a porta.
Zorua a seguiu, com os pelos arrepiados, ansiosa com qualquer barulho. Hilda
segurou as empoeiradas maçanetas pesadas e argoladas da mansão e abriu com
certa dificuldade, mas conseguiu entrar, para sua infelicidade.
O local era mal iluminado, com apenas velas que milagrosamente se
mantinha acesa em tochas ao longo de um corredor. O hall de entrada era a
primeira coisa a ser vista, mas tudo que Hilda parou para notar foi como as
madeiras estavam podres, tomando cuidado para não pisar em alguma quebrada e
cair. Assim como o lado externo, ela tentou assimilar o que era o local.
Clara havia chamado o local de Manor os Twins, tentou vasculhar na
sua memória se havia estudado isso em livros de história, mas nada lhe veio à
mente, talvez Jackson soubesse de algo, suspirou e torceu para que eles
estivessem bem. Pensou também em Hilbert e no que poderia ser a voz que ele
ouvira.
Seus passos eram leves, mas isso não impedia de o chão ranger. A janela
no fim do corredor tinha um formato de Ying Yang e Hilda notou como o corredor
se dividia em dois caminhos. Mas não foi isso que lhe chamou a atenção. A bolsa
de Hilbert jogada graciosamente e iluminada pela pouca luz que entrava fez o
coração da garota parar por um segundo. Ignorando sua promessa em não correr,
ela se dirigiu até o objeto jogado no chão e ajoelhou-se para pegá-lo, como se
estivesse disputando com alguém.
— Isso é bom sinal, né? – questionou, analisando o objeto. As Pokéballs,
as insígnias, os mangás de Jackson, algumas peças de roupa, tudo estava ali,
mas sem nenhum sinal de seu dono. Olhou em volta pelos corredores e não
encontro ninguém.
Ela notou que embaixo de onde a bolsa repousava, estava um pequeno bloco de
anotações de cor vermelha. Curiosa, ela pegou o objeto com delicadeza
imaginando quanto tempo aquilo estaria ali.
— “Grimaud’s Notebook” – leu ela, antes de se tocar. – Espera! É
do nosso Grimaud? – revirou algumas páginas com anotações distorcidas pelo
tempo e desenhos que não valia nem a pena comentar, mas que comprovavam ser do
Joltik safado. Em uma das páginas, enfim, ela conseguiu ler algo: - “O senhor
Athos conversou com o senhor da casa, eu não entendi muito bem sobre o que
falavam já que prestava atenção em uma linda moça de cabelos negros que tinham
suas curvas realçadas pelo seu kimono. Porém, ouvi algo sobre o RITUAL DAS
GÊMEAS.”
— Tsc, quanta informação inútil – resmungou Clara.
— Não me surpreenderia se o resto das páginas fosse só sobre essa mulher
– ironizou Hilda. – Grimaud esteve aqui quando era humano então? E com o pai do
Hilbert? O que é o Ritual das Gêmeas?
— Menina, eu não sou a voz da sabedoria, só a voz da verdade – respondeu
a princesa, ríspida. – Vê se tem algo sobre a Light Stone.
Hilda continuou a folhear as páginas, em busca de qualquer informação.
Talvez pudesse encontrar no caderno a exata localização do objeto, já que, se
baseando na sua habilidade de sentir a presença dos fragmentos somada com as
informações dadas por Clara, era plausível que alguns fragmentos tivessem
voltado para seu local de origem.
Ela só não sabia que concentrada daquele jeito, estaria vulnerável pelo
ambiente que a cercava. Quando percebeu, alguém tocou em seu ombro.
Inari acordou em um ambiente muito reconfortante, mas ao mesmo tempo,
triste. O quarto claramente pertencia a gêmeos a julgar pela dualidade de
objetos, tudo lá era familiar, já que fazia parte da cultura de Johto. Os
quimonos brancos pendurados e abertos eram de um tecido caro, mas um deles
estava manchado de sangue. Duas lâmpadas, dois futons, dois pequenos altares
usados para orações pessoais e uma cômoda de madeira antiga completavam o
quarto. Inari notou também que as aberturas que eram usadas como janelas não
davam visão para o lado de fora.
A sacerdotisa cambaleou um pouco ao se levantar, já que o ambiente era
extremamente pesado para uma pessoa como ela, porém, Jackson a segurou por
trás.
— Opa – riu ele, nervoso. – O-Onde estamos?
— Parece alguma espécie de mansão antiga – respondeu Inari. – Estamos no
quarto de gêmeas.
O arqueólogo agachou-se para pegar um objeto em um dos altares, tentando
investigar de que época e local seria, mas ele foi repreendido pela ruiva, que
acertou um tapa em sua mão.
— Não tire nada do lugar! – alertou. – Não sabemos a quem pertence. É um
lugar assombrado.
— A-Assombrado? – Jack gelou e levantou-se, se aproximando de Inari.
— O clima está muito pesado, ainda devem existir fantasmas vagantes por
aí – explicou a moça, sempre olhando em volta. – Mas eu tenho medo de alguns
serem hostis.
— Desde quando você domina essas coisas? – questionou o arqueólogo,
certificando que Bijou, sua Cleffa, estivesse confortável em sua mochila.
— Quando se mora em templo, esse tipo de coisa é normal – respondeu
Inari, um pouco intrigada com o quimono manchado de sangue. Curiosamente, o
formato da mancha se assemelhava a metade de uma máscara. – Morty também me
ensinou muito sobre espíritos – completou ela.
— Isso explica o motivo dos olhos caídos assombrar meus sonhos – ironizou
Jack, não escondendo a cara de insatisfação. – A categoria dele é a de
fantasmas inconvenientes?
A ruiva riu de forma curta, mas seu corpo estremeceu logo em seguida. De
forma ligeira, sem esconder o pavor, ela cobriu a boca do arqueólogo com a mão
e o puxou para de trás de um dos quimonos.
— O-o que que foi? – questionou ele, assustado.
— Shhh!
Não havia passos, mas a presença da criatura já fazia o ambiente pesar.
Por entre as frestas, Jack e Inari conseguiam apenas enxergar uma garota magra
e pálida, seus cabelos negros e curtos faziam sombra em seus olhos a tornavam
ainda mais assustadora, já que não era possível saber para onde ela olhava. A
sacerdotisa notou também que toda aquela energia ruim era causada por uma
enorme criatura sombrosa que causava terror em qualquer um que ousasse cruzar
seu caminho. Seus olhos eram vazios e sua expressão de dor, seu corpo flutuava
e era esquelético, com um quimono que se agitava com um vento que não existia.
E havia cordas, muitas cordas que envolviam dos dois, não sabendo exatamente
quem prendia quem.
A mulher, que usava o mesmo quimono manchado de sangue, sentou-se em um
dos altares e começou a pentear seus cabelos, numa tentativa inútil de arrumá-los,
já que o objeto não parecia entrar em contato com sua forma espectral.
Jackson, que estava logo atrás de Inari, sussurrou em seu ouvido:
— Não é meio inútil brincar de esconde-esconde com um fantasma?
— Ela não está interessada na gente – sussurrou a ruiva de volta.
A sacerdotisa e o arqueólogo quase gritaram quando a cabeça do fantasma
virou para trás de forma bizarra. O espírito que estava com ela se agitou.
Lentamente, ela se levantou e começou a flutuar em direção aonde os dois pobres
humanos estavam, o gemido de dor que a criatura que a acompanhava emitia
naturalmente tornavam a situação mais sufocante.
Jackson segurou a cintura de Inari e a puxou para trás, numa tentativa
inútil de fugir de uma presença sobrenatural como aquela. Cami grunhiu,
chamando a atenção dos dois.
“Não vão tirá-lo de mim”, a voz horripilante da mulher preencheu
os ouvidos dos dois, que sentiram o corpo gelar e a espinha arrepiar. Cami
grunhiu mais uma vez, empurrando uma caixa velha que revelou esconder uma porta
de aproximadamente um metro.
— J-Jackson-sama – apontou Inari,
agachando-se para abrir a porta.
— Tem certeza que fugir por uma porta vai resolver? Não é como se eles
não atravessassem portas – argumentou o arqueólogo.
— Você tem uma alternativa melhor? – engatinhando, ela deixou que Cami
assumisse a frente, logo depois, ela adentrou o estreito corredor. Jack, por
último, repetiu o movimento e certificou-se de fechar a portinhola.
O corredor era longo e para a sorte deles, o fantasma não pareceu ter
interesse em segui-los.
Pertos de terem um ataque de claustrofobia graças a nenhuma iluminação, a
Furret finalmente encontrou a saída, levando a dupla para um jardim escuro ao
ar livre. Jardim esse que era forrado com grama morta cinzenta – ou seriam
cinzas? -, o destaque da paisagem estava na apodrecida árvore de cerejeira e
toriis que conectavam a mansão principal até uma construção menor que parecia
ser uma espécie de templo. Inari imaginou como seria bonito o local em outras
condições.
— Consegue imaginar que lugar é esse? – questionou a sacerdotisa para seu
colega.
Jackson olhou em volta, notando que existia uma varanda que fazia vista
para o jardim, mas não encontrou nenhuma resposta lá.
— Se isso daqui for um sonho, eu espero que acordemos logo – concluiu. –
Estou preocupado com Hilbert e Hilda. Não os vimos desde que aquela maldita
tempestade nos engoliu.
— Eu me sinto em Johto, toda essa arquitetura parece ter saído de lá –
observou a outra.
— Vamos tentar focar – o homem agachou-se, retirando o celular de sua
mochila, ligando a lanterna dele. – Podemos procurar uma saída ou procurar
Hilda, Hilbert e Vic. Temos que nos preocupar também com aquele demônio
bizarro.
— O que será que ela quis dizer com “não vão tirá-lo de mim”?
— Não faço ideia, mas não tô nem um pouco interessado nos rolos que
aquela mina tem.
Os minutos a sós foram poucos, já que, mais uma vez, a mansão assombrada
insistia em assustar seus visitantes. Pelo menos dessa vez, não era o espírito
da mulher de quimono branco, e sim, o que parecia um flashback de eventos
passados, que pareciam recontar a história daquele local enquanto os
espectadores assistiam, ainda que apavorados.
Dois monges com máscaras de expressão neutra guiavam um senhor de cabelos
brancos que parecia ser uma espécie de líder ou dono do local. Atrás dele, três
homens bem trajados com roupas diferentes prestavam atenção no que o homem
tinha a lhe dizer.
“Esse é o nosso Jardim da Cerejeira”, contou. “Aquele templo
guarda um objeto precioso, recomendo que fiquem longe”, o senhor tentava
impor medo para os visitantes de maneira natural.
Um dos rapazes que visitava, com seus longos cabelos esverdeados presos
em um rabo de cavalo sussurrou para o do meio, que parecia ser o líder:
“Eu não gosto nem um pouco dessa cara”
Em resposta, ele riu, ajeitando seus cabelos negros e olhos amarelados.
“Tente ser compreensível, Aramis, são pessoas que não estão acostumada
com visitas”, o homem virou-se para o dono da casa com um sorriso. “Ouvimos
dizer que realizam rituais de purificação”
“Vou lhe apresentar a Kirie e Tomie”, seco, o senhor apenas guiou o
grupo para outra área da mansão.
Jackson e Inari se entreolharam, com centenas de dúvidas na cabeça. Não
sabiam dizer se aquilo era só uma manifestação de suas mentes confusas ou se
era alguma história que estava sendo contada e eles precisavam ouvir. Foi o
pequeno Joltik que aparecia nos momentos mais inconvenientes que se manifestou,
agitado. Pulou de dentro do quimono de Inari e gritou, ainda que sua voz não
fosse tão alta.
— É O SENHOR ATHOS! É O SENHOR ATHOS! EU ME LEMBRO DESSE LUGAR!
— A-Aquele era o pai do Hilbert? – questionou Jackson, surpreso.
— Exatamente, era na época que éramos humanos ainda – contou a
aranha.
— Estamos reassistindo o que aconteceu? Mas por quê? – questionou Inari.
“Vocês precisam salvar Kirie”, a voz veio como um sussurro confortante
na nuca da sacerdotisa e do arqueólogo, mas os dois se recusaram a olhar para
trás.
Hilbert sentiu um vento refrescante contra seu rosto e isso o fez
acordar. A brisa era tão macia que ele não escondeu um sorriso confortante, mas
seu corpo logo em colocou em alerta. Levantou-se num pulo e notou estar em uma
praia com um horizonte infinito, não era noite, mas era como se alguém tivesse
deixado a luz baixa. Se olhava para a direita ou para esquerda, tudo era
infinito, estava sozinho e isso lhe dava uma falsa sensação de paz.
Seu corpo estava arrepiado e seus estômago começou a embrulhar, dando
sinais de ansiedade. Aquele infinito o fazia se sentir minúsculo, a ausência de
algo fazia sua mente focar em coisas que provavelmente não existiam. A solidão
o fez soltar uma lágrima solitária. Estava sozinho e odiava aquele inimigo
invisível.
“Autevielle?”, a voz feminina mansa, mas ao mesmo tempo assombrosa
veio por trás e o treinador se virou.
Hilbert gritou e não houve eco da sua voz. A criatura que flutuava em
volta da mulher de quimono branco deixava qualquer um paralisado, mas foram os
olhos acinzentados da menina que o treinador encontrou logo em seguida.
Seu medo se transformou em compaixão quando ele notou que aqueles olhos
carregavam uma tristeza mista de felicidade ao vê-lo. Ela ajoelhou-se na altura
do menino e sorriu com dentes podres e pretos.
“Você vai me levar para fora daqui? Vai me levar para junto de minha
irmã, Tomie? Você me prometeu”.
Hilbert engoliu seco, podia fugir, mas para onde? Teve até medo da
criatura que acompanhava a mulher de quimono lhe seguir para lhe matar. Com a
voz falha, ele perguntou:
— D-Desculpe, moça, e-eu não te conheço. Qual é o seu nome?
“Sou eu, Autevielle”, ela insistiu, ainda que não fosse o
suficiente. “Sou Kirie”.
Hello, Star, enfim mais um capítulo com uma aura de tensão e pavor que cresce aos poucos que começa com o Jackson segurando a mão da Inari em um momento bastante fofo e bonitinho e que é logo quebrado com a gritaria de Hilbert e Hilda, nada como uns refrescos com meus casais favoritos para começar um capítulo de um pequeno arco que promete muitíssimo.
ReplyDeleteLogo vemos um pouco do Jackson arqueólogo que pouco vemos nos outros capítulos e a busca deles pelo deserto pela Light Stone até serem mandados para a casa do caralho (ou melhor, das gêmeas) por uma fucking tempestade de areia e como nos episódios de Scooby-Doo nossa gangue se separou, cada um para um canto nessa mansão sinistra no meio do nada na esquina com lugar nenhum e o onde Meloetta perdeu as sapatilhas. Temos Hilda e a voz da sua cabeça, Clara, temos Jack e Inari juntinhos caluniando o Morty (que deve estar com a orelha queimada de tanto que falaram dele) que estão junto de nossa aranha menos favorita e juntos reveem os eventos passados do papa Hilbert na mansão das gêmeas e, por último o nosso garoto Hilbert que também ouve uma voz e segue ela revelando que era na verdade Kirie, a gêmea que quer sua liberdade dali, mas eu só quero que exorcizem ela, morre de vez demônio.
O que virá no próximo capítulo? Só nos resta esperar
Yoo Leucro
DeleteDesculpa pela demora.
Eu amo que o clima desse capítulo começa doce como um algodão doce pra depois tudo começar a dar errado hasuauhsuauhs InaJack e HilHil sendo perfeitos <3
VELHO, A COMPARAÇÃO COM O SCOOBY-DOO E A MELOETTA ME FEZ GAITAR TÃO ALTO, SE FUDER HAUSHUASHUASUH
A Hilda num lugar surtado mais surtada ainda falando com as vozes na cabeça dela. O corno acordando e chorando, Inari e Jackson falando besteira do Morty, tudo normal mesmo não estando normal hausahusuhas
Obrigada pelo comentário, Leucro
See ya
Essa sensação de mistério está muito boa
ReplyDeleteeu amo escrever capítulos de terror <3
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